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						SEGUNDA SECÇÃO 
						
						OS SETE SACRAMENTOS DA IGREJA 
						
						CAPÍTULO QUARTO 
						
						AS OUTRAS CELEBRAÇÕES LITÚRGICAS 
						
						 ARTIGO 
						1 
						
						OS SACRAMENTAIS 
						
						1667. «A Santa Mãe Igreja instituiu também os 
						sacramentais. Estes são sinais sagrados por meio dos 
						quais, imitando de algum modo os sacramentos, se 
						significam e se obtêm, pela oração da Igreja, efeitos 
						principalmente de ordem espiritual. Por meio deles, 
						dispõem-se os homens para a recepção do principal efeito 
						dos sacramentos e são santificadas as várias 
						circunstâncias da vida» 
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. Sacrosanctum 
						Concilium, 60: AAS 56 (1964) 116: cf. CIC can. 1166; 
						CCEO can. 867). 
						
						TRAÇOS CARACTERÍSTICOS DOS SACRAMENTAIS 
						
						1668. São instituídos pela Igreja com vista à 
						santificação de certos ministérios da mesma Igreja, de 
						certos estados de vida, de circunstâncias muito variadas 
						da vida cristã, bem como do uso de coisas úteis ao 
						homem. Segundo as decisões pastorais dos Bispos, podem 
						também corresponder às necessidades, à cultura e à 
						história próprias do povo cristão duma região ou duma 
						época. Incluem sempre uma oração, muitas vezes 
						acompanhada dum sinal determinado, como a imposição da 
						mão, o sinal da cruz, a aspersão com água benta (que 
						recorda o Batismo). 
						
						1669. Eles decorrem do sacerdócio batismal: todo o 
						batizado é chamado a ser uma «bênção» 
						
						(Cf. Gn. 12, 2) 
						e a abençoar 
						
						(Cf. Lc. 6, 28; Rm. 12, 14; 1ª Pe. 3, 9). 
						Por isso, há certas bênçãos que podem ser presididas por 
						leigos 
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. Sacrosanctum 
						Concilium, 79: AAS 56 (1964) 120: cf. CIC can. 1168). 
						Porém, quanto mais uma bênção disser respeito à vida 
						eclesial e sacramental, tanto mais a sua presidência 
						será reservada ao ministério ordenado (Bispos, 
						Presbíteros ou Diáconos) 
						
						(Cf. De Benedictionibus, Praenotanda generalia, 
						16 e 18. Editio typica (Typis Polyglottis Vaticanis 
						1984) p. 13.14-15 [Celebração das Bênçãos, 
						Preliminares gerais, 16 e 18 (Coimbra, Gráfica de 
						Coimbra Conferência Episcopal Portuguesa, 1991) p. 13]). 
						
						1670. Os sacramentais não conferem a graça do Espírito 
						Santo à maneira dos sacramentos; mas, pela oração da 
						Igreja, preparam para receber a graça e dispõem para 
						cooperar com ela. «Portanto, a liturgia dos 
						sacramentos e sacramentais oferece aos fiéis bem 
						dispostos a possibilidade de santificarem quase todos os 
						acontecimentos da vida por meio da graça divina que 
						deriva do mistério pascal da paixão, morte e 
						ressurreição de Cristo, mistério onde vão buscar a sua 
						eficácia todos os sacramentos e sacramentais. E assim, 
						quase não há uso honesto das coisas materiais que não 
						possa reverter para este fim: a santificação dos homens 
						e o louvor a Deus» 
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. Sacrosanctum 
						Concilium, 61: AAS 56 (1964) 116-117). 
						
						FORMAS VARIADAS DOS SACRAMENTAIS 
						
						1671. Entre os sacramentais figuram, em primeiro lugar, 
						as bênçãos (de pessoas, da mesa, de objetos e 
						lugares). Toda a bênção é louvor de Deus e oração para 
						obter os seus dons. Em Cristo, os cristãos são 
						abençoados por Deus Pai, «com toda a espécie de 
						bênçãos espirituais» (Ef. 1, 3). É por 
						isso que a Igreja dá a bênção invocando o nome de Jesus 
						e fazendo habitualmente o santo sinal da cruz de Cristo. 
						
						1672. Certas bênçãos têm um alcance duradoiro: são as 
						que têm por fim consagrar pessoas a Deus e 
						reservar objetos e lugares para usos litúrgicos. Entre 
						as que são destinadas a pessoas (e que não devem 
						confundir-se com a ordenação sacramental) figuram a 
						bênção do Abade ou Abadessa dum Mosteiro, a consagração 
						das virgens e das viúvas, o rito da profissão religiosa 
						e as bênçãos para certos ministérios da Igreja 
						(leitores, acólitos, catequistas, etc.). Como exemplo 
						das que dizem respeito a objetos, pode apontar-se a 
						dedicação ou bênção de unta igreja ou de um 
						altar, a bênção dos santos óleos, dos vasos e paramentos 
						sagrados, dos sinos, etc. 
						
						1673. Quando a Igreja pede publicamente e com 
						autoridade, em nome de Jesus Cristo, que uma pessoa ou 
						objeto seja protegido contra a ação do Maligno e 
						subtraído ao seu domínio, fala-se de exorcismo. 
						Jesus praticou-o 
						
						(Cf. Mc. 1, 25-26) 
						- e é d'Ele que a Igreja obtém o poder e encargo de 
						exorcizar 
						
						(Cf. Mc. 3, 15; 6, 7.13; 16, 17). 
						Sob uma forma simples, faz-se o exorcismo na celebração 
						do Batismo. O exorcismo solene, chamado «grande 
						exorcismo», só pode ser feito por um Presbítero e 
						com licença do Bispo. Deve proceder-se a ele com 
						prudência, observando estritamente as regras 
						estabelecidas pela Igreja 
						
						(Cf. CIC can. 1172). 
						O exorcismo tem por fim expulsar os demónios ou libertar 
						do poder diabólico, e isto em virtude da autoridade 
						espiritual que Jesus confiou à sua Igreja. Muito 
						diferente é o caso das doenças, sobretudo psíquicas, 
						cujo tratamento depende da ciência médica. Por isso, 
						antes de se proceder ao exorcismo, é importante ter a 
						certeza de que se trata duma presença diabólica e não 
						duma doença. 
						
						A RELIGIOSIDADE POPULAR 
						
						1674. Fora da liturgia dos sacramentos e dos 
						sacramentais, a catequese deve ter em consideração as 
						formas de piedade dos fiéis e a religiosidade popular. O 
						sentimento religioso do povo cristão desde sempre 
						encontrou a sua expressão em variadas formas de piedade, 
						que rodeiam a vida sacramental da Igreja, tais como a 
						veneração das relíquias, as visitas aos santuários, as 
						peregrinações, as procissões, a via-sacra, as danças 
						religiosas, o rosário, as medalhas, etc. 
						
						(Cf. II Concílio de Niceia, Definitio de sacris 
						imaginibus: DS 601; Ibid.: DS 603; 
						Concílio de Trento, Sess.25ª, Decretum de invocatione,
						veneratione et reliquiis sanctorum, et sacris 
						imaginibus: DS 1822). 
						
						1675. Estas manifestações são um prolongamento da vida 
						litúrgica da Igreja, mas não a substituem. «Devem ser 
						organizadas, tendo em conta os tempos litúrgicos e de 
						modo a harmonizarem-se com a liturgia, a dimanarem dela 
						de algum modo e a nela introduzirem o povo; porque, por 
						sua natureza, a liturgia lhes é, de longe, superior»
						
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. Sacrosanctum 
						Concilium,  13: AAS 56 (1964) 103). 
						
						1676. Para manter e apoiar a religiosidade popular, é 
						necessário um discernimento pastoral. O mesmo se diga, 
						se for caso disso, para purificar e corrigir o 
						sentimento religioso subjacente a essas devoções e para 
						fazer progredir no conhecimento do mistério de Cristo. A 
						sua prática está submetida ao cuidado e às decisões dos 
						Bispos e às normas gerais da igreja 
						
						(Cf. João Paulo II. Ex. Ap. Catechesi tradendae, 
						54: AAS 71 (1979) 1321-1322). 
						
						- «A religiosidade do povo, no seu núcleo, é um acervo 
						de valores que responde com sabedoria cristã às grandes 
						incógnitas da existência. A sapiência popular católica 
						tem uma capacidade de síntese vital: engloba 
						criadoramente o divino e o humano, Cristo e Maria, 
						espírito e corpo, comunhão e instituição, pessoa e 
						comunidade, fé e pátria, inteligência e afeto. Esta 
						sabedoria é um humanismo cristão que afirma radicalmente 
						a dignidade de toda a pessoa como filho de Deus, 
						estabelece uma fraternidade fundamental, ensina a 
						encontrar a natureza e a compreender o trabalho e 
						proporciona as razões para a alegria e o humor, mesmo no 
						meio de uma vida muito dura. Esta sabedoria é também 
						para o povo um princípio de discernimento, um instinto 
						evangélico pelo qual capta espontaneamente quando se 
						serve na Igreja o Evangelho e quando ele é esvaziado e 
						asfixiado por outros interesses» 
						
						(III Conferência Geral do Episcoplado Latino-Americano,
						Puebla, La Evangelización en el presente y en el 
						futuro de América Latina. 448 (Bogotá 1979) 
						p. 131 [Puebla. A Evangelização no presente e no futuro 
						da América Latina, Texto oficial da CNBB, 448 
						(Petrópolis, Ed. Vozes 1980) p.153-154]; cf. Paulo VI, 
						Ex. ap. Evangelii nuntiandi, 48: AAS 68 (1976) 
						37-38). 
						
						Resumindo: 
						
						1677. Chamam-se sacramentais os sinais sagrados 
						instituídos pela Igreja, cuja finalidade é preparar os 
						homens para receberem os frutos dos sacramentos e 
						santificarem as diferentes circunstâncias da vida. 
						
						1678. Entre os sacramentais, as bênçãos ocupam um 
						lugar importante. Compreendem, ao mesmo tempo, o louvor 
						de Deus pelas suas obras e a intercessão da Igreja para 
						que os homens possam fazer uso dos dons de Deus segundo 
						o espírito do Evangelho. 
						
						1679. Além da liturgia, a vida cristã nutre-se das 
						variadas formas da piedade popular, enraizadas nas 
						diferentes culturas. Procurando esclarecê-las com a luz 
						da fé, a Igreja favorece as formas de religiosidade 
						popular que exprimem um instinto evangélico e uma 
						sabedoria humana, e que enriquecem a vida cristã. 
						
						
						
						ARTIGO 2 
						
						AS EXÉQUIAS CRISTÃS 
						
						1680. Todos os sacramentos, principalmente os da 
						iniciação cristã, têm pôr fim a última páscoa do 
						cristão, que, pela morte, o faz entrar na vida do Reino. 
						Então se cumpre o que ele confessa na fé e na esperança:
						«espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo 
						que há de vir» 
						
						(Símbolo Niceno-Constantinopolitano: DS 150). 
						
						I. A última Páscoa do cristão 
						
						1681. O sentido cristão da morte é revelado à luz do 
						mistério pascal da morte e ressurreição de Cristo, 
						em quem pomos a nossa única confiança. O cristão que 
						morre em Cristo Jesus «abandona este corpo para ir 
						morar junto do Senhor» 
						
						(Cf. 2ª Cor. 5, 8). 
						
						1682. O dia da morte inaugura para o cristão, no 
						termo da sua vida sacramental, a consumação do seu 
						novo nascimento começado no Batismo, o definitivo 
						«assemelhar-se à imagem do Filho», conferido pela 
						unção do Espírito Santo e pela participação no banquete 
						do Reino, antecipada na Eucaristia, ainda que algumas 
						derradeiras purificações lhe sejam ainda necessárias, 
						para poder vestir o traje nupcial. 
						
						1683. A Igreja que, como mãe, trouxe sacramentalmente no 
						seu seio o cristão durante a sua peregrinação terrena, 
						acompanha-o no termo da sua caminhada para o entregar 
						«nas mãos do Pai». E oferece ao Pai, em Cristo, o 
						filho da sua graça, e depõe na terra, na esperança, o 
						gérmen do corpo que há de ressuscitar na glória 
						
						(Cf. 1ª Cor. 15, 42-44). 
						Esta oblação é plenamente celebrada no sacrifício 
						eucarístico, e as bênçãos que o precedem e o seguem são 
						sacramentais. 
						
						II. A celebração das exéquias 
						
						1684. As exéquias cristãs são uma celebração litúrgica 
						da Igreja. O ministério da Igreja tem em vista, aqui, 
						tanto exprimir a comunhão eficaz com o defunto, 
						como fazer participar nela a comunidade reunida 
						para o funeral e anunciar-lhe a vida eterna. 
						
						1685. Os diferentes ritos das exéquias exprimem o 
						carácter pascal da morte cristã e correspondem às 
						situações e tradições de cada região, até no que 
						respeita à cor litúrgica 
						
						(Cf. II Concílio do Vaticano, Const. 
						Sacrosanctum Concilium, 81: AAS 56 (1964) 120). 
						
						1686. A Celebração das Exéquias - Ordo exsequiarum -
						da liturgia romana propõe três tipos de celebração 
						das exéquias, correspondentes aos três lugares em que se 
						desenrolam (a casa, a igreja, o cemitério), e segundo a 
						importância que lhes dão a família, os costumes locais, 
						a cultura e a piedade popular. O esquema é, aliás, comum 
						a todas as tradições litúrgicas e compreende quatro 
						momentos principais. 
						
						1687. O acolhimento da comunidade. Uma saudação 
						de fé dá início à celebração. Os parentes do defunto são 
						acolhidos com uma palavra de «consolação» (no 
						sentido do Novo Testamento: a fortaleza do Espírito 
						Santo na confiança 
						
						(Cf. 1ª Ts. 4, 18). 
						Também a comunidade orante, que se junta, espera ouvir
						«as palavras da vida eterna». A morte dum membro 
						da comunidade (ou o seu dia aniversário, sétimo ou 
						trigésimo) é um acontecimento que deve levar a 
						ultrapassar as perspectivas «deste mundo» e 
						projetar os fiéis para as verdadeiras perspectivas da fé 
						em Cristo Ressuscitado. 
						
						1688. A liturgia da Palavra, aquando das 
						exéquias, exige uma preparação, tanto mais atenta quanto 
						a assembleia presente pode incluir fiéis pouco 
						frequentadores da liturgia e até amigos do defunto que 
						não sejam cristãos. A homilia, de modo particular, deve
						«evitar o género literário do elogio fúnebre» (Cf.
						Ordo exsequiarum, De primo typo exsequiarum, 41, 
						Editio typica (Typis PolyglottisVaticanis 1969) p. 21 [Celebração 
						das Exéquias, n. 57 (Braga, Secretariado Nacional do 
						Apostolado da Oração – Conferência Episcopal. 1984) p. 
						521) 
						e iluminar o mistério da morte cristã com a luz de 
						Cristo ressuscitado. 
						
						1689. O sacrifício eucarístico. Quando a 
						celebração tem lugar na igreja, a Eucaristia é o coração 
						da realidade pascal da morte cristã 
						
						(Cf. Ordo exsequiarum, Praenotanda, Editio typica 
						(Typis Polyglottis Vaticanis 1969) p. 7 [Celebração 
						das Exéquias, Preliminares, I (Braga, Secretariado 
						Nacional do Apostolado da Oração – Conferência 
						Episcopal, 1984) p. 31). 
						É então que a Igreja manifesta a sua comunhão eficaz com 
						o defunto: oferecendo ao Pai, no Espírito Santo, o 
						sacrifício da morte e ressurreição de Cristo, pede-Lhe 
						que o seu filho defunto seja purificado dos pecados e 
						respectivas consequências, e admitido à plenitude pascal 
						da mesa do Reino 
						
						(Cf. Ordo exsequiarum, De primo typo exsequiarum, 
						56. Editio typica (Typis Polyglottis Vaticanis 1969) p. 
						26 [Celebração das Exéquias, n. 87* (Braga, 
						Secretariado Nacional do Apostolado da Oração - 
						Conferência Episcopal. 1984) p. 82-83]). 
						É pela Eucaristia assim celebrada que a comunidade dos 
						fiéis, especialmente a família do defunto, aprende a 
						viver em comunhão com aquele que «adormeceu no 
						Senhor», comungando o corpo de Cristo, de que ele é 
						membro vivo, e depois rezando por ele e com ele. 
						
						1690. O adeus («a Deus») ao defunto é a 
						sua «encomendação a Deus» pela Igreja. É «a 
						última saudação dirigida pela comunidade cristã a um dos 
						seus membros, antes de o corpo ser levado para a 
						sepultura» 
						
						(Ordo exsequiarum, Praenotanda, 10, Editio typica 
						(Typis Polyglottis Vaticanis 1969) p. 9 [Celebração 
						dos Exéquias, Preliminares, 10 (Braga, Secretariado 
						Nacional do Apostolado da Oração – Conferência 
						Episcopal, 1984) p. 7]). 
						A tradição bizantina exprime-o pelo ósculo do adeus ao 
						defunto. 
						
						Nesta saudação final, «canta-se por ele ter partido 
						desta vida e pela sua separação, mas também porque há 
						uma comunhão e uma reunião. Com efeito, mortos, nós não 
						nos separamos uns dos outros, porque todos percorremos o 
						mesmo caminho e nos reencontraremos no mesmo lugar. 
						Nunca nos separaremos, porque vivemos para Cristo e 
						agora estamos unidos a Cristo, indo para Ele... 
						estaremos todos juntos em Cristo» 
						
						(São Simão de Tessalónica, De ordine sepulturae, 
						367: PG 155, 685). 
						
						 TERCEIRA PARTE 
						
						
						A VIDA EM CRISTO 
						
						
						INTRODUÇÃO 
						
						1691. «Reconhece, ó cristão, a tua dignidade. Uma vez 
						constituído participante da natureza divina, não penses 
						em voltar às antigas misérias da tua vida passada. 
						Lembra-te de que cabeça e de que corpo és membro. Não te 
						esqueças de que foste libertado do poder das trevas e 
						transferido para a luz e para o Reino de Deus»
						
						
						(São Leão Magno, Sermo 21, 3: CCL 138, 88 (PL 54, 
						192-193)). 
						
						1692. O Símbolo da fé, professou a grandeza dos dons de 
						Deus ao homem na obra da criação e, mais ainda, na da 
						redenção e santificação. O que a fé confessa, os 
						sacramentos comunicam-no: pelos «sacramentos, que os 
						fizeram renascer», os cristãos tornaram-se 
						«filhos de Deus» (1ª Jo. 3, 1) 
						
						(Cf. Jo. 1, 12),
						«participantes da natureza divina» (2ª Pe. 1, 4). 
						Reconhecendo pela fé a sua nova dignidade, os cristãos 
						são chamados a levar, doravante, uma vida digna do 
						Evangelho de Cristo 
						
						(Cf. Fl. 1, 27). 
						Pelos sacramentos e pela oração, recebem a graça de 
						Cristo e os dons do seu Espírito, que dela os tornam 
						capazes. 
						
						1693. Cristo Jesus fez sempre aquilo que era do agrado 
						do Pai 
						
						(Cf. Jo. 8, 29). 
						Viveu sempre em perfeita comunhão com Ele. De igual 
						modo, os seus discípulos são convidados a viver sob o 
						olhar do Pai, «que vê no segredo» (Mt. 6, 
						6), para se tornarem «perfeitos como o Pai Celeste é 
						perfeito» (Mt. 5, 47). 
						
						1694. Incorporados em Cristo pelo Batismo 
						
						(Cf. Rm. 6, 5), 
						os cristãos «morreram para o pecado e vivem para Deus 
						em Cristo Jesus» 
						
						(Cf. Rm. 6, 11), 
						participando assim na vida do Ressuscitado 
						
						(Cf. Cl. 2, 12).
						«Seguindo a Cristo e em união com Ele 
						
						(Cf. Jo. 15, 5), 
						os cristãos podem esforçar-se por ser imitadores de 
						Deus, como filhos bem amados, e por proceder com amor»
						
						
						(Cf. Ef. 5, 1-2), 
						conformando os seus pensamentos, palavras e ações com os 
						sentimentos de Cristo Jesus 
						
						(Cf. Fl. 2, 5) 
						e seguindo os seus exemplos 
						
						(Cf. Jo. 13, 12-16). 
						
						1695. «Justificados pelo nome de nosso Senhor Jesus 
						Cristo e pelo Espírito do nosso Deus» (1ª 
						Cor. 6, 11), «santificados e chamados a serem 
						santos» 
						
						(Cf. 1ª Cor. 1, 2) 
						os cristãos tornaram-se «templo do Espírito Santo»
						(1ª Cor. 6, 19). Este, que é o 
						«Espírito do Filho», ensina-os a orar ao Pai 
						
						(Cf. Gl. 4, 6) 
						e, tendo-Se feito vida deles, impele-os a agir 
						
						(Cf. Gl. 5, 25) 
						para produzirem os frutos do Espírito 
						
						(Cf. Gl. 5, 22) 
						mediante uma caridade ativa. Curando as feridas do 
						pecado, o Espírito Santo renova-nos interiormente por 
						uma transformação espiritual 
						
						(Cf. Ef. 4, 23), 
						ilumina-nos e fortalece-nos para vivermos como 
						«filhos da luz» (Ef. 5, 8) «em toda a espécie de 
						bondade, justiça e verdade» (Ef. 5, 9). 
						
						1696. O caminho de Cristo «leva à vida»; um 
						caminho contrário «leva à perdição» (Mt. 7,
						13) 
						
						(Cf. Dt. 30, 15-20). 
						A parábola evangélica dos dois caminhos está 
						sempre presente na catequese da Igreja. E significa a 
						importância das decisões morais para a nossa salvação.
						«Há dois caminhos, um da vida, outro da morte: mas 
						entre os dois existe uma grande diferença» 
						
						(Didaké
						
						
						1, 1: SC 248, 140 (Funk 1, 2)). 
						
						1697. Na catequese, importa revelar com toda a 
						clareza a alegria e as exigências do caminho de Cristo
						
						
						(Cf. João Paulo II, Ex. Ap. Catechesi tradendae, 
						29: AAS 71 (1979) 1301). 
						A catequese da «vida nova» n'Ele (Rm. 6, 
						4), deve ser: 
						
						
						- uma catequese do Espírito Santo, mestre 
						interior da vida segundo Cristo, doce hóspede e amigo 
						que inspira, guia, retifica e fortalece essa vida; 
						
						
						- uma catequese da graça, pois é pela graça que 
						somos salvos e é também pela graça que as nossas obras 
						podem ser frutuosas para a vida eterna; 
						
						
						- uma catequese das bem-aventuranças, porque o 
						caminho de Cristo se resume nelas e é o único caminho da 
						felicidade eterna a que o coração do homem aspira; 
						
						
						- uma catequese do pecado e do perdão, porque, 
						sem se reconhecer pecador, o homem não pode conhecer a 
						verdade sobre si mesmo, condição dum procedimento justo: 
						e, sem a oferta do perdão, não seria capaz de suportar 
						aquela verdade; 
						
						
						- uma catequese das virtudes humanas, que faz 
						apreender a beleza e o atrativo das retas disposições 
						para o bem; 
						
						
						- uma catequese das virtudes cristãs da fé, 
						esperança e caridade, que se inspira abundantemente no 
						exemplo dos santos; 
						
						
						- uma catequese do duplo mandamento da caridade 
						exposto no decálogo; 
						
						
						- uma catequese eclesial, porque é nas múltiplas 
						permutas dos «bens espirituais», na «comunhão 
						dos santos», que a vida cristã pode crescer, 
						desenvolver-se e comunicar-se. 
						
						1698. A referência, primeira e última, desta catequese 
						será sempre o próprio Jesus Cristo, que é «o caminho, 
						a verdade e a vida» (Jo. 14, 6). De olhos postos 
						n'Ele com fé, os cristãos podem esperar que Ele próprio 
						realize neles as suas promessas e, amando-O com o amor 
						com que Ele os amou, podem fazer as obras 
						correspondentes à sua dignidade: 
						
						
						- «rogo-te que penses em nosso Senhor Jesus Cristo como 
						tua verdadeira cabeça, e em ti como um dos seus membros. 
						Ele é para ti como a cabeça para os membros. Tudo o que 
						é d'Ele é teu: o espírito, o coração, o corpo, a alma e 
						todas as faculdades. Deves usar de todas elas como se 
						fossem realmente tuas, para servir, louvar, amar e 
						glorificar a Deus. Tu és para Ele como um membro em 
						relação à cabeça: e, por isso, também Ele deseja 
						ardentemente servir-Se de todas as tuas faculdades como 
						se fossem suas, para servir e glorificar o Pai»
						
						
						(São João Eudes, Le Coeur admirable de la Três Sacrée 
						Mère de Dieu, 1, 5 Oeuvres completes, v. 6 
						(Paris 1908) p. 113-114).
						«Para mim, viver é Cristo» (Fl. 1, 21).
 
						
						TERCEIRA PARTE 
						
						A VIDA EM CRISTO 
						
						PRIMEIRA SECÇÃO 
						
						A VOCAÇÃO DO HOMEM: A VIDA NO ESPÍRITO 
						
						1699. A vida no Espírito Santo realiza a vocação do 
						homem (Capítulo primeiro). É feita de caridade 
						divina e de solidariedade humana (Capítulo segundo).
						É concedida gratuitamente como salvação (Capítulo 
						terceiro). 
						
						 CAPÍTULO PRIMEIRO 
						
						A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 
						
						1700. A dignidade da pessoa humana radica na sua criação 
						à imagem e semelhança de Deus (Artigo 1) e 
						realiza-se na sua vocação à bem-aventurança divina 
						(Artigo 2). Compete ao ser humano chegar livremente 
						a esta realização (Artigo 3). Pelos seus atos 
						deliberados (Artigo 4), a pessoa humana 
						conforma-se, ou não, com o bem prometido por Deus e 
						atestado pela consciência moral (Artigo 5). Os 
						seres humanos edificam-se a si mesmos e crescem a partir 
						do interior: fazem de toda a sua vida sensível e 
						espiritual objeto do próprio crescimento (Artigo 6).
						Com a ajuda da graça, crescem na virtude (Artigo 
						7), evitam o pecado e, se o cometeram, entregam-se 
						como o filho pródigo 
						
						(Cf. Lc. 15, 11-32) 
						à misericórdia do Pai dos céus (Artigo 8). 
						Atingem, assim, a perfeição da caridade. 
						
						
						
						ARTIGO 1 
						
						O HOMEM, IMAGEM DE DEUS 
						
						1701. «Cristo, [...] na própria revelação do mistério 
						do Pai e do seu amor, manifesta plenamente o homem a si 
						mesmo e descobre-lhe a sua vocação sublime» 
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 22: AAS 58 (1966) 1042). 
						Foi em Cristo, «imagem do Deus invisível» (Cl. 1, 
						15) 
						
						(Cf. 2ª Cor. 4, 4), 
						que o homem foi criado «à imagem e semelhança» do 
						Criador. Assim como foi em Cristo, redentor e salvador, 
						que a imagem divina, deformada no homem pelo primeiro 
						pecado, foi restaurada na sua beleza original e 
						enobrecida pela graça de Deus 
						
						(Cf. II Concílio do Vaticano, Const. past. 
						Gaudium et spes, 22: AAS 58 (1966) 1042). 
						
						1702. A imagem divina está presente em cada homem. 
						Resplandece na comunhão das pessoas, à semelhança da 
						unidade das Pessoas divinas entre Si (cf. Capítulo 
						segundo). 
						
						1703. Dotada de uma alma «espiritual e imortal»
						
						
						(Cf. II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 14: AAS 58 (1966) 1036) a pessoa humana é «a única criatura 
						sobre a tema querida por Deus por si mesma» 
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 24: AAS 58 (1966) 1045). 
						Desde que é concebida, é destinada para a 
						bem-aventurança eterna. 
						
						1704. A pessoa humana participa da luz e da força do 
						Espírito divino. Pela razão, é capaz de compreender a 
						ordem das coisas estabelecida pelo Criador. Pela 
						vontade, é capaz de se orientar a si própria para o bem 
						verdadeiro. E encontra a perfeição na «busca e no 
						amor da verdade e do bem» 
						
						(Cf. II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 15: AAS 58 (1966) 1036). 
						
						1705. Em virtude da sua alma e das forças espirituais da 
						inteligência e da vontade, o homem é dotado de 
						liberdade, «sinal privilegiado da imagem divina»
						
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 17: AAS 58 (1966) 1037). 
						
						1706. Mediante a sua razão, o homem conhece a voz de 
						Deus que o impele «a fazer [...] o bem e a evitar o 
						mal» 
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 16: AAS 58 (1966) 1037). 
						Todos devem seguir esta lei, que ressoa na consciência e 
						se cumpre no amor de Deus e do próximo. O exercício da 
						vida moral atesta a dignidade da pessoa. 
						
						1707. «Seduzido pelo Maligno desde o começo da 
						história, o homem abusou da sua liberdade» 
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 13: AAS 58 (1966) 1034). 
						Sucumbiu à tentação e cometeu o mal. Conserva o desejo 
						do bem, mas a sua natureza está ferida pelo pecado 
						original. O homem ficou com a inclinação para o mal e 
						sujeito ao erro: 
						
						- «o homem encontra-se, pois, dividido em si mesmo. E 
						assim, toda a vida humana, quer singular quer coletiva, 
						apresenta-se como uma luta, e quão dramática, entre o 
						bem e o mal, entre a luz e as trevas» 
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 13: AAS 58 (1966) 1035). 
						
						1708. Pela sua paixão, Cristo livrou-nos de Satanás e do 
						pecado e mereceu-nos a vida nova no Espírito Santo. A 
						sua graça restaura o que o pecado tinha deteriorado em 
						nós. 
						
						1709. Quem crê em Cristo torna-se filho de Deus. Esta 
						adoção filial transforma-o, dando-lhe a possibilidade de 
						seguir o exemplo de Cristo. Torna-o capaz de agir com 
						retidão e de praticar o bem. Na união com o seu 
						Salvador, o discípulo atinge a perfeição da caridade, 
						que é a santidade. Amadurecida na graça, a vida moral 
						culmina na vida eterna, na glória do céu. 
						
						 Resumindo: 
						
						1710. «Cristo [...] manifesta plenamente o homem a si 
						mesmo e descobre-lhe a sua vocação sublime» 
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 22: AAS 58 (1966) 1042). 
						
						1711. Dotada de uma alma espiritual, de inteligência 
						e de vontade, a pessoa humana é, desde a sua concepção, 
						ordenada para Deus e destinada à eterna bem-aventurança. 
						E continua a aperfeiçoar-se na «busca e amor da verdade 
						e do bem» 
						
						(Cf. II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 15: AAS 58 (1966) 1036). 
						
						1712. «A verdadeira liberdade é, no homem, o sinal 
						privilegiado da imagem de Deus» 
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 17: AAS 58 (1966) 1037). 
						
						1713. O homem é obrigado a seguir a lei moral, que o 
						impele a «fazer [...] o bem e a evitar o mal»
						
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 16: AAS 58 (1966) 1037). 
						Esta lei ressoa na sua consciência. 
						
						1714. O homem, ferido na sua natureza pelo pecado 
						original, está sujeito ao erro e inclinado para o mal no 
						exercício da sua liberdade. 
						
						1715. Quem crê em Cristo possui a vida nova no 
						Espírito Santo. A vida moral, crescida e amadurecida na 
						graça, deve consumar-se na glória do céu. 
						
						
						
						ARTIGO 2 
						
						A NOSSA VOCAÇÃO PARA A BEM-AVENTURANÇA 
						
						 I. As bem-aventuranças 
						
						1716. As bem-aventuranças estão no coração da 
						pregação de Jesus. O seu anúncio retorna as promessas 
						feitas ao povo eleito, desde Abraão. A pregação de Jesus 
						completa-as, ordenando-as, não já somente à felicidade 
						resultante da posse dum tema, mas ao Reino dos céus: 
						
						- «Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é 
						o Reino dos céus. - Bem-aventurados os que choram, porque serão 
						consolados.
 - Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a tema.
 - Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, 
						porque serão saciados.
 - Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão 
						misericórdia.
 - Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a 
						Deus.
 - Bem-aventurados os que promovem a paz. porque serão 
						chamados filhos de Deus.
 - Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da 
						justiça, porque deles é o Reino dos céus.
 - Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos 
						insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o 
						mal de vós. Alegrai-vos e exultai, pois é grande nos 
						céus a vossa recompensa» 
						(Mt. 5, 3-12).
 
						
						1717. As bem-aventuranças retratam o rosto de Jesus 
						Cristo e descrevem-nos a sua caridade: exprimem a 
						vocação dos fiéis associados à glória da sua paixão e 
						ressurreição; definem os atos e atitudes características 
						da vida cristã; são as promessas paradoxais que 
						sustentam a confiança no meio das tribulações; anunciam 
						aos discípulos as bênçãos e recompensas já obscuramente 
						adquiridas; já estão inauguradas na vida da Virgem Maria 
						e de todos os santos. 
						
						II. O desejo de felicidade 
						
						1718. As bem-aventuranças respondem ao desejo natural de 
						felicidade. Este desejo é de origem divina; Deus pô-lo 
						no coração do homem para o atrair a Si, o único que o 
						pode satisfazer: 
						
						- «Todos nós, sem dúvida, queremos viver felizes, e não 
						há entre os homens quem não dê o seu assentimento a esta 
						afirmação, mesmo antes de ela ser plenamente enunciada»
						
						
						(Santo Agostinho, De moribus Ecclesiae catholicae 
						1. 3, 4: CSEL 90, 6 (PL 32, 1312)). 
						
						- «Como é então, Senhor, que eu Te procuro? De fato, 
						quando Te procuro, ó meu Deus, é a vida feliz que eu 
						procuro. Faz com que Te procure, para que a minha alma 
						viva! Porque tal como o meu corpo vive da minha alma, 
						assim a minha alma vive de Ti»
						
						
						(Santo Agostinho, Confissões, 10, 20, 29: CCL 27, 
						170 (PL 32, 791)). 
						
						- «Só Deus sacia»
						
						
						(São Tomás de Aquino, In Symbolum Apostolarum 
						scilicet «Credo in Deum», expositio, c. 15: Opera 
						omnia, v. 27 (Parisiis 1875) p. 228). 
						
						1719. As bem-aventuranças descobrem a meta da existência 
						humana, o fim último dos atos humanos: Deus chama-nos à 
						sua própria felicidade. Esta vocação dirige-se a cada 
						um, pessoalmente, mas também ao conjunto da Igreja, povo 
						novo constituído por aqueles que acolheram a promessa e 
						dela vivem na fé. 
						
						III. A bem-aventurança cristã 
						
						1720. O Novo Testamento emprega muitas expressões para 
						caracterizar a bem-aventurança a que Deus chama o homem: 
						a chegada do Reino de Deus 
						
						(Cf. Mt. 4, 17); 
						a visão de Deus: «bem-aventurados os puros de 
						coração, porque verão a Deus» (Mt. 5, 8) ((Cf. 
						1ª Jo. 3, 2; 1ª Cor 13)); 
						a entrada na alegria do Senhor 
						
						(Cf. Mt 25, 21. 23) 
						a entrada no repouso de Deus 
						
						(Cf. Heb. 4, 7-11): 
						
						- «lá, descansaremos e veremos: veremos e amaremos; 
						amaremos e louvaremos. Eis o que acontecerá no fim sem 
						fim. E que outro fim nós temos, sendo chegar ao Reino 
						que lido tem fim»?
						
						
						(Santo Agostinho, De civitate Dei, 22, 30 CSEL 
						40/2, 670 (PL 41, 804)). 
						
						1721. De fato, Deus colocou-nos no mundo para O 
						conhecermos, servirmos e amarmos, e assim chegarmos ao 
						paraíso. A bem-aventurança faz-nos participantes da 
						natureza divina (1ª Pe. 1, 4) e da vida eterna 
						
						(Cf. Jo. 17, 3). 
						Com ela, o homem entra na glória de Cristo 
						
						(Cf. Rm. 8, 18) 
						e no gozo da vida trinitária.  
						
						1722. Uma tal bem-aventurança ultrapassa a inteligência 
						e as simples forças humanas. Resulta de um dom gratuito 
						de Deus. Por isso se classifica de sobrenatural, tal 
						como a graça, que dispõe o homem para entrar no gozo de 
						Deus.  
						
						- «"Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a 
						Deus". É certo que "ninguém pode ver a Deus" na sua 
						grandeza e glória inenarrável e "continuar a viver", 
						porque o Pai é inacessível. Mas, no seu amor, na sua 
						bondade para com os homens e na sua omnipotência, vai ao 
						ponto de conceder aos que O amam esta graça: ver a Deus 
						[...] porque "o que é impossível aos homens é possível a 
						Deus"»
						
						
						(Santo Ireneu de Lião, Adversus Haereses, 4, 20, 
						5: SC 100, 638). 
						
						1723. A bem-aventurança prometida coloca-nos perante as 
						opções morais decisivas. Convida-nos a purificar o nosso 
						coração dos seus maus instintos e a procurar o amor de 
						Deus acima de tudo. E ensina-nos que a verdadeira 
						felicidade não reside nem na riqueza ou no bem-estar, 
						nem na glória humana ou no poder, nem em qualquer obra 
						humana, por útil que seja, como as ciências, as técnicas 
						e as artes, nem em qualquer criatura, mas só em Deus, 
						fonte de todo o bem e de todo o amor: 
						
						- «a riqueza á a grande divindade deste tempo: é a 
						ela que a multidão, toda a massa dos homens, presta 
						instintiva homenagem. Mede-se a felicidade pela fortuna, 
						como pela fortuna se mede a honorabilidade [...] tudo 
						provém desta convicção: com a riqueza, tudo se pode. A 
						riqueza é, pois, um dos ídolos atuais: outro, é a 
						notoriedade. [...] A notoriedade, o fato de se ser 
						conhecido e de dar brado no mundo (a que poderia 
						chamar-se fama de imprensa), acabou por ser considerada 
						como um bem em si mesma, um bem soberano, objeto, até, 
						de verdadeira veneração» 
						
						(Johannes Henricus Newman, Discourses addressed to 
						Mixed Congregations, 5 [Saintliness the Standard 
						of Christian Principle] (Westminister 1966), 
						p. 89-91). 
						
						1724. O decálogo, o sermão da montanha e a catequese 
						apostólica descrevem-nos os caminhos que conduzem ao 
						Reino dos céus. Por eles avançamos, passo a passo, pelos 
						atos de cada dia, amparados pela graça do Espírito 
						Santo. Fecundados pela Palavra de Cristo, pouco a pouco, 
						damos frutos na Igreja para a glória de Deus 
						
						(Cf. parábola do semeador: Mt 13, 3-23). 
						
						Resumindo: 
						
						1725. As bem-aventuranças retomam e aperfeiçoam as 
						promessas de Deus, desde Abraão, ordenando-as para o 
						Reino dos céus. Correspondem ao desejo de felicidade que 
						Deus colocou no coração do homem. 
						
						1726. As bem-aventuranças ensinam-nos qual o fim 
						último a que Deus nos chama: o Reino, a visão de Deus, a 
						participação na natureza divina, a vida eterna, a 
						filiação, o repouso em Deus. 
						
						1727. A bem-aventurança da vida eterna é um dom 
						gratuito de Deus; é sobrenatural, como a graça que a ela 
						conduz. 
						
						1728. As bem-aventuranças colocam-nos perante opções 
						decisivas relativamente aos bens terrenos; purificam o 
						nosso coração, para nos ensinarem a amar a Deus sobre 
						todas as coisas. 
						
						1729. A bem-aventurança do céu determina os critérios 
						de discernimento no uso dos bens terrenos, em 
						conformidade com a Lei de Deus. 
						
						
						
						ARTIGO 3 
						
						A LIBERDADE DO HOMEM 
						
						1730. Deus criou o homem racional, conferindo-lhe a 
						dignidade de pessoa dotada de iniciativa e do domínio 
						dos seus próprios atos. «Deus quis "deixar o homem 
						entregue à sua própria decisão" (Sir. 15, 14), de 
						tal modo que procure por si mesmo o seu Criador e, 
						aderindo livremente a Ele, chegue à total e beatífica 
						perfeição» 
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 17: AAS 58 (1966) 1037): 
						- «o homem é racional e, por isso, 
						semelhante a Deus, criado livre e senhor dos seus atos»
						
						
						(Santo Ireneu de Lião, Adversus Haereses, 4, 4, 
						3: SC 100, 424 (PG 7, 983)). 
						
						I. Liberdade e responsabilidade 
						
						1731. A liberdade é o poder, radicado na razão e na 
						vontade, de agir ou não agir, de fazer isto ou aquilo, 
						praticando assim, por si mesmo, ações deliberadas. Pelo 
						livre arbítrio, cada qual dispõe de si. A liberdade é, 
						no homem, uma força de crescimento e de maturação na 
						verdade e na bondade. E atinge a sua perfeição quando 
						está ordenada para Deus, nossa bem-aventurança. 
						
						1732. Enquanto se não fixa definitivamente no seu bem 
						último, que é Deus, a liberdade implica a possibilidade 
						de escolher entre o bem e o mal, e, portanto, de 
						crescer na perfeição ou de falhar e pecar. É ela que 
						caracteriza os atos propriamente humanos. Torna-se fonte 
						de louvor ou de censura, de mérito ou de demérito. 
						
						1733. Quanto mais o homem fizer o bem, mais livre se 
						torna. Não há verdadeira liberdade senão no serviço do 
						bem e da justiça. A opção pela desobediência e pelo mal 
						é um abuso da liberdade e conduz à escravidão do pecado
						
						
						(Cf. Rm. 6, 17). 
						
						1734. A liberdade torna o homem responsável pelos 
						seus atos, na medida em que são voluntários. O progresso 
						na virtude, o conhecimento do bem e a ascese aumentam o 
						domínio da vontade sobre os próprios atos. 
						
						1735. A imputabilidade e responsabilidade dum ato 
						podem ser diminuídas, e até anuladas, pela ignorância, a 
						inadvertência, a violência, o medo, os hábitos, as 
						afeições desordenadas e outros fatores psíquicos ou 
						sociais. 
						
						1736. Todo o ato diretamente querido é imputável ao seu 
						autor. 
						
						Assim, depois do pecado no paraíso, o Senhor pergunta a 
						Adão: «que fizeste»? (Gn. 3, 13). O mesmo 
						faz a Caim 
						
						(Cf. Gn. 4, 10). 
						Assim também o profeta Natan ao rei David, após o 
						adultério com a mulher de Urias e o assassinato deste
						
						
						(Cf. 2º Sm. 12, 7-15). 
						
						Uma ação pode ser indiretamente voluntária, quando 
						resulta duma negligência relativa ao que se deveria ter 
						conhecido ou feito, por exemplo, um acidente de 
						trânsito, provocado por ignorância do código da estrada. 
						
						1737. Um efeito pode ser tolerado, sem ter sido querido 
						pelo agente, por exemplo, o esgotamento duma mãe à 
						cabeceira do seu filho doente. O efeito mau não é 
						imputável se não tiver sido querido nem como fim nem 
						como meio do ato, como a morte sofrida quando se levava 
						socorro a uma pessoa em perigo. Para que o efeito mau 
						seja imputável, é necessário que seja previsível e que 
						aquele que age tenha a possibilidade de o evitar como, 
						por exemplo, no caso dum homicídio cometido por um 
						condutor em estado de embriaguez. 
						
						1738. A liberdade exercita-se nas relações entre seres 
						humanos. Toda a pessoa humana, criada à imagem de Deus, 
						tem o direito natural de ser reconhecida como ser livre 
						e responsável. Todos devem a todos este dever do 
						respeito. O direito ao exercício da liberdade é 
						uma exigência inseparável da dignidade da pessoa humana, 
						nomeadamente em matéria moral e religiosa 
						
						(Cf. II Concílio do Vaticano, Decl. Dignitatis 
						humanae, 2: AAS 58 (1966) 930-931). Este direito deve ser civilmente 
						reconhecido e protegido dentro dos limites do bem comum 
						e da ordem pública 
						
						(Cf.  II Concílio do Vaticano, Decl. Dignitatis 
						humanae, 7: AAS 58 (1966) 934-935). 
						
						II. A liberdade humana na economia da salvação 
						
						1739. Liberdade e pecado. A liberdade do homem é 
						finita e falível. E, de fato, o homem falhou. 
						Livremente, pecou. Rejeitando o projeto divino de amor, 
						enganou-se a si mesmo; tornou-se escravo do pecado. Esta 
						primeira alienação gerou uma multidão de outras. A 
						história da humanidade, desde as suas origens, dá 
						testemunho de desgraças e opressões nascidas do coração 
						do homem, como consequência de um mau uso da liberdade. 
						
						1740. Ameaças à liberdade. O exercício da 
						liberdade não implica o direito de tudo dizer e fazer. É 
						falso pretender que «o homem, sujeito da liberdade, 
						se basta a si mesmo, tendo pôr fim a satisfação do seu 
						interesse próprio no gozo dos bens terrenos» 
						
						(Congregação para a Doutrina da Fé, Instr. Libertatis 
						conscientia, 13: AAS 79 (1987) 559). 
						Por outro lado, as condições de ordem económica e 
						social, política e cultural, requeridas para um justo 
						exercício da liberdade, são com demasiada frequência 
						desprezadas e violadas. Estas situações de cegueira e de 
						injustiça abalam a vida moral e induzem tanto os fracos 
						como os fortes na tentação de pecar contra a caridade. 
						Afastando-se da lei moral, o homem atenta contra a sua 
						própria liberdade, agrilhoa-se a si mesmo, quebra os 
						laços de fraternidade com os seus semelhantes e 
						rebela-se contra a verdade divina. 
						
						1741. Libertação e salvação. Pela sua cruz 
						gloriosa, Cristo obteve a salvação de todos os homens. 
						Resgatou-os do pecado, que os retinha numa situação de 
						escravatura. «Foi para a liberdade que Cristo nos 
						libertou» (Gl. 5, 1). N'Ele, nós comungamos na 
						verdade que nos liberta 
						
						(Cf. Jo. 8, 32). 
						Foi-nos dado o Espírito Santo e, como ensina o Apóstolo,
						«onde está o Espírito, aí está a liberdade» (2ª 
						Cor. 3, 17). Já desde agora nos gloriamos da 
						«liberdade dos filhos de Deus» 
						
						(Cf. Rm. 8, 21). 
						
						1742. Liberdade e graça. A graça de Cristo 
						não faz concorrência de modo nenhum, à nossa liberdade, 
						quando esta corresponde ao sentido da verdade e do bem 
						que Deus colocou no coração do homem. Pelo contrário, e 
						como o certifica a experiência cristã sobretudo na 
						oração, quanto mais dóceis formos aos impulsos da graça, 
						tanto mais crescem a nossa liberdade interior e a nossa 
						segurança nas provações, como também perante as pressões 
						e constrangimentos do mundo exterior. Pela ação da 
						graça, o Espírito Santo educa-nos para a liberdade 
						espiritual, para fazer de nós colaboradores livres da 
						sua obra na Igreja e no mundo: 
						
						- «Deus eterno e misericordioso, afastai de nós toda 
						a adversidade, para que, sem obstáculos do corpo ou do 
						espírito, possamos livremente cumprir a vossa vontade»
						
						
						(Domingo XXXII do Tempo Comum, Colecta: Missale 
						Romanum, editio typica (Typis Polyglottis Vaticanis 
						1970), p.371 [Missal Romano, Gráfica de Coimbra 
						1992, 426]). 
						
						Resumindo: 
						
						1743. «Deus [...] deixou o homem entregue à sua 
						própria decisão» (Sir. 15, 14), para que ele 
						possa aderir livremente ao seu Criador e chegar assim à 
						perfeição 
						
						beatífica 
						
						(Cf. II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 17: AAS 58 (1966) 1037). 
						
						1744. A liberdade é a capacidade de agir ou não agir 
						e, assim, de realizar por si mesmo ações deliberadas. 
						Atinge a perfeição do seu ato, quando está ordenada para 
						Deus, supremo Bem. 
						
						1745. A liberdade caracteriza os atos propriamente 
						humanos. Torna o ser humano responsável pelos atos de 
						que é autor voluntário. O seu agir deliberado 
						pertence-lhe como próprio. 
						
						1746. A imputabilidade ou responsabilidade duma ação 
						pode ser diminuída, ou suprimida, por ignorância, 
						violência, medo e outros fatores psíquicos ou sociais. 
						
						1747. O direito ao exercício da liberdade é uma 
						exigência inseparável da dignidade do homem, sobretudo 
						em matéria religiosa e moral. Mas o exercício da 
						liberdade não implica o suposto direito de tudo dizer ou 
						de tudo fazer. 
						
						1748. «Foi para a liberdade que Cristo nos libertou»
						(Gl. 5, 1). 
						
						
						
						ARTIGO 4 
						
						A MORALIDADE DOS ATOS HUMANOS 
						
						1749. A liberdade faz do homem um sujeito moral. Quando 
						age de maneira deliberada, o homem é, por assim dizer,
						o pai dos seus atos. Os atos humanos, quer dizer, 
						livremente escolhidos em consequência dum juízo de 
						consciência, são moralmente qualificáveis. São bons ou 
						maus. 
						
						I. As fontes da moralidade 
						
						1750. A moralidade dos atos humanos depende: 
						
						- do objeto escolhido;- do fim que se tem em vista ou da intenção:
 - das circunstâncias da ação.
 
						
						O objeto, a intenção e as circunstâncias são as 
						«fontes» ou elementos constitutivos da moralidade 
						dos atos humanos. 
						
						1751. O objeto escolhido é um bem para o qual a 
						vontade tende deliberadamente. E a matéria dum ato 
						humano. O objeto escolhido especifica moralmente o ato 
						da vontade, na medida em que a razão o reconhece e o 
						julga conforme, ou não, ao verdadeiro bem. As regras 
						objetivas da moralidade enunciam a ordem racional do bem 
						e do mal, atestada pela consciência. 
						
						1752. Em face do objeto, a intenção coloca-se do 
						lado do sujeito que age. Porque está na fonte voluntária 
						da ação e a determina pelo fim em vista, a intenção é um 
						elemento essencial na qualificação moral da ação. O fim 
						em vista é o primeiro dado da intenção e designa a meta 
						a atingir pela ação. A intenção é um movimento da 
						vontade em direção ao fim; diz respeito ao termo do 
						agir. É o alvo do bem que se espera da ação empreendida. 
						Não se limita à direção das nossas ações singulares, mas 
						pode ordenar para um mesmo fim ações múltiplas: pode 
						orientar toda a vida para o fim último. Por exemplo, um 
						serviço prestado tem por fim ajudar o próximo, mas pode 
						ser inspirado, ao mesmo tempo, pelo amor de Deus como 
						fim último de todas as ações. Uma mesma ação pode também 
						ser inspirada por várias intenções, como prestar um 
						serviço para obter um favor ou para satisfazer a 
						vaidade. 
						
						1753. Uma intenção boa (por exemplo: ajudar o próximo) 
						não torna bom nem justo um comportamento em si mesmo 
						desordenado (como a mentira e a maledicência). O fim não 
						justifica os meios. Assim, não se pode justificar a 
						condenação dum inocente como meio legítimo para salvar o 
						povo. Pelo contrário, uma intenção má acrescentada (por 
						exemplo, a vanglória) torna mau um ato que, em si, pode 
						ser bom (como a esmola 
						
						(Cf. Mt. 6, 2-4)). 
						
						1754. As circunstâncias, incluindo as 
						consequências, são elementos secundários dum ato moral. 
						Contribuem para agravar ou atenuar a bondade ou malícia 
						moral dos atos humanos (por exemplo, o montante dum 
						roubo). Podem também diminuir ou aumentar a 
						responsabilidade do agente (por exemplo, agir por medo 
						da morte). As circunstâncias não podem, de per si, 
						modificar a qualidade moral dos próprios atos; não podem 
						tornar boa nem justa uma ação má em si mesma. 
						
						II. Os atos bons e os atos maus 
						
						1755. O ato moralmente bom pressupõe, em 
						simultâneo, a bondade do objeto, da finalidade e das 
						circunstâncias. Um fim mau corrompe a ação, mesmo que o 
						seu objeto seja bom em si (como orar e jejuar «para 
						ser visto pelos homens»). 
						
						O objeto da escolha 
						
						pode, por si só, viciar todo um modo de agir. Há 
						comportamentos concretos - como a fornicação - cuja 
						escolha é sempre um erro, porque comporta uma desordem 
						da vontade, isto é, um mal moral. 
						
						1756. É, portanto, erróneo julgar a moralidade dos atos 
						humanos tendo em conta apenas a intenção que os inspira, 
						ou as circunstâncias (meio, pressão social, 
						constrangimento ou necessidade de agir, etc.) que os 
						enquadram. Há atos que, por si e em si mesmos, 
						independentemente das circunstâncias e das intenções, 
						são sempre gravemente ilícitos em razão do seu objeto; 
						por exemplo, a blasfémia e o jurar falso, o homicídio e 
						o adultério. Não é permitido fazer o mal para que dele 
						resulte um bem. 
						
						Resumindo: 
						
						1757. O objeto, a intenção e as circunstâncias 
						constituem as três «fontes» da moralidade dos atos 
						humanos. 
						
						1758. O objeto escolhido especifica moralmente o ato 
						da vontade, conforme a razão o reconhece e o julga bom 
						ou mau. 
						
						1759. «Não se pode justificar uma ação má feita com 
						boa intenção» 
						
						(São Tomás de Aquino, In duo praecepta caritatis et 
						in decem Legis praecepta expositio, c.6: Opera 
						omnia, v. 27 (Parisiis 1875) p. 149). O fim não justifica os meios. 
						
						1760. O ato moralmente bom pressupõe, em simultâneo, 
						a bondade do objeto, da finalidade e das circunstâncias. 
						
						1761. Há comportamentos concretos pelos quais é 
						sempre errado optar, porque a sua escolha inclui uma 
						desordem da vontade, isto é, um mal moral. Não é 
						permitido fazer o mal para que dele resulte um bem. 
						
						
						
						ARTIGO 5 
						
						A MORALIDADE DAS PAIXÕES 
						
						1762. A pessoa humana ordena-se à bem-aventurança 
						através dos seus atos deliberados: as paixões ou 
						sentimentos que experimenta podem dispô-la nesse sentido 
						e contribuir para isso. 
						
						I. As paixões 
						
						1763. O termo «paixões» pertence ao património 
						cristão. Os sentimentos ou paixões são as emoções ou 
						movimentos da sensibilidade. que inclinam a agir, ou a 
						não agir, em vista do que se sentiu ou imaginou como bom 
						ou como mau.
 1764. As paixões são componentes naturais do psiquismo 
						humano, constituem o lugar de passagem e garantem a 
						ligação entre a vida sensível e a vida do espírito. 
						Nosso Senhor designa o coração do homem como fonte de 
						onde brota o movimento das paixões 
						
						(Cf. Mc. 7, 21).
 
						
						1765. São numerosas as paixões. A mais fundamental é o 
						amor, provocado pela atração do bem. O amor causa o 
						desejo do bem ausente e a esperança de o alcançar. Este 
						movimento tem o seu termo no prazer e na alegria do bem 
						possuído. A apreensão pelo mal causa o ódio, a aversão e 
						o receio do mal futuro; este movimento termina na 
						tristeza pelo mal presente ou na cólera que a ele se 
						opõe. 
						
						1766. «Amar é querer bem a alguém» 
						
						(São Tomás de Aquino, Summa theologiae, 1-2. q. 
						26. a. 4. c: Ed. Leon. 6, 190). 
						Todos os outros afetos nascem neste movimento original 
						do coração do homem para o bem. Só o bem é amado 
						
						(Cf. Santo Agostinho, De Trinitate, 8, 3, 4: CCL 
						50, 271-272 (PL 42, 949)).
						«As paixões são más se o amor for mal e boas se ele 
						for bom» 
						
						(Santo Agostinho, De civitate Dei, 14, 7: CSEL 
						40/2. 13 (PL 41, 410)). 
						
						II. Paixões e vida moral 
						
						1767. Em si mesmas, as paixões não são nem boas 
						nem más. Só recebem qualificação moral na medida em que 
						dependem efetivamente da razão e da vontade. As paixões 
						dizem-se voluntárias, «ou porque são comandadas pela 
						vontade, ou porque a vontade não Lhes opõe obstáculos»
						
						
						(São Tomás de Aquino, Summa theologiae, 1-2, q. 
						24, a. 1, e.: Ed. Leon. 6, 179). 
						Pertence à perfeição do bem moral ou humano que as 
						paixões sejam reguladas pela razão 
						
						(Cf. São Tomás de Aquino, Summa theologiae, 1-2, 
						q. 24, a. 3. c.: Ed. Leon. 6, 181). 
						
						1768. Os grandes sentimentos não determinam nem a 
						moralidade nem a santidade das pessoas; são o 
						reservatório inesgotável das imagens e afetos com que se 
						exprime a vida moral. As paixões são moralmente boas 
						quando contribuem para uma ação boa, e más, no caso 
						contrário. A vontade reta ordena para o bem e para a 
						bem-aventurança os movimentos sensíveis que assume; a 
						vontade má sucumbe às paixões desordenadas e 
						exacerba-as. As emoções e os sentimentos podem ser 
						assumidos pelas virtudes, ou pervertidos pelos 
						vícios. 
						
						1769. Na vida cristã, o próprio Espírito Santo realiza a 
						sua obra mobilizando todo o ser, mesmo as dores, temores 
						e tristezas, como se vê claramente na agonia e paixão do 
						Senhor. Em Cristo, os sentimentos humanos podem alcançar 
						a sua consumação na caridade e na bem-aventurança 
						divina. 
						
						1770. A perfeição moral consiste em que o homem não seja 
						movido para o bem só pela vontade, mas também pelo 
						apetite sensível, segundo esta palavra do Salmo: «o 
						meu coração e a minha carne exultam no Deus vivo» 
						(Sl. 84, 3). 
						
						Resumindo: 
						
						1771. O termo «paixões» designa afetos ou 
						sentimentos. Através das suas emoções, o homem pressente 
						o bem e suspeita do mal. 
						
						1772. As principais paixões são o amor e o ódio, o 
						desejo e o temor; a alegria, a tristeza e a cólera. 
						
						1773. Nas paixões, enquanto movimentos da 
						sensibilidade, não há bem, nem mal moral. Mas, na medida 
						em que dependem ou não da razão e da vontade, há nelas 
						bem ou mal moral. 
						
						1774. As emoções e os sentimentos podem ser assumidos 
						pelas virtudes, ou pervertidos pelos vícios. 
						
						1775. A perfeição do bem moral consiste em que o 
						homem não seja movido para o bem só pela vontade, mas 
						também pelo seu «coração. 
						
						
						
						ARTIGO 6 
						
						                                                                          
						A CONSCIÊNCIA MORAL
 1776 «No mais profundo da consciência, o homem 
						descobre uma lei que não se deu a si mesmo, mas à qual 
						deve obedecer e cuja voz ressoa, quando necessário, aos 
						ouvidos do seu coração, chamando-o sempre a amar e fazer 
						o bem e a evitar o mal [...]. De fato, o homem tem no 
						coração uma lei escrita pelo próprio Deus [...]. A 
						consciência é o núcleo mais secreto e o sacrário do 
						homem, no qual ele se encontra a sós com Deus, cuja voz 
						ressoa na intimidade do seu ser» 
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 16: AAS 58 (1966) 1037).
 
						
						I. O juízo da consciência 
						
						1777. Presente no coração da pessoa, a consciência moral
						
						
						(Cf. Rm. 2, 14-16) leva-a, no momento oportuno, a fazer o bem 
						e a evitar o mal. E também julga as opções concretas, 
						aprovando as boas e denunciando as más 
						
						(Cf. Rm. 1, 32). 
						Ela atesta a autoridade da verdade em relação ao Bem 
						supremo, pelo qual a pessoa humana se sente atraída e 
						cujos mandamentos acolhe. Quando presta atenção à 
						consciência moral, o homem prudente pode ouvir Deus a 
						falar-lhe. 
						
						1778. A consciência moral é um juízo da razão, pelo qual 
						a pessoa humana reconhece a qualidade moral dum ato 
						concreto que vai praticar, que está prestes a executar 
						ou que já realizou. Em tudo quanto diz e faz, o homem 
						tem obrigação de seguir fielmente o que sabe ser justo e 
						reto. E pelo juízo da sua consciência que o homem tem a 
						percepção e reconhece as prescrições da lei divina: 
						
						- a consciência «é uma lei do nosso espírito, mas que 
						o ultrapassa, nos dá ordens, e significa 
						responsabilidade e dever, temor e esperança [...]. É a 
						mensageira d'Aquele que, tanto no mundo da natureza como 
						no da graça, nos fala veladamente, nos instrui e nos 
						governa. A consciência é o primeiro de todos os vigários 
						de Cristo» 
						
						(Joannes Henricus Newman, A Letter to the Duke of 
						Norfolk, 5: Certain Difficulties felt by 
						Anglicans in Catholic Teaching, v. 2 (Westminster 
						1969) p. 248). 
						
						1779. Importa que cada um esteja suficientemente 
						presente a si mesmo para ouvir e seguir a voz da sua 
						consciência. Esta exigência de interioridade é 
						tanto mais necessária quanto a vida nos leva muitas 
						vezes a subtrair-nos a qualquer reflexão, exame ou 
						introspecção: 
						
						- «regressa à tua consciência, interroga-a [...] 
						Voltai, irmãos, ao vosso interior, e, em tudo quanto 
						fazeis, olhai para a Testemunha que é Deus» 
						
						(Santo Agostinho, In epistulam Iohannis ad Parthos 
						tractatus 8, 9: PL 35, 2041). 
						
						1780. A dignidade da pessoa humana implica e exige a 
						retidão da consciência moral. A consciência moral 
						compreende a percepção dos princípios da moralidade («sindérese»), 
						a sua aplicação em determinadas circunstâncias por meio 
						de um discernimento prático das razões e dos bens e, por 
						fim, o juízo emitido sobre os atos concretos a praticar 
						ou já praticados. A verdade sobre o bem moral, declarada 
						na lei da razão, é reconhecida prática e concretamente 
						pelo prudente juízo da consciência. Classifica-se 
						de prudente o homem que opta em conformidade com este 
						juízo. 
						
						1781. A consciência permite assumir a 
						responsabilidade dos atos praticados. Se o homem 
						comete o mal, o justo juízo da consciência pode ser nele 
						a testemunha da verdade universal do bem e, ao mesmo 
						tempo, da maldade da sua opção concreta. O veredito do 
						juízo da consciência continua a ser um penhor de 
						esperança e de misericórdia. Atestando a falta cometida, 
						lembra o perdão a pedir, o bem a praticar ainda e a 
						virtude a cultivar incessantemente com a graça de Deus. 
						
						- «Tranquilizaremos diante d'Ele o nosso coração, se o 
						nosso coração vier a acusar-nos. Pois Deus é maior do 
						que o nosso coração e conhece todas as coisas» 
						(1ª Jo. 3, 19-20). 
						
						1782. O homem tem o direito de agir em consciência e em 
						liberdade a fim de tomar pessoalmente decisões morais.
						«O homem não deve ser forçado a agir contra a própria 
						consciência. Nem deve também ser impedido de atuar 
						segundo ela, sobretudo em matéria religiosa» 
						
						(II Concílio do Vaticano, Decl. Dignitatis humanae, 
						3: AAS 58 (1966) 932). 
						
						II. A formação da consciência 
						
						1783. A consciência deve ser informada e o juízo moral 
						esclarecido. Uma consciência bem formada é reta e 
						verídica; formula os seus juízos segundo a razão, em 
						conformidade com o bem verdadeiro querido pela sabedoria 
						do Criador. A formação da consciência é indispensável 
						aos seres humanos, submetidos a influências negativas e 
						tentados pelo pecado a preferir o seu juízo próprio e a 
						recusar os ensinamentos autorizados. 
						
						1784. A formação da consciência é tarefa para toda a 
						vida. Desde os primeiros anos, a criança desperta para o 
						conhecimento e para a prática da lei interior 
						reconhecida pela consciência moral. Uma educação 
						prudente ensina a virtude: preserva ou cura do medo, do 
						egoísmo e do orgulho, dos ressentimentos da 
						culpabilidade e dos movimentos de complacência, nascidos 
						da fraqueza e das faltas humanas. A formação da 
						consciência garante a liberdade e gera a paz do coração. 
						
						1785. Na formação da consciência, a Palavra de Deus é a 
						luz do nosso caminho. Devemos assimilá-la na fé e na 
						oração, e pô-la em prática. Devemos também examinar a 
						nossa consciência, de olhos postos na cruz do Senhor. 
						Somos assistidos pelos dons do Espírito Santo, ajudados 
						pelo testemunho e pelos conselhos dos outros e guiados 
						pelo ensino autorizado da Igreja 
						
						(Cf. II Concílio do Vaticano, Decl. Dignitatis 
						humanae, 14: AAS 58 (1966) 940). 
						
						III. Decidir em consciência 
						
						1786. Perante a necessidade de decidir moralmente, a 
						consciência pode emitir um juízo reto, de acordo com a 
						razão e a lei de Deus, ou, pelo contrário, um juízo 
						erróneo, que se afaste delas. 
						
						1787. Por vezes, o homem vê-se confrontado com situações 
						que tornam o juízo moral menos seguro e a decisão 
						difícil. Mas deve procurar sempre o que é justo e bom e 
						discernir a vontade de Deus expressa na lei divina. 
						
						1788. Para isso, o homem esforça-se por interpretar os 
						dados da experiência e os sinais dos tempos, graças à 
						virtude da prudência, aos conselhos de pessoas sensatas 
						e à ajuda do Espírito Santo e dos seus dons. 
						
						1789. Algumas regras aplicam-se a todos os casos: 
						
						- nunca é permitido fazer mal para que daí resulte um 
						bem;- a «regra de ouro» é: «tudo quanto quiserdes 
						que os homens vos façam, fazei-lho, de igual modo, vós 
						também» (Mt. 7, 12) 
						
						(Cf. Lc. 6, 31; Tb. 4, 15).
 - a caridade passa sempre pelo respeito do próximo e 
						da sua consciência: «ao pecardes assim contra os 
						irmãos, ao ferir-lhes a consciência é contra Cristo que 
						pecais» (1ª Cor. 8, 12). «O que é bom é 
						não [...] [fazer] nada em que o teu irmão possa 
						tropeçar, cair ou fraquejar» (Rm. 14, 21).
 
						
						IV. O juízo erróneo 
						
						1790. O ser humano deve obedecer sempre ao juízo certo 
						da sua consciência. Agindo deliberadamente contra ele, 
						condenar-se-ia a si mesmo. Mas pode acontecer que a 
						consciência moral esteja na ignorância e faça juízos 
						erróneos sobre atos a praticar ou já praticados. 
						
						1791. Muitas vezes, tal ignorância pode ser imputada à 
						responsabilidade pessoal. Assim acontece «quando o 
						homem pouco se importa de procurar a verdade e o bem e 
						quando a consciência se vai progressivamente cegando, 
						com o hábito do pecado» 
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 16: AAS 58 (1966) 1037). 
						Nesses casos, a pessoa é culpada do mal que comete. 
						
						1792. A ignorância a respeito de Cristo e do seu 
						Evangelho, os maus exemplos dados por outros, a 
						escravidão das paixões, a pretensão de uma mal entendida 
						autonomia da consciência, a rejeição da autoridade da 
						Igreja e do seu ensino, a falta de conversão e de 
						caridade, podem estar na origem dos desvios do juízo na 
						conduta moral. 
						
						1793. Se, pelo contrário, a ignorância é invencível, ou 
						o juízo erróneo sem responsabilidade do sujeito moral, o 
						mal cometido pela pessoa não pode ser-lhe imputado. Mas 
						nem por isso deixa de ser um mal, uma privação, uma 
						desordem. É preciso trabalhar, portanto, para corrigir 
						dos seus erros a consciência moral. 
						
						1794. A consciência boa e pura é iluminada pela fé 
						verdadeira. Porque a caridade procede, ao mesmo tempo,
						«dum coração puro, de uma boa consciência e de uma fé 
						sincera» (1ª Tm. 1, 5) 
						
						(Cf. 1ª Tm. 3, 9; 2ª Tm. 1, 3; 1ª Pe. 3, 21; At. 24, 16). 
						
						«Quanto mais prevalecer a reta consciência, tanto mais 
						as pessoas e os grupos estarão longe da arbitrariedade 
						cega e procurarão conformar-se com as normas objetivas 
						da moralidade»
						
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 16: AAS 58 (1966) 1037). 
						
						Resumindo: 
						
						1795. «A consciência é o núcleo mais secreto e o 
						sacrário do homem, no qual ele se encontra a sós com 
						Deus, cuja voz ressoa na intimidade do seu ser» 
						
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 16: AAS 58 (1966) 1037). 
						1796. A consciência moral é 
						um juízo da razão, pelo qual a pessoa humana reconhece a 
						qualidade moral dum ato concreto.  
						
						1797. Para o homem que procedeu mal, o veredicto da 
						consciência é um penhor de conversão e de esperança. 
						
						1798. Uma consciência bem formada é reta e verídica. 
						Formula os seus juízos segundo a razão e em conformidade 
						com o verdadeiro bem, querido pela sabedoria do Criador. 
						Cada qual deve procurar os meios para formar a sua 
						consciência. 
						
						1799. Perante a necessidade de decidir moralmente, a 
						consciência pode formular um juízo reto, de acordo com a 
						razão e a lei divina, ou, pelo contrário, um juízo 
						erróneo, que das mesmas se afasta. 
						
						1800. O ser humano deve obedecer sempre ao juízo 
						certo da sua consciência. 
						
						1801. A consciência moral pode permanecer na 
						ignorância ou fazer juízos erróneos. Tal ignorância e 
						erros nem sempre são isentos de culpabilidade. 
						
						1802. A Palavra de Deus é luz para os nossos passos. 
						Devemos assimilá-la na fé e na oração e pô-la em 
						prática. É assim que se forma a consciência moral. 
						
						
						
						ARTIGO 7 
						
						AS VIRTUDES 
						
						1803. «Tudo o que é verdadeiro, nobre e justo, tudo o 
						que é puro, amável e de boa reputação, tudo o que é 
						virtude e digno de louvor, isto deveis ter no 
						pensamento» (Fl. 4, 8). 
						
						A virtude é uma disposição habitual e firme para 
						praticar o bem. Permite à pessoa não somente praticar 
						atos bons, mas dar o melhor de si mesma. A pessoa 
						virtuosa tende para o bem com todas as suas forças 
						sensíveis e espirituais; procura o bem e opta por ele em 
						atos concretos. 
						
						«O fim duma vida virtuosa consiste em tornar-se 
						semelhante a Deus»
						
						
						(São Gregório de Nissa, De Beatitudinibus, oratio 1: 
						Gregorii Nysseni opera. ed. W. Jaeger, v. 7/2 
						(Leiden 1992) p. 82 (PG 44, 1200)). 
						
						I. As virtudes humanas 
						
						1804. As virtudes humanas são atitudes firmes, 
						disposições estáveis, perfeições habituais da 
						inteligência e da vontade, que regulam os nossos atos, 
						ordenam as nossas paixões e guiam o nosso procedimento 
						segundo a razão e a fé. Conferem facilidade, domínio e 
						alegria para se levar uma vida moralmente boa. Homem 
						virtuoso é aquele que livremente pratica o bem. 
						
						As virtudes morais são humanamente adquiridas. São os 
						frutos e os germes de atos moralmente bons e dispõem 
						todas as potencialidades do ser humano para comungar no 
						amor divino.
 DISTINÇÃO DAS VIRTUDES CARDEAIS
 
						
						1805. Há quatro virtudes que desempenham um papel de 
						charneira. Por isso, se chamam «cardeais»; todas 
						as outras se agrupam em torno delas. São: a prudência, a 
						justiça, a fortaleza e a temperança. «Se alguém ama a 
						justiça, o fruto dos seus trabalhos são as virtudes, 
						porque ela ensina a temperança e a prudência, a justiça 
						e a fortaleza» (Sb. 8, 7). Com estes ou outros 
						nomes, estas virtudes são louvadas em numerosas 
						passagens da Sagrada Escritura. 
						
						1806. A prudência é a virtude que dispõe a razão 
						prática para discernir, em qualquer circunstância, o 
						nosso verdadeiro bem e para escolher os justos meios de 
						o atingir. «O homem prudente vigia os seus passos»
						(Pr. 14, 15). «Sede ponderados e comedidos, para 
						poderdes orar» (1ª Pe. 4, 7). A prudência é a
						«reta norma da ação», escreve São Tomás 
						
						(São Tomás de Aquino, Summa theologiae, 2-2, q. 
						47. a. 2. sed contra: Ed. Leon. 8, 349) 
						seguindo Aristóteles. Não se confunde, nem com a timidez 
						ou o medo, nem com a duplicidade ou dissimulação. É 
						chamada «auriga virtutum - condutor das virtudes», 
						porque guia as outras virtudes, indicando-lhes a regra e 
						a medida. É a prudência que guia imediatamente o juízo 
						da consciência. O homem prudente decide e ordena a sua 
						conduta segundo este juízo. Graças a esta virtude, 
						aplicamos sem erro os princípios morais aos casos 
						particulares e ultrapassamos as dúvidas sobre o bem a 
						fazer e o mal a evitar. 
						
						1807. A justiça é a virtude moral que consiste na 
						constante e firme vontade de dar a Deus e ao próximo o 
						que lhes é devido. A justiça para com Deus chama-se 
						«virtude da religião». Para com os homens, a justiça 
						leva a respeitar os direitos de cada qual e a 
						estabelecer, nas relações humanas, a harmonia que 
						promove a equidade em relação às pessoas e ao bem comum. 
						O homem justo, tantas vezes evocado nos livros santos, 
						distingue-se pela retidão habitual dos seus pensamentos 
						e da sua conduta para com o próximo. «Não cometerás 
						injustiças nos julgamentos. Não favorecerás o pobre, nem 
						serás complacente para com os poderosos. Julgarás o teu 
						próximo com imparcialidade» (Lv. 19, 15). 
						«Senhores, daí aos vossos escravos o que é justo e 
						equitativo, considerando que também vós tendes um Senhor 
						no céu» (Cl. 4, 1). 
						
						1808. A fortaleza é a virtude moral que, no meio 
						das dificuldades, assegura a firmeza e a constância na 
						prossecução do bem. Torna firme a decisão de resistir às 
						tentações e de superar os obstáculos na vida moral. A 
						virtude da fortaleza dá capacidade para vencer o medo, 
						mesmo da morte, e enfrentar a provação e as 
						perseguições. Dispõe a ir até à renúncia e ao sacrifício 
						da própria vida, na defesa duma causa justa. «O 
						Senhor é a minha fortaleza e a minha glória» (Sl. 
						118, 14). «No mundo haveis de sofrer tribulações: mas 
						tende coragem! Eu venci o mundo»! (Jo. 16, 33). 
						
						1809. A temperança é a virtude moral que modera a 
						atração dos prazeres e proporciona o equilíbrio no uso 
						dos bens criados. Assegura o domínio da vontade sobre os 
						instintos e mantém os desejos nos limites da 
						honestidade. A pessoa temperante orienta para o bem os 
						apetites sensíveis, guarda uma sã discrição e não se 
						deixa arrastar pelas paixões do coração 
						
						(Cf. Sir. 5, 2; 37, 27-31). 
						A temperança é muitas vezes louvada no Antigo 
						Testamento: «não te deixes levar pelas tuas más 
						inclinações e refreia os teus apetites» (Sir. 
						18, 30). No Novo Testamento, é chamada «moderação», 
						ou «sobriedade». Devemos «viver com moderação, 
						justiça e piedade no mundo presente» (Tt. 2, 12). 
						
						- «Viver bem é amar a Deus de todo o coração, com toda a 
						alma e com todo o proceder [...], de tal modo que se lhe 
						dedica um amor incorrupto e íntegro (pela temperança), 
						que mal algum poderá abalar (fortaleza), que a ninguém 
						mais serve (justiça), que cuida de discernir todas as 
						coisas para não se deixar surpreender pela astúcia e 
						pela mentira (prudência)»
						
						
						(Santo Agostinho, De moribus Ecclesiae catholicae,
						1, 25, 46: CSEL 90, 51 (PL 32, 1330-1331)). 
						
						AS VIRTUDES E A GRAÇA 
						
						1810. As virtudes humanas, adquiridas pela educação, por 
						atos deliberados e por uma sempre renovada perseverança 
						no esforço, são purificadas e elevadas pela graça 
						divina. Com a ajuda de Deus, forjam o caráter e 
						facilitam a prática do bem. O homem virtuoso sente-se 
						feliz ao praticá-las. 
						
						1811. Não é fácil, ao homem ferido pelo pecado, manter o 
						equilíbrio moral. O dom da salvação, que nos veio por 
						Cristo, dá-nos a graça necessária para perseverar na 
						busca das virtudes. Cada qual deve pedir constantemente 
						esta graça de luz e de força, recorrer aos sacramentos, 
						cooperar com o Espírito Santo e seguir os seus apelos a 
						amar o bem e acautelar-se do mal. 
						
						II. As virtudes teologais 
						
						1812. As virtudes humanas radicam nas virtudes 
						teologais, que adaptam as faculdades do homem à 
						participação na natureza divina 
						
						(Cf. 2ª Pe. 1, 4). De facto, as virtudes teologais 
						referem-se diretamente a Deus e dispõem os cristãos para 
						viverem em relação com a Santíssima Trindade. Têm Deus 
						Uno e Trino por origem, motivo e objeto. 
						
						1813. As virtudes teologais fundamentam, animam e 
						caracterizam o agir moral do cristão, informam e 
						vivificam todas as virtudes morais. São infundidas por 
						Deus na alma dos fiéis para os tornar capazes de 
						proceder como filhos seus e assim merecerem a vida 
						eterna. São o penhor da presença e da ação do Espírito 
						Santo nas faculdades do ser humano. São três as virtudes 
						teologais: fé, esperança e caridade 
						
						(Cf. 2ª Pe. 1, 4). 
						
						A FÉ 
						
						1814. A fé é a virtude teologal pela qual cremos em Deus 
						e em tudo o que Ele nos disse e revelou e que a santa 
						Igreja nos propõe para acreditarmos, porque Ele é a 
						própria verdade. 
						
						(Cf. 1ª Cor. 13, 13)
						
						Pela fé, «o homem entrega-se total e livremente a 
						Deus» 
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 
						5: AAS 58 (1966) 819). 
						E por isso, o crente procura conhecer e fazer a vontade 
						de Deus. «O justo viverá pela fé» (Rm. 1, 
						17). A fé viva «atua pela caridade» (Gl. 5, 6). 
						
						1815. O dom da fé permanece naquele que não pecou contra 
						ela 
						
						(Cf. Concílio de Trento, Sess. 6ª, Decretum de 
						iustificatione, c. 15: DS 1544). Mas, «sem obras, a fé está morta» 
						(Tg. 2, 26): privada da confiança e do amor, a fé não 
						une plenamente o fiel a Cristo, nem faz dele um membro 
						vivo do seu corpo. 
						
						1816. O discípulo de Cristo, não somente deve guardar a 
						fé e viver dela, como ainda professá-la, dar firme 
						testemunho dela e propagá-la: «todos devem estar 
						dispostos a confessar Cristo diante dos homens e a 
						segui-Lo no caminho da cruz, no meio das perseguições 
						que nunca faltam à Igreja» 
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium,
						42: AAS 57 (1965) 48: cf. ID., Decl. 
						Dignitatis humanae, 14: AAS 58 (1966) 940). 
						O serviço e testemunho da fé são requeridos para a 
						salvação: «a todo aquele que me tiver reconhecido 
						diante dos homens, também Eu o reconhecerei diante do 
						meu Pai que está nos céus. Mas àquele que me tiver 
						negado diante dos homens, também Eu o negarei diante do 
						meu Pai que está nos céus» (Mt. 10, 32-33). 
						
						A ESPERANÇA 
						
						1817. A esperança é a virtude teologal pela qual 
						desejamos o Reino dos céus e a vida eterna como nossa 
						felicidade, pondo toda a nossa confiança nas promessas 
						de Cristo e apoiando-nos, não nas nossas forças, mas no 
						socorro da graça do Espírito Santo. «Conservemos 
						firmemente a esperança que professamos, pois Aquele que 
						fez a promessa é fiel» (Heb. 10, 23). «O Espírito 
						Santo, que Ele derramou abundantemente sobre nós, por 
						meio de Jesus Cristo nosso Salvador, para que, 
						justificados pela sua graça, nos tornássemos, em 
						esperança, herdeiros da vida eterna» (Tt. 3, 6-7). 
						
						1818. A virtude da esperança corresponde ao desejo de 
						felicidade que Deus colocou no coração de todo o homem; 
						assume as esperanças que inspiram as atividades dos 
						homens, purifica-as e ordena-as para o Reino dos céus; 
						protege contra o desânimo; sustenta no abatimento; 
						dilata o coração na expectativa da bem-aventurança 
						eterna. O ânimo que a esperança dá preserva do egoísmo e 
						conduz à felicidade da caridade. 
						
						1819. A esperança cristã retorna e realiza a esperança 
						do povo eleito, que tem a sua origem e modelo na 
						esperança de Abraão, o qual, em Isaac, foi cumulado 
						das promessas de Deus e purificado pela provação do 
						sacrifício 
						
						(Cf. Gn. 17, 4-8; 22, 1-18).
						«Contra toda a esperança humana, Abraão teve 
						esperança e acreditou. Por isso, tornou-se pai de muitas 
						nações» (Rm. 4, 18). 
						
						1820. A esperança cristã manifesta-se, desde o princípio 
						da pregação de Jesus, no anúncio das bem-aventuranças. 
						As bem-aventuranças elevam a nossa esperança para 
						o céu, como nova tema prometida e traçam-lhe o caminho 
						através das provações que aguardam os discípulos de 
						Jesus. Mas, pelos méritos do mesmo Jesus Cristo e da sua 
						paixão, Deus guarda-nos na «esperança que não engana» 
						(Rm. 5, 5). A esperança é «a âncora da alma, 
						inabalável e segura» que penetra [...] «onde 
						entrou Jesus como nosso precursor» (Heb. 6, 19-20). 
						É também uma arma que nos protege no combate da 
						salvação: «revistamo-nos com a couraça da fé e da 
						caridade, com o capacete da esperança da salvação» 
						(1ª Ts. 5, 8). Proporciona-nos alegria, mesmo no meio da 
						provação: «alegres na esperança, pacientes na 
						tribulação» (Rm. 12, 12). Exprime-se e nutre-se na 
						oração, particularmente na oração do Pai-Nosso, resumo 
						de tudo o que a esperança nos faz desejar. 
						
						1821. Podemos, portanto, esperar a glória do céu 
						prometida por Deus àqueles que O amam 
						
						(Cf. Rm. 8, 28-30) 
						e fazem a sua vontade 
						
						(Cf. Mt. 7, 21). 
						Em todas as circunstâncias, cada qual deve esperar, com 
						a graça de Deus, «permanecer firme até ao fim»
						
						
						(Cf. Mt 10, 22: Concílio de Trento, Sess. 5ª, 
						Decretum de iustificatione, c. 13: DS 1541) 
						e alcançar a alegria do céu, como eterna recompensa de 
						Deus pelas boas obras realizadas com a graça de Cristo. 
						É na esperança que a Igreja pede que «todos os homens 
						se salvem» (1ª Tm. 2, 4) e ela própria 
						aspira a ficar, na glória do céu, unida a Cristo, seu 
						Esposo: 
						
						- «espera, espera, que não sabes quando virá o dia 
						nem a hora. Vela com cuidado, que tudo passa com 
						brevidade, embora o teu desejo faça o certo duvidoso e 
						longo o tempo breve. Olha que quanto mais pelejares, 
						mais mostrarás o amor que tens a teu Deus, e mais te 
						regozijarás com teu Amado em gozo e deleite que não pode 
						ter fim» 
						
						(Santa Teresa de Jesus, Exclamaciones del alma a 
						Dios, 15, 3: Biblioteca Mística Carmelitana, 
						v. 4 (Burgos 1917) p. 290. [Exclamações, XV. 3:
						Obras Completas (Paço de Arcos. Edições Carmelo 
						1994) p. 959)). 
						
						A CARIDADE 
						
						1822. A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a 
						Deus sobre todas as coisas por Ele mesmo, e ao próximo 
						como a nós mesmos, por amor de Deus. 
						
						1823. Jesus faz da caridade o mandamento novo 
						
						
						(Cf. Jo. 13. 34). Amando os seus «até ao fim» (Jo. 
						13, 1), manifesta o amor do Pai, que Ele próprio recebe. 
						E os discípulos, amando-se uns aos outros, imitam o amor 
						de Jesus, amor que eles recebem também em si. É por isso 
						que Jesus diz: «assim como o Pai Me amou, também Eu 
						vos amei. Permanecei no meu amor» (Jo. 15, 9). E 
						ainda: «é este o meu mandamento: que vos ameis uns 
						aos outros, como Eu vos amei» (Jo. 15, 12). 
						
						1824. Fruto do Espírito e plenitude da Lei, a caridade 
						guarda os mandamentos de Deus e do seu Cristo: 
						«permanecei no meu amor. Se guardardes os meus 
						mandamentos, permanecereis no meu amor» (Jo. 15, 
						9-10) 
						
						(Cf. Mt. 22, 40: Rm 13, 8-10). 
						
						1825. Cristo morreu por amor de nós, sendo nós ainda 
						«inimigos» (Rm. 5, 10). O Senhor pede-nos que, como 
						Ele, amemos até os nossos inimigos 
						
						(Cf. Mt. 5, 44),
						
						
						que nos façamos o próximo do mais afastado 
						
						(Cf. Lc. 10, 27-37), 
						que amemos as crianças 
						
						(Cf. Mc. 9, 37) 
						e os pobres como a Ele próprio 
						
						(Cf. Mt. 25, 40.45). 
						
						O apóstolo São Paulo deixou-nos um incomparável quadro 
						da caridade: «a caridade é paciente, a caridade é 
						benigna; não é invejosa, não é altiva nem orgulhosa; não 
						é inconveniente, não procura o próprio interesse, não se 
						imita, não guarda ressentimento, não se alegra com a 
						injustiça, mas alegra-se com a verdade; tudo desculpa, 
						tudo crê, tudo espera, tudo suporta» (1ª Cor. 13, 
						4-7). 
						
						1826. Sem a caridade, diz ainda o Apóstolo, «nada 
						sou». E tudo o que for privilégio, serviço, ou mesmo 
						virtude..., se não tiver caridade «de nada me 
						aproveita» 
						
						(Cf. 1ª Cor. 1 3, 1-4). 
						A caridade é superior a todas as virtudes. É a primeira 
						das virtudes teologais: «agora permanecem estas três 
						coisas: a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de 
						todas é a caridade» (1ª Cor. 13, 13). 
						
						1827. O exercício de todas as virtudes é animado e 
						inspirado pela caridade. Esta é o «vínculo da 
						perfeição» (Cl. 3, 14) e a forma das virtudes:
						articula-as e ordena-as entre si; é a fonte e o 
						termo da sua prática cristã. A caridade assegura e 
						purifica a nossa capacidade humana de amar e eleva-a à 
						perfeição sobrenatural do amor divino.
 1828. A prática da vida moral animada pela caridade dá 
						ao cristão a liberdade espiritual dos filhos de Deus. O 
						cristão já não está diante de Deus como um escravo, com 
						temor servil, nem como o mercenário à espera do salário, 
						mas como um filho que corresponde ao amor «d'Aquele 
						que nos amou primeiro» (1ª Jo. 4, 19):
 
						
						- «nós, ou nos desviamos do mal por temor do castigo e 
						estamos na atitude do escravo, ou vivemos à espera da 
						recompensa e parecemo-nos com os mercenários; ou, 
						finalmente, é pelo bem em si e por amor d'Aquele que 
						manda, que obedecemos [...], e então estamos na atitude 
						própria dos filhos»
						
						
						(São Basílio Magno, Regulae fusius tractatae, 
						prol. 3: PG 31. 896). 
						
						1829 Os frutos da caridade são: a alegria, a paz 
						e a misericórdia; exige a prática do bem e a correção 
						fraterna; é benevolente; suscita a reciprocidade, é 
						desinteressada e liberal: é amizade e comunhão: 
						
						- «a consumação de todas as nossas obras é o amor. É 
						nele que está o fim: é para a conquista dele que 
						corremos; corremos para lá chegar e, uma vez chegados, é 
						nele que descansamos»
						
						
						(Santo Agostinho, In epistulam Iohannis ad Parthos 
						tractus 10, 4: PL 35, 2056-2057). 
						
						III. Os dons e os frutos do Espírito Santo 
						
						1830. A vida moral dos cristãos é sustentada pelos dons 
						do Espírito Santo. Estes são disposições permanentes que 
						tornam o homem dócil aos impulsos do Espírito Santo. 
						
						1831. Os sete dons do Espírito Santo são: 
						sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, ciência, 
						piedade e temor de Deus. Pertencem em plenitude a 
						Cristo, filho de David 
						
						(Cf. Is. 11, 1-2). 
						Completam e levam à perfeição as virtudes de quem os 
						recebe. Tornam os fiéis dóceis, na obediência pronta, às 
						inspirações divinas.
 - «Que o vosso espírito de bondade me 
						conduza pelo caminho reto» (Sl. 143, 10). «Todos 
						aqueles que
 são conduzidos pelo Espírito de Deus são 
						filhos de Deus [...]; se somos filhos, também somos
 herdeiros: herdeiros de Deus, co-herdeiros de 
						Cristo» (Rm. 8, 14.17).
 
						
						1832. Os frutos do Espírito são perfeições que o 
						Espírito Santo forma em nós, como primícias da glória 
						eterna. A tradição da Igreja enumera doze: «caridade, 
						alegria, paz, paciência, bondade, longanimidade, 
						benignidade, mansidão, fidelidade, modéstia, 
						continência, castidade» (Gl. 5, 22-23 segundo a 
						Vulgata). 
						
						Resumindo: 
						
						1833. A virtude é uma disposição habitual e firme 
						para praticar o bem. 
						
						1834. As virtudes humanas são disposições estáveis da 
						inteligência e da vontade, que regulam os nossos atos, 
						ordenam as nossas paixões e guiam o nosso procedimento 
						segundo a razão e a fé. Podem ser agrupadas à roda das 
						quatro virtudes cardiais: prudência, justiça, fortaleza 
						e temperança. 
						
						1835. A prudência dispõe a razão prática para 
						discernir, em todas as circunstâncias, o verdadeiro bem 
						e para escolher os justos meios de o realizar. 
						
						1836. A justiça consiste na constante e firme vontade 
						de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido. 
						
						1837. A .fortaleza assegura, no 
						meio das dificuldades, a firmeza e a constância na 
						prossecução do bem. 
						
						1838. A temperança modera a atração dos prazeres 
						sensíveis e proporciona equilíbrio no uso dos bens 
						criados. 
						
						1839. As virtudes morais desenvolvem-se pela 
						educação, por atos deliberados e pela perseverança no 
						esforço. A graça divina purifica-as e eleva-as. 
						
						1840. As virtudes teologais dispõem os cristãos para 
						viverem em relação com a Santíssima Trindade. Têm, Deus 
						por origem, motivo e objeto - Deus conhecido pela fé, 
						esperado e amado por Si mesmo. 
						
						1841. São três as virtudes teologais: fé, esperança e 
						caridade 
						
						(1ª Cor. 13, 13). 
						Informam e vivificam todas as virtudes morais. 
						
						1842. Pela fé, cremos em Deus e em tudo quanto Ele 
						nos revelou e a santa Igreja nos propõe para 
						acreditarmos. 
						
						1843. Pela esperança, desejamos e esperamos de Deus, 
						com firme confiança, a vida eterna e as graças para a 
						merecer. 
						
						1844. Pela caridade, amamos a Deus sobre todas as 
						coisas e ao próximo como a nós mesmos, por amor de Deus. 
						A caridade é o «vínculo da perfeição» (Cl. 3, 14) 
						e a forma de todas as virtudes. 
						
						1845. Os sete dons do Espírito Santo, concedidos aos 
						cristãos, são: sabedoria, entendimento, conselho, 
						fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus. 
						
						
						
						ARTIGO 8 
						
						O PECADO 
						
						I. A misericórdia e o pecado 
						
						1846. O Evangelho é a revelação, em Jesus Cristo, da 
						misericórdia de Deus para com os pecadores 
						
						(Cf. Lc 15). 
						O anjo assim o disse a José: «pôr-Lhe-ás o nome de 
						Jesus, porque Ele salvará o seu povo dos seus pecados» 
						(Mt. 1, 21), o mesmo se diga da Eucaristia, sacramento 
						da Redenção: «isto é o meu Sangue, o Sangue da 
						Aliança, que vai ser derramado por todos para a remissão 
						dos pecados» (Mt. 26, 28). 
						
						1847. «Deus, que nos criou sem nós, não quis 
						salvar-nos sem nós» 
						
						(Santo Agostinho, Sermão 169, 11, 13: PL 38, 923). 
						O acolhimento da sua misericórdia exige de nós a 
						confissão das nossas faltas. «Se dizemos que não 
						temos pecado, enganamo-nos, e a verdade não está em nós. 
						Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo 
						para perdoar os nossos pecados e para nos purificar de 
						toda a maldade» (1ª Jo. 1, 8-9). 
						
						1848. Como afirma São Paulo: «onde abundou o pecado, 
						superabundou a graça» (Rm. 5, 20). Mas para realizar 
						a sua obra, a graça tem de pôr a descoberto o pecado, 
						para converter o nosso coração e nos obter «a justiça 
						para a vida eterna, por Jesus Cristo, nosso Senhor» 
						(Rm. 5, 21). Como um médico que examina a chaga antes de 
						lhe aplicar o penso, Deus, pela sua Palavra e pelo seu 
						Espírito, projeta uma luz viva sobre o pecado: 
						
						- «a conversão requer o reconhecimento do pecado. 
						Contém em si mesma o juízo interior da consciência. Pode 
						ver-se nela a prova da ação do Espírito de verdade no 
						mais íntimo do homem. Torna-se, ao mesmo tempo, o 
						princípio dum novo dom da graça e do amor: "recebei o 
						Espírito Santo". Assim, neste "convencer quanto ao 
						pecado". descobrimos um duplo dom: o dom da verdade da 
						consciência e o dom da certeza da redenção. O Espírito 
						da verdade é o Consolador» 
						
						(João Paulo II, Enc. Dominum et vivificantem, 31: 
						AAS 78 (1986) 843). 
						
						II. Definição de pecado 
						
						1849. O pecado é uma falta contra a razão, a verdade, a 
						reta consciência. É uma falha contra o verdadeiro amor 
						para com Deus e para com o próximo, por causa dum apego 
						perverso a certos bens. Fere a natureza do homem e 
						atenta contra a solidariedade humana. Foi definido como
						«uma palavra, um ato ou um desejo contrário à Lei 
						eterna» 
						
						(Santo Agostinho, Contra Faustum manichaeum, 22, 
						27: CSEL 25, 621 (PL 42, 418): cf. São Tomás de 
						Aquino, Summa theologiae, 1-2, q. 71, a. 6: Ed. 
						Leon. 7, 8-9).  
						
						1850. O pecado é uma ofensa a Deus: «pequei contra 
						Vós, só contra Vós, e fiz o mal diante dos vossos olhos»
						(Sl. 51, 6). O pecado é contrário ao amor que 
						Deus nos tem e afasta d'Ele os nossos corações. É, como 
						o primeiro pecado, uma desobediência, uma revolta contra 
						Deus, pela vontade de os homens se tornarem «como 
						deuses», conhecendo e determinando o que é bem e o 
						que é mal (Gn. 3, 5). Assim, o pecado é «o 
						amor de si próprio levado até ao desprezo de Deus»
						
						
						(Santo Agostinho, De civitate Dei, 14, 28: CSEL 
						40/2, 56 (PL 41, 436)). 
						Por esta exaltação orgulhosa de si mesmo, o pecado é 
						diametralmente oposto à obediência de Jesus, que 
						realizou a salvação 
						
						(Cf. Fl. 2, 6-9). 
						
						1851. É precisamente na paixão, em que a misericórdia de 
						Cristo o vai vencer, que o pecado manifesta melhor a sua 
						violência e a sua multiplicidade: incredulidade, ódio 
						assassino, rejeição e escárnio por parte dos chefes e do 
						povo, covardia de Pilatos e crueldade dos soldados, 
						traição de Judas tão dura para Jesus, negação de Pedro e 
						abandono dos discípulos. No entanto, mesmo na hora das 
						trevas e do príncipe deste mundo 
						
						(Cf. Jo. 14, 30), 
						o sacrifício de Cristo torna-se secretamente a fonte de 
						onde brotará, inesgotável, o perdão dos nossos pecados. 
						
						III. A diversidade dos pecados 
						
						1852. É grande a variedade dos pecados. A Sagrada 
						Escritura fornece-nos várias listas. A Epístola aos 
						Gálatas opõe as obras da carne aos frutos do Espírito:
						«as obras da natureza decaída ("carne") são claras: 
						imoralidade, impureza, libertinagem, idolatria, 
						feitiçaria, inimizades, discórdias, ciúmes, fúrias, 
						rivalidades, dissensões, facciosismos, invejas, excessos 
						de bebida e de comida e coisas semelhantes a estas. 
						Sobre elas vos previno, como já vos tinha prevenido: os 
						que praticam ações como estas, não herdarão o Reino de 
						Deus» (Gl. 5, 19-21) 
						
						(Cf. Rm. 1, 28-32; 1ª Cor 6, 9-10; Ef. 5, 3-5; Cl. 3, 
						5-9; 1ª Tm 1, 9-10; 2ª Tm 3, 2-5). 
						
						1853. Os pecados podem distinguir-se segundo o seu 
						objeto, como todo o ato humano; ou segundo as virtudes a 
						que se opõem; por excesso ou por defeito; ou segundo os 
						mandamentos que violam. Também podem agrupar-se segundo 
						outros critérios: os que dizem respeito a Deus, ao 
						próximo, à própria pessoa do pecador; pecados 
						espirituais e carnais: ou, ainda, pecados por 
						pensamentos, palavras, obras ou omissões. A raiz do 
						pecado está no coração do homem, na sua vontade livre, 
						conforme o ensinamento do Senhor: «do coração é que 
						provêm pensamentos malévolos, assassínios, adultérios, 
						fornicações, roubos, falsos testemunhos, maledicências - 
						coisas que tornam o homem impuro» (Mt. 15, 19). Mas 
						é também no coração que reside a caridade, princípio das 
						obras boas e puras, que o pecado ofende. 
						
						IV. A gravidade do pecado: pecado mortal e pecado venial 
						
						1854. Os pecados devem ser julgados segundo a sua 
						gravidade. A distinção entre pecado mortal e pecado 
						venial, já perceptível na Escritura (Cf. 1ª Jo. 
						5, 16-17),
						impôs-se na Tradição da Igreja. A experiência dos 
						homens corrobora-a. 
						
						1855. O pecado mortal destrói a caridade no 
						coração do homem por uma infracção grave à Lei de Deus. 
						Desvia o homem de Deus, que é o seu último fim, a sua 
						bem-aventurança, preferindo-Lhe um bem inferior. O 
						pecado venial deixa subsistir a caridade, embora 
						ofendendo-a e ferindo-a. 
						
						1856. O pecado mortal, atacando em nós o princípio vital 
						que é a caridade, torna necessária uma nova iniciativa 
						da misericórdia de Deus e uma conversão do coração que 
						normalmente se realiza no quadro do sacramento da 
						Reconciliação: 
						
						- «quando [...] a vontade se deixa atrair por uma 
						coisa de si contrária à caridade, pela qual somos 
						ordenados para o nosso fim último, o pecado, pelo seu 
						próprio objeto, deve considerar-se mortal [...], quer 
						seja contra o amor de Deus (como a blasfémia, o 
						perjúrio, etc.), quer contra o amor do próximo (como o 
						homicídio, o adultério, etc.) [...] Em contrapartida, 
						quando a vontade do pecador por vezes se deixa levar 
						para uma coisa que em si é desordenada, não sendo 
						todavia contrária ao amor de Deus e do próximo (como uma 
						palavra ociosa, um risco supérfluo, etc.), tais pecados 
						são veniais» 
						
						(São Tomás de Aquino, Summa theologiae, 1-2, q. 
						88. a. 2, e: Ed. Leon. 7, 135). 
						
						1857. Para que um pecado seja mortal, 
						requerem-se, em simultâneo, três condições: «é pecado 
						mortal o que tem por objeto uma matéria grave, e é 
						cometido com plena consciência e de propósito 
						deliberado» 
						
						(João Paulo II. Ex. ap. Reconciliatio et paenitentia,
						17: AAS 77 (1985) 221). 
						
						1858. A matéria grave é precisada pelos dez 
						Mandamentos, segundo a resposta que Jesus deu ao jovem 
						rico: «não mates, não cometas adultério, não furtes, 
						não levantes falsos testemunhos, não cometas fraudes, 
						honra pai e mãe» (Mc. 10, 18). A gravidade dos 
						pecados é maior ou menor: um homicídio é mais grave que 
						um roubo. A qualidade das pessoas lesadas também entra 
						em linha de conta: a violência cometida contra pessoas 
						de família é, por sua natureza, mais grave que a 
						exercida contra estranhos. 
						
						1859. Para que o pecado seja mortal tem de ser cometido 
						com plena consciência e total consentimento. 
						Pressupõe o conhecimento do carácter pecaminoso do ato, 
						da sua oposição à Lei de Deus. E implica também um 
						consentimento suficientemente deliberado para ser uma 
						opção pessoal. A ignorância simulada e o endurecimento 
						do coração 
						
						(Cf. Mc. 3, 5-6; Lc 16, 19-31) 
						não diminuem, antes aumentam, o carácter voluntário do 
						pecado. 
						
						1860. A ignorância involuntária pode diminuir, ou 
						mesmo desculpar, a imputabilidade duma falta grave. Mas 
						parte-se do princípio de que ninguém ignora os 
						princípios da lei moral, inscritos na consciência de 
						todo o homem. Os impulsos da sensibilidade e as paixões 
						podem também diminuir o carácter voluntário e livre da 
						falta. O mesmo se diga de pressões externas e de 
						perturbações patológicas. O pecado cometido por malícia, 
						por escolha deliberada do mal, é o mais grave. 
						
						1861. O pecado mortal é uma possibilidade radical da 
						liberdade humana, tal como o próprio amor. Tem como 
						consequência a perda da caridade e a privação da graça 
						santificante, ou seja, do estado de graça. E se não for 
						resgatado pelo arrependimento e pelo perdão de Deus, 
						originará a exclusão do Reino de Cristo e a morte eterna 
						no Inferno, uma vez que a nossa liberdade tem capacidade 
						para fazer escolhas definitivas, irreversíveis. No 
						entanto, embora nos seja possível julgar se um ato é, em 
						si, uma falta grave, devemos confiar o juízo sobre as 
						pessoas à justiça e à misericórdia de Deus. 
						
						1862. Comete-se um pecado venial quando, em 
						matéria leve, não se observa a medida prescrita pela lei 
						moral ou quando, em matéria grave, se desobedece à lei 
						moral, mas sem pleno conhecimento ou sem total 
						consentimento. 
						
						1863. O pecado venial enfraquece a caridade, traduz um 
						afeto desordenado aos bens criados, impede o progresso 
						da pessoa no exercício das virtudes e na prática do bem 
						moral; e merece penas temporais. O pecado venial 
						deliberado e não seguido de arrependimento, dispõe, a 
						pouco e pouco, para cometer o pecado mortal. No entanto, 
						o pecado venial não quebra a aliança com Deus e é 
						humanamente reparável com a graça de Deus. «Não priva 
						da graça santificante, da amizade com Deus, da caridade, 
						nem, portanto, da bem-aventurança eterna» 
						
						(João Paulo II, Ex. ap. Reconciliatio et paenitentia,
						17: AAS 77 (1985) 221). 
						
						- «Enquanto vive na carne, o homem não é capaz de evitar 
						totalmente o pecado, pelo menos os pecados leves. Mas 
						estes pecados, que chamamos leves, não os tenhas por 
						insignificantes. Se os tens por insignificantes quando 
						os pesas, treme quando os contas. Muitos objetos leves 
						fazem uma massa pesada; muitas gotas de água enchem um 
						rio; muitos grãos fazem um monte. Onde, então, está a 
						nossa esperança? Antes de mais, na confissão...»
						
						
						(Santo Agostinho, In epistulam Iohannis Parthos 
						tractatus, 1, 6: PL 35, 1982). 
						
						1864. «Todo o pecado ou blasfémia será perdoado aos 
						homens, mas a blasfémia contra o Espírito não lhes será 
						perdoada» (Mt. 12, 31) 
						
						(Cf. Mc. 3. 29; Lc. 12, 10). 
						Não há limites para a misericórdia de Deus, mas quem 
						recusa deliberadamente receber a misericórdia de Deus, 
						pelo arrependimento, rejeita o perdão dos seus pecados e 
						a salvação oferecida pelo Espírito Santo 
						
						(Cf. João Paulo II, Enc. Dominum et vivificantem, 
						46: AAS 78 (1986) 864-865). 
						Tal endurecimento pode levar à impenitência final e à 
						perdição eterna. 
						
						V. A proliferação do pecado 
						
						1865. O pecado arrasta ao pecado; gera o vício, pela 
						repetição dos mesmos atos. Daí resultam as inclinações 
						perversas, que obscurecem a consciência e corrompem a 
						apreciação concreta do bem e do mal. Assim, o pecado 
						tende a reproduzir-se e reforçar-se, embora não possa 
						destruir radicalmente o sentido moral. 
						
						1866. Os vícios podem classificar-se segundo as virtudes 
						a que se opõem, ou relacionando-os com os pecados 
						capitais que a experiência cristã distinguiu, na 
						sequência de São João Cassiano 
						
						(Cf. São Cassiano, Conlatio, 5, 2: CSEL 13, 121 
						(PL 49, 611)) 
						e São Gregório Magno 
						
						(Cf. São Gregório Magno, Moralia in Job, 31, 45, 
						87: CCL 143B, 1610 (PL 76, 621)). 
						Chamam-se capitais, porque são geradores doutros pecados 
						e doutros vícios. São eles: a soberba, a avareza, a 
						inveja, a ira, a luxúria, a gula e a preguiça ou 
						negligência (acedia). 
						
						1867. A tradição catequética lembra também a existência 
						de «pecados que bradam ao céu». Bradam ao céu: o 
						sangue de Abel 
						
						(Cf. Gn 4. 10); 
						o pecado dos sodomitas 
						
						(Cf. Gn. 18, 20; 19, 13); 
						o clamor do povo oprimido no Egito 
						
						(Cf. Ex. 3, 7-10); o lamento do estrangeiro, da viúva e do 
						órfão 
						
						(Cf. Ex. 22, 20-22); 
						a injustiça para com o assalariado 
						
						(Cf. Dt 24, 14-15; Tg 5, 4). 
						
						1868. O pecado é um ato pessoal. Mas, além disso, nós 
						temos responsabilidade nos pecados cometidos por outros, 
						quando neles cooperamos: 
						
						-  tomando parte neles, direta e voluntariamente;- ordenando-os. aconselhando-os, aplaudindo-os ou 
						aprovando-os;
 - não os denunciando ou não os impedindo, quando a isso 
						obrigados;
 - protegendo os que praticam o mal.
 
						
						1869. Assim, o pecado torna os homens cúmplices uns dos 
						outros, faz reinar entre eles a concupiscência, a 
						violência e a injustiça. Os pecados provocam situações 
						sociais e instituições contrárias à Bondade divina; as
						«estruturas de pecado» são expressão e efeito dos 
						pecados pessoais e induzem as suas vítimas a que, por 
						sua vez, cometam o mal. Constituem, em sentido 
						analógico, um «pecado social» 
						
						(João Paulo II, Ex. ap. Reconciliatio et paenitentia, 
						16: AAS 77 (1985) 216). 
						
						Resumindo: 
						
						1870. «Deus encerrou todos na desobediência, para 
						usar de misericórdia para com todos» (Rm. 11, 32). 
						
						1871. O pecado é «uma palavra, um ato ou um desejo 
						contrários à lei eterna» 
						
						(Santo Agostinho, Contra Faustum manichaeum, 22, 
						27: CSEL 25, 621 (PL 42, 418)). 
						É uma ofensa a Deus. Levanta-se contra Deus por uma 
						desobediência contrária à obediência de Cristo. 
						
						1872. O pecado é um ato contrário à razão. Fere a 
						natureza do homem e atenta contra a solidariedade 
						humana. 
						
						1873. A raiz de todos os pecados está no coração do 
						homem. As suas espécies e gravidade aferem-se, 
						principalmente, pelo seu objeto. 
						
						1874. Optar deliberadamente - isto é, sabendo e 
						querendo - por algo gravemente contrário à lei divina e 
						ao fim último do homem, é cometer um pecado mortal. Este 
						destrói em nós a caridade, sem a qual a bem-aventurança 
						eterna é impossível; se não houver arrependimento, tem 
						como consequência a morte eterna. 
						
						1875. O pecado venial constitui uma desordem moral, 
						reparável pela caridade que deixa subsistir em nós. 
						
						1876. A repetição dos pecados, mesmo veniais, gera os 
						vícios, entre os quais se distinguem os pecados 
						capitais.
 A VIDA EM CRISTO
 
						PRIMEIRA SECÇÃO 
						
						A VOCAÇÃO DO HOMEM: A VIDA NO ESPÍRITO 
						
						CAPÍTULO SEGUNDO 
						
						A COMUNIDADE HUMANA 
						
						1877. A vocação da humanidade é manifestar a imagem de 
						Deus e ser transformada à imagem do Filho único do Pai. 
						Esta vocação reveste-se de uma forma pessoal, pois cada 
						um é chamado a entrar na bem-aventurança divina. Mas diz 
						também respeito ao conjunto da comunidade humana. 
						
						
						
						ARTIGO 1 
						
						A PESSOA E A SOCIEDADE
						 
						
						I. O caráter comunitário da vocação humana 
						
						1878. Todos os homens são chamados ao mesmo fim, que é o 
						próprio Deus. Existe uma certa semelhança entre a 
						unidade das pessoas divinas e a fraternidade que os 
						homens devem instaurar entre si, na verdade e no amor
						
						
						(Cf. II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 24: AAS 58 (1966) 1045). 
						O amor ao próximo é inseparável do amor a Deus. 
						
						1879. A pessoa humana tem necessidade da vida social. 
						Esta não constitui para ela algo de acessório, mas uma 
						exigência da sua natureza. Graças ao contacto com os 
						demais, ao serviço mútuo e ao diálogo com os seus 
						irmãos, o homem desenvolve as suas capacidades, e assim 
						responde à sua vocação 
						
						(Cf. II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 25: AAS 58 (1966) 1045). 
						
						1880. Sociedade é um conjunto de pessoas ligadas 
						de modo orgânico por um princípio de unidade que 
						ultrapassa cada uma delas. Assembleia ao mesmo tempo 
						visível e espiritual, uma sociedade perdura no tempo: 
						assume o passado e prepara o futuro. Através dela, cada 
						homem é constituído «herdeiro», recebe 
						«talentos» que enriquecem a sua identidade e cujos 
						frutos deve desenvolver 
						
						(Cf. Lc. 19, 13. 15). 
						Com toda a razão, cada um é devedor de dedicação às 
						comunidades de que faz parte e de respeito às 
						autoridades encarregadas do bem comum. 
						
						1881. Cada comunidade define-se pelo fim a que tende e, 
						por conseguinte, obedece a regras específicas. Mas 
						«pessoa humana é e deve ser o princípio, o sujeito e o 
						fim de todas as instituições sociais» 
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 25: AAS 58 (1966) 1045). 
						
						1882. Certas sociedades, como a família e a comunidade 
						civil, correspondem de modo mais imediato à natureza do 
						homem. São-lhe necessárias. Para favorecer a 
						participação do maior número possível de pessoas na vida 
						social, deve fomentar-se a criação de associações e 
						instituições de livre iniciativa, «com fins 
						económicos, culturais, sociais, desportivos, 
						recreativos, profissionais, políticos, tanto no interior 
						das comunidades políticas como a nível mundial»
						
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 25: AAS 58 (1966) 1045). 
						Esta «socialização» exprime também a tendência 
						natural que leva os seres humanos a associarem-se, com 
						vista a atingirem objetivos que ultrapassam as 
						capacidades individuais. Desenvolve as qualidades da 
						pessoa, particularmente o sentido de iniciativa e de 
						responsabilidade, e contribui para garantir os seus 
						direitos 
						
						(Cf. II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 24: AAS 58 (1966) 1045-1046; João Paulo II, 
						Enc. Centesimus annus, 16: AAS 83 (1991) 813). 
						
						1883. Mas a socialização também oferece perigos. Uma 
						intervenção exagerada do Estado pode constituir uma 
						ameaça à liberdade e às iniciativas pessoais. A doutrina 
						da Igreja elaborou o princípio dito da 
						subsidiariedade. Segundo ele, «uma sociedade de 
						ordem superior não deve interferir na vida interna duma 
						sociedade de ordem inferior, privando-a das suas 
						competências, mas deve antes apoiá-la, em caso de 
						necessidade, e ajudá-la a coordenar a sua ação com a dos 
						demais componentes sociais, com vista ao bem comum»
						
						
						(João Paulo II, Enc. Centesimus annus, 48: AAS 83 
						(1991) 854: cf. Pio XI, Enc. Quadragesimo anno: 
						AAS 23 (1931) 184-186). 
						
						1884. Deus não quis reservar só para Si o exercício de 
						todos os poderes. Confia a cada criatura as funções que 
						ela é capaz de exercer, segundo as capacidades da sua 
						própria natureza. Este modo de governo deve ser imitado 
						na vida social. O procedimento de Deus no governo do 
						mundo, que testemunha tão grande respeito para com a 
						liberdade humana, deveria inspirar a sabedoria daqueles 
						que governam as comunidades humanas. Eles devem atuar 
						como ministros da providência divina. 
						
						1885. O princípio da subsidiariedade opõe-se a todas as 
						formas de coletivismo e marca os limites da intervenção 
						do Estado. Visa harmonizar as relações entre os 
						indivíduos e as sociedades e tende a instaurar uma 
						verdadeira ordem internacional.  
						
						II. Conversão e sociedade 
						
						1886. A sociedade é indispensável à realização da 
						vocação humana. Para atingir esse fim, tem de ser 
						respeitada a justa hierarquia dos valores, que 
						«subordina as dimensões físicas e instintivas às 
						dimensões interiores e espirituais» 
						
						(João Paulo II, Enc. Centesimus annus, 36: 
						AAS 83 (1991) 838): 
						
						- «a convivência humana [...] há de considerar-se, 
						antes de mais, como um fato de ordem principalmente 
						espiritual: como comunicação de conhecimentos, à luz da 
						verdade; exercício de direitos e cumprimento de deveres; 
						incentivo e apelo aos bens do espírito; gozo comum do 
						justo prazer da beleza em todas as suas expressões; 
						permanente disposição para partilhar com os outros o 
						melhor de si mesmo; aspiração a uma mútua e cada vez 
						mais rica assimilação de valores espirituais. Todos 
						estes valores vivificam e, ao mesmo tempo, orientam tudo 
						o que diz respeito às doutrinas, às realidades 
						económicas, à convivência cívica, aos movimentos e 
						regimes políticos, à ordem jurídica e aos demais 
						elementos exteriores através dos quais se articula e se 
						exprime a convivência humana no seu incessante devir»
						
						
						(João XXIII, Enc. Pacem in terris, 36: AAS 55 
						(1963) 266). 
						
						1887. A inversão dos meios e dos fins 
						
						(Cf. João Paulo II, Enc. Centesimus annus, 41: 
						AAS 83 (1991) 844), 
						que chega a dar valor de fim último ao que não passa de 
						meio para a ele chegar ou a considerar as pessoas como 
						puros meios com vista a um fim, gera estruturas injustas 
						que «tornam árduo e praticamente impossível um 
						procedimento cristão, conforme com os mandamentos do 
						divino legislador» 
						
						(Pio XII, Mensagem radiofónica (1 de Junho de 
						1941): AAS 33 (1941) 197). 
						
						1888. Deve-se, pois, apelar para as capacidades 
						espirituais e morais da pessoa e para a exigência 
						permanente da sua conversão interior, para se 
						conseguirem mudanças sociais que estejam realmente ao 
						seu serviço. A prioridade reconhecida à conversão do 
						coração, não elimina de modo algum, antes impõe, a 
						obrigação de introduzir nas instituições e nas condições 
						de vida, quando introduzem ao pecado, as correções 
						convenientes para que elas se conformem com as normas da 
						justiça e favoreçam o bem, em vez de se lhe oporem
						
						
						(Cf. II Concílio do Vaticano, Cons. dogm. Lumen 
						Gentium, 36: AAS 57 (1965) 42). 
						
						1889. Sem a ajuda da graça, os homens não seriam capazes 
						de «descobrir o caminho, muitas vezes estreito, entre 
						a covardia que cede ao mal e a violência que, julgando 
						combatê-lo, o agrava» 
						
						(João Paulo II, Enc. Centesimus annus, 25 
						AAS 83 (1991) 823). 
						É o caminho da caridade, ou seja, do amor de Deus e do 
						próximo. A caridade constitui o maior mandamento social. 
						Ela respeita o outro e os seus direitos, exige a prática 
						da justiça, de que só ela nos torna capazes e 
						inspira-nos uma vida de entrega: «quem procurar 
						preservar a vida, há de perdê-la; quem a perder, há de 
						salvá-la» (Lc. 17, 33). 
						
						Resumindo: 
						1890. Existe uma certa 
						semelhança entre a unidade das pessoas divinas e a 
						fraternidade que os homens devem instaurar entre si. 
						1891. Para se desenvolver em 
						conformidade com a sua natureza, a pessoa humana tem 
						necessidade da vida social. Certas sociedades, como a 
						família e a comunidade civil, correspondem, de modo mais 
						imediato, à natureza do homem. 
						
						1892. «A pessoa humana é e deve ser o princípio, o 
						sujeito e o fim de todas as instituições sociais» 
						
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 25 AAS 58 (1966) 1045). 
						
						1893. Deve promover-se uma larga participação nas 
						associações e instituições de livre iniciativa. 
						
						1894. Segundo o princípio da subsidiariedade, nem o 
						Estado nem qualquer sociedade mais abrangente devem 
						substituir-se à iniciativa e à responsabilidade das 
						pessoas e dos corpos intermédios. 
						1895. A sociedade deve 
						favorecer a prática das virtudes, e não a impedir. Deve 
						inspirar-se numa justa hierarquia de valores. 
						
						1896. Onde quer que o pecado perverta o clima social, 
						deve fazer-se apelo à conversão dos corações e à graça 
						de Deus. A caridade incentiva reformas justas. Não 
						existe solução para a questão social fora do Evangelho
						
						
						(Cf. João Paulo II, Enc. Centesimus annus, 5:
						AAS 83 (1991) 800). 
						
						
						
						ARTIGO 2 
						
						A PARTICIPAÇÃO NA VIDA SOCIAL
						 
						
						I. A autoridade 
						
						1897. «A sociedade humana não estará bem constituída 
						nem será fecunda, se a ela não presidir uma autoridade 
						legítima que salvaguarde as instituições e dedique o 
						necessário trabalho e esforço ao bem comum» 
						
						(João XXIII, Enc. Pacem in terris, 46: AAS 55 
						(1963) 269). 
						
						Chama-se «autoridade» àquela qualidade em virtude 
						da qual pessoas ou instituições dão leis e ordens a 
						homens e esperam obediência da parte deles. 
						
						1898. Toda a comunidade humana tem necessidade de uma 
						autoridade que a governe 
						
						(Cf. Leão XIII, Enc. Diuturnum illud: Leonis XIII 
						Acta 2, 271; Id., Enc. Immortale Dei:
						Leonis XIII Acta, 5, 120). 
						Esta tem o seu fundamento na natureza humana. Ela é 
						necessária para a unidade da comunidade civil. O seu 
						papel consiste em assegurar, quanto possível, o bem 
						comum da sociedade. 
						
						1899. A autoridade exigida pela ordem moral emana de 
						Deus: «submeta-se cada qual às autoridades 
						constituídas. Pois não há autoridade que não tenha sido 
						constituída por Deus e as que existem foram 
						estabelecidas por Ele. Quem resiste, pois, à autoridade, 
						opõe-se à ordem estabelecida por Deus, e os que lhe 
						resistem atraem sobre si a condenação» (Rm. 13, 1‑2)
						
						
						(Cf. 1ª Pe. 2, 13-17). 
						
						1900. O dever de obediência impõe a todos a obrigação de 
						tributar à autoridade as honras que lhe são devidas e de 
						rodear de respeito e, segundo o seu mérito, de gratidão 
						e benevolência, as pessoas que a exercem. 
						
						Saída da pena do papa São Clemente de Roma, encontramos 
						a mais antiga oração da Igreja pela autoridade política
						
						
						(Cf. já 1ª Tm. 2, 1-2): 
						
						- «Dai-lhes, Senhor, a saúde, a paz, a concórdia, a 
						estabilidade, para que exerçam sem obstáculos a 
						soberania que lhes confiastes. Sois Vós, ó mestre, 
						celeste rei dos séculos, quem dá aos filhos dos homens 
						glória, honra e poder sobre as coisas da terra. Dirigi, 
						Senhor, o seu conselho segundo o que é bem, segundo o 
						que é agradável aos vossos olhos, para que, exercendo 
						com piedade, na paz e na mansidão, o poder que lhes 
						destes, vos encontrem propício»
						
						
						(São Clemente de Roma, Epistula ad Corinthios, 
						61, 1-2: SC 167, 198-200 (Funk 1, 178-180)). 
						
						1901. Se a autoridade remete para uma ordem fixada por 
						Deus, já «a determinação dos regimes políticos, tal 
						como a designação dos seus dirigentes, devem ser 
						deixados à livre vontade dos cidadãos» 
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 74: AAS 58 (1966) 1096). 
						
						A diversidade dos regimes políticos é moralmente 
						admissível, desde que concorram para o bem legítimo da 
						comunidade que os adota. Os regimes cuja natureza for 
						contrária à lei natural, à ordem pública e aos direitos 
						fundamentais das pessoas, não podem promover o bem comum 
						das nações onde se impuseram. 
						
						1902. A autoridade não recebe de si mesma a legitimidade 
						moral. Por isso, não deve proceder de maneira despótica, 
						mas agir em prol do bem comum, como uma «força moral 
						fundada na liberdade e no sentido de responsabilidade»
						
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. 
						Gaudium et spes, 74: AAS 58 (1966) 1096): 
						
						- «a legislação humana só se reveste do carácter de 
						lei, na medida em que se conforma com a justa razão; daí 
						ser evidente que ela recebe todo o seu vigor da Lei 
						eterna. Na medida em que se afastar da razão, deve ser 
						declarada injusta, pois não realiza a noção de lei: 
						será, antes, uma forma de violência» 
						
						(São Tomás de Aquino, Summa theologiae, 1-2, q. 
						93, a. 3. ad 2: Ed. Leon. 7, 164). 
						
						1903. A autoridade só é exercida legitimamente na medida 
						em que procurar o bem comum do respectivo grupo e em 
						que, para o atingir, empregar meios moralmente lícitos. 
						No caso de os dirigentes promulgarem leis injustas ou 
						tomarem medidas contrárias à ordem moral, tais 
						disposições não podem obrigar as consciências. «Neste 
						caso, a própria autoridade deixa de existir e degenera 
						em abuso do poder» 
						
						(João XXIII, Enc. Pacem in terris, 51: AAS 55 
						(1963) 271). 
						
						1904. «É preferível que todo o poder seja equilibrado 
						por outros poderes e outras competências que o mantenham 
						no seu justo limite. Este é o princípio do "Estado de 
						direito", no qual é soberana a Lei, e não a vontade 
						arbitrária dos homens» 
						
						(João 
						Paulo II, Enc. Centesimus annus, 44: AAS 
						83 (1991) 848). 
						
						II. O bem comum 
						
						1905. Em conformidade com a natureza social do homem, o 
						bem de cada um está necessariamente relacionado com o 
						bem comum. E este não pode definir-se senão em 
						referência à pessoa humana: 
						
						- «não vivais isolados, fechados em vós mesmos, como 
						se já estivésseis justificados; mas reuni-vos para 
						procurar em conjunto o que é de interesse comum»
						
						
						(Pseudo Barnabé, Epistula, 4, 10: SC 172, 100-102 
						(Funk 1, 48)). 
						
						1906. Por bem comum devem entender-se «o conjunto das 
						condições sociais que permitem, tanto aos grupos como a 
						cada um dos seus membros, atingir a sua perfeição, do 
						modo mais completo e adequado» 
						
						(Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et spes,
						26: AAS 58 (1966)1046: cf. Ibid., 74: AAS 58 
						(1966) 1096). 
						O bem comum interessa à vida de todos. Exige prudência 
						da parte de cada um, sobretudo da parte de quem exerce a 
						autoridade. E inclui três elementos essenciais.: 
						
						1907. Supõe, em primeiro lugar, o respeito da pessoa
						como tal. Em nome do bem comum, os poderes públicos 
						são obrigados a respeitar os direitos fundamentais e 
						inalienáveis da pessoa humana. A sociedade humana deve 
						empenhar-se em permitir, a cada um dos seus membros, 
						realizar a própria vocação. De modo particular, o bem 
						comum reside nas condições do exercício das liberdades 
						naturais, indispensáveis à realização da vocação humana:
						«por exemplo, o direito de agir segundo a reta norma 
						da sua consciência, o direito à salvaguarda da vida 
						privada e à justa liberdade, mesmo em matéria religiosa»
						
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium 
						et spes, 26: AAS 58 (1966) 1046). 
						
						1908. Em segundo lugar, o bem comum exige o bem-estar 
						social e o desenvolvimento da própria 
						sociedade. O desenvolvimento é o resumo de todos os 
						deveres sociais. Sem dúvida, à autoridade compete 
						arbitrar, em nome do bem comum, entre os diversos 
						interesses particulares; mas deve tornar acessível a 
						cada qual aquilo de que precisa para levar uma vida 
						verdadeiramente humana: alimento, vestuário, saúde, 
						trabalho, educação e cultura, informação conveniente, 
						direito de constituir família 
						
						(Cf. II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 26: AAS 58 (1966) 1046), 
						etc. 
						
						1909. Finalmente, o bem comum implica a paz, quer 
						dizer, a permanência e segurança duma ordem justa. 
						Supõe, portanto, que a autoridade assegure, por meios 
						honestos, a segurança da sociedade e dos seus 
						membros. O bem comum está na base do direito à legítima 
						defesa, pessoal e coletiva. 
						
						1910. Se cada comunidade humana possui um bem comum que 
						lhe permite reconhecer-se como tal, é na comunidade 
						política que se encontra a sua realização mais 
						completa. Compete ao Estado defender e promover o bem 
						comum da sociedade civil, dos cidadãos e dos corpos 
						intermédios. 
						
						1911. As dependências humanas intensificam-se. 
						Estendem-se, pouco a pouco, a toda a terra. A unidade da 
						família humana, reunindo seres de igual dignidade 
						natural, implica um bem comum universal. E este 
						requer uma organização da comunidade das nações, capaz 
						de «prover às diversas necessidades dos homens, tanto 
						no domínio da vida social (alimentação, saúde, 
						educação...), como para fazer face a múltiplas 
						circunstâncias particulares que podem surgir aqui e ali 
						(por exemplo: [...] acudir às misérias dos refugiados, 
						dar assistência aos migrantes e suas famílias...)»
						
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 84: AAS 58 (1966) 1107). 
						
						1912. O bem comum está sempre orientado para o progresso 
						das pessoas: «a ordem das coisas deve estar 
						subordinada à ordem das pessoas, e não o inverso»
						
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 26: AAS 58 (1966) 1047). 
						Esta ordem tem por base a verdade, constrói-se na 
						justiça e é vivificada pelo amor. 
						
						III. Responsabilidade e participação 
						
						1913. Participação é o empenhamento voluntário e 
						generoso da pessoa nas permutas sociais. É necessário 
						que todos tomem parte, cada qual segundo o lugar que 
						ocupa e o papel que desempenha, na promoção do bem 
						comum. Este é um dever inerente à dignidade da pessoa 
						humana.
 1914. A participação realiza-se, primeiro, ao 
						encarregar-se alguém dos sectores de que assume a 
						responsabilidade pessoal: pelo cuidado que põe na 
						educação da família, pela consciência com que realiza o 
						seu trabalho, o homem participa no bem dos outros e da 
						sociedade 
						
						(Cf. João Paulo II, Enc. Centesimus annus, 
						31: AAS 83 (1991) 847).
 
						
						1915. Os cidadãos devem, tanto quanto possível, tomar 
						parte ativa na vida pública. As modalidades desta 
						participação podem variar de país para país ou de uma 
						cultura para outra. «É de louvar o modo de agir das 
						nações em que, em autêntica liberdade, o maior número 
						possível de cidadãos participa nos assuntos públicos»
						
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 3162: AAS 58 (1966) 1050). 
						
						1916. A participação de todos na promoção do bem comum 
						implica, como qualquer dever ético, uma conversão 
						incessantemente renovada dos parceiros sociais. A fraude 
						e outros subterfúgios, pelos quais alguns se esquivam às 
						obrigações da lei e às prescrições do dever social, 
						devem ser firmemente condenados como incompatíveis com 
						as exigências da justiça. Importa promover o progresso 
						das instituições que melhorem as condições da vida 
						humana 
						
						(Cf. II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 30: AAS 58 (1966) 1049). 
						
						1917. Incumbe àqueles que exercem cargos de autoridade 
						garantir os valores que atraem a confiança dos membros 
						do grupo e os incitam a colocar-se ao serviço dos seus 
						semelhantes. A participação começa pela educação e pela 
						cultura. «Pode-se legitimamente pensar que o futuro 
						da humanidade está nas mãos daqueles que souberem dar às 
						gerações de amanhã razões de viver e de esperar»
						
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 31: AAS 58 (1966) 1050). 
						
						Resumindo: 
						
						1918. «Não existe autoridade que não venha de Deus, e 
						as que existem foram por Deus estabelecidas» (Rm. 
						13, 1). 
						
						1919. Toda a comunidade humana tem necessidade duma 
						autoridade, para se manter e desenvolver: 
						
						1920. «A comunidade política e a autoridade pública 
						têm o seu fundamento na natureza humana, e pertencem, 
						por isso, à ordem estabelecida por Deus» 
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 74: AAS 58 (1966) 1096). 
						
						1921. A autoridade exerce-se de modo legítimo, se se 
						dedicar a conseguir o bem comum da sociedade. Para o 
						atingir, deve empregar meios moralmente aceitáveis. 
						
						1922. A diversidade dos regimes políticos é legítima, 
						desde que estas concorram para o bem da comunidade. 
						
						1923. A autoridade política deve exercer-se dentro 
						dos limites da ordem moral, e garantir as condições 
						necessárias para o exercício da liberdade. 
						
						1924. O bem comum abrange «o conjunto das condições 
						sociais que permitem aos grupos e às pessoas atingir a 
						sua perfeição, do modo mais pleno e fácil» 
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 26: AAS 58 (1966) 1046). 
						1925. O bem comum inclui 
						três elementos essenciais: o respeito e a promoção dos 
						direitos fundamentais da pessoa; a prosperidade ou 
						desenvolvimento dos bens espirituais e temporais da 
						sociedade; a paz e a segurança do grupo e dos seus 
						membros. 
						
						1926. A dignidade da pessoa humana implica a busca do 
						bem comum. Cada qual deve preocupar-se em suscitar e 
						sustentar instituições que melhorem as condições da vida 
						humana. 
						
						1927. Compete ao Estado defender e promover o bem 
						comum da sociedade civil. O bem comum de toda a família 
						humana exige uma organização da sociedade internacional. 
						
						
						
						ARTIGO 3 
						
						A JUSTIÇA SOCIAL 
						
						1928. A sociedade garante a justiça social, quando 
						realiza as condições que permitem às associações e aos 
						indivíduos obterem o que lhes é devido, segundo a sua 
						natureza e vocação. A justiça social está ligada ao bem 
						comum e ao exercício da autoridade. 
						
						I. O respeito pela pessoa humana 
						
						1929. A justiça social só pode alcançar-se no respeito 
						da dignidade transcendente do homem. A pessoa constitui 
						o fim último da sociedade, que está ordenada para ela: 
						
						- a defesa e promoção da dignidade da pessoa humana 
						«foram-nos confiadas pelo Criador, tarefa a que estão 
						rigorosa e responsavelmente obrigados os homens e as 
						mulheres em todas as conjunturas da história»
						(João Paulo II, Enc. 
						Sollicitudo rei socialis, 47: AAS 80 (1988) 581). 
						
						1930. O respeito pela pessoa humana implica o dos 
						direitos que dimanam da sua dignidade de criatura. Esses 
						direitos são anteriores à sociedade e impõem-se lhe. 
						Estão na base da legitimidade moral de qualquer 
						autoridade: desprezando-os ou recusando reconhecê-los na 
						sua legislação positiva, uma sociedade atenta contra a 
						sua própria legitimidade moral 
						
						(Cf. João XXIII, Enc. Pacem in terris, 61: 
						AAS 55 (1963) 274). 
						Faltando esse respeito, uma sociedade não tem outra 
						solução, senão o recurso à força e à violência, para 
						obter a obediência dos seus súbitos. É dever da Igreja 
						trazer à memória dos homens de boa vontade aqueles 
						direitos, e distingui-los das reivindicações abusivas ou 
						falsas. 
						
						1931. O respeito pela pessoa humana passa pelo respeito 
						pelo princípio: «que cada um considere o seu próximo, 
						sem qualquer excepção, como “outro ele mesmo”, e zele, 
						antes de mais, pela sua existência e pelos meios que lhe 
						são necessários para viver dignamente» 
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 27: AAS 58 (1966) 274). 
						Nenhuma legislação será capaz, por si mesma, de fazer 
						desaparecer os temores, os preconceitos, as atitudes de 
						orgulho e egoísmo que são obstáculo ao estabelecimento 
						de sociedades verdadeiramente fraternas. Tais atitudes 
						só desaparecem com a caridade, que vê em cada homem um
						«próximo», um irmão. 
						
						1932. O dever de nos fazermos o «próximo» do 
						outro, e de o servirmos ativamente, é tanto mais 
						premente quanto esse outro for mais indefeso, seja em 
						que domínio for. «Quantas vezes o fizestes a um dos 
						meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes» (Mt. 
						25, 40). 
						
						1933. Este mesmo dever é extensivo a todos os que pensam 
						ou se comportam de modo diferente de nós. A doutrina de 
						Cristo chega a exigir o perdão das ofensas. Ele estende 
						o mandamento do amor, que é o da nova Lei, a todos os 
						inimigos 
						
						(Cf. Mt 5, 43-44). 
						A libertação, no espírito do Evangelho, é incompatível 
						com o ódio ao inimigo, enquanto pessoa; embora não o 
						seja com o ódio ao mal, que ele pode praticar enquanto 
						inimigo. 
						
						II. Igualdade e diferença entre os homens 
						
						1934. Criados à imagem do Deus único, dotados duma 
						idêntica alma racional, todos os homens têm a mesma 
						natureza e a mesma origem. Resgatados pelo sacrifício de 
						Cristo, todos são chamados a participar da mesma 
						bem-aventurança divina. Todos gozam, portanto, de igual 
						dignidade. 
						
						1935. A igualdade entre os homens assenta essencialmente 
						na sua dignidade pessoal e nos direitos que dela 
						dimanam: 
						
						- «toda a espécie de discriminação relativamente aos 
						direitos fundamentais da pessoa, quer por razão do sexo, 
						quer da raça, cor, condição social, língua ou religião, 
						deve ser ultrapassada e eliminada como contrária ao 
						desígnio de Deus» 
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 29: AAS 58 (1966) 1048-1049). 
						
						1936. Ao vir ao mundo, o homem não dispõe de tudo o que 
						é necessário para o desenvolvimento da sua vida corporal 
						e espiritual. Precisa dos outros. Há diferenças 
						relacionadas com a idade, as capacidades físicas, as 
						aptidões intelectuais e morais, os intercâmbios de que 
						cada um pôde beneficiar, a distribuição das riquezas
						
						
						(Cf. II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 29: AAS 58 (1966) 1048). 
						Os «talentos» não são distribuídos por igual
						
						
						(Cf. Mt. 25, 14-30: Lc. 19, 11-27). 
						
						1937. Estas diferenças fazem parte do plano de Deus que 
						quer que cada um receba de outrem aquilo de que precisa 
						e que os que dispõem de «talentos» particulares 
						comuniquem os seus benefícios aos que deles precisam. As 
						diferenças estimulam e muitas vezes obrigam as pessoas à 
						magnanimidade, à benevolência e à partilha: e incitam as 
						culturas a enriquecerem-se umas às outras: 
						
						- «Eu distribuo as virtudes tão diferentemente, que 
						não dou tudo a todos, mas a uns uma e a outros outra 
						[...] A um darei principalmente a caridade, a outro a 
						justiça, a este a humildade, àquele uma fé viva. [...] E 
						assim dei muitos dons e graças de virtudes, espirituais 
						e temporais, com tal diversidade, que não comuniquei 
						tudo a uma só pessoa, a fim de que vós fosseis forçados 
						a usar de caridade uns para com os outros; [...] Eu quis 
						que um tivesse necessidade do outro e todos fossem meus 
						ministros na distribuição das graças e dons de Mim 
						recebidos» 
						
						(Santa Catarina de Sena, Il dialogo della Divina 
						provvidenza, 7: ed. G. Cavallini (Roma 1995) p. 
						23-24). 
						
						1938. Mas também existem desigualdades iníquas 
						que ferem milhões de homens e de mulheres. Essas estão 
						em contradição frontal com o Evangelho: 
						
						- «a igual dignidade pessoal postula que se chegue a 
						condições de vida mais humanas e justas. Com efeito, as 
						excessivas desigualdades económicas e sociais entre os 
						membros ou povos da única família humana provocam 
						escândalo e são obstáculo à justiça social, à equidade, 
						à dignidade da pessoa humana e, finalmente, à paz social 
						e internacional» 
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 29: AAS 58 (1966) 1049). 
						
						III. A solidariedade humana 
						
						1939. O princípio da solidariedade, também enunciado sob 
						o nome de «amizade» ou de «caridade social», 
						é uma exigência direta da fraternidade humana e cristã
						
						
						(Cf. João Paulo II, Enc. Sollicitudo rei socialis,
						38-40: AAS 80 (1988) 564-569; Id.. Enc. 
						Centesimus annus, 10: AAS 83 (1991) 805-806): 
						
						- um erro, «hoje largamente espalhado, é o que 
						esquece esta lei da solidariedade humana e da caridade, 
						ditada e imposta tanto pela comunidade de origem e pela 
						igualdade da natureza racional entre todos os homens, 
						seja qual for o povo a que pertençam, como pelo 
						sacrifício da redenção oferecido por Jesus Cristo no 
						altar da cruz ao Pai celeste, em favor da humanidade 
						pecadora» 
						
						(Pio XII, Enc. Summi Pontificatus: AAS 31 (1939) 
						426). 
						
						1940. A solidariedade manifesta-se, em primeiro lugar, 
						na repartição dos bens e na remuneração do trabalho. 
						Implica também o esforço por uma ordem social mais 
						justa, em que as tensões possam ser resolvidas melhor e 
						os conflitos encontrem mais facilmente uma saída 
						negociada. 
						
						1941. Os problemas socioeconômicos só podem ser 
						resolvidos com a ajuda de todas as formas de 
						solidariedade: solidariedade dos pobres entre si, dos 
						ricos com os pobres, dos trabalhadores entre si, dos 
						empresários e empregados na empresa; solidariedade entre 
						as nações e entre os povos. A solidariedade 
						internacional é uma exigência de ordem moral. Dela 
						depende, em parte, a paz do mundo. 
						
						1942. A virtude da solidariedade vai além dos bens 
						materiais. Ao difundir os bens espirituais da fé, a 
						Igreja favoreceu, por acréscimo, o desenvolvimento dos 
						bens temporais, a que, muitas vezes, abriu novos 
						caminhos. Assim se verificou, ao longo dos séculos, a 
						Palavra do Senhor: «procurai primeiro o Reino de Deus 
						e a sua justiça, e tudo o mais vos será dado por 
						acréscimo» (Mt. 6, 33): 
						
						- «desde há dois mil anos que vive e persevera na 
						alma da Igreja este sentimento, que levou e ainda leva 
						as almas até ao heroísmo caridoso dos monges 
						agricultores, dos libertadores de escravos, dos que 
						cuidam dos doentes, dos mensageiros da fé, da 
						civilização, da ciência a todas as gerações e a todos os 
						povos, em vista a criar condições sociais capazes de a 
						todos tornar possível uma vida digna do homem e do 
						cristão» 
						
						(Pio XII, Mensagem radiofónica (1 de Junho de 
						1941): AAS 33 (1941) 204). 
						
						Resumindo: 
						
						1943. A sociedade assegura a justiça social, 
						realizando as condições que permitem às associações e 
						aos indivíduos obterem o que lhes é devido. 
						
						1944. O respeito pela pessoa humana considera o outro 
						como «outro eu». Supõe o respeito pelos direitos 
						fundamentais, decorrentes da dignidade intrínseca da 
						pessoa. 
						
						1945. A igualdade entre os homens assenta na sua 
						dignidade pessoal e nos direitos que dela dimanam. 
						
						1946. As diferenças entre as pessoas fazem parte do 
						desígnio de Deus que quer que precisemos uns dos outros. 
						Devem estimular a caridade. 
						
						1947. A igual dignidade das pessoas humanas exige 
						esforços no sentido de reduzir desigualdades sociais e 
						económicas excessivas. Conduza o desaparecimento das 
						desigualdades iníquas. 
						
						1948. A solidariedade é uma virtude eminentemente 
						cristã. Pratica a partilha dos bens espirituais, ainda 
						mais que a dos materiais. 
						A VIDA EM CRISTO 
						
						PRIMEIRA SECÇÃO 
						
						A VOCAÇÃO DO HOMEM: A VIDA NO ESPÍRITO 
						
						 CAPÍTULO TERCEIRO 
						
						 A SALVAÇÃO DE DEUS: A LEI 
						E A GRAÇA 
						
						1949. Chamado à bem-aventurança, mas ferido pelo pecado, 
						o homem tem necessidade da salvação de Deus. O auxílio 
						divino é-lhe dado em Cristo, pela lei que o dirige e na 
						graça que o ampara: 
						
						- «trabalhai com temor e tremor na vossa salvação: 
						porque é Deus que opera em vós o querer e o agir, 
						segundo os seus desígnios» (Fl, 2, 12-13). 
						
						
						
						ARTIGO 1 
						
						A LEI MORAL 
						
						1950. A lei moral é obra da Sabedoria divina. Podemos 
						defini-la, em sentido bíblico, como uma instrução 
						paterna, uma pedagogia de Deus. Ela prescreve ao homem 
						os caminhos, as regras de procedimento que o levam à 
						bem-aventurança prometida e lhe proíbe os caminhos do 
						mal, que desviam de Deus e do seu amor. E, ao mesmo 
						tempo, firme nos seus preceitos e amável nas suas 
						promessas. 
						
						1951. A lei é uma regra de procedimento emanada da 
						autoridade competente em ordem ao bem comum. A lei moral 
						pressupõe a ordem racional estabelecida entre as 
						criaturas, para seu bem e em vista do seu fim, pelo 
						poder, sabedoria e bondade do Criador. Toda a lei 
						encontra na Lei eterna a sua verdade primeira e última. 
						A lei é declarada e estabelecida pela razão como uma 
						participação na providência do Deus vivo, Criador e 
						Redentor de todos. «Esta ordenação da razão, eis o 
						que se chama a lei» 
						
						(Leão XIII, Enc. Libertas praestantissimum: 
						Leonis XIII Acta 8. 218: São Tomás de Aquino, Summa 
						theologiae, 1-2, q. 90. a. 1: Ed. Leon. 7, 149-150). 
						
						- «Entre todos os seres animados, o homem é o único que 
						pode gloriar-se de ter recebido de Deus uma lei: animal 
						dotado de razão, capaz de compreender e de discernir, 
						ele regulará o seu procedimento dispondo da sua 
						liberdade e da sua razão, na submissão Àquele que tudo 
						lhe submeteu»
						
						
						(Tertuliano, Adversos Marcionem, 2, 4, 5: CCL I. 
						479 (PL 2, 315)). 
						
						1952. As expressões da lei moral são diversas, mas todas 
						coordenadas entre si: a lei eterna, fonte em Deus de 
						todas as leis; a lei natural; a lei revelada, 
						compreendendo a Lei antiga e a Lei nova ou evangélica: 
						por fim, as leis civis e eclesiásticas. 
						
						1953. A lei moral encontra em Cristo a sua plenitude e 
						unidade. Jesus Cristo é, em pessoa, o caminho da 
						perfeição. Ele é o fim da lei, porque só Ele ensina e 
						confere a justiça de Deus: «o fim da Lei é Cristo, 
						para a justificação de todo o crente» (Rm. 10, 4). 
						
						I. A lei moral natural 
						
						1954. O homem participa na sabedoria e na bondade do 
						Criador, que lhe confere o domínio dos seus atos e a 
						capacidade de se governar em ordem à verdade e ao bem. A 
						lei natural exprime o sentido moral original que permite 
						ao homem discernir, pela razão, o bem e o mal, a verdade 
						e a mentira: 
						
						- «a lei natural [...] está escrita e gravada na alma 
						de todos e de cada um dos homens, porque não é senão a 
						razão humana ordenando fazer o bem e proibindo pecar... 
						Mas este ditame da razão humana não poderia ter força de 
						lei, se não fosse a voz e a intérprete duma razão 
						superior, à qual o nosso espírito e a nossa liberdade 
						devem estar sujeitos» 
						
						(Leão XIII, Enc. Libertas praestantissimum: 
						Leonis XIII Acta 8. 219). 
						
						1955. A lei «divina e natural» 
						
						(Cf. II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 89: AAS 58 (1966) 1111-1112) 
						mostra ao homem o caminho a seguir para praticar o bem e 
						atingir o seu fim. A lei natural enuncia os preceitos 
						primários e essenciais que regem a vida moral. Tem como 
						fulcro a aspiração e a submissão a Deus, fonte e juiz de 
						todo o bem, assim como o sentido do outro como igual a 
						si mesmo. Quanto aos seus preceitos principais, está 
						expressa no Decálogo. Esta lei é chamada natural, não em 
						relação à natureza dos seres irracionais, mas porque a 
						razão que a promulga é própria da natureza humana: 
						
						- «onde estão, pois, inscritas [estas regras] senão 
						no livro daquela luz que se chama a verdade? É lá que 
						está escrita toda a lei justa, e é de lá que ela passa 
						para o coração do homem que pratica a justiça; não que 
						imigre para ele, mas porque nele imprime a sua marca, à 
						maneira de um selo que do sinete passa para a cera, sem 
						contudo deixar o sinete» 
						
						(Santo Agostinho, De Trinitate, 14, 15, 21: CCL 
						50A, 451 (PL 42, 1052)). 
						
						A lei natural «não é senão a luz da inteligência 
						posta em nós por Deus; por ela, nós conhecemos o que se 
						deve fazer e o que se deve evitar. Esta luz ou esta lei, 
						deu-a Deus ao homem na criação» 
						
						(São Tomás de Aquino, In duo praecepta caritatis et 
						in detem Legi praecepta expositio 1: Opera amnia, 
						v. 27 (Parisiis 1875) p. 144). 
						
						1956. Presente no coração de cada homem e estabelecida 
						pela razão, a lei natural é universal nos seus 
						preceitos, e a sua autoridade estende-se a todos os 
						homens. Ela exprime a dignidade da pessoa e determina a 
						base dos seus deveres e direitos fundamentais: 
						
						- «existe, sem dúvida, uma verdadeira lei, que é a 
						reta razão; ela é conforme à natureza, comum a todos os 
						homens; é imutável e eterna; as suas ordens apelam para 
						o dever; as suas proibições desviam da falta. [...] É um 
						sacrilégio substituí-la por uma lei contrária: e é 
						interdito deixar de cumprir uma só que seja das suas 
						disposições; quanto a ab-rogá-la inteiramente, ninguém o 
						pode fazer» 
						
						(Marco Túlio Cícero, De re publica, 3, 22, 33: 
						Scripta quae manserunt omnia, Bibliotheca 
						Teubneriana fasc. 39. ed. K. Ziegler (Leipzig 
						1969) p. 96). 
						
						1957. A aplicação da lei natural varia muito; pode 
						requerer uma reflexão adaptada à multiplicidade das 
						condições de vida, segundo os lugares, as épocas e as 
						circunstâncias. Todavia, na diversidade das culturas, a 
						lei natural permanece como regra a unir os homens entre 
						si, impondo-lhes, para além das diferenças inevitáveis, 
						princípios comuns. 
						
						1958. A lei natural é imutável 
						
						(Cf. II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 10: AAS 58 (1966) 1033) 
						e permanente através das variações da história. Subsiste 
						sob o fluxo das ideias e dos costumes e está na base do 
						respectivo progresso. As regras que a traduzem 
						permanecem substancialmente válidas. Mesmo que se lhe 
						neguem até os princípios, não é possível destruí-la nem 
						tirá-la do coração do homem; ela ressurge sempre na vida 
						dos indivíduos e das sociedades: 
						
						- «não há dúvida de que o roubo é punido pela vossa 
						Lei, Senhor, e pela lei que está escrita no coração do 
						homem e que nem a própria iniquidade consegue apagar»
						
						
						(Santo Agostinho, Confissões 2, 4, 9: CCL 27, 21 
						(PL 32, 678)). 
						
						1959. Obra excelente do Criador, a lei natural fornece 
						os fundamentos sólidos sobre os quais o homem pode 
						construir o edifício das regras morais que hão de 
						orientar as suas opções. Também nela assenta a base 
						moral indispensável para a construção da comunidade dos 
						homens. Enfim, proporciona a base necessária à lei 
						civil, que a ela se liga, quer por uma reflexão que dos 
						seus princípios tira as conclusões, quer por adições de 
						natureza positiva e jurídica. 
						
						1960. Os preceitos da lei natural não são por todos 
						recebidos de maneira clara e imediata. Na situação 
						atual, a graça e a Revelação são necessárias ao homem 
						pecador para que as verdades religiosas e morais possam 
						ser conhecidas, «por todos e sem dificuldade, com 
						firme certeza e sem mistura de erro» 
						
						(I Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Filius, 
						c. 2: DS 3005: Pio XII. Enc. Humani Generis: DS 
						3876). 
						A lei natural proporciona à lei revelada e à graça uma 
						base preparada por Deus e concedida por obra do 
						Espírito. 
						
						II. A Lei antiga
 1961. Deus, nosso Criador e nosso Redentor, escolheu 
						Israel como seu povo e revelou-lhe a sua Lei, preparando 
						assim a vinda de Cristo. A Lei de Moisés exprime muitas 
						verdades naturalmente acessíveis à razão. Estas 
						encontram-se declaradas e autenticadas no âmago da 
						aliança da salvação.
 
						
						1962. A Lei antiga é o primeiro estádio da lei revelada. 
						As suas prescrições morais estão compendiadas nos Dez 
						Mandamentos. Os preceitos do Decálogo assentam os 
						alicerces da vocação do homem, feito à imagem de Deus: 
						proíbem o que é contrário ao amor de Deus e do próximo e 
						prescrevem o que lhe é essencial. O Decálogo é uma luz 
						oferecida à consciência de todo o homem, para lhe 
						manifestar o apelo e os caminhos de Deus e o proteger 
						contra o mal: 
						
						- Deus «escreveu nas tábuas da Lei o que os homens 
						não fiam nos seus corações» 
						
						(Santo Agostinho, Enarratio in Psalmum, 57, I: 
						CCL 39, 708) 
						
						1963. Segundo a tradição cristã, a Lei santa 
						
						(Cf. Rm. 7, 12), 
						espiritual 
						
						(Cf. Rm. 7, 14) 
						e boa 
						
						(Cf. Rm. 7, 16), 
						é ainda imperfeita. Como um pedagogo 
						
						(Cf. Gl. 3, 24) 
						ela mostra o que se deve fazer; mas, por si, não dá a 
						força, a graça do Espírito para ser cumprida. Por causa 
						do pecado, que ela não pode anular, não deixa de ser uma 
						lei de escravidão. Segundo São Paulo, ela tem por função 
						principalmente denunciar e manifestar o pecado 
						que constitui uma «lei de concupiscência» 
						
						(Cf. Rm. 7) 
						no coração do homem. No entanto, a Lei permanece como a 
						primeira etapa no caminho do Reino. Prepara e dispõe o 
						povo eleito e cada cristão para a conversão e para a fé 
						em Deus salvador. Proporciona um ensinamento que 
						subsiste para sempre, como Palavra de Deus. 
						
						1964. A Lei antiga é uma preparação para o Evangelho. 
						«A Lei é profecia e pedagogia das realidades futuras»
						
						
						(Santo Ireneu de Lião, Adversus haereses, 4, 15, 
						1: SC 100. 548 (PG 7, 1012)). 
						Ela profetiza e preanuncia a obra de libertação do 
						pecado, que será realizada por Cristo; e fornece ao Novo 
						Testamento imagens, «tipos» e símbolos para 
						exprimir a vida segundo o Espírito. Finalmente, a Lei 
						completa-se pelo ensinamento dos Livros Sapienciais e 
						dos Profetas, que a orientam para a Nova Aliança e para 
						o Reino dos céus. 
						
						- Houve [...] na vigência da Antiga Aliança, pessoas que 
						possuíam a caridade e a graça do Espírito Santo, e 
						aspiravam acima de tudo às promessas espirituais e 
						eternas, sob este aspecto, já pertenciam à nova Lei. E, 
						vice-versa, existem na nova Aliança homens carnais, 
						ainda distantes da perfeição da Nova Lei. Para os 
						incitar à prática da virtude, tem sido necessário, mesmo 
						na Nova Aliança, o temor do castigo e certas promessas 
						temporais. Em todo o caso, a Lei antiga, embora 
						prescrevesse a caridade, não dava o Espírito Santo, pelo 
						qual "a caridade se difunde nos nossos corações" 
						(Rm. 5, 5) 
						
						(São Tomás de Aquino, Summa theologiae, 1-2, q. 
						107, a.I, ad 2: Ed. Leon 7, 279). 
						
						III. A nova Lei ou Lei evangélica 
						
						1965. A Lei nova ou Lei evangélica é a perfeição, na 
						terra, da Lei divina, natural e revelada. É obra de 
						Cristo e tem a sua expressão, de modo particular, no 
						sermão da montanha. É também obra do Espírito Santo e, 
						por Ele, torna-se a lei interior da caridade: 
						«estabelecerei com a casa de Israel uma aliança nova 
						[...] Hei de imprimir as minhas leis no seu espírito e 
						gravá-las-ei no seu coração. Eu serei o seu Deus e eles 
						serão o meu povo» (Heb. 8, 8-10) 
						
						(Cf. Jr. 31, 31-34). 
						
						1966. A Lei nova é a graça do Espírito Santo, 
						dada aos fiéis pela fé em Cristo. Opera pela caridade e 
						serve-se do sermão do Senhor para nos ensinar o que se 
						deve fazer, e dos sacramentos para nos comunicar a graça 
						de o fazer: 
						
						- aquele que quiser meditar com piedade e perspicácia o 
						sermão que nosso Senhor pronunciou na montanha, tal como 
						o lemos no Evangelho de São Mateus, nele encontrará, sem 
						dúvida alguma, a carta perfeita da vida cristã [...]. 
						Esse sermão encerra todos os preceitos próprios para 
						guiar a vida cristã 
						
						(Santo Agostinho, De sermone Domine in monte, 1, 
						1, 1: CCL 35, 1-2 (PL 34, 1229-1231)). 
						
						1967. A Lei evangélica «cumpre» 
						
						(Cf. Mt. 5, 17-19), apura, ultrapassa e leva à perfeição a 
						Lei antiga. Nas «bem-aventuranças», ela cumpre 
						as promessas divinas, elevando-as e ordenando-as 
						para o «Reino dos céus». Dirige-se àqueles que 
						estão dispostos a acolher com fé esta esperança nova: os 
						pobres, os humildes, os aflitos, os corações puros, os 
						perseguidos por causa de Cristo, traçando assim os 
						surpreendentes caminhos do Reino. 
						
						1968. A Lei evangélica dá cumprimento aos mandamentos
						da Lei. O sermão do Senhor, longe de abolir ou 
						desvalorizar as prescrições morais da Lei antiga, tira 
						deles as virtualidades ocultas, fazendo surgir novas 
						exigências: revela toda a verdade divina e humana que 
						elas contêm. Não acrescenta preceitos externos novos: 
						mas chega a reformar a raiz dos atos, o coração, onde o 
						homem escolhe entre o puro e o impuro 
						
						(Cf. Mt. 15, 18-19), 
						onde se formam a fé, a confiança e a caridade e, com 
						elas, as outras virtudes. Assim, o Evangelho leva a Lei 
						à sua plenitude, pela imitação da perfeição do Pai 
						Celeste 
						
						(Cf. Mt. 5, 48), 
						pelo perdão dos inimigos e pela oração pelos 
						perseguidores, à maneira da generosidade divina 
						
						(Cf. Mt. 5, 44). 
						
						1969. A Lei nova pratica os atos da religião: a 
						esmola, a oração, o jejum, ordenando-os para «o Pai 
						que vê no segredo», ao contrário do desejo «de 
						ser visto pelos homens» 
						
						(Cf. Mt. 6, 1-6; 16-18). 
						A sua oração é o «Pai Nosso» 
						
						(Cf. Mt. 6, 9-13). 
						
						1970. A Lei evangélica implica a escolha decisiva entre
						«os dois caminhos» 
						
						(Cf. Mt. 7, 13-14) 
						e a passagem à prática das palavras do Senhor 
						
						(Cf. Mt. 7, 21-27); 
						resume-se na regra de ouro: «tudo quanto quiserdes 
						que os homens vos façam, fazei-lho, de igual modo, vós 
						também, pois nisso consiste a Lei e os Profetas» (Mt. 
						7, 12) 
						
						(Cf. Lc. 6, 31). 
						
						Toda a Lei evangélica se apoia no «mandamento novo»
						de Jesus 
						
						(Cf. Jo. 13, 34), 
						de nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou 
						
						(Cf. Jo. 15, 12). 
						
						1971. Ao sermão do Senhor convém juntar a catequese 
						moral dos ensinamentos apostólicos (Rm. 12-15; 1ª 
						Cor. 12-13; Cl. 3-4; Ef. 4-5; etc.). Esta doutrina 
						transmite o ensinamento do Senhor com a autoridade dos 
						Apóstolos, sobretudo pela exposição das virtudes que 
						dimanam da fé em Cristo e que são animadas pela 
						caridade, o principal dom do Espírito Santo. «Seja a 
						vossa caridade sem fingimento [...]. Amai-vos uns aos 
						outros com amor fraterno [...]. Sede alegres na 
						esperança, pacientes na tribulação, perseverantes na 
						oração, acudindo com a vossa parte às necessidades dos 
						santos, procurando o ensejo de exercer a hospitalidade
						(Rm. 12, 9-12). Esta catequese ensina-nos também 
						a tratar os casos de consciência à luz da nossa relação 
						com Cristo e com a Igreja» 
						
						(Cf. Rom 14; 1 Cor 5-10). 
						
						1972. A Lei nova é chamada Lei do amor, porque 
						faz agir mais pelo amor infundido pelo Espírito Santo do 
						que pelo temor: Lei da graça, porque confere a 
						força da graça para agir pela fé e pelos sacramentos; 
						Lei de liberdade porque nos liberta das observâncias 
						rituais e jurídicas da Lei antiga, nos inclina a agir 
						espontaneamente sob o impulso da caridade e, finalmente, 
						nos faz passar da condição do escravo «que ignora o 
						que faz o seu senhor», 
						
						(Cf. Tg. 1, 25; 2, 12)
						
						para a do amigo de Cristo: «porque vos dei a conhecer 
						tudo o que ouvi do meu Pai» (Jo. 15, 15); ou ainda 
						para a condição de filho herdeiro 
						
						(Cf. G. 14.1-7; 21-31; Rm. 8, 15-17). 
						
						1973. Além dos seus preceitos, a Lei nova inclui também 
						os conselhos evangélicos. A distinção tradicional 
						entre os mandamentos de Deus e os conselhos evangélicos 
						estabelece-se por referência à caridade, perfeição da 
						vida cristã. Os preceitos destinam-se a afastar tudo o 
						que é incompatível com a caridade. Os conselhos têm por 
						fim afastar o que, mesmo sem lhe ser contrário, pode 
						constituir impedimento à expansão da caridade 
						
						(Cf. São Tomás de Aquino, Summa theologiae, 2-2. 
						Q. 184, a. 3: Ed. Leon. 10, 453-454). 
						
						1974. Os conselhos evangélicos manifestam a plenitude 
						viva da caridade, sempre insatisfeita por não dar mais. 
						Atestam o seu ímpeto e solicitam a nossa prontidão 
						espiritual. A perfeição da Lei nova consiste 
						essencialmente nos preceitos do amor de Deus e do 
						próximo. Os conselhos indicam caminhos mais diretos, 
						meios mais adequados, e são praticáveis segundo a 
						vocação de cada um: 
						
						- «Deus não quer que cada um observe todos os 
						conselhos, mas somente os que são convenientes, segundo 
						a diversidade das pessoas, dos tempos, das ocasiões e 
						das forças, consoante a caridade o requer; pois é ela 
						que, como rainha de todas as virtudes, de todos os 
						mandamentos, de todos os conselhos, em suma, de todas as 
						leis e de todas as ações cristãs, lhes dá a todos e a 
						todas o lugar, a ordem, o tempo e o valor» 
						
						(São Francisco de Sales, Traité de l'amour de Dieu, 
						8, 6: Oeuvres, v. 5 (Anecy 1894) p. 75). 
						
						Resumindo:
 1975. Segundo a Escritura, a Lei é uma instrução 
						paterna de Deus, que prescreve ao homem os caminhos que 
						levam à bem-aventurança prometida, e proíbe os caminhos 
						do mal.
 
						
						1976. «A lei é uma ordenação da razão para o bem 
						comum, promulgada por aquele que tem o encargo da 
						comunidade» 
						
						(São Tomás de Aquino, Summa theologiae, 1-2. q. 
						90, a. 4, e: Ed. Leon. 7, 152). 
						
						1977. Cristo é o fim da Lei 
						
						(Cf. Rm. 10, 4).
						Só Ele ensina e concede a justiça de Deus. 
						
						1978. A lei natural é uma participação na sabedoria e 
						bondade de Deus pelo homem, formado à imagem do seu 
						Criador Ela exprime a dignidade da pessoa humana 
						e constitui a base dos seus direitos e deveres 
						fundamentais. 
						
						1979. A lei natural é imutável, permanente através da 
						história. As regras que a traduzem permanecem 
						substancialmente válidas. É a base necessária para a 
						fixação das regras morais e da lei civil. 
						
						1980. A Lei antiga é o primeiro estádio da Lei 
						revelada. As suas prescrições morais estão compendiadas 
						nos Dez Mandamentos. 
						
						1981. A Lei de Moisés contém muitas verdades 
						naturalmente acessíveis à razão. Deus revelou-as, porque 
						os homens não as liam no seu coração. 
						
						1982. A Lei antiga é uma preparação para o Evangelho. 
						
						1983. A nova Lei é a graça do Espírito Santo, 
						recebida pela fé em Cristo, operando pela caridade. Está 
						expressa sobretudo no sermão do Senhor na montanha e 
						utiliza os sacramentos para nos comunicar a graça. 
						
						1984. A Lei evangélica cumpre, ultrapassa e 
						aperfeiçoa a Lei antiga: as suas promessas pelas 
						bem-aventuranças do Reino dos céus; os seus mandamentos, 
						reformando a raiz dos atos, o coração. 
						
						1985. A nova Lei é uma lei de amor; uma lei de graça, 
						uma lei de liberdade. 
						
						1986. Além dos seus preceitos, a nova Lei comporta os 
						conselhos evangélicos. «A santidade da Igreja é 
						especialmente favorecida pelos vários conselhos que o 
						Senhor propõe no Evangelho aos seus discípulos» 
						
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium,
						42 AAS 57 (1965) 48). 
						
						
						
						ARTIGO 2 
						
						GRAÇA E JUSTIFICAÇÃO 
						
						I. A justificação 
						
						1987. A graça do Espírito Santo tem o 
						poder de nos justificar, isto é, de nos lavar dos nossos 
						pecados e de nos comunicar «a justiça de Deus pela fé 
						em Jesus Cristo» 
						
						(Cf. Rm. 3, 22) 
						e pelo Baptismo 
						
						(Cf. Rm. 6, 3-4): 
						
						- «se morremos com Cristo, acreditamos que também com 
						Ele viveremos, sabendo que, uma vez ressuscitado dos 
						mortos, Cristo já não morre: a morte já não tem domínio 
						sobre Ele. Porque, na morte que sofreu, Cristo morreu 
						para o pecado de uma vez para sempre: mas a sua vida é 
						uma vida para Deus. Assim vós também, considerai-vos 
						mortos para o pecado e vivos para Deus, em Cristo Jesus» 
						(Rm. 6, 8- ll). 
						
						1988. Pelo poder do Espírito Santo, nós tomamos parte na 
						paixão de Cristo, morrendo para o pecado, e na sua 
						ressurreição, nascendo para uma vida nova. Somos os 
						membros do seu corpo, que é a Igreja 
						
						(Cf. 1ª Cor. 12), 
						os sarmentos enxertados na videira, que é Ele próprio
						
						
						(Cf. Jo. 15, 1-4): 
						
						- «é pelo Espírito que nós temos parte em Deus. [...] 
						Pela participação no Espírito, tornamo-nos participantes 
						da natureza divina [...]. É por isso que aqueles em quem 
						habita o Espírito são divinizados» 
						
						(Santo Atanásio de Alexandria, Epistula ad 
						Serapionem. 1, 24: PG 26, 585-588). 
						
						1989. A primeira obra da graça do Espírito Santo é a 
						conversão, que opera a justificação, segundo a 
						mensagem de Jesus no princípio do Evangelho: 
						«convertei-vos, que está perto o Reino dos céus» 
						(Mt. 4, 17). Sob a moção da graça, o homem volta-se para 
						Deus e desvia-se do pecado, acolhendo assim o perdão e a 
						justiça do Alto. «A justificação comporta, portanto, 
						a remissão dos pecados, a santificação e a renovação do 
						homem interior» 
						
						(Concílio de Trento, Sess. 6ª, Decretum de 
						iustificatione, c. 7: DS 1528). 
						
						1990. A justificação desliga o homem do pecado, 
						que está em contradição com o amor de Deus, e 
						purifica-lhe o coração. A justificação continua a 
						iniciativa da misericórdia de Deus, que oferece o 
						perdão; reconcilia o homem com Deus; liberta-o da 
						escravidão do pecado e cura-o. 
						
						1991. A justificação é, ao mesmo tempo, acolhimento 
						da justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo. Justiça 
						designa, aqui, a retidão do amor divino. Com a 
						justificação, são difundidas nos nossos corações a fé, a 
						confiança e a caridade, e é-nos concedida a obediência à 
						vontade divina. 
						
						1992. A justificação foi-nos merecida pela paixão de 
						Cristo, que na cruz Se ofereceu como hóstia viva, 
						santa e agradável a Deus, e cujo sangue se tornou 
						instrumento de propiciação pelos pecados de todos os 
						homens. A justificação é concedida pelo Batismo, 
						sacramento da fé. Conforma-nos com a justiça de Deus que 
						nos torna interiormente justos pelo poder da sua 
						misericórdia. E tem pôr fim a glória de Deus e de 
						Cristo, e o dom da vida eterna 
						
						(Concílio de Trento, Sess. 6ª, Decretum de 
						iustificatione, c. 7: DS 1529): 
						
						- «mas agora, foi sem a Lei que se manifestou a 
						justiça de Deus, atestada pela Lei e pelos Profetas: a 
						justiça que vem para todos os crentes, mediante a fé em 
						Jesus Cristo. É que não há diferença alguma: todos 
						pecaram e estão privados da glória de Deus. Sem o 
						merecerem, são justificados pela sua graça, em virtude 
						da redenção realizada em Cristo Jesus. Deus ofereceu-o 
						para nele, pelo seu sangue, se realizar a expiação que 
						atua mediante a fé: foi assim que Ele mostrou a sua 
						justiça, ao perdoar os pecados cometidos outrora, no 
						tempo da divina paciência. Deus mostra assim a sua 
						justiça no tempo presente, porque Ele é justo e 
						justifica quem tem fé em Jesus» (Rm. 3, 21-26). 
						
						1993. A justificação estabelece a colaboração entre a 
						graça de Deus e a liberdade do homem. Do lado do 
						homem, exprime-se no assentimento da fé à Palavra de 
						Deus que convida à conversão, e na cooperação da 
						caridade com o impulso do Espírito Santo que se lhe 
						adianta e o guarda: 
						
						- «quando Deus move o coração do homem pela 
						iluminação do Espírito Santo o homem não fica sem fazer 
						nada ao receber esta inspiração, que, aliás, pode 
						rejeitar: no entanto, também não pode, sem a graça de 
						Deus, caminhar, por sua livre vontade, para a justiça na 
						sua presença» 
						
						(Concílio de Trento, Sess. 6ª, Decretum de 
						iustificatione, c. 5: DS 1525). 
						
						1994. A justificação é a obra mais excelente do amor 
						de Deus manifestado em Cristo Jesus e concedido pelo 
						Espírito Santo. Santo Agostinho pensa que «a 
						justificação do ímpio é obra maior que a criação do céu 
						e da terra»; porque «o céu e a terra passarão, ao 
						passo que a justificação e a salvação dos eleitos 
						permanecerão» 
						
						(Santo Agostinho, In Iohannis evangelium tractatus, 
						72, 3: CCL 36, 508 (PL 35, 1823)). 
						Pensa mesmo que a justificação dos pecadores é mais 
						importante que a criação dos anjos em justiça, pelo tato 
						de testemunhar uma maior misericórdia. 
						
						1995. O Espírito Santo é o mestre interior. Fazendo 
						nascer o «homem interior» 
						
						(Cf. Rm. 7, 22; Ef 3,16) 
						a justificação implica a santificação de todo o 
						ser: 
						
						- «pois, como pusestes os vossos membros ao serviço 
						da impureza e do mal para cometer a iniquidade, assim 
						ponde agora os vossos membros ao serviço da justiça para 
						chegar à santidade. [...]. Mas agora, libertos do pecado 
						e feitos servos de Deus, tendes por fruto a santidade: e 
						o termo é a vida eterna» (Rm. 6, 19-22). 
						
						II. A graça 
						
						1996. A nossa justificação vem da graça de Deus. A graça 
						é o favor, o socorro gratuito que Deus nos dá, a 
						fim de respondermos ao seu chamamento para nos tornarmos 
						filhos de Deus 
						
						(Cf. Jo. 1, 12-18) 
						filhos adotivos 
						
						(Cf. Rm. 8, 14-17) 
						participantes da natureza divina 
						
						(Cf. 2ª Pe. 1, 3-4) 
						e da vida eterna 
						
						(Cf. Jo. 17, 3). 
						
						1997. A graça é uma participação na vida de Deus, 
						introduz-nos na intimidade da vida trinitária: pelo 
						Batismo, o cristão participa na graça de Cristo, cabeça 
						do seu corpo; como «filho adotivo», pode 
						doravante chamar «Pai» a Deus, em união como seu 
						Filho Unigénito; e recebe a vida do Espírito, que lhe 
						infunde a caridade e forma a Igreja. 
						
						1998. Esta vocação para a vida eterna é sobrenatural.
						Depende inteiramente da iniciativa gratuita de Deus, 
						porque só Ele pode revelar-se e dar-se a Si mesmo. E 
						ultrapassa as capacidades da inteligência e as forças da 
						vontade humana, como de qualquer criatura 
						
						(Cf. 1ª Cor. 2, 7-9). 
						
						1999. A graça de Cristo é dom gratuito que Deus nos faz 
						da sua vida, infundida pelo Espírito Santo na nossa alma 
						para a curar do pecado e a santificar. É a graça 
						santificante ou deificante, recebida no Batismo. É, 
						em nós, a nascente da obra de santificação 
						
						(Cf. Jo 4, 14; 7, 38-39): 
						
						- «por isso, se alguém está em Cristo, é uma nova 
						criação. O que era antigo passou: eis que surgiram 
						coisas novas! Tudo isto vem de Deus, que nos reconciliou 
						consigo por meio de Cristo» (2ª Cor. 5, 
						17-18). 
						2000. A graça santificante é um 
						dom habitual, uma disposição estável e sobrenatural, que 
						aperfeiçoa a alma, mesmo para a tornar capaz de viver 
						com Deus e de agir por seu amor. Devemos distinguir a 
						graça habitual, disposição permanente para viver 
						e agir segundo o apelo divino, e as graças atuais,
						que designam as intervenções divinas, quer na origem 
						da conversão, quer no decurso da obra de santificação. 
						
						2001. A preparação do homem para acolher a graça 
						é já obra da graça. Esta é necessária para suscitar e 
						sustentar a nossa colaboração na justificação pela fé e 
						na santificação pela caridade. Deus acaba em nós o que 
						começou, «porque é Ele próprio que começa fazendo com 
						que queiramos e é Ele que acaba, cooperando com aqueles 
						que assim querem» 
						
						(Santo Agostinho, De gratia et libero arbítrio, 
						17, 33: PL 44, 901): 
						
						- «é certo que nós também trabalhamos, mas não fazemos 
						mais do que cooperar com Deus que trabalha, porque a sua 
						misericórdia nos precedeu. Precedeu-nos para sermos 
						curados e continua a acompanhar-nos para que, uma vez 
						curados, sejamos vivificados. Precede-nos para que 
						sejamos chamados, segue-nos para que sejamos 
						glorificados, precede-nos para que vivamos segundo a 
						piedade, segue-nos para que vivamos para sempre com Ele, 
						porque sem Ele nada podemos fazer»
						
						
						(Santo Agostinho, De natura et gratia, 31, 35: 
						CSEL 49, 258-259 (PL 44, 264)). 
						
						2002. A livre iniciativa de Deus reclama a resposta 
						livre do homem, porque Deus criou o homem à sua 
						imagem, conferindo-lhe, com a liberdade, o poder de O 
						conhecer e de O amar. Só livremente é que a sua alma 
						entra na comunhão do amor. Deus toca imediatamente e 
						move diretamente o coração do homem. Colocou no homem 
						uma aspiração à verdade e ao bem, que só Ele pode 
						satisfazer. As promessas da «vida eterna» 
						correspondem a esta aspiração, para além de toda a 
						esperança. 
						
						«Se Tu, após as tuas obras muito boas, [...] descansaste 
						no sétimo dia, foi para nos dizer de antemão, pela voz 
						do Teu Livro, que no termo das nossas obras, que "são 
						muito boas" pelo simples fato de teres sido Tu quem 
						no-las deu, também nós repousaremos em Ti, no Sábado da 
						vida eterna»
						
						
						(Santo Agostinho, Confissões, 13, 36, 51: CCL 27, 
						272 (PL 32, 868)). 
						
						2003. A graça é, antes de tudo e principalmente, o dom 
						do Espírito que nos justifica e nos santifica. Mas 
						também compreende os dons que o Espírito nos dá, para 
						nos associar à sua obra, para nos tornar capazes de 
						colaborar na salvação dos outros e no crescimento do 
						corpo Místico de Cristo, que é a Igreja. São as 
						graças sacramentais, dons próprios dos diferentes 
						sacramentos. São, além disso, as graças especiais,
						também chamadas «carismas», segundo o termo 
						grego empregado por São Paulo e que significa favor, dom 
						gratuito, benefício 
						
						(Cf. II Concílio 
						do Vaticano, 
						Const. dogm. Lumen Gentium, 12: AAS 57 (1965) 
						16-17). Qualquer que seja o seu carácter, por 
						vezes extraordinário, como o dom dos milagres ou das 
						línguas, os carismas estão ordenados para a graça 
						santificante e têm por finalidade o bem comum da Igreja. 
						Estão ao serviço da caridade que edifica a Igreja 
						
						(Cf. 1ª Cor. 12). 
						
						2004. Entre as graças especiais, devem mencionar-se as 
						graças de estado, que acompanham o exercício das 
						responsabilidades da vida cristã e dos ministérios no 
						seio da Igreja: 
						
						- «possuímos dons diferentes, conforme a graça que 
						nos foi dada. Quem tem o dom da profecia, comunique-o em 
						harmonia com a fé: quem tem o dom do ministério, exerça 
						as funções do ministério: quem tem o dom do ensino, 
						ensine: quem tem o dom de exortar, exorte; quem tem a 
						missão de repartir, faça-o com desinteresse; quem 
						preside, faça-o com zelo; quem exerce a misericórdia, 
						faça-o com alegria» (Rm. 12, 6-8). 
						
						2005. Sendo, como é, de ordem sobrenatural, a graça 
						escapa nossa experiência e só pode ser conhecida 
						pela fé. Não podemos, pois, basear-nos nos nossos 
						sentimentos nem nas nossas obras, para daí concluirmos 
						que estamos justificados e salvos 
						
						(Cf. Concílio de Trento, Sess. 6ª, Decretum de 
						iustificatione, c. 9: DS 1533-1534). No entanto, segundo a palavra do Senhor, 
						que diz: «pelos seus frutos os conhecereis» (Mt. 
						7, 20), a consideração dos benefícios de Deus na nossa 
						vida e na vida dos santos oferece-nos uma garantia de 
						que a graça de Deus opera em nós e nos incita a uma fé 
						cada vez maior e a uma atitude de pobreza confiante: 
						
						- encontramos uma das mais belas ilustrações desta 
						atitude na resposta de Santa Joana d'Arc a uma pergunta 
						capciosa dos seus juízes eclesiásticos: «interrogada 
						sobre se sabe se está na graça de Deus, responde; "se 
						não estou, Deus nela me ponha: se estou, Deus nela me 
						guarde"» 
						
						(Santa Joana D'Arc: Dito: Procès de condannation, 
						ed. P. Tisset (Paris, 1969) p. 62). 
						
						III. O mérito 
						
						«Vós sois glorificado na assembleia dos santos: quando 
						coroais os seus méritos, coroais os vossos próprios 
						dons»
						
						
						(Prefácio dos Santos, I: Missale Romanum, editio typica 
						(Typis Polyglottis Vaticanis 1970), p. 428 [Missal 
						Romano, Gráfica de Coimbra 1992. p. 495]: cf. o 
						«Doutor da Graça». Santo Agostinho, Enarratio in 
						Psalmum 102, 7: CCL 40, 1457 (PI_ 37, 1321)). 
						
						2006. A palavra «mérito» designa, em geral, a 
						retribuição devida por uma comunidade ou sociedade à 
						ação de um dos seus membros, experimentada como um 
						benefício ou um malefício, digna de recompensa ou de 
						castigo. O mérito diz respeito à virtude da justiça, em 
						conformidade com o princípio da igualdade que a rege. 
						
						2007. Em relação a Deus, não há, da parte do homem, 
						mérito no sentido dum direito estrito. Entre Ele e nós, 
						a desigualdade é sem medida, pois nós tudo recebemos 
						d'Ele, nosso Criador. 
						
						2008. O mérito do homem perante Deus, na vida cristã, 
						provém do fato de que Deus dispôs livremente associar 
						o homem à obra da sua graça. A ação paterna de Deus 
						é primeira, pelo seu impulso, e o livre agir do homem é 
						segundo, na sua colaboração; de modo que os méritos das 
						obras devem ser atribuídos à graça de Deus, primeiro, e 
						depois ao fiel. Aliás, o próprio mérito do homem depende 
						de Deus, porque as suas boas ações procedem, em Cristo, 
						das predisposições e ajudas do Espírito Santo. 
						
						2009. A adoção filial, tornando-nos, pela graça, 
						participantes da natureza divina, pode conferir-nos, 
						segundo a justiça gratuita de Deus, um verdadeiro 
						mérito. Trata-se de um direito derivante da graça, o 
						direito pleno do amor que nos faz «co-herdeiros» 
						de Cristo e dignos de obter a «herança prometida da 
						vida eterna» 
						
						(Cf. Concílio de Trento, Sess. 6ª, Decretum de 
						iustificatione, c. 16: DS 1546). Os méritos das nossas boas obras são dons 
						da bondade divina 
						
						(Cf. Concílio de Trento, Sess. 6ª, Decretum de 
						iustificatione, c. 16: DS 1546).
						«A graça precedeu; agora restitui-se o que é devido 
						[...] Os méritos são dons de Deus» 
						
						(Santo Agostinho, Sermão 298, 4-5: SPM 1, 98-99 
						(PL 38, 1376)). 
						
						2010. Uma vez que, na ordem da graça, a iniciativa 
						pertence a Deus, ninguém pode merecer a graça 
						primeira, que está na origem da conversão, do perdão 
						e da justificação. Sob a moção do Espírito Santo e da 
						caridade, podemos, depois, merecer para nós 
						mesmos e para outros, as graças úteis para a 
						santificação e para o aumento da graça e da caridade, 
						bem como para a obtenção da vida eterna. Os próprios 
						bens temporais, tais como a saúde e a amizade, podem ser 
						merecidos segundo a sabedoria de Deus. Estas graças e 
						estes bens são objeto da oração cristã. Esta provê à 
						nossa necessidade da graça para as ações meritórias. 
						
						2011. A caridade de Cristo é, em nós, a fonte 
						de todos os nossos méritos diante de Deus. A graça, 
						unindo-nos a Cristo com um amor ativo, assegura a 
						qualidade sobrenatural dos nossos atos e, por 
						consequência, o seu mérito, tanto diante de Deus como 
						diante dos homens. Os santos tiveram sempre uma 
						consciência viva de que os seus méritos eram pura graça. 
						
						- «Depois do exílio da terra, espero ir gozar de Vós na 
						Pátria, mas não quero acumular méritos para o céu, quero 
						é trabalhar só por vosso amor [...] Na noite desta vida, 
						aparecerei diante de Vós com as mãos vazias, pois não 
						Vos peço, Senhor, que conteis as minhas obras. Todas as 
						nossas justiças têm manchas aos vossos olhos. Quero, 
						portanto, revestir-me com a vossa própria Justiça, e 
						receber do vosso Amor a posse eterna de Vós mesmo...»
						
						
						(Santa Teresa do Menino Jesus, Acte d'offrande à 
						l'Amour miséricordieux: Récréations pieuses – Prières
						(Paris 1992) p. 512-515. [Obras Completas 
						(Paço de Arcos, Edições Carmelo 199) p. 1077]). 
						
						IV. A santidade cristã 
						
						2012. «Deus concorre em tudo para o bem daqueles que 
						O amam [...]. Porque os que Ele de antemão conheceu, 
						também os predestinou para serem conformes à imagem do 
						seu Filho, para que Ele seja o Primogénito de muitos 
						irmãos. E aqueles que predestinou, também os chamou; e 
						aqueles que chamou, também os justificou; e aqueles que 
						justificou, também os glorificou» (Rm. 8, 28-30). 
						
						2013. «Os cristãos, de qualquer estado ou ordem, são 
						chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da 
						caridade» 
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium, 
						40: AAS 57 (1965) 45).
						
						
						Todos são chamados à santidade: «sede perfeitos, como 
						o vosso Pai Celeste é perfeito» (Mt. 5, 48): 
						
						- «para alcançar esta perfeição, empreguem os fiéis 
						as forças recebidas segundo a medida em que Cristo as 
						dá, a fim de que [...] obedecendo em tudo à vontade do 
						Pai, se consagrem com toda a alma à glória do Senhor e 
						ao serviço do próximo. Assim crescerá em frutos 
						abundantes a santidade do povo de Deus, como 
						patentemente se manifesta na história da Igreja, com a 
						vida de tantos santos» 
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium,
						40: AAS 57 (1965) 45). 
						
						2014. O progresso espiritual tende para a união cada vez 
						mais íntima com Cristo. Esta união chama-se «mística», 
						porque participa no mistério de Cristo pelos sacramentos 
						- «os santos mistérios» - e, n'Ele, no mistério 
						da Santíssima Trindade. Deus chama-nos todos a esta 
						íntima união com Ele, mesmo que graças especiais ou 
						sinais extraordinários desta vida mística somente a 
						alguns sejam concedidos, para manifestar o dom gratuito 
						feito a todos. 
						
						2015. O caminho desta perfeição passa pela cruz. Não há 
						santidade sem renúncia e combate espiritual 
						
						(Cf. 2ª Tm. 4). 
						O progresso espiritual implica a ascese e a 
						mortificação, que conduzem gradualmente a viver na paz e 
						na alegria das bem-aventuranças: 
						
						- «aquele que sobe, nunca mais para de ir de 
						princípio em princípio, por princípios que não têm fim. 
						Aquele que sobe nunca mais deixa de desejar aquilo que 
						já conhece» 
						
						(São Gregório de Nissa, In Canticum homilia 8: 
						Gregorii Nysseni opera, ed. W. Jaeger - H. 
						Langerbeck, v. 6 (Leiden 1960) p. 247 (PG 44, 941)). 
						
						2016. Os filhos da santa Igreja, nossa Mãe, esperam 
						justamente a graça da perseverança final e a 
						recompensa de Deus seu Pai pelas boas obras 
						realizadas com a sua graça, em comunhão com Jesus 
						
						(Cf. Concílio de Trento, Sess. 6ª, Decretum de 
						iustificatione, can. 26: DS 1576). 
						Guardando a mesma regra de vida, os crentes partilham a
						«bem-aventurada esperança» dos que a misericórdia 
						divina reúne na «Cidade santa, a nova Jerusalém, que 
						desce do céu, como noiva adornada para o seu Esposo» 
						(Ap. 21, 2). 
						
						Resumindo: 
						
						2017. A graça do Espírito Santo confere-nos a justiça 
						de Deus. Unindo-nos, pela fé e pelo Batismo, à paixão e 
						ressurreição de Cristo, o Espírito Santo faz-nos 
						participar da sua vida. 
						
						2018. A justificação, tal como a conversão, apresenta 
						duas faces. Sob a moção da graça, o homem volta-se para 
						Deus e desvia-se do pecado, recebendo assim o perdão e a 
						justiça do Alto. 
						
						2019. A justificação compreende a remissão dos 
						pecados, a santificação e a renovação do homem interior. 
						
						2020 A justificação foi-nos merecida pela paixão de 
						Cristo. Foi-nos dada por meio do Batismo. Conforma-nos 
						com a justiça de Deus, que nos faz justos. Tem como fim 
						a glória de Deus e de Cristo e o dom da vida eterna. É a 
						obra mais excelente da misericórdia de Deus. 
						
						2021. A graça é o socorro que Deus nos dá para 
						correspondermos à nossa vocação de nos tornarmos seus 
						filhos adotivos. Introduz-nos na intimidade da vida 
						trinitária. 
						
						2022. Na obra da graça, a iniciativa divina previne, 
						prepara e suscita a livre resposta do homem. A graça 
						corresponde às aspirações profundas da liberdade humana; 
						chama-a a cooperar consigo e aperfeiçoa-a. 
						
						2023. A graça santificante é o dom gratuito que Deus 
						nos faz da sua vida, infundida pelo Espírito Santo na 
						alma para a curar do pecado e a santificar. 
						
						2024. A graça santificante torna-nos «agradáveis a 
						Deus». Os carismas, graças especiais do Espírito Santo, 
						estão ordenados à graça santificante e têm por 
						finalidade o bem comum da Igreja. Deus também atua por 
						meio de múltiplas graças atuais, distintas da graça 
						habitual, permanente em nós. 
						
						2025. Não há para nós mérito diante de Deus, senão 
						como consequência do Livre desígnio divino de associar o 
						homem à obra da sua graça. O mérito pertence, em 
						primeiro lugar, à graça de Deus; em segundo lugar, à 
						cooperação do homem. O mérito do homem reverte para 
						Deus. 
						
						2026. A graça do Espírito Santo, em virtude da nossa 
						filiação adotiva, pode conferir-nos um verdadeiro mérito 
						segundo a justiça gratuita de Deus. A caridade é, em 
						nós, a principal fonte de mérito perante Deus. 
						
						2027. Ninguém pode merecer a graça primeira, que está 
						na origem da conversão. Sob a moção do Espírito Santo, 
						podemos merecer; para nós mesmos e para outrem, todas as 
						graças úteis para chegar à vida eterna, bem como os bens 
						temporais necessários.  
						
						2028. «Todos os cristãos [...] são chamados à 
						plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade»
						
						
						(II Concílio do Vaticano, Const dogm. Lumen Gentium,
						40: AAS 57 (1965) 45).
						«A perfeição cristã só tem um limite: o de não ter 
						nenhum» 
						
						(São Gregório de Nissa, De vita Moysis, 1. 5: ed. 
						M. Simonetti (Vicenza 1984) p. 10 (PG. 44. 300)).2029. «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si 
						mesmo, tome a sua cruz e siga-Me» (Mt. 16, 
						24). |