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						PRIMEIRA PARTE - A PROFISSÃO DA FÉ
						(§26-1065)
 |  
                      | PRÓLOGO
						(§1-§25) 
						
						
						PRIMEIRA SECÇÃO
						
						
						(§ 
						26) - 
						
						 CAPÍTULO 
						PRIMEIRO (§ 
						27-§ 49)- 
						
						
						CAPÍTULO SEGUNDO (§ 
						50-§ 141)
 -
						
						 CAPÍTULO 
						TERCEIRO (§ 
						142-§ 184)
 - 
						
						 CREDO
 
						
						SEGUNDA SECÇÃO
						
						
						(§ 
						185-§ 197)
 - 
						
						
						CAPÍTULO PRIMEIRO  (§ 
						198-§ 421)
 - 
						
						
						CAPÍTULO SEGUNDO (§ 
						422-§ 682)
 - CAPÍTULO TERCEIRO 
						(§ 
						683-§ 1065)
 |  
                      |  |  
                      | 
						
						
						
						SEGUNDA PARTE - A CELEBRAÇÃO DO MISTÉRIO CRISTÃO
						(§1066-1690)
 |  
                      | 
						
						 INTRODUÇÃO 
						(§ 
						1066-§ 1075) 
						PRIMEIRA SECÇÃO § 
						
						
						CAPÍTULO PRIMEIRO (§ 
						1076-§ 1134)
 § 
						
						
						CAPÍTULO SEGUNDO  (§ 
						1135-§ 1209)
 
						SEGUNDA SECÇÃO  
						
						(§ 
						1210-§ 1211)-
						
						 CAPÍTULO 
						PRIMEIRO  (§ 
						1212-§ 1419)
 -
						
						
						CAPÍTULO SEGUNDO  (§ 
						1420-§ 1532)
 -
						
						
						CAPÍTULO TERCEIRO  (§ 
						1533-§ 1666)
 - CAPÍTULO QUARTO  (§ 
						1667-§ 1690)
 |  
                      |  |  
                      | 
						
						
						
						TERCEIRA PARTE - A VIDA EM CRISTO (§1691-2557)
 |  
                      | INTRODUÇÃO
						(§ 
						1691-§ 1698) 
						
						PRIMEIRA SECÇÃO  (§ 
						1699)
 -
						
						
						CAPÍTULO PRIMEIRO (§ 
						1700-§ 1876)
 -
						
						
						CAPÍTULO SEGUNDO (§ 
						1877-§ 1948)
 - 
						
						CAPÍTULO TERCEIRO (§ 
						1949-§ 2051)
 -
						
						
						
						
						OS DEZ MANDAMENTOS
 
						SEGUNDA SECÇÃO 
						
						(§ 
						2052-§ 2082)
 -
						
						
						CAPÍTULO PRIMEIRO (§ 
						2083-§ 2195)
 - CAPÍTULO SEGUNDO  (§ 
						2196-§ 2557)
 |  
                      |  |  
                      | 
						
						
						
						QUARTA PARTE - A ORAÇÃO CRISTÃ 
						(§2558-2865)
 |  
                      |  |  
                      | PRIMEIRA SECÇÃO 
						
						(§ 
						2558-§ 2565) 
 -
						
						
						CAPÍTULO PRIMEIRO (§ 
						2566-§ 2649)
 -
						
						
						CAPÍTULO SEGUNDO  (§ 
						2650-§ 2696)
 -
						
						
						CAPÍTULO TERCEIRO  (§ 
						2697-§ 2758)
 
						
						SEGUNDA SECÇÃO  
						(§ 
						2759-§ 2865) |  
                      |  |  
                      |  |  
                      |  |  
                      | 
						
						
						CONSTITUIÇÃO APOSTÓLICADO SUMO PONTÍFICE JOÃO PAULO II
 FIDEI DEPOSITUM
 PARA A PUBLICAÇÃO
 DO CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA
 REDIGIDO DEPOIS DO CONCÍLIO VATICANO II
 
						
						Aos veneráveis Irmãos Cardeais. Arcebispos, Bispos, Presbíteros,
 Diáconos e a todos os membros do Povo de Deus
 
						
						
						 I. INTRODUÇÃO
						 
						
						Guardar o Depósito da Fé é missão que o Senhor confiou à 
						sua Igreja e que ela cumpre em todos os tempos. O 
						Concílio Ecumênico Vaticano II, inaugurado há trinta 
						anos pelo meu predecessor João XXIII, de feliz memória, 
						tinha como intenção e como finalidade pôr em evidência a 
						missão apostólica e pastoral da Igreja, e, fazendo 
						resplandecer a verdade do Evangelho, levar todos os 
						homens a procurarem e acolherem o amor de Cristo que 
						excede toda a ciência (cf. Ef. 3, 19).  
						
						Ao Concílio, o Papa João XXIII tinha confiado como 
						tarefa principal guardar e apresentar melhor o precioso 
						depósito da doutrina cristã, para o tornar mais 
						acessível aos fiéis de Cristo e a todos os homens de boa 
						vontade. Portanto, o Concílio não devia, em primeiro 
						lugar, condenar os erros da época, mas sobretudo 
						empenhar-se por mostrar serenamente a força e a beleza 
						da doutrina da fé. "Iluminada pela luz deste Concílio 
						- dizia o Papa - a Igreja... crescerá em riquezas 
						espirituais... e, recebendo a força de novas energias, 
						olhará intrépida para o futuro... É nosso dever... 
						dedicar-nos, com vontade pronta e sem temor, àquele 
						trabalho que o nosso tempo exige, prosseguindo assim o 
						caminho que a Igreja percorre há vinte séculos"
						
						
						
						
						[João 
						XXIII, 
						
						
						
						Discurso de abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II, 
						11 de outubro de 1962: AAS 54 (1962), p. 788-791]. 
						
						Com a ajuda de Deus, os Padres conciliares puderam 
						elaborar, em quatro anos de trabalho, um conjunto 
						considerável de exposições doutrinais e de diretrizes 
						pastorais oferecidas a toda a Igreja. Pastores e fiéis 
						encontram ali orientações para aquela "renovação de 
						pensamentos, de atividades, de costumes, e de força 
						moral, de alegria e de esperança, que foi o objetivo do 
						Concílio" 
						
						
						
						[Paulo 
						VI, Discurso de encerramento do Concílio Ecumênico 
						Vaticano II, 8 de dezembro de 1965: AAS 58 (1966), 
						p. 7-8.] 
						
						Depois da sua conclusão, o Concílio não cessou de 
						inspirar a vida da Igreja. Em 1985 pude afirmar: 
						"para mim - que tive a graça especial de nele participar 
						e colaborar no seu desenvolvimento - o Vaticano II foi 
						sempre, e é de modo particular nestes anos do meu 
						Pontificado, o constante ponto de referência de toda a 
						minha ação pastoral, no consciente empenho de traduzir 
						as suas diretrizes em aplicação concreta e fiel, a nível 
						de cada Igreja e da Igreja inteira. É preciso 
						incessantemente recomeçar daquela fonte".
						
						
						
						
						[João 
						Paulo II, Alocução de 25 de janeiro de 1985: 
						L'Osservatore Romano, 27 de janeiro de 1985.] 
						
						Neste espírito, a 25 de janeiro de 1985, convoquei uma 
						Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, por 
						ocasião do vigésimo aniversário do encerramento do 
						Concilio. A finalidade desta Assembleia era celebrar as 
						graças e os frutos espirituais do Concílio Vaticano II, 
						aprofundar o seu ensinamento para aderir melhor a ele e 
						promover o conhecimento e a aplicação do mesmo. 
						 
						
						Nessa ocasião, os Padres sinodais afirmaram: 
						"muitíssimos expressaram o desejo de que seja composto 
						um Catecismo ou compêndio de toda a doutrina católica, 
						tanto em matéria de fé como de moral, para que ele seja 
						como um ponto de referência para os catecismos ou 
						compêndios que venham a ser preparados nas diversas 
						regiões. A apresentação da doutrina deve ser bíblica e 
						litúrgica, oferecendo ao mesmo tempo uma doutrina sã e 
						adaptada à vida atual dos cristãos" 
						
						
						
						[Relação 
						Final do Sínodo Extraordinário, 7 de dezembro de 1985, 
						II, B, a, n. 4: Enchiridion Vaticanum, vol. 9, p. 
						1758, n. 1797]. 
						Depois do encerramento do Sínodo, fiz meu este desejo, 
						considerando que ele "corresponde à verdadeira 
						necessidade da Igreja universal e das Igrejas 
						particulares" 
						
						
						
						[Discurso 
						de encerramento do Sínodo Extraordinário, 
						7 de dezembro de 1985, n.6: AAS 78 (1986), p. 
						435. 
						
						Como não havemos de agradecer de todo o coração ao 
						Senhor, neste dia em que podemos oferecer a toda a 
						Igreja, com o título de "Catecismo da Igreja 
						Católica", este "texto de referência" para 
						uma catequese renovada nas fontes vivas da fé! 
						
						Depois da renovação da Liturgia e da nova codificação do 
						Direito Canônico da Igreja Latina e dos cânones das 
						Igrejas Orientais Católicas, este Catecismo trará um 
						contributo muito importante àquela obra de renovação da 
						vida eclesial inteira, querida e iniciada pelo Concílio 
						Vaticano II. |  
                      |  |  
                      | 
						
						
						II. ITINERÁRIO E ESPÍRITO DA REDAÇÃO DO TEXTO
						 
						
						O "Catecismo da Igreja Católica" é fruto de uma 
						vastíssima colaboração: foi elaborado em seis anos de 
						intenso trabalho, conduzido num espírito de atenta 
						abertura e com apaixonado ardor.  
						
						Em 1986, confiei a uma Comissão de doze Cardeais e 
						Bispos, presidida pelo senhor Cardeal Joseph Ratzinger, 
						o encargo de preparar um projeto para o Catecismo 
						requerido pelos Padres do Sínodo. Uma Comissão de 
						redação, composta por sete Bispos diocesanos, peritos em 
						teologia e em catequese, coadjuvou a Comissão no seu 
						trabalho.  
						
						A Comissão, encarregada de dar as diretrizes e de vigiar 
						sobre o desenvolvimento dos trabalhos, seguiu 
						atentamente todas as etapas da redação das nove 
						sucessivas composições. A Comissão de redação, por seu 
						lado, assumiu a responsabilidade de escrever o texto e 
						lhe inserir as modificações pedidas pela Comissão e de 
						examinar as observações de numerosos teólogos, exegetas 
						e catequistas, e sobretudo dos Bispos do mundo inteiro, 
						a fim de melhorar o texto. A Comissão foi sede de 
						intercâmbios frutuosos e enriquecedores, para assegurar 
						a unidade e a homogeneidade do texto.  
						
						O projeto tornou-se objeto de vasta consultação de todos 
						os Bispos católicos, das suas Conferências Episcopais ou 
						dos seus Sínodos, dos Institutos de teologia e de 
						catequética. No seu conjunto, ele teve um acolhimento 
						amplamente favorável da parte do Episcopado. É justo 
						afirmar que este Catecismo é o fruto de uma colaboração 
						de todo o Episcopado da Igreja Católica, o qual acolheu 
						com generosidade o meu convite a assumir a própria parte 
						de responsabilidade numa iniciativa que diz respeito, 
						intimamente, à vida eclesial. Tal resposta suscita em 
						mim um profundo sentimento de alegria, porque o concurso 
						de tantas vozes exprime verdadeiramente aquela a que se 
						pode chamar a "sinfonia" da fé. A realização 
						deste Catecismo reflete, deste modo, a natureza colegial 
						do Episcopado: testemunha a catolicidade da Igreja. |  
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						III. DISTRIBUIÇÃO DA MATÉRIA
						 
						
						Um catecismo deve apresentar, com fidelidade e de modo 
						orgânico, o ensinamento da Sagrada Escritura, da 
						Tradição viva na Igreja e do Magistério autêntico, bem 
						como a herança espiritual dos Padres, dos Santos e das 
						Santas da Igreja, para permitir conhecer melhor o 
						mistério cristão e reavivar a fé do povo de Deus. Deve 
						ter em conta as explicitações da doutrina que, no 
						decurso dos tempos, o Espírito Santo sugeriu à Igreja.
						 
						
						É também necessário que ajude a iluminar, com a luz da 
						fé, as novas situações e os problemas que ainda não 
						tinham surgido no passado.  
						
						O Catecismo incluirá, portanto, coisas novas e velhas 
						(cf. Mt. 13,52), porque a fé é sempre a mesma e 
						simultaneamente é fonte de luzes sempre novas. 
						 
						
						Para responder a esta dupla exigência, o "Catecismo 
						da Igreja Católica" por um lado retoma a "antiga" 
						ordem, a tradicional, já seguida pelo Catecismo de São 
						Pio V, articulando o conteúdo em quatro partes: o Credo; 
						a sagrada Liturgia, com os sacramentos em primeiro 
						plano; o agir cristão, exposto a partir dos mandamentos; 
						e pôr fim a oração cristã. Mas, ao mesmo tempo, o 
						conteúdo é com frequência expresso de um modo "novo", 
						para responder às interrogações da nossa época. 
						 
						
						As quatro partes estão ligadas entre si: o mistério 
						cristão é o objeto da fé (primeira parte); é celebrado e 
						comunicado nos atos litúrgicos (segunda parte); está 
						presente para iluminar e amparar os filhos de Deus no 
						seu agir (terceira parte); funda a nossa oração, cuja 
						expressão privilegiada é o "Pai-Nosso", e 
						constitui o objeto da nossa súplica, do nosso louvor e 
						da nossa intercessão (quarta parte).  
						
						A Liturgia é ela própria oração; a confissão da fé 
						encontra o seu justo lugar na celebração do culto. A 
						graça, fruto dos sacramentos, é a condição 
						insubstituível do agir cristão, tal como a participação 
						na liturgia da Igreja requer a fé. Se a fé não se 
						desenvolve nas obras, essa está morta (cf. Tg. 2, 14-16) 
						e não pode dar frutos de vida eterna. Lendo o "Catecismo da Igreja Católica", pode-se 
						captar a maravilhosa unidade do mistério de Deus, do seu 
						desígnio de salvação, bem como a centralidade de Jesus 
						Cristo, o Filho Unigênito de Deus, enviado pelo Pai, 
						feito homem no seio da Santíssima Virgem Maria por obra 
						do Espírito Santo, para ser o nosso Salvador. Morto e 
						ressuscitado, ele está sempre presente na sua Igreja, 
						particularmente nos sacramentos; ele é a fonte da fé, o 
						modelo do agir cristão e o Mestre da nossa oração. |  
                      |  |  
                      | 
						
						
						IV. VALOR DOUTRINAL DO TEXTO  
						
						O "Catecismo da Igreja Católica", que aprovei no 
						passado dia 25 de junho e cuja publicação hoje ordeno em 
						virtude da autoridade apostólica, é uma exposição da fé 
						da Igreja e da doutrina católica, testemunhadas ou 
						iluminadas pela Sagrada Escritura, pela Tradição 
						apostólica e pelo Magistério da Igreja. Vejo-o como um 
						instrumento válido e legítimo a serviço da comunhão 
						eclesial e como uma norma segura para o ensino da fé. 
						Sirva ele para a renovação, à qual o Espírito Santo 
						chama incessantemente a Igreja de Deus, Corpo de Cristo, 
						peregrina rumo à luz sem sombras do Reino! 
						 
						
						A aprovação e a publicação do "Catecismo da Igreja 
						Católica" constituem um serviço que o Sucessor de 
						Pedro quer prestar à Santa Igreja Católica, a todas as 
						Igrejas particulares em paz e em comunhão com a Sé 
						Apostólica de Roma: o serviço de sustentar e confirmar a 
						fé de todos os discípulos do Senhor Jesus (cf. Lc. 
						22,32), como também de reforçar os laços da unidade na 
						mesma fé apostólica.  
						
						Peço, portanto, aos Pastores da Igreja e aos fiéis que 
						acolham este Catecismo em espírito de comunhão, e que o 
						usem assiduamente ao cumprirem a sua missão de anunciar 
						a fé e de apelar para a vida evangélica. Este Catecismo 
						lhes é dado a fim de que sirva como texto de referência, 
						seguro e autêntico, para o ensino da doutrina católica, 
						e de modo muito particular para a elaboração dos 
						catecismos locais. É também oferecido a todos os fiéis 
						que desejam aprofundar o conhecimento das riquezas 
						inexauríveis da salvação (cf. Jo. 8,32). Pretende dar um 
						apoio aos esforços ecumênicos animados pelo santo desejo 
						da unidade de todos os cristãos, mostrando com exatidão 
						o conteúdo e a harmoniosa coerência da fé católica. O 
						"Catecismo da Igreja Católica", por fim, é oferecido 
						a todo o homem que nos pergunte a razão da nossa 
						confiança (cf. la Pd. 3, 15) e queira 
						conhecer aquilo em que a Igreja Católica crê. 
						 
						
						Este Catecismo não se destina a substituir os Catecismos 
						locais devidamente aprovados pelas autoridades 
						eclesiásticas, os Bispos diocesanos e as Conferências 
						Episcopais, sobretudo se receberam a aprovação da Sé 
						Apostólica. Destina-se a encorajar e ajudar a redação de 
						novos catecismos locais, que tenham em conta as diversas 
						situações e culturas, mas que conservam cuidadosamente a 
						unidade da fé e a fidelidade à doutrina católica. |  
                      |  |  
                      | 
						
						                                                                          
						V. CONCLUSÃO
 No final deste documento que apresenta o "Catecismo 
						da Igreja Católica", peço a Santíssima Virgem Maria, 
						Mãe do Verbo Encarnado e Mãe da Igreja, que ampare com a 
						sua poderosa intercessão o empenho catequético da Igreja 
						inteira a todos os níveis, nestes tempos em que ela é 
						chamada a um novo esforço de evangelização. Possa a luz 
						da verdadeira fé libertar a humanidade da ignorância e 
						da escravidão do pecado, para a conduzir à única 
						liberdade digna deste nome (cf. Jo. 8,32): a da vida em 
						Jesus Cristo sob a guia do Espírito Santo, na terra e no 
						Reino dos Céus na plenitude da bem-aventurança da visão 
						de Deus face à face (cf. 1ª Cor. 13, 12; 2ª Cor. 5, 
						6-8)!
 
						
						Dado no dia 11 de outubro de 1992, trigésimo aniversário 
						da abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II, décimo 
						quarto ano do meu pontificado.  
						
						JOÃO PAULO II |  
                      |  |  
                      | 
						
						
						PRÓLOGO 
						
						 «PAI, [...] é esta a vida eterna: que Te conheçam a 
						Ti, único Deus verdadeiro, e Aquele que enviaste, Jesus 
						Cristo» (Jo. 17, 3). «Deus, nosso 
						Salvador [...], quer que todos os homens se salvem e 
						cheguem ao conhecimento da verdade» (1ª Tm. 
						2, 3-4). «Não existe debaixo do céu outro nome, dado 
						aos homens, pelo qual possamos ser salvos» (At.
						4, 12), senão o nome de JESUS. 
						
						I. A vida do homem – conhecer e amar a Deus 
						
						1. Deus, infinitamente perfeito e bem-aventurado em si 
						mesmo, num desígnio de pura bondade, criou livremente o 
						homem para o tornar participante da sua vida 
						bem-aventurada. Por isso, sempre e em toda a parte, Ele 
						está próximo do homem. Chama-o e ajuda-o a procurá-Lo, a 
						conhecê-Lo e a amá-Lo com todas as suas forças. Convoca 
						todos os homens, dispersos pelo pecado, para a unidade 
						da sua família que é a Igreja. Para tal, enviou o seu 
						Filho como Redentor e Salvador na plenitude dos tempos. 
						n'Ele e por Ele, chama os homens a tornarem-se, no 
						Espírito Santo, seus filhos adotivos e, portanto, 
						herdeiros da sua vida bem-aventurada. 
						
						2. Para que este convite se fizesse ouvir por toda a 
						Terra, Cristo enviou os Apóstolos que escolhera, 
						dando-lhes o mandato de anunciar o Evangelho: «ide, 
						pois, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os 
						em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, 
						ensinando-os a cumprirem tudo quanto vos prescrevi. E 
						eis que Eu estou convosco todos os dias até ao fim do 
						mundo» (Mt. 28, 19-20). Fortalecidos por esta 
						missão, os Apóstolos «partiram a pregar por toda a 
						parte e o Senhor cooperava com eles confirmando a 
						Palavra com os sinais que a acompanhavam» (Mc. 16, 
						20). 
						
						3. Aqueles que, com a ajuda de Deus, aceitaram o convite 
						de Cristo e livremente Lhe responderam, foram por sua 
						vez impelidos, pelo amor do mesmo Cristo, a anunciar por 
						toda a parte a Boa-Nova. Este tesouro, recebido dos 
						Apóstolos, foi fielmente guardado pelos seus sucessores. 
						Todos os fiéis de Cristo são chamados a transmiti-lo de 
						geração em geração, anunciando a fé, vivendo-a em 
						partilha fraterna e celebrando-a na liturgia e na 
						oração. 
						
						[Cf. At. 2, 42. 2]. 
						
						II. Transmitir a fé – a catequese 
						
						4. Bem cedo se chamou catequese ao conjunto de 
						esforços empreendidos na Igreja para fazer discípulos, 
						para ajudar os homens a acreditar que Jesus é o Filho de 
						Deus, a fim de, pela fé, terem a vida em seu nome, e 
						para os educar e instruir nessa vida, construindo assim 
						o Corpo de Cristo. 
						
						[Cf. João Paulo II, Ex. ap. Catechesi tradendae, 
						1: AAS 71 (1979) 1277-1278] 
						
						5. «A catequese é uma educação da fé das crianças, 
						dos jovens e dos adultos, que compreende especialmente o 
						ensino da doutrina cristã, ministrado em geral dum modo 
						orgânico e sistemático, em ordem à iniciação na 
						plenitude da vida cristã». 
						
						[Cf. João Paulo II, Ex. ap. Catechesi tradendae, 
						18: AAS 71 (1979) 1292]. 
						
						6. Sem se confundir com eles, a catequese articula-se 
						com um certo número de elementos da missão pastoral da 
						Igreja que têm um aspecto catequético, preparam para a 
						catequese ou dela derivam: o primeiro anúncio do 
						Evangelho ou pregação missionária, para suscitar a fé; a 
						busca das razões de acreditar; a experiência da vida 
						cristã; a celebração dos sacramentos; a integração na 
						comunidade eclesial; o testemunho apostólico e 
						missionário. 
						
						[Cf. João Paulo II, Ex. ap. Catechesi tradendae, 
						18: AAS 71 (1979) 1292 (4)] 
						
						7. «A catequese está intimamente ligada a toda a vida 
						da Igreja. Dependem essencialmente dela não só a 
						expansão geográfica e o crescimento numérico, mas 
						também, e muito mais ainda, o crescimento interior da 
						Igreja e a sua conformidade com o desígnio de Deus».
						
						
						[Cf. João Paulo II, Ex. ap. Catechesi tradendae, 13: AAS 
						71 (1979) 1288.] 
						
						8. Os períodos de renovação da Igreja são também tempos 
						fortes de catequese. Assim, na grande época dos Padres 
						da Igreja, vemos santos Bispos consagrarem parte 
						importante do seu ministério à catequese, como por 
						exemplo São Cirilo de Jerusalém, São João Crisóstomo, 
						Santo Ambrósio, Santo Agostinho e tantos outros Padres, 
						cujas obras catequéticas continuam a ser modelo. 
						
						9. O ministério da catequese vai buscar energias sempre 
						novas aos concílios. O Concílio de Trento constitui, a 
						este respeito, um exemplo a sublinhar: nas suas 
						constituições e decretos, deu prioridade à catequese; 
						está na origem do Catecismo Romano que tem o seu nome e 
						que constitui um trabalho de primeira ordem como 
						compêndio da doutrina cristã; fez nascer na Igreja uma 
						organização notável da catequese; e, graças a santos 
						Bispos e teólogos, como São Pedro Canísio, São Carlos 
						Borromeo, São Toríbio de Mogrovejo e São Roberto 
						Belarmino, levou à publicação de numerosos catecismos. 
						
						10. Não admira, pois, que, na sequência do II Concílio 
						do Vaticano (que o Papa Paulo VI considerava como o 
						grande catecismo dos tempos modernos), a catequese da 
						Igreja tenha de novo chamado a atenção. O Directório 
						catequético geral, de 1971; as sessões do Sínodo dos 
						Bispos consagradas à evangelização (1974) e à catequese 
						(1977): e as exortações apostólicas correspondentes - 
						Evangelii nuntiandi (1975) e Catechesi tradendae
						(1979) - são disso bom testemunho. A assembleia 
						extraordinária do Sínodo dos Bispos de 1985 pediu: 
						«que seja redigido um catecismo ou compêndio de toda a 
						doutrina católica, tanto no tocante à fé como no que 
						respeita à moral». 
						
						[Sínodo dos Bispos, Assembleia extraordinária, 
						Ecclesia sub Verbo Dei mysteria Christi celebrans pro 
						salute mundi. Relatório final II B A 4 
						(Cidade do Vaticano 1985), p. 11.] 
						
						O Santo Padre João Paulo II fez seu este voto do Sínodo 
						dos Bispos. Reconheceu que «tal desejo corresponde 
						inteiramente a uma verdadeira necessidade da Igreja 
						universal e das Igrejas particulares». 
						
						[João Paulo II, Discurso de encerramento da 
						Assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos (7 de 
						dezembro de 1985), 6: AAS 58 (1986) 435.]. 
						E pôs todo o seu empenho cm que se concretizasse este 
						desejo dos Padres sinodais. 
						
						III. Finalidade e destinatários deste catecismo 
						
						11. A finalidade deste Catecismo é apresentar uma 
						exposição orgânica e sintética dos conteúdos essenciais 
						e fundamentais da doutrina católica, tanto sobre a fé 
						como sobre a moral, à luz do II Concilio do Vaticano e 
						do conjunto da Tradição da Igreja. As suas fontes 
						principais são a Sagrada Escritura, os santos Padres, a 
						liturgia e o Magistério da Igreja. E destina-se a servir
						«como ponto de referência aos catecismos ou 
						compêndios a publicar nos diversos países». 
						
						[Sínodo dos Bispos, Ecclesia sub Verbo Dei mysteria 
						Christi celebrans pro salute mundi. Relatório 
						final II B A 4 (Cidade do Vaticano 1985), p. 11]. 
						
						12. Este Catecismo destina-se principalmente aos 
						responsáveis pela catequese, que são em primeiro lugar 
						os Bispos, enquanto doutores da fé e pastores da Igreja. 
						É-lhes oferecido como instrumento para o desempenho da 
						sua missão de ensinar o povo de Deus. E, através dos 
						bispos, dirige-se aos redatores de catecismos, aos 
						Sacerdotes e aos catequistas. Será também uma leitura 
						útil para todos os outros fiéis cristãos. 
						
						IV. Estrutura deste catecismo13. O plano deste Catecismo inspira-se na grande 
						tradição dos catecismos que articulam a catequese cm 
						torno de quatro «pilares»: a profissão da fé 
						batismal (Símbolo), os sacramentos da fé, a vida da fé 
						(Mandamentos) e a oração do crente (o Pai Nosso). |  
                      |  |  
                      | PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ 
 14. Aqueles que, pela fé e pelo Batismo, pertencem a 
						Cristo, devem confessar a sua fé batismal diante dos 
						homens.
 (Cf. Mt. 10, 23; Rm 10, 9). 
						Por isso, o Catecismo começa por expor em que consiste a 
						Revelação, pela qual Deus Se dirige e se dá ao homem, e 
						a fé pela qual o homem responde a Deus (Primeira 
						Secção). O Símbolo da fé resume os dons que Deus faz 
						ao homem, como Autor de todo o bem, Redentor e 
						Santificador, e articula-os em volta dos «três 
						capítulos» do nosso Batismo - a fé num só Deus: o 
						Pai Todo-poderoso, Criador; e o seu Filho Jesus Cristo, 
						nosso Senhor e Salvador: e o Espírito Santo, na Santa 
						Igreja (Segunda Secção).
 |  
                      |  |  
                      | 
						
						
						SEGUNDA PARTE: OS SACRAMENTOS DA FÉ 
						
						15. A segunda parte do Catecismo expõe como a salvação 
						de Deus, realizada uma vez por todas por Jesus Cristo e 
						pelo Espírito Santo, se toma presente nas ações sagradas 
						da liturgia da Igreja (Primeira Secção), e em 
						especial nos sete sacramentos (Segunda Secção). |  
                      |  |  
                      | 
						
						
						TERCEIRA PARTE: A VIDA DA FÉ16. A terceira parte do Catecismo apresenta o fim último 
						do homem, criado à imagem de Deus - a bem - aventurança 
						e os caminhos para a ela chegar: um comportamento reto e 
						livre, com a ajuda da lei de Deus e da sua graça 
						(Primeira Secção); um comportamento que realize o 
						duplo mandamento da caridade, explicitado nos dez 
						Mandamentos de Deus (Segunda Secção). |  
                      |  |  
                      | 
						
						
						QUARTA PARTE: A ORAÇÃO NA VIDA DA FÉ 
						
						
						17. A última parte do Catecismo trata do sentido e da 
						importância da oração na vida dos crentes (Primeira 
						Secção), terminando com um breve comentário aos sete 
						pedidos da Oração do Senhor (Segunda Secção). 
						De fato, nesses sete pedidos encontramos a suma dos bens 
						que devemos esperar e que o nosso Pai dos Céus nos quer 
						dar. 
						
						V. Indicações práticas para o uso deste catecismo 
						
						18. Este Catecismo foi concebido como uma exposição 
						orgânica de toda a fé católica. Deve, portanto, ser 
						lido como um todo. Numerosas notas remissivas à margem 
						do texto (números impressos em tipos menores remetendo 
						para outros parágrafos que tratam do mesmo assunto) e o 
						índice analítico no fim do volume, permitem encarar cada 
						tema na sua ligação com o conjunto da fé. 
						
						19. Muitas vezes, os textos da Sagrada Escritura não são 
						citados literalmente, mas com a simples indicação da 
						referência (por meio dum cf.) feita em nota. Para 
						uma inteligência aprofundada desses passos, convém 
						recorrer aos próprios textos. Tais referências bíblicas 
						são um instrumento de trabalho para a catequese. 
						
						20. Quando, cm certas passagens, se emprega a letra 
						miúda, isso quer dizer que se trata de anotações de 
						tipo histórico ou apologético, ou de exposições 
						doutrinais complementares. 
						
						21. As citações, em letra miúda, de fontes 
						patrísticas, litúrgicas, do Magistério ou da 
						hagiografia, destinam-se a enriquecer a exposição 
						doutrinal. Frequentemente, esses textos foram escolhidos 
						a pensar num emprego diretamente catequético. 
						
						22. No fim de cada unidade temática, uma série de 
						textos breves resume, em fórmulas escolhidas, o 
						essencial do ensinamento. Estes «RESUMINDO» têm por fim 
						dar à catequese local sugestões de fórmulas sintéticas e 
						fáceis de decorar. 
						
						VI. Adaptações necessárias 
						
						23. A tónica deste Catecismo incide sobre a exposição 
						doutrinal. Com efeito, a sua intenção é ajudar a 
						aprofundar o conhecimento da fé. Todo ele se orienta no 
						sentido do amadurecimento da mesma fé, do seu 
						enraizamento na vida e da sua irradiação no testemunho.
						
						
						[10. Cf. João Paulo II, Ex. 
						ap. Catechesi tradendae, 20-22: AAS 71 (1979) 
						1293-1296; Ibid., 25: AAS 71 (1979) 1207-1298.]
 24. Pela sua própria finalidade, este Catecismo não se 
						propõe realizar as adaptações da exposição e dos métodos 
						catequéticos, exigidas pelas diferenças de culturas, 
						idades, maturidade espiritual, situações sociais e 
						eclesiais daqueles a quem a catequese se dirige. Essas 
						indispensáveis adaptações pertencem aos catecismos 
						apropriados e, sobretudo, àqueles que ministram o ensino 
						aos fiéis:
 
						
						
						- «aquele que ensina deve "fazer-se tudo para todos"
						
						
						(1ª Cor. 9, 22) para a todos atrair a Jesus Cristo. 
						[...] Sobretudo, não julgue que lhe está confiada apenas 
						uma categoria de almas e que, portanto, lhe incumbe o 
						trabalho de ensinar e formar de modo idêntico, na 
						verdadeira piedade, todos os fiéis, usando sempre um só 
						e mesmo método! Atendendo a que, em Cristo Jesus, uns 
						são como crianças recém-nascidas, outros como 
						adolescentes e outro, finalmente, já são efetivamente 
						adultos, é necessário que pondere com toda a diligência 
						quais são os que precisam de leite e quais os que 
						carecem de um alimento mais sólido. [...] Isto mesmo 
						testemunhava de si próprio o Apóstolo. [...] Os que são 
						chamados ao ministério da pregação devem, ao transmitir 
						o ensino dos mistérios da fé e das normas dos costumes, 
						adaptar as suas palavras à mentalidade e à inteligência 
						dos seus ouvintes». 
						[11.
						Catechismus Romanus seu Catechismus ex decreto 
						Concilii Tridentini ad parochos, Pii V Pontificis 
						Maximi iussu editus, Praefatio, 11: ed P. Rodríguez 
						(Città del Vaticano – Pamplona 1989) p. 11.
						 
						
						ACIMA DE TUDO - A CARIDADE 
						
						25. A concluir esta apresentação, é oportuno lembrar 
						este princípio pastoral enunciado pelo Catecismo 
						Romano:Este é sem dúvida o caminho melhor, que o mesmo apóstolo 
						seguia quando fundamentava a sua doutrina e ensino na 
						caridade que não acaba nunca. A finalidade da doutrina e 
						do ensino deve fixar-se toda no amor, que não acaba. 
						Podemos expor muito bem o que se deve crer, esperar ou 
						fazer; mas, sobretudo, devemos pôr sempre em evidência o 
						amor de nosso Senhor, de modo que cada qual compreenda 
						que qualquer ato de virtude perfeitamente cristão, não 
						tem outra origem nem outro fim senão o amor. 
						[12. Catechismus Romanus, Praefatio 10: ed. P. 
						Rodriguez (Città del Vaticano – Pamplona 1989) p. 10]. |  
                      |  |  
                      | 
						
						
						PRIMEIRA PARTE - A PROFISSÃO DA FÉ
						 
						
						
						PRIMEIRA SECÇÃO - «EU CREIO» «NÓS CREMOS» 
						
						
						
						CAPÍTULO PRIMEIRO - O HOMEM É «CAPAZ» DE DEUS 
						(§ 27-§ 49)
 PRIMEIRA PARTE
 
						
						
						A PROFISSÃO DA FÉ 
						
						
						PRIMEIRA SECÇÃO 
						
						
						«EU CREIO» - «NÓS CREMOS» 
						
						26. Quando professamos a nossa fé, começamos por dizer:
						«Creio», ou «Cremos». Portanto, antes de 
						expor a fé da Igreja, tal como é confessada no Credo, 
						celebrada na liturgia, vivida na prática dos mandamentos 
						e na oração, perguntemos a nós mesmos o que significa 
						«crer». A fé é a resposta do homem a Deus, que a ele 
						se revela e se oferece, resposta que, ao mesmo tempo, 
						traz uma luz superabundante ao homem que busca o sentido 
						último da sua vida. Comecemos, pois, por considerar esta 
						busca do homem (capítulo primeiro): depois, a 
						Revelação divina pela qual Deus vem ao encontro do homem
						(capítulo segundo); finalmente, a resposta da fé
						(capítulo terceiro). |  
                      |  |  
                      | 
						
						
						CAPÍTULO PRIMEIRO 
						
						
						O HOMEM É «CAPAZ» DE DEUS 
						
						I. O desejo de Deus
 7. O desejo de Deus é um sentimento inscrito no 
						coração do homem, porque o homem foi criado por Deus e 
						para Deus. Deus não cessa de atrair o homem para si e só 
						em Deus é que o homem encontra a verdade e a felicidade 
						que procura sem descanso:
 
						
						
						- «a razão mais sublime da dignidade humana consiste na 
						sua vocação à comunhão com Deus. Desde o começo da sua 
						existência, o homem é convidado a dialogar com Deus: 
						pois se existe, é só porque, criado por Deus por amor, é 
						por Ele, e por amor, constantemente conservado: nem pode 
						viver plenamente segundo a verdade, se não reconhecer 
						livremente esse amor e não se entregar ao seu Criador».
						
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						Spes, 19: AAS 58 (1966) 1038-1039].
						 
						
						28. De muitos modos, na sua história e até hoje, os 
						homens exprimiram a sua busca de Deus em crenças e 
						comportamentos religiosos (orações, sacrifícios, cultos, 
						meditações, etc.). Apesar das ambiguidades de que podem 
						enfermar, estas formas de expressão são tão universais 
						que bem podemos chamar ao homem um ser religioso: 
						
						
						- Deus «criou de um só homem todo o género humano, 
						para habitar sobre a superfície da terra, e fixou 
						períodos determinados e os limites da sua habitação, 
						para que os homens procurassem a Deus e se esforçassem 
						realmente por O atingir e encontrar. Na verdade, Ele não 
						está longe de cada um de nós. É n'Ele que vivemos, nos 
						movemos e existimos» (At. 17, 26-28). 
						
						29. Mas esta «relação íntima e vital que une o homem 
						a Deus» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						Spes, 19: AAS 58 (1966) 1039] 
						pode ser esquecida, desconhecida e até explicitamente 
						rejeitada pelo homem. Tais atitudes podem ter origens 
						diversas 
						
						[II Concílio do Vaticano, 
						Const. past. Gaudium et Spes, 19-21: AAS 58
						(1966) 1038-1042] 
						a revolta contra o mal existente no mundo, a ignorância 
						ou a indiferença religiosa, as preocupações do mundo e 
						das riquezas 
						[Cf. 
						Mt. 13, 22], 
						o mau exemplo dos crentes, as correntes de pensamento 
						hostis à religião e, finalmente, a atitude do homem 
						pecador que, por medo, se esconde de 
						
						Deus 
						
						[Cf. Gn. 3, 8-10. (1)] 
						e foge quando Ele o chama. 
						
						[Cf. Jn. 1, 3] 
						
						30. «Exulte o coração dos que procuram o Senhor» 
						(Sl. 105, 3). Se o homem pode esquecer ou rejeitar Deus, 
						Deus é que nunca deixa de chamar todo o homem a que O 
						procure, para que encontre a vida e a felicidade. Mas 
						esta busca exige do homem todo o esforço da sua 
						inteligência, a retidão da sua vontade, «um coração 
						reto», e também o testemunho de outros que o ensinam 
						a procurar Deus. 
						
						És grande, Senhor, e altamente louvável; grande é o teu 
						poder e a tua sabedoria é sem medida. E o homem, pequena 
						parcela da tua criação, pretende louvar-Te - 
						precisamente ele que, revestido da sua condição mortal, 
						traz em si o testemunho do seu pecado, o testemunho de 
						que Tu resistes aos soberbos. Apesar de tudo, o homem, 
						pequena parcela da tua criação, quer louvar-Te. Tu 
						próprio a isso o incitas, fazendo com que ele encontre 
						as suas delícias no teu louvor, porque nos fizeste para 
						ti e o nosso coração não descansa enquanto não repousar 
						em Ti 
						
						[Santo Agostinho, Confissões, I,1, 1: CCL 27. 1 
						(PL 32, 659-661)]. 
						
						II. Os caminhos de acesso ao conhecimento de Deus 
						
						31. Criado à imagem de Deus, chamado a conhecer e a amar 
						a Deus, o homem que procura Deus descobre certos 
						«caminhos» de acesso ao conhecimento de Deus. Também 
						se lhes chama «provas da existência de Deus» - 
						não no sentido das provas que as ciências naturais 
						indagam, mas no de «argumentos convergentes e 
						convincentes» que permitem chegar a verdadeiras 
						certezas. 
						
						Estes «caminhos» para atingir Deus têm como ponto 
						de partida criação: o mundo material e a pessoa humana.
 32. O mundo: a partir do movimento e do 
						devir, da contingência, da ordem e da beleza do mundo, 
						pode chegar-se ao conhecimento de Deus: como origem e 
						fim do universo.
 
						
						São Paulo afirma a respeito dos pagãos: «o que se 
						pode conhecer de Deus manifesto para eles, porque Deus 
						lhe manifestou. Desde a criação do mundo, a perfeições 
						invisíveis de Deus, o seu poder eterno e a sua divindade 
						tornam-se pelas suas obras, visíveis à inteligência» 
						(Rm, 1, 19-20)
						
						
						[Cf. At. 14, 15, 17; 17. 27-28; Sb. 13, 1-9. (8)]. 
						
						E Santo Agostinho: «interroga a beleza da terra, 
						interroga a beleza do mar interroga a beleza do ar que 
						se dilata e difunde, interroga a beleza do céu [...] 
						interroga todas estas realidades. Todas te respondem: 
						estás a ver como somos belas. A beleza delas é o seu 
						testemunho de louvor [«confessio»]. Essas belezas 
						sujeitas à mudança, quem as fez senão o Belo [«Ptdcher»], 
						que não está sujeite à mudança»? 
						
						[Santo Agostinho, Sermão 241. 2: PL 38,
						1134]. 
						
						33. O homem: Com a sua abertura à verdade 
						e à beleza, com o seu sentido do bem moral, com a sua 
						liberdade e a voz da sua consciência, com a sua ânsia de 
						infinito e de felicidade, o homem interroga-se sobre a 
						existência de Deus. Nestas aberturas, ele detecta sinais 
						da sua alma espiritual. «Gérmen de eternidade que 
						traz em si mesmo, irredutível à simples matéria»
						
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						Spes,18: AAS 58 (1966) 1038: cf. ibid., 14: 
						AAS 58 (1966) 1036. (6)], 
						a sua alma só em Deus pode ter origem. 
						
						34. O mundo e o homem atestam que não têm em si mesmos, 
						nem o seu primeiro princípio, nem o seu fim último, mas 
						que participam do ser em si, sem princípio nem fim. 
						Assim, por estes diversos «caminhos», o homem 
						pode ter acesso ao conhecimento da existência duma 
						realidade que é a causa primeira e o fim último de tudo,
						«e a que todos chamam Deus». 
						
						[São Tomás de Aquino, Summa theologiae I. q. 2, 
						a. 3, e: Ed. Leon. 4, 31]. 
						
						35. As faculdades do homem tornam-no capaz de conhecer a 
						existência de um Deus pessoal. Mas, para que o homem 
						possa entrar na sua intimidade, Deus quis revelar-se ao 
						homem e dar-lhe a graça de poder receber com fé esta 
						revelação. Todavia, as provas da existência de Deus 
						podem dispor para a fé e ajudar a perceber que a fé não 
						se opõe à razão humana. 
						
						III. O conhecimento de Deus segundo a Igreja 
						
						36. «A Santa Igreja, nossa Mãe, atesta e ensina que 
						Deus, princípio e fim de todas as coisas, pode ser 
						conhecido, com certeza, pela luz natural da razão 
						humana, a partir das coisas criadas». 
						
						[I Concílio Vaticano, Const. dogm. Dei Filius, c. 2: DS 
						3004: cf. Ibid., De Revelatione, canon 2: DS 3026; II 
						Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum. 6: AAS 58 
						(1966) 819]. 
						Sem esta capacidade, o homem não poderia acolher a 
						revelação de Deus. O homem tem esta capacidade porque 
						foi criado «à imagem de Deus» (Gn. 1, 27). 
						
						37. Nas condições históricas em que se encontra, o homem 
						experimenta, no entanto, muitas dificuldades para chegar 
						ao conhecimento de Deus só com as luzes da razão: 
						
						
						- «com efeito, para falar com simplicidade, apesar de a 
						razão humana poder verdadeiramente, pelas suas forças e 
						luz naturais, chegar a um conhecimento verdadeiro e 
						certo de um Deus pessoal, que protege e governa o mundo 
						pela sua providência, bem como de uma lei natural 
						inscrita pelo Criador nas nossas almas, há, contudo, 
						bastantes obstáculos que impedem esta mesma razão de 
						usar eficazmente e com fruto o seu poder natural, porque 
						as verdades que dizem respeito a Deus e aos homens 
						ultrapassam absolutamente a ordem das coisas sensíveis; 
						e quando devem traduzir-se em atos e informar a vida, 
						exigem que nos dêmos e renunciemos a nós próprios. O 
						espírito humano, para adquirir semelhantes verdades, 
						sofre dificuldade da parte dos sentidos e da imaginação, 
						bem como dos maus desejos nascidos do pecado original. 
						Daí deriva que, em tais matérias, os homens se persuadem 
						facilmente da falsidade ou, pelo menos, da incerteza das 
						coisas que não desejariam fossem verdadeiras». 
						
						
						[Pio XII. Enc. Humani Generis: DS 3875. (13)]. 
						
						38. É por isso que o homem tem necessidade de ser 
						esclarecido pela Revelação de Deus, não somente no que 
						diz respeito ao que excede o seu entendimento, mas 
						também sobre «as verdades religiosas e morais que, de 
						si, não são inacessíveis à razão, para que possam ser, 
						no estado atual do gênero humano, conhecidas por todos 
						sem dificuldade, com uma certeza firme e sem mistura de 
						erro». 
						
						[Ibid.,
						
						
						DS 3876. Cf. I Concílio do Vaticano, Const. 
						dogm. Dei Filius. c. 2: DS 3005; II Concílio 
						do Vaticano. Const. dogm. Dei Verbum. 6: AAS 58 
						(1966) 819-820; São Tomás de Aquino, Summa 
						theologiae, I, q. 1, a. 1, c.: Ed. Leon. 4. 6. 
						
						IV. Como falar de Deus?
 39. Ao defender a capacidade da razão humana para 
						conhecer Deus, a Igreja exprime a sua confiança na 
						possibilidade de falar de Deus a todos os homens e com 
						todos os homens. Esta convicção está na base do seu 
						diálogo com as outras religiões, com a filosofia e as 
						ciências, e também com os descrentes e os ateus.
 
						
						40. Mas dado que o nosso conhecimento de Deus é 
						limitado, a nossa linguagem, ao falar de Deus, também o 
						é. Não podemos falar de Deus senão a partir das 
						criaturas e segundo o nosso modo humano limitado de 
						conhecer e de pensar. 
						
						41. Todas as criaturas são portadoras duma certa 
						semelhança de Deus, muito especialmente o homem, criado 
						à imagem e semelhança de Deus. As múltiplas perfeições 
						das criaturas (a sua verdade, a sua bondade, a sua 
						beleza) refletem, pois, a perfeição infinita de Deus. 
						Daí que possamos falar de Deus a partir das perfeições 
						das suas criaturas: «porque a grandeza e a beleza das 
						criaturas conduzem, por analogia, à contemplação do seu 
						Autor» (Sb. 13, 5). 
						
						42. Deus transcende toda a criatura. Devemos, portanto, 
						purificar incessantemente a nossa linguagem no que ela 
						tem de limitado, de ilusório, de imperfeito, para não 
						confundir o Deus «inefável, incompreensível, 
						invisível, impalpável» 
						[Liturgia 
						Bizantina. Anáfora de São João Crisóstomo: Liturgies 
						Eastern and Western, 
						
						ed. F. E. Brightman, Oxford 1896. p. 384 (PG 63, 915)] 
						com as nossas representações humanas. As nossas palavras 
						humanas ficam sempre aquém do mistério de Deus. 
						
						43. Ao falar assim de Deus, a nossa linguagem 
						exprime-se, evidentemente, de modo humano. Mas atinge 
						realmente o próprio Deus, sem, todavia, poder exprimi-Lo 
						na sua infinita simplicidade. Devemos lembrar-nos de 
						que, «entre o Criador e a criatura, não é possível 
						notar uma semelhança sem que a dissemelhança seja ainda 
						maior». 
						
						[IV 
						Concílio de Latrão, Cap. 2. De errore abbatis 
						Ioachim: DS 806.], e 
						de que «não nos é possível apreender de Deus o que 
						Ele é, senão apenas o que Ele não é, e como se situam os 
						outros seres em relação a Ele». 
						
						[São Tomás de Aquino, Summa contra gentiles I 30: 
						Ed. Leon. 13, 92]. 
						
						Resumindo:
 44. O homem é, por natureza e vocação, um ser 
						religioso. Vindo de Deus e caminhando para Deus, o homem 
						não vive uma vida plenamente humana senão na medida em 
						que livremente viver a sua relação com Deus.
 
						
						45. O homem foi feito para viver em comunhão com 
						Deus, em quem encontra a sua felicidade: «quando eu 
						estiver todo em Ti, não mais haverá tristeza nem 
						angústia; inteiramente repleta de Ti, a minha vida será 
						vida plena». [Santo 
						Agostinho, Confissões X, 28, 39: CCL 27, 175 
						(PL 32. 795)].
 
						
						46. Quando escuta a mensagem das criaturas e a voz da 
						sua consciência, o homem pode alcançar a certeza da 
						existência de Deus, causa e fim de tudo. 
						
						47. A Igreja ensina que o Deus único e verdadeiro, 
						nosso Criador e Senhor; pode ser conhecido com certeza 
						pelas suas obras, graças à luz natural da razão humana.
						
						
						[I Concílio Vaticano, Const. dogm. Dei Filius, De 
						revelatione, canon 2: DS 3026]. 
						
						48. Nós podemos realmente falar de Deus partindo das 
						múltiplas perfeições das criaturas, semelhanças de Deus 
						infinitamente perfeito, ainda que a nossa linguagem 
						limitada não consiga esgotar o mistério. 
						
						49. «A criatura sem o Criador esvai-se» 
						
						[II Concílio do Vaticano II, Const. past. Gaudium et 
						Spes, 36: AAS 58 (1966) 1054]. 
						Por isso, os crentes sentem-se pressionados pelo amor de 
						Cristo a levar a luz do Deus vivo aos que O ignoram ou 
						rejeitam. |  
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						CAPÍTULO SEGUNDO - DEUS AO ENCONTRO DO HOMEM 
						(§ 50-§ 141) 
						
						CAPÍTULO SEGUNDO 
						
						
						DEUS AO ENCONTRO DO HOMEM  
						
						50. Pela razão natural, o homem pode conhecer Deus com 
						certeza, a partir das suas obras. Mas existe outra ordem 
						de conhecimento, que o homem de modo nenhum pode atingir 
						por suas próprias forças: a da Revelação divina 
						
						[Cf. I Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Filius, 
						c. 4: DS 3015]. 
						
						7. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						3: AAS 58 (1966) 818. 
						
						8. Oração eucarística IV: Missal Romano, editio 
						typica. Typis Polyglottis Vaticanis. 1970 p. 467. 
						[Gráfica de Coimbra 1992, p. 538]. 
						
						9. Cf. Gn. 9, 9.  
						
						10. Cf. Gn. 10, 20-31. (1). Por uma 
						vontade absolutamente livre, Deus revela-se e dá-se ao 
						homem. E o faz revelando o seu mistério, o desígnio 
						benevolente que, desde toda a eternidade, estabeleceu em 
						Cristo, em favor de todos os homens. Revela plenamente o 
						seu desígnio, enviando o seu Filho bem-amado, nosso 
						Senhor Jesus Cristo, e o Espírito Santo. |  
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						ARTIGO 1 
						
						
						A REVELAÇÃO DE DEUS
						 
						
						I. Deus revela o seu «desígnio benevolente» 
						
						51. «Aprouve a Deus, na sua sabedoria e bondade, 
						revelar-se a Si mesmo e dar a conhecer o mistério da sua 
						vontade, segundo o qual os homens, por meio de Cristo, 
						Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e 
						se tomam participantes da natureza divina» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						2: AAS 58 (1966) 818]. 
						
						52. Deus, que «habita numa luz inacessível» (1ª 
						Tm. 6, 16), quer comunicar a sua própria vida 
						divina aos homens que livremente criou, para fazer 
						deles, no seu Filho único, filhos adotivos 
						
						[Cf. Ef. 1, 4-5]. 
						Revelando-se a Si mesmo, Deus quer tornar os homens 
						capazes de Lhe responderem, de o conhecerem e de o 
						amarem, muito para além de tudo o que seriam capazes por 
						si próprios. 
						
						53. O desígnio divino da Revelação realiza-se, ao mesmo 
						tempo, «por meio de ações e palavras, intrinsecamente 
						relacionadas entre si» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						2: AAS 58 (1966)] 
						e esclarecendo-se mutuamente. Comporta um particular 
						«pedagogia divina»: Deus comunica-se gradualmente ao 
						homem e prepara-o, por etapas, para receber a Revelação 
						sobrenatural que faz de Si próprio e que vai culminar na 
						Pessoa e missão do Verbo encarnado, Jesus Cristo. 
						
						
						Santo Ireneu de Lião fala várias vezes desta pedagogia 
						divina, sob a imagem da familiaridade mútua entre Deus e 
						o homem: «o Verbo de Deus [...] habitou no homem e 
						fez-Se Filho do Homem, para acostumar o homem a 
						apreender Deus e Deus a habitar no homem, segundo o 
						beneplácito do Pai». 
						
						[Santo Ireneu de Lião, Adversus haereses III, 
						20, 2: SC 211, 392 (Pg. 7, 944); cf. por exemplo, 
						Ibid. III 17, I: SC 211. 330 (PG 7, 929); 
						Ibid. IV, 12. 4: SC 100, 518 (PG 7, 1006); Ibid.
						IV 21, 3: SC 100, 684 (PG 7, 1046)] 
						
						II. As etapas da Revelação 
						
						DESDE A ORIGEM, DEUS DÁ-SE A CONHECER 
						
						54. «Deus, criando e conservando todas as coisas pelo 
						Verbo, oferece aos homens um testemunho perene de Si 
						mesmo nas coisas criadas, e, além disso, decidindo abrir 
						o caminho da salvação sobrenatural, manifestou-se a Si 
						mesmo, desde o princípio, aos nossos primeiros pais»
						
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						3: AAS 58 (1966) 818. (6)]. 
						Convidou-os a uma comunhão íntima consigo, revestindo-os 
						de uma graça e justiça resplandecentes. 
						
						55. Esta Revelação não foi interrompida pelo pecado dos 
						nossos primeiros pais. Com efeito, Deus, «depois da 
						sua queda, com a promessa de redenção, deu-lhes a 
						esperança da salvação, e cuidou continuamente do género 
						humano, para dar a vida eterna a todos aqueles que, 
						perseverando na prática das boas obras, procuram a 
						salvação» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						3: AAS 58 (1966) 818.]. 
						
						«E quando, por desobediência, perdeu a vossa amizade, 
						não o abandonastes ao poder da morte [...] Repetidas 
						vezes fizestes aliança com os homens» 
						
						[Oração 
						eucarística IV: Missal Romano, 
						
						editio typica. Typis Polyglottis Vaticanis. 1970 p. 467. 
						[Gráfica de Coimbra 1992, p. 538].
						 
						
						A ALIANÇA COM NOÉ 
						
						56. Desfeita a unidade do género humano pelo pecado, 
						Deus procurou imediatamente, salvar a humanidade 
						intervindo com cada uma das suas partes. A aliança com 
						Noé, a seguir ao dilúvio 
						
						[Cf. Gn. 9, 9}, 
						exprime o princípio da economia divina em relação às 
						«nações», quer dizer, em relação aos homens 
						reagrupados «por países e línguas, por famílias e 
						nações» (Gn. 10, 5) 
						
						[Cf. Gn. 10, 20-31] 
						
						57. Esta ordem, ao mesmo tempo cósmica, social e 
						religiosa da pluralidade das nações 
						
						[Cf. At. 17, 26-27], 
						destinava-se a limitar o orgulho duma humanidade 
						decaída, que, unânime na sua perversidade 
						
						[Cf. Sb. 10, 5], 
						pretendia refazer por si mesma a própria unidade, à 
						maneira de Babel 
						
						[Cf.
						
						
						Gn. 11, 4-6]. 
						 Mas, por causa do pecado 
						
						[Cf.
						
						
						Rm. 1, 18-25], 
						quer o politeísmo quer a idolatria da nação e do seu 
						chefe são uma contínua ameaça de perversão pagã a esta 
						economia provisória. 
						
						58. A aliança com Noé permanece em vigor enquanto durar 
						o tempo das nações 
						
						[Cf. Lc. 21, 24], 
						até à proclamação universal do Evangelho. A Bíblia 
						venera algumas grandes figuras das «nações», como
						«o justo Abel», o rei e sacerdote Melquisedec
						
						
						[Cf. Gn. 14, 18], 
						figura de Cristo 
						
						[Cf. Heb. 7, 3], 
						ou os justos «Noé, Daniel e Job» (Ez. 14, 
						14). Deste modo, a Escritura exprime o alto grau de 
						santidade que podem atingir os que vivem segundo a 
						aliança de Noé, na expectativa de que Cristo «reúna, 
						na unidade, todos os filhos de Deus dispersos» (Jo.
						11, 52). 
						
						DEUS ELEGE ABRAÃO 
						
						59. Para reunir a humanidade dispersa, Deus escolhe 
						Abrão, chamando-o para «deixar a sua terra, a sua 
						família e a casa de seu pai» (Gn. 12, 1), 
						para o fazer Abraão, quer dizer, «pai de um grande 
						número de nações» (Gn. 17, 5): «em ti serão 
						abençoadas todas as nações da Terra» (Gn. 12, 
						3) 
						
						[Cf. Gl. 3, 8]. 
						
						60. O povo descendente de Abraão será o depositário da 
						promessa feita aos patriarcas, o povo eleito 
						
						[Cf. Rm. 11, 28], 
						chamado a preparar a reunião, um dia, de todos os filhos 
						de Deus na unidade da Igreja 
						
						[Cf. Jo. 11, 52; 10, 16]. 
						Será o tronco em que serão enxertados os pagãos tornados 
						crentes 
						
						[Cf. Rm. 11, 17-18. 24]. 
						
						61. Os patriarcas, os profetas e outras personagens do 
						Antigo Testamento foram, e serão sempre, venerados como 
						santos em todas as tradições litúrgicas da Igreja. 
						
						DEUS FORMA O SEU POVO ISRAEL 
						
						62. Depois dos patriarcas, Deus formou Israel como seu 
						povo, salvando-o da escravidão do Egito. Concluiu com 
						ele a aliança do Sinai e deu-lhe, por Moisés, a sua Lei, 
						para que Israel o reconhecesse e o servisse como único 
						Deus vivo e verdadeiro, Pai providente e justo Juiz, e 
						vivesse na expectativa do Salvador prometido 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 3:
						AAS 58 (1966) 818]. 
						
						63. Israel é o povo sacerdotal de Deus 
						
						[Cf. Ex. 19, 6], 
						sobre o qual «foi invocado o Nome do Senhor» (Dt. 
						28, 10). É o povo daqueles «a quem Deus falou 
						em primeiro lugar» 
						
						[Sexta-Feira 
						da Paixão do Senhor. Oração universal VI: Missale 
						Romanum. 
						
						editio typica. Typis Polyglottis Vaticanis 1975, 
						p. 254 [a tradução oficial portuguesa omite este 
						particular: Missal Romano. Gráfica de Coimbra 
						1992. p. 259.267], 
						o povo dos «irmãos mais velhos» na fé de Abraão
						
						
						[João Paulo II, Discurso na sinagoga durante o 
						encontro com a comunidade hebraica da cidade de Roma 
						(13 de abril de 1986), 4: Insegnamenti di 
						Giovanni Paolo II, IX/1, 1027]. 
						
						64. Pelos profetas, Deus forma o seu povo na esperança 
						da salvação, na expectativa duma aliança nova e eterna, 
						destinada a todos os homens 
						
						[Cf. Is. 2, 2-4], 
						e que será gravada nos corações 
						
						[Cf. Jr. 31, 31-34: Heb. 10, 16]. 
						Os profetas anunciam uma redenção radical do povo de 
						Deus, a purificação de todas as suas infidelidades
						
						
						[Cf. Ez. 36],
						
						
						uma salvação que abrangerá todas as nações 
						
						[Cf. Is. 49, 5-6: 53, 11]. 
						Serão sobretudo os pobres e os humildes do Senhor 
						30.
						
						[Cf. Sf.  2, 3] 
						os portadores desta esperança. As mulheres santas como 
						Sara, Rebeca, Raquel, Míriam, Débora, Ana, Judite e 
						Ester conservaram viva a esperança da salvação de 
						Israel. Maria é a imagem puríssima desta esperança
						
						
						[Cf. Lc. 1, 38]. 
						
						III. Jesus Cristo - «Mediador e plenitude de toda a 
						Revelação» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 2: 
						AAS 58 (1966) 818]. 
						
						NO SEU VERBO, DEUS DISSE TUDO 
						
						65. «Muitas vezes e de muitos modos falou Deus 
						antigamente aos nossos pais, pelos Profetas. Nestes 
						dias, que são os últimos, falou-nos pelo seu Filho» 
						(Heb. 1, 1-2). Cristo, Filho de Deus feito homem, é a 
						Palavra única, perfeita e insuperável do Pai. 
						
						N'Ele, o Pai disse tudo. Não haverá outra palavra além 
						dessa. São João da Cruz, após tantos outros, exprime-o 
						de modo luminoso, ao comentar Hebreus. 1, 1-2: 
						
						
						«Ao dar-nos, como nos deu, o seu Filho, que é a sua 
						Palavra - e não tem outra - (Deus) disse-nos tudo ao 
						mesmo tempo e de uma só vez nesta Palavra única e já 
						nada mais tem para dizer. [...] Porque o que antes disse 
						parcialmente pelos profetas, revelou-o totalmente, 
						dando-nos o Todo que é o seu Filho. E por isso, quem 
						agora quisesse consultar a Deus ou pedir-Lhe alguma 
						visão ou revelação, não só cometeria um disparate, mas 
						faria agravo a Deus, por não pôr os olhos totalmente em 
						Cristo e buscar fora d'Ele outra realidade ou novidade»
						
						
						[São João da Cruz, Subida del monte Carmelo 2, 22, 
						3-5: Biblioteca Mística Carmelitana, v. 11, Burgos 
						1929. p. 184. [ID. Obras Completas (Paço de 
						Arcos, Edições Carmelo 1986) p. 196 = Segunda leitura do 
						Ofício de Leituras da Segunda-Feira da II Semana do 
						Advento]. 
						
						JÁ NÃO HAVERÁ OUTRA REVELAÇÃO 
						
						66. «Portanto, a economia cristã, como nova e 
						definitiva aliança, jamais passará, e já não se há de 
						esperar nenhuma nova revelação pública antes da gloriosa 
						manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						4: AAS 58 (1966) 819]. 
						No entanto, apesar de a Revelação já estar completa, 
						ainda não está plenamente explicitada. E está reservado 
						à fé cristã apreender gradualmente todo o seu alcance, 
						no decorrer dos séculos. 
						
						67. No decurso dos séculos tem havido revelações ditas
						«privadas», algumas das quais foram reconhecidas 
						pela autoridade da Igreja. Todavia, não pertencem ao 
						depósito da fé. O seu papel não é «aperfeiçoar» 
						ou «completar» a Revelação definitiva de Cristo, 
						mas ajudar a vivê-la mais plenamente, numa determinada 
						época da história. Guiado pelo Magistério da Igreja, o 
						sentir dos fiéis sabe discernir e guardar o que nestas 
						revelações constitui um apelo autêntico de Cristo ou dos 
						seus santos à Igreja. 
						
						A fé cristã não pode aceitar «revelações» que 
						pretendam ultrapassar ou corrigir a Revelação de que 
						Cristo é a plenitude. É o caso de certas religiões 
						não-cristãs, e também de certas seitas recentes. 
						fundadas sobre tais «revelações». 
						
						Resumindo: 
						
						68. Por amor, Deus revelou-se e deu-se ao homem. Dá 
						assim uma resposta definitiva e superabundante às 
						questões que o homem se põe a Si próprio sobre o sentido 
						e o fim da sua vida. 
						
						69. Deus revelou-se ao homem, comunicando-lhe 
						gradualmente o seu próprio mistério, por ações e por 
						palavras. 
						
						70. Além do testemunho que dá de Si mesmo através das 
						coisas criadas, Deus manifestou-se a Si próprio aos 
						nossos primeiros pais. Falou-lhes e, depois da queda, 
						prometeu-lhes a salvação 
						
						[Cf. Gn. 3, 15] 
						e ofereceu-lhes a sua aliança. 
						
						71. Deus concluiu com Noé uma aliança eterna entre Si 
						e todos os seres vivos 
						
						[Cf. Gn 9, 16].
						Essa aliança durará enquanto durar o mundo. 
						
						72. Deus escolheu Abraão e concluiu uma aliança com 
						ele e os seus descendentes. Fez deles o seu povo, ao 
						qual revelou a sua Lei por meio de Moisés. E 
						preparou-o, pelos profetas, a acolher a salvação 
						destinada a toda a humanidade.73. Deus revelou-se plenamente enviando o seu próprio 
						Filho, no qual estabeleceu a sua aliança para sempre. O 
						Filho é a Palavra definitiva do Pai, de modo que, depois 
						d'Ele, não haverá outra Revelação. |  
                      |  |  
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						ARTIGO 2 
						
						
						A TRANSMISSÃO DA REVELAÇÃO DIVINA 
						
						74. Deus «quer que todos os homens se salvem e 
						cheguem ao conhecimento da verdade» (1ª Tm. 
						2, 4), quer dizer, de Cristo Jesus 
						
						[Cf. Jo. 14, 6]. 
						Por isso, é preciso que Cristo seja anunciado a todos os 
						povos e a todos os homens, e que, assim a Revelação 
						chegue aos confins do mundo: 
						
						
						- Deus dispôs amorosamente que permanecesse íntegro e 
						fosse transmitido a todas as gerações tudo quanto tinha 
						revelado para salvação de todos os povos 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						7: AAS 58 (1966) 820]. 
						
						I. A Tradição apostólica 
						
						75. «Cristo Senhor, em quem toda a revelação do Deus 
						altíssimo se consuma, tendo cumprido e promulgado 
						pessoalmente o Evangelho antes prometido pelos profetas, 
						mandou aos Apóstolos que o pregassem a todos, como fonte 
						de toda a verdade salutar e de toda a disciplina de 
						costumes, comunicando-lhes assim os dons divinos»
						
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						7: AAS 58 (1966) 820]. 
						
						A PREGAÇÃO APOSTÓLICA ... 
						
						76. A transmissão do Evangelho, segundo a ordem do 
						Senhor, fez-se de duas maneiras: 
						
						– Oralmente, «pelos Apóstolos, que, na sua pregação 
						oral, exemplos e instituições, transmitiram aquilo que 
						tinham recebido dos lábios, trato e obras de Cristo, e o 
						que tinham aprendido por inspiração do Espírito Santo»; 
						
						
						– por escrito, «por aqueles apóstolos e varões 
						apostólicos que, sob a inspiração do mesmo Espírito 
						Santo, escreveram a mensagem da salvação» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						7: AAS 58 (1966) 820]. 
						
						... CONTINUADA NA SUCESSÃO APOSTÓLICA 
						
						77. «Para que o Evangelho fosse perenemente 
						conservado íntegro e vivo na Igreja, os Apóstolos 
						deixaram os Bispos como seus sucessores, 
						"entregando-lhes o seu próprio ofício de magistério"»
						
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						7: AAS 58 (1966) 820]. 
						Com efeito, «a pregação apostólica, que se exprime de 
						modo especial nos livros inspirados, devia conservar-se, 
						por uma sucessão ininterrupta, até à consumação dos 
						tempos» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						8: AAS 58 (1966) 821]. 
						
						78. Esta transmissão viva, realizada no Espírito Santo, 
						denomina-se Tradição, enquanto distinta da Sagrada 
						Escritura, embora estreitamente a ela ligada. Pela 
						Tradição, «a Igreja, na sua doutrina, vida e culto, 
						perpetua e transmite a todas as gerações tudo aquilo que 
						ela é e tudo em que acredita» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 
						8: AAS 58 (1966) 821].
						«Afirmações dos santos Padres testemunham a presença 
						vivificadora desta Tradição, cujas riquezas entram na 
						prática e na vida da Igreja crente e orante» 
						
						[II Concílio do Vaticano. Const. dogm. Dei Verbum,
						8: AAS 58 (1966) 821]. 
						
						79. Assim, a comunicação que o Pai fez de Si próprio, 
						pelo seu Verbo, no Espírito Santo, continua presente e 
						ativa na Igreja: «Deus, que outrora falou, dialoga 
						sem interrupção com a esposa do seu amado Filho; e o 
						Espírito Santo - por quem ressoa a voz do Evangelho na 
						Igreja, e, pela Igreja, no mundo - introduz os crentes 
						na verdade plena e faz com que a palavra de Cristo neles 
						habite em toda a sua riqueza» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						8: AAS 58 (1966) 821]. 
						
						II. A relação entre a Tradição e a Sagrada Escritura 
						
						UMA FONTE COMUM... 
						
						80. «A Tradição sagrada e a Sagrada Escritura estão 
						intimamente unidas e compenetradas entre si. Com efeito, 
						derivando ambas da mesma fonte divina, fazem como que 
						uma coisa só e tendem ao mesmo fim» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						9: AAS 58 (1966) 821]. 
						Uma e outra tornam presente e fecundo na Igreja o 
						mistério de Cristo, que prometeu estar com os seus, 
						«sempre, até ao fim do mundo» (Mt. 28, 20).
						 
						
						... DUAS FORMAS DE TRANSMISSÃO DISTINTAS 
						
						81. «A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus enquanto 
						foi escrita por inspiração do Espírito divino». 
						
						«A sagrada Tradição, por sua vez, conserva a Palavra de 
						Deus, confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo 
						aos Apóstolos, e transmite-a integralmente aos seus 
						sucessores, para que eles, com a luz do Espírito da 
						verdade, fielmente a conservem, exponham e difundam na 
						sua pregação»
						
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						9: AAS 58 (1966) 821]. 
						
						82. Daí resulta que a Igreja, a quem está confiada a 
						transmissão e interpretação da Revelação, «não tira 
						só da Sagrada Escritura a sua certeza a respeito de 
						todas as coisas reveladas. Por isso, ambas devem ser 
						recebidas e veneradas com igual espírito de piedade e 
						reverência» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						9: AAS 58 (1966) 821]. 
						
						TRADIÇÃO APOSTÓLICA E TRADIÇÕES ECLESIAIS 
						
						83. A Tradição de que falamos aqui é a que vem dos 
						Apóstolos. Ela transmite o que estes receberam do ensino 
						e do exemplo de Jesus e aprenderam pelo Espírito Santo. 
						De fato, a primeira geração de cristãos não tinha ainda 
						um Novo Testamento escrito, e o próprio Novo Testamento 
						testemunha o processo da Tradição viva. 
						
						É preciso distinguir, desta Tradição, as «tradições» 
						teológicas, disciplinares, litúrgicas ou devocionais, 
						nascidas no decorrer do tempo nas Igrejas locais. Elas 
						constituem formas particulares, sob as quais a grande 
						Tradição recebe expressões adaptadas aos diversos 
						lugares e às diferentes épocas. É à sua luz que estas 
						podem ser mantidas, modificadas e até abandonadas, sob a 
						direção do Magistério da Igreja. 
						
						III. A interpretação da herança da fé 
						
						A HERANÇA DA FÉ CONFIADA À TOTALIDADE DA IGREJA 
						
						84. O depósito da fé 
						
						[Cf. 1ª Tm. 6, 20; 2ª Tm. 1, 12-14] 
						(«depositum fidei»), contido na Tradição sagrada e na 
						Sagrada Escritura, foi confiado pelos Apóstolos ao 
						conjunto da Igreja. «Apoiando-se nele, todo o povo 
						santo persevera unido aos seus pastores na doutrina dos 
						Apóstolos e na comunhão, na fracção do pão e na oração, 
						de tal modo que, na conservação, atuação e profissão da 
						fé transmitida, haja uma especial concordância dos 
						pastores e dos fiéis» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						10: AAS 58 (1966) 822]. 
						
						O MAGISTÉRIO DA IGREJA 
						
						85. «O encargo de interpretar autenticamente a 
						Palavra de Deus, escrita ou contida na Tradição, foi 
						confiado só ao Magistério vivo da Igreja, cuja 
						autoridade é exercida em nome de Jesus Cristo 
						
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						10: AAS 58 (1966) 822], 
						isto é, aos Bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, 
						o Bispo de Roma». 
						
						86. «Todavia, este Magistério não está acima da 
						Palavra de Deus, mas sim ao seu serviço, ensinando 
						apenas o que foi transmitido, enquanto, por mandato 
						divino e com a assistência do Espírito Santo, a ouve 
						piamente, a guarda religiosamente e a expõe fielmente, 
						haurindo deste depósito único da fé tudo quanto propõe à 
						fé como divinamente revelado» 
						
						[II Concílio do Vaticano. Const. dogm. Dei Verbum,
						10: AAS 58 (1966) 822]. 
						
						87. Os fiéis, lembrando-se da palavra de Cristo aos 
						Apóstolos: «quem vos escuta escuta-me a Mim» (Lc. 
						10, 16) 
						
						[Cf. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen 
						Gentium, 20: AAS 57 (1965) 24]., 
						recebem com docilidade os ensinamentos e as diretrizes 
						que os seus pastores lhes dão, sob diferentes formas. 
						
						OS DOGMAS DA FÉ 
						
						88. O Magistério da Igreja faz pleno uso da autoridade 
						que recebeu de Cristo quando define dogmas, isto é, 
						quando propõe, dum modo que obriga o povo cristão a uma 
						adesão irrevogável de fé, verdades contidas na Revelação 
						divina ou quando propõe, de modo definitivo, verdades 
						que tenham com elas um nexo necessário. 
						
						89. Existe uma ligação orgânica entre a nossa vida 
						espiritual e os dogmas. Os dogmas são luzes no caminho 
						da nossa fé: iluminam-no e tornam-no seguro. Por outro 
						lado, se a nossa vida for reta, a nossa inteligência e 
						nosso coração estarão abertos para acolher a luz dos 
						dogmas da fé 
						
						[Cf. Jo. 8, 31-32]. 
						
						90. A interligação e a coerência dos dogmas podem 
						encontrar-se no conjunto da revelação do mistério de 
						Cristo 
						
						[Cf. I Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Filius,
						c. 4: DS 3016 «mysteriorum nexus». Cf. II Concílio 
						do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium, 25: AAS 
						57 (1965) 29]. 
						Convém lembrar que «existe uma ordem ou "hierarquia" 
						das verdades da doutrina católica, já que o nexo delas 
						com o fundamento da fé cristã é diferente» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Decr. Unitatis 
						redintegratio, 11: AAS 57 (1965) 99]. 
						
						O SENTIDO SOBRENATURAL DA FÉ 
						
						91. Todos os fiéis participam na compreensão e na 
						transmissão da verdade revelada. Todos receberam a unção 
						do Espírito Santo que os instrui 
						
						[Cf. 1ª Jo. 2, 20. 27] 
						e os conduz «à verdade total» (Jo. 16, 13). 
						
						92. «A totalidade dos fiéis [...] não pode enganar-se 
						na fé e manifesta esta sua propriedade peculiar por meio 
						do sentir sobrenatural da fé do povo todo, quando, 
						"desde os Bispos até ao último dos fiéis leigos", 
						exprime consenso universal em matéria de fé e costumes»
						
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium,
						12: AAS 57 (1965) 16]. 
						
						93. «Com este sentido da fé, que se desperta e 
						sustenta pela ação do Espírito de verdade, o povo de 
						Deus, sob a direção do sagrado Magistério [...] adere 
						indefectivelmente à fé, uma vez por todas confiada aos 
						santos; penetra-a mais profundamente com juízo acertado 
						e aplica-a mais totalmente na vida» 
						
						[II Concílio do Vaticano. Const. dogm. Lumen 
						Gentium, 12: AAS 57 (1965) 16]. 
						
						O CRESCIMENTO NA INTELIGÊNCIA DA FÉ 
						
						94. Graças à assistência do Espírito Santo, a 
						inteligência das realidades e das palavras do depósito 
						da fé pode crescer na vida da Igreja: 
						
						
						– «pela contemplação e pelo estudo dos crentes, que 
						as meditam no seu coração» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						8: AAS 58 (1966) 821]; 
						e particularmente pela «investigação teológica, que 
						aprofunda o conhecimento da verdade revelada» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes, 62: AAS 58 (1966) 1084: cf. Ibid. 44: 
						AAS 58 (1966) 1065; Const. dogm. Dei Verbum, 23: 
						AAS 58 (1966) 828; Ibid. 24: AAS 58 
						(1966) 828-829: Decr. Unitatis redintegratio, 4: 
						AAS 57 (1965) 94]. 
						
						
						– «pela inteligência interior das coisas espirituais 
						que os crentes experimentam» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						8: AAS 58 (1966) 821];
						«divina eloquia cum legente crescunt» - «as 
						palavras divinas crescem com quem as lê» 
						
						[São Gregório Magno, Homilia in Ezechielem 1. 7, 
						8: CCL 142. 87 (PL 76, 843 D)]. 
						
						
						– «pela pregação daqueles que receberam, com a 
						sucessão episcopal, um carisma certo da verdade»
						
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 
						8: AAS 58 (1966) 821]. 
						
						95. «É claro, portanto, que a sagrada Tradição, a 
						Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja, segundo um 
						sapientíssimo desígnio de Deus, estão de tal maneira 
						ligados e conjuntos, que nenhum pode subsistir sem os 
						outros e, todos juntos, cada um a seu modo, sob a ação 
						do mesmo Espírito Santo, contribuem eficazmente para a 
						salvação das almas» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						10: AAS 58 (1966) 822]. 
						
						Resumindo:
 96. O que Cristo confiou aos Apóstolos, estes o 
						transmitiram, pela sua pregação e por escrito, sob a 
						inspiração do Espírito Santo, a todas as gerações, até à 
						vinda gloriosa de Cristo.
 
						
						97. «A sagrada Tradição e a Sagrada Escritura 
						constituem um único depósito sagrado da Palavra de Deus»
						
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						10: AAS 58 (1966) 822], 
						no qual, como num espelho, a Igreja peregrina contempla 
						Deus, fonte de todas as suas riquezas. 
						
						98. «Na sua doutrina, vida e culto, a Igreja perpetua 
						e transmite a todas as gerações tudo aquilo que ela é, 
						tudo aquilo em que acredita» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 
						8: AAS 58 (1966) 821]. 
						
						99. Graças ao sentido sobrenatural da fé, o povo de 
						Deus, no seu todo, não cessa de acolher o dom da 
						Revelação divina, de nele penetrar mais profundamente e 
						de viver dele mais plenamente.100. O encargo de interpretar autenticamente a 
						Palavra de Deus foi confiado unicamente ao Magistério da 
						Igreja, ao Papa e aos bispos em comunhão com ele. |  
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						ARTIGO 3 
						
						
						A SAGRADA ESCRITURA 
						
						I. Cristo – Palavra única da Escritura santa 
						
						101. Na sua bondade condescendente, para se revelar aos 
						homens. Deus fala-lhes em palavras humanas: «as 
						palavras de Deus, com efeito, expressas por línguas 
						humanas, tornaram-se semelhantes à linguagem humana, tal 
						como outrora o Verbo do eterno Pai se assemelhou aos 
						homens assumindo a carne da debilidade humana»
						
						
						[II Concílio do Vaticano. Const. dogm. Dei Verbum,
						13: AAS 58 (1966) 824]. 
						
						102. Através de todas as palavras da Sagrada Escritura. 
						Deus não diz mais que uma só Palavra, o seu Verbo único, 
						em quem totalmente Se diz 
						
						[Cf. Heb. 1, 1-3]: 
						
						
						- «lembrai-vos de que o discurso de Deus que se 
						desenvolve em todas as Escrituras é um só e um só é o 
						Verbo que Se faz ouvir na boca de todos os escritores 
						sagrados, o qual, sendo no princípio Deus junto de Deus, 
						não tem necessidade de sílabas, pois não está sujeito ao 
						tempo»
						
						
						[Santo Agostinho, Enarratio in Psalmum 103, 4, 1: 
						CCL 40, 1521 (PL 37, 1378)]. 
						
						103. Por esta razão, a Igreja sempre venerou as divinas 
						Escrituras tal como venera o Corpo do Senhor. Nunca 
						cessa de distribuir aos fiéis o Pão da vida, tornado à 
						mesa quer da Palavra de Deus, quer do Corpo de Cristo
						
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						21: AAS 58 (1966) 827].
						 
						
						104. Na Sagrada Escritura, a Igreja encontra 
						continuamente o seu alimento e a sua força 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						24: AAS 58 (1966) 829], 
						porque nela não recebe apenas uma palavra humana, mas o 
						que ela é na realidade: a Palavra de Deus 
						
						[Cf. 1ª Ts. 2, 13].
						«Nos livros sagrados, com efeito, o Pai que está nos 
						Céus vem amorosamente ao encontro dos seus filhos, a 
						conversar com eles» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						21: AAS 58 (1966) 827-828]. 
						
						II. Inspiração e verdade da Sagrada Escritura 
						
						105. Deus é o autor da Sagrada Escritura. «A verdade 
						divinamente revelada, que os livros da Sagrada Escritura 
						contêm e apresentam, foi registrada neles sob a 
						inspiração do Espírito Santo». 
						
						«Com efeito, a santa Mãe Igreja, segundo a fé 
						apostólica, considera como sagrados e canónicos os 
						livros completos do Antigo e do Novo Testamento com 
						todas as suas partes, porque, escritos por inspiração do 
						Espírito Santo, têm Deus por autor, e como tais foram 
						confiados à própria Igreja»
						
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						11: AAS 58 (1966) 822-823]. 
						
						106. Deus inspirou os autores humanos dos livros 
						sagrados. «Para escrever os livros sagrados, Deus 
						escolheu e serviu-se de homens, na posse das suas 
						faculdades e capacidades, para que, agindo Ele neles e 
						por eles, pusessem por escrito, como verdadeiros 
						autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele queria»
						
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						11: AAS 58 (1966) 823]. 
						
						107. Os livros inspirados ensinam a verdade. «E assim 
						como tudo o que os autores inspirados ou hagiógrafos 
						afirmam, deve ser tido como afirmado pelo Espírito 
						Santo, por isso mesmo se deve acreditar que os livros da 
						Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro, a 
						verdade que Deus quis que fosse consignada nas sagradas 
						Letras em ordem à nossa salvação» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						11: AAS 58 (1966) 823]. 
						
						108. No entanto, a fé cristã não é uma «religião do 
						Livro». O Cristianismo é a religião da «Palavra» 
						de Deus, não duma palavra escrita e muda, mas do Verbo 
						encarnado e vivo» 
						
						[São Bernardo de Claraval, Homilia super "Missus 
						est", 4, 11: Opera, ed. J. Leclercq – H. 
						Rochais, V. 4, Roma 1966, p. 57]. 
						Para que não sejam letra morta, é preciso que Cristo, 
						Palavra eterna do Deus vivo, pelo Espírito Santo, nos 
						abra o espírito à inteligência das Escrituras 
						
						[Cf. Lc. 24, 45]. 
						
						III. O Espírito Santo, intérprete da Escritura 
						
						109. Na Sagrada Escritura, Deus fala ao homem à maneira 
						dos homens. Portanto, para bem interpretar a Escritura, 
						é necessário prestar atenção ao que os autores humanos 
						realmente quiseram dizer, e àquilo que aprouve a Deus 
						manifestar-nos pelas palavras deles 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei 
						Verbum 12: AAS 58 11966) 823. (71)]. 
						
						110. Para descobrir a intenção dos autores sagrados, 
						é preciso ter em conta as condições do seu tempo e da 
						sua cultura, os «géneros literários» em uso na 
						respectiva época, os modos de sentir, falar e narrar 
						correntes naquele tempo. «Porque a verdade é proposta 
						e expressa de modos diversos, em textos históricos de 
						vária índole, ou proféticos, ou poéticos ou de outros 
						géneros de expressão» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						12: AAS 58 (1966) 823]. 
						
						111. Mas, uma vez que a Sagrada Escritura é inspirada, 
						existe outro princípio de interpretação reta, não menos 
						importante que o anterior, e sem o qual a Escritura 
						seria letra morta: «a Sagrada Escritura deve ser lida 
						e interpretada com o mesmo espírito com que foi escrita»
						
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						12: AAS 58 (1966) 824]. 
						
						O II Concílio do Vaticano indica três critérios 
						para uma interpretação da Escritura conforme ao Espírito 
						que a inspirou [II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						12: AAS 58 (1966) 824].
 
						
						112. 1. Prestar grande atenção «ao conteúdo e à 
						unidade de toda a Escritura». Com efeito, por muito 
						diferentes que sejam os livros que a compõem, a 
						Escritura é una, em razão da unidade do desígnio de 
						Deus, de que Jesus Cristo é o centro e o coração, aberto 
						desde a sua Páscoa 
						
						[Cf. Lc. 24. 25-27. 44-46]. 
						
						
						«Por coração 
						
						[85. Cf. Sl. 22, 15] 
						de Cristo entende-se a Sagrada Escritura que nos dá a 
						conhecer o coração de Cristo. Este coração estava 
						fechado antes da Paixão, porque a Escritura estava cheia 
						de obscuridades. Mas a Escritura ficou aberta depois da 
						Paixão e assim, aqueles que desde então a consideram com 
						inteligência, discernem o modo como as profecias devem 
						ser interpretadas»
						
						
						[São Tomás de Aquino, Expositio in Psalmos, 21, 
						11: Opera omnia. v. 18. Paris 1876, p. 350]. 
						
						113. 2. Ler a Escritura na «tradição viva de toda a 
						Igreja». Segundo uma sentença dos Padres, «Sacra 
						Scriptura principalius est in corde Ecclesiae quam in 
						materialibus instrumentis scripta» - «A Sagrada 
						Escritura está escrita no coração da Igreja, mais do que 
						em instrumentos materiais» 
						
						[Cf. Santo Hilário de Poitiers, Liber ad Constantium 
						Imperatorem 9: CSEL 65. 204 PL 10, 570); São 
						Jerónimo. Commentarius in epistulam ad Galatas I 
						1, 11-12: PL 26. 347]. 
						Com efeito, a Igreja conserva na sua Tradição a memória 
						viva da Palavra de Deus, e é o Espírito Santo que lhe dá 
						a interpretação espiritual da Escritura («... 
						secundum spiritualem sensum quem Spiritus donat 
						Ecclesiae» «segundo o sentido espiritual que o Espírito 
						Santo dá à Igreja») 
						
						[Orígenes, Homiliae in Leviticum 5, 5: SC 286, 
						228 (PG 12, 454)]. 
						
						114. 3. Estar atento «à analogia da fé» 
						
						[Cf. Rm. 12, 6]. 
						Por «analogia da fé» entendemos a coesão das 
						verdades da fé entre si e no projeto total da Revelação. 
						
						OS SENTIDOS DA ESCRITURA 
						
						115. Segundo uma antiga tradição, podemos distinguir 
						dois sentidos da Escritura: o sentido literal e o 
						sentido espiritual, subdividindo-se este último em 
						sentido alegórico, moral e anagógico. A concordância 
						profunda dos quatro sentidos assegura a sua riqueza à 
						leitura viva da Escritura na Igreja: 
						
						116. O sentido literal. É o expresso pelas 
						palavras da Escritura e descoberto pela exegese segundo 
						as regras da reta interpretação. «Omnes sensus (sc. 
						Sacrae Scripturae) fundentur super litteralem» - 
						«Todos os sentidos (da Sagrada Escritura) se fundamentam 
						no literal» 
						
						[São Tomás de Aquino, Summa theologiae I, q. 1, 
						a. 10, ad I: Ed. Leon. 4, 25. (81)]. 
						
						117. O sentido espiritual. Graças à unidade do 
						desígnio de Deus, não só o texto da Escritura, mas 
						também as realidades e acontecimentos de que fala, podem 
						ser sinais. 
						
						1. O sentido alegórico. Podemos adquirir uma 
						compreensão mais profunda dos acontecimentos, 
						reconhecendo o seu significado em Cristo: por exemplo, a 
						travessia do Mar Vermelho é um sinal da vitória de 
						Cristo e, assim, do Batismo 
						
						[Cf. 1ª Cor. 10, 2]
						 
						
						2. O sentido moral. Os acontecimentos referidos 
						na Escritura podem conduzir-nos a um comportamento 
						justo. Foram escritos «para nossa instrução» (1ª 
						Cor. 10, 11) 
						
						[Cf. Heb. 3-4, 11]. 
						
						3. O sentido anagógico. Podemos ver realidades e 
						acontecimentos no seu significado eterno, o qual nos 
						conduz (em grego: «anagoge») em direção à nossa 
						Pátria. Assim, a Igreja terrestre é sinal da Jerusalém 
						celeste 
						
						[Cf. Ap. 21, 1-22, 5]. 
						
						118. Um dístico medieval resume a significação dos 
						quatro sentidos: 
						
						
						«Littera gesta docet, quid credas allegoria.Moralis quid agas, quo tendas anagogia».
 «A letra ensina-te os fatos (passados), a alegoria o que 
						deves crer, a moral o que deves fazer, a anagogia para 
						onde deves tender»
						
						
						Agostinho de Dácia, Rotulus pugillaris, I: ed. A. 
						Waltz: Angelicum 6(1929) 256].
 
						
						119. «Cabe aos exegetas trabalhar, de harmonia com 
						estas regras, por entender e expor mais profundamente o 
						sentido da Sagrada Escritura, para que, mercê deste 
						estudo, de algum modo preparatório, amadureça o juízo da 
						Igreja. Com efeito, tudo quanto diz respeito à 
						interpretação da Escritura, está sujeito ao juízo último 
						da Igreja, que tem o divino mandato e o ministério de 
						guardar e interpretar a Palavra de Deus» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						12: AAS 58 (1966) 824]: 
						
						
						«Ego vero Evangelio non crederem, nisi me catholicae 
						Ecclesiae commoveret auctoritas» 
						- «Quanto a mim, não acreditaria no Evangelho se não 
						me movesse a isso a autoridade da Igreja católica»
						
						
						[Santo Agostinho, Contra Epistulam Manichaei quam 
						vocant fundamenti 5. 6: CSEL 25, 197 (PL 42,
						176)]. 
						
						IV. O Cânon das Escrituras 
						
						120. Foi a Tradição Apostólica que levou a Igreja a 
						discernir quais os escritos que deviam ser contados na 
						lista dos livros sagrados 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						8: AAS 58 (1966) 821]. 
						Esta lista integral é chamada «Cânon» das 
						Escrituras. Comporta, para o Antigo Testamento, 46 (45, 
						se se contar Jeremias e as Lamentações como um só) 
						escritos, e, para o Novo, 27 
						
						[Cf. Decretum Damasi: DS 179-180: Concílio de 
						Florença, Decretum pro Iacobitis: DS 1334-1336; 
						Concílio de Trento. Sess. 4ª. Decretum de Libris 
						Sacris et de traditionibus recipiendis: DS 
						1501-1504]. 
						
						Para o Antigo Testamento: Gêneses, Êxodo, Levítico, 
						Números, Deuteronómio, Josué, Juízes, Rute, os dois 
						livros de Samuel, os dois livros dos Reis, os dois 
						livros das Crónicas, Esdras e Neemias, Tobias, Judite, 
						Ester, os dois livros dos Macabeus, Job, os Salmos, os 
						Provérbios, o Eclesiastes (ou Coelet), o Cântico dos 
						Cânticos, a Sabedoria, o livro de Ben-Sirá (ou 
						Eclesiástico), Isaías, Jeremias, as Lamentações, Baruc, 
						Ezequiel, Daniel, Oseias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, 
						Miqueias, Nahum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e 
						Malaquias; 
						
						Para o Novo Testamento: os evangelhos de Mateus, Marcos, 
						Lucas e João; os Atos dos Apóstolos; as epístolas de São 
						Paulo: aos Romanos, primeira e segunda aos Coríntios, 
						aos Gálatas, aos Efésios, aos Filipenses, aos 
						Colossenses, primeira e segunda aos Tessalonicenses, 
						primeira e segunda a Timóteo, a Tito, a Filemon: a 
						Epístola aos Hebreus; a Epístola de Tiago, a primeira e 
						segunda de Pedro, as três epístolas de João, a Epístola 
						de Judas e o Apocalipse. 
						
						O ANTIGO TESTAMENTO 
						
						121. O Antigo Testamento é uma parte da Sagrada 
						Escritura de que não se pode prescindir. Os seus livros 
						são divinamente inspirados e conservam um valor 
						permanente 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						14: AAS 58 (1966) 825], 
						porque a Antiga Aliança nunca foi revogada. 
						
						122. Efetivamente, «a economia do Antigo Testamento 
						destinava-se, sobretudo, a preparar [...] o advento de 
						Cristo, redentor universal». 
						
						Os livros do Antigo Testamento, «apesar de conterem 
						também coisas imperfeitas e transitórias», dão 
						testemunho de toda a divina pedagogia do amor salvífico 
						de Deus: neles «encontram-se sublimes doutrinas a 
						respeito de Deus, uma sabedoria salutar a respeito da 
						vida humana, bem como admiráveis tesouros de preces»; 
						neles, em suma, está latente o mistério da nossa 
						salvação» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						15: AAS 58 (1966) 825. (91)]. 
						
						123. Os cristãos veneram o Antigo Testamento como 
						verdadeira Palavra de Deus. A Igreja combateu sempre 
						vigorosamente a ideia de rejeitar o Antigo Testamento, 
						sob o pretexto de que o Novo o teria feito caducar 
						(Marcionismo). 
						
						O NOVO TESTAMENTO 
						
						124. «A Palavra de Deus, que é força de Deus para 
						salvação de quem acredita, apresenta-se e manifesta o 
						seu poder dum modo eminente nos escritos do Novo 
						Testamento» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 
						17: AAS 58 (1966) 826]. 
						Estes escritos transmitem-nos a verdade definitiva da 
						Revelação divina. O seu objeto central é Jesus Cristo, o 
						Filho de Deus encarnado, os seus atos, os seus 
						ensinamentos, a sua Paixão e glorificação, bem como os 
						primórdios da sua Igreja sob a ação do Espírito Santo
						
						
						[II 
						Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 
						20: AAS 58 (1966) 827]. 
						
						125. Os evangelhos são o coração de todas as 
						Escrituras, «enquanto são o principal testemunho da 
						vida e da doutrina do Verbo encarnado, nosso Salvador»
						
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						18: AAS 58 (1966) 826]. 
						
						126. Na formação dos evangelhos podemos distinguir três 
						etapas: 
						
						
						1. A vida e os ensinamentos de Jesus. A 
						Igreja sustenta firmemente que os quatro evangelhos, 
						«cuja historicidade afirma sem hesitações, transmitem 
						fielmente as coisas que Jesus, Filho de Deus, realmente 
						operou e ensinou para salvação eterna dos homens, 
						durante a sua vida terrena, até ao dia em que subiu ao 
						Céu». 
						
						
						2. A tradição oral. «Na verdade, após a Ascensão do 
						Senhor, os Apóstolos transmitiram aos seus ouvintes (com 
						aquela compreensão mais plena de que gozavam, uma vez 
						instruídos pelos acontecimentos gloriosos de Cristo e 
						iluminados pelo Espírito de verdade) as coisas que Ele 
						tinha dito e feito». 
						
						
						3. Os evangelhos escritos. «Os autores sagrados, 
						porém, escreveram os quatro evangelhos, escolhendo 
						algumas coisas, entre as muitas transmitidas por palavra 
						ou por escrito, sintetizando umas, desenvolvendo outras, 
						segundo o estado das Igrejas, conservando, finalmente, o 
						caráter de pregação, mas sempre de maneira a 
						comunicar-nos coisas verdadeiras e sinceras acerca de 
						Jesus» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						19: AAS 58 (1966) 826-827]. 
						
						127. O Evangelho quadriforme ocupa na Igreja um lugar 
						único, de que são testemunhas a veneração de que a 
						Liturgia o rodeia e o atrativo incomparável que em todos 
						os tempos exerceu sobre os santos: 
						
						
						«Não há doutrina melhor, mais preciosa e esplêndida do 
						que o texto do Evangelho. Vede e retende o que nosso 
						Senhor e Mestre, Cristo, ensinou pelas suas palavras e 
						realizou pelos seus atos»
						
						
						[Santa Cesária, A Jovem, Epistula ad Richildam et 
						Radegundem: SC 345, 480]. 
						
						
						«É sobretudo o Evangelho que me ocupa durante as minhas 
						orações. Nele encontro tudo o que é necessário à minha 
						pobre alma. Nele descubro sempre novas luzes, sentidos 
						escondidos e misteriosos»
						
						
						[Santa Teresa do Menino Jesus, Manuscrit A, 83v:
						Manuscrits autobiographiques, Paris 1929, p. 268. 
						[Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face, Obras 
						Completas (Paço de Arcos. Edições do Carmelo 1996) 
						p. 213]. 
						
						A UNIDADE DO ANTIGO E DO NOVO TESTAMENTO 
						
						128. A Igreja, já nos tempos apostólicos 
						
						[Cf. 1ª Cor. 10, 6: Heb. 10, 1; 1ª Pe. 3, 
						21], 
						e depois constantemente na sua Tradição, pôs em 
						evidência a unidade, do plano divino nos dois 
						Testamentos, graças à tipologia. Esta descobre 
						nas obras de Deus, na Antiga Aliança, prefigurações do 
						que o mesmo Deus realizou na plenitude dos tempos, na 
						pessoa do seu Filho encarnado. 
						
						129. Os cristãos leem, pois, o Antigo Testamento à luz 
						de Cristo morto e ressuscitado. Esta leitura tipológica 
						manifesta o conteúdo inesgotável do Antigo Testamento. 
						Mas não deve fazer-nos esquecer de que ele mantém o seu 
						valor próprio de Revelação, reafirmado pelo próprio 
						Jesus, nosso Senhor 
						
						[Cf. Mc. 12, 29-31]. 
						Aliás, também o Novo Testamento requer ser lido à luz do 
						Antigo. A catequese cristã primitiva recorreu 
						constantemente a este método 
						
						[Cf. 1ª Cor. 5, 6-8: 10, 1-11]. 
						Segundo um velho adágio, o Novo Testamento está oculto 
						no Antigo, enquanto o Antigo é desvendado no Novo: « 
						Novum in Vetere latet et in Novo Vetus patet» - 
						«O Novo está oculto no Antigo, e o Antigo está patente 
						no Novo» 
						
						[Santo Agostinho, Quaestiones in Heptateucumt
						2, 73: CCL 33. 106 (PL 34, 623); cf. II Concílio do 
						Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 16: AAS 58 
						(1966) 825]. 
						
						130. A tipologia significa o dinamismo em ordem ao 
						cumprimento do plano divino, quando «Deus for tudo em 
						todos» (1ª Cor. 15, 28). Assim, a vocação dos 
						patriarcas e o êxodo do Egito, por exemplo, não perdem o 
						seu valor próprio no plano de Deus pelo fato de, ao 
						mesmo tempo, serem etapas intermédias desse mesmo plano. 
						
						V. A Sagrada Escritura na vida da Igreja  
						
						131. «É tão grande a força e a virtude da Palavra de 
						Deus, que ela se torna para a Igreja apoio e vigor e, 
						para os filhos da Igreja, solidez da fé, alimento da 
						alma, fonte pura e perene de vida espiritual» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 
						21: A AS 58 (1966) 828].
						 
						
						É necessário que «os fiéis tenham largo acesso à 
						Sagrada Escritura» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 
						22: AAS 58 (1966) 828. (112)].
						 
						
						132. «O estudo das Páginas sagradas deve ser como que 
						a "alma" da sagrada teologia. Também o ministério da 
						Palavra, isto é, a pregação pastoral, a catequese, e 
						toda a espécie de instrução cristã, na qual a homilia 
						litúrgica deve ter um lugar principal, com proveito se 
						alimenta e santamente se revigora com a palavra da 
						Escritura» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 
						24: AAS 58 (1966) 829].
						 
						
						133. A Igreja «exorta com ardor e insistência todos 
						os fiéis [...] a que aprendam "a sublime ciência de 
						Jesus Cristo" (Fl. 3, 8) na leitura frequente da 
						Sagrada Escritura. Porque "a ignorância das 
						Escrituras é ignorância de Cristo"» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 
						25: AAS 58 (1966) 829: cf. São Jerónimo, Commentarii 
						in Isaiam, Prologus: CCL 73, 1 (PL 24, 17)]. 
						
						Resumindo:  
						
						134. Omnis Scriptura divina unus liber est, et ille 
						unus liber Christus est, «quia omnis Scriptura divina de 
						Christo loquitur; et omnis Scriptura divina in Christo 
						impletur» – Toda a Escritura divina é um só livro, e 
						esse livro único é Cristo, «porque toda a Escritura 
						divina fala de Cristo e toda a Escritura divina se 
						cumpre em Cristo» 
						
						[Hugo de São Vítor, De arca Noe II, 8: PL 176, 
						642: cf. Ibid. 2. 9: PL 176, 642-643].
						 
						
						135. «As Sagradas Escrituras contêm a Palavra de 
						Deus; e, pelo facto de serem inspiradas, são 
						verdadeiramente a Palavra de Deus» 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum. 
						24: AAS 58 (1966) 829]. 
						
						136. Deus é o autor da Sagrada Escritura, ao inspirar 
						os seus autores humanos: age neles e por eles. E assim 
						nos dá a garantia de que os seus escritos ensinam, sem 
						erro, a verdade da salvação 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 
						11: AAS 58 (1966) 822-823]. 
						
						137. A interpretação das Escrituras inspiradas deve, 
						antes de mais nada, estar atenta ao que Deus quer 
						revelar, por meio dos autores sagrados, para nossa 
						salvação. O que vem do Espírito não é plenamente 
						entendido senão pela ação do Espírito 
						
						[Cf. Orígenes, Homiliae in Exodum 4, 5: SC 321, 
						128 (PG 12, 320)]. 
						
						138.  A Igreja recebe e venera, como inspirados, os 
						46 livros do Antigo e os 27 do Novo Testamento. 
						
						139. Os quatro evangelhos ocupam um lugar central, 
						dado que Jesus Cristo é o seu centro. 
						
						140. A unidade dos dois Testamentos deriva da unidade 
						do plano de Deus e da sua Revelação. O Antigo Testamento 
						prepara o Novo, ao passo que o Novo dá cumprimento ao 
						Antigo. Os dois esclarecem-se mutuamente; ambos são 
						verdadeira Palavra de Deus. 
						
						141. «A Igreja sempre venerou as Divinas Escrituras, 
						tal como o próprio Corpo do Senhor»; 
						
						[II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum,
						21: AAS 58 (1966) 827]
						ambos alimentam e regem toda a vida cristã. «A vossa 
						Palavra é farol para os meus passos e luz para os meus 
						caminhos» (Sl. 119, 105) 
						
						[Cf. Is. 50, 4]. |  
                      |  |  
                      | 
						
						
						
						CAPÍTULO TERCEIRO - A RESPOSTA DO HOMEM A DEUS 
						
						
						(§ 142-§ 184)
 CAPÍTULO TERCEIRO
 
						
						
						A RESPOSTA DO HOMEM A DEUS 
						
						142. Pela sua revelação, «Deus invisível, na riqueza 
						do seu amor, fala aos homens como amigos e convive com 
						eles, para os convidar e admitir à comunhão com Ele»
						
						
						[II Concílio Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 
						2: AAS 58 (1966) 818].
						 
						
						(1). A resposta adequada a este convite é a fé.143. Pela fé, o homem submete completamente a 
						Deus a inteligência e a vontade; com todo o seu ser, o 
						homem dá assentimento a Deus revelador 
						
						[II Concílio Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 
						5: AAS 58 (1966) 819]. 
						A Sagrada Escritura chama «obediência da fé» a 
						esta resposta do homem a Deus revelador 
						
						[Cf. Rm. 1, 5; 16, 26]. |  
                      |  |  
                      | 
						
						
						
						ARTIGO 1 
						
						
						EU CREIO 
						
						I. A «obediência da fé» 
						
						144. Obedecer (ob-audire) na fé é submeter-se 
						livremente à palavra escutada, por a sua verdade ser 
						garantida por Deus, que é a própria verdade. Desta 
						obediência, o modelo que a Sagrada Escritura nos propõe 
						é Abraão. A sua realização mais perfeita é a da Virgem 
						Maria. 
						
						ABRAÃO – «O PAI DE TODOS OS CRENTES» 
						
						145. A Epístola aos Hebreus, no grande elogio que faz da 
						fé dos antepassados, insiste particularmente na fé de 
						Abraão: «pela fé, Abraão obedeceu ao chamamento de 
						Deus, e partiu para uma terra que viria a receber como 
						herança: partiu, sem saber para onde ia» (Heb. 11, 
						8) 
						
						[Cf. Gn. 12, 1-4]. 
						Pela fé, viveu como estrangeiro e peregrino na terra 
						prometida 
						
						[Cf. Gn. 23, 4]. 
						Pela fé, Sara recebeu a graça de conceber o filho da 
						promessa. Pela fé, finalmente, Abraão ofereceu em 
						sacrifício o seu filho único 
						
						[Cf. Heb. 11, 17]. 
						
						146. Abraão realiza assim a definição da fé dada pela 
						Epístola aos Hebreus: «a fé constitui a garantia dos 
						bens que se esperam, e a prova de que existem as coisas 
						que não se veem» (Heb. 11, 1). «Abraão acreditou 
						em Deus, e isto foi-lhe atribuído como justiça» (Rm. 
						4, 3) 
						
						[Cf. Gn. 15, 6]
						«Fortalecido» por esta fé (Rm. 4, 20), Abraão 
						tornou-se «o pai de todos os crentes» (Rm. 4, 11. 
						18) 
						
						[Cf. Gn. 15, 5]. 
						
						147. O Antigo Testamento é rico em testemunhos desta fé. 
						A Epístola aos Hebreus faz o elogio da fé exemplar dos 
						antigos, «que lhes valeu um bom testemunho» (Heb.
						11, 2. 39). No entanto, para nós, «Deus previra 
						destino melhor»: a graça de crer no seu Filho Jesus,
						«guia da nossa fé, que Ele leva à perfeição» (Heb.
						11, 40; 12, 2). 
						
						MARIA – «FELIZ AQUELA QUE ACREDITOU» 
						
						148. A Virgem Maria realiza, do modo mais perfeito, a 
						«obediência da fé». Na fé, Maria acolheu o anúncio e 
						a promessa trazidos pelo anjo Gabriel, acreditando que
						«a Deus nada é impossível» (Lc. 1, 37)
						
						
						[Cf. Gn. 18, 14] 
						e dando o seu assentimento: «eis a serva do Senhor, 
						faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc. 1, 
						38). Isabel saudou-a: «feliz aquela que acreditou no 
						cumprimento de quanto lhe foi dito da parte do Senhor» 
						(Lc. 1, 45). É em virtude desta fé que todas as gerações 
						a hão de proclamar bem-aventurada 
						
						[Cf. Lc. l, 48]. 
						
						149. Durante toda a sua vida e até à última provação
						
						
						[Cf. Lc. 2, 35], 
						quando Jesus, seu filho, morreu na cruz, a sua fé jamais 
						vacilou. Maria nunca deixou de crer «no cumprimento» 
						da Palavra de Deus. Por isso, a Igreja venera em Maria a 
						mais pura realização da fé. 
						
						II. «Eu sei em quem pus a minha fé» (2ª Tm.
						1, 12) 
						
						CRER SÓ EM DEUS 
						
						150. Antes de mais, a fé é uma adesão pessoal do 
						homem a Deus. Ao mesmo tempo, e inseparavelmente, 
						é o assentimento livre a toda a verdade revelada por 
						Deus. Enquanto adesão pessoal a Deus e assentimento 
						à verdade por Ele revelada, a fé cristã difere da fé 
						numa pessoa humana. É justo e bom confiar totalmente em 
						Deus e crer absolutamente no que Ele diz. Seria vão e 
						falso ter semelhante fé numa criatura 
						
						[Cf. Jr. 17, 5-6; Sl 40, 5; 146, 3-4]. 
						
						
						CRER EM JESUS CRISTO, FILHO DE DEUS 
						
						151. Para o cristão, crer em Deus é crer 
						inseparavelmente n'Aquele que Deus enviou - «no seu 
						Filho muito amado» em quem Ele pôs todas as suas 
						complacências 
						
						[Cf. Mc. 1, 11]: 
						Deus mandou-nos que O escutássemos 
						
						[Cf. Mc. 9, 7]. 
						O próprio Senhor disse aos seus discípulos: 
						«acreditais em Deus, acreditai também em Mim» (Jo.
						14, 1). Podemos crer em Jesus Cristo, porque Ele 
						próprio é Deus, o Verbo feito carne: «a Deus, nunca 
						ninguém O viu. O Filho Unigênito, que está no seio do 
						Pai, é que O deu a conhecer» (Jo. 1, 18). 
						Porque «viu o Pai» (Jo. 6, 46), Ele é o 
						único que O conhece e O pode revelar 
						
						[Cf. Mt. 11, 27]. 
						
						CRER NO ESPÍRITO SANTO 
						
						152. Não é possível acreditar em Jesus Cristo sem ter 
						parte no seu Espírito. É o Espírito Santo que revela aos 
						homens quem é Jesus. Porque «ninguém é capaz de 
						dizer: "Jesus é Senhor", a não ser pela ação do Espírito 
						Santo» (1ª Cor. 12, 3). «O Espírito 
						penetra todas as coisas, até o que há de mais profundo 
						em Deus [...]. Ninguém conhece o que há em Deus senão o 
						Espírito de Deus» (1ª Cor. 2, 10-11). 
						Só Deus conhece inteiramente Deus. Nós cremos no 
						Espírito Santo, porque Ele é Deus. 
						
						A Igreja não cessa de confessar a sua fé num só Deus, 
						Pai, Filho 
						
						e Espírito Santo. 
						
						III. As características da fé 
						
						A FÉ É UMA GRAÇA 
						
						153. Quando Pedro confessa que Jesus é o Cristo, o Filho 
						do Deus vivo, Jesus declara-lhe que esta revelação não 
						lhe veio «da carne nem do sangue, mas do seu Pai que 
						está nos Céus» (Mt. 16, 17) 
						
						[Cf. Gl. 1, 15-16; Mt. 11, 25]. 
						
						A fé é um dom de Deus, uma virtude sobrenatural 
						infundida por Ele. «Para prestar esta adesão da fé, 
						são necessários a prévia e concomitante ajuda da graça 
						divina e os interiores auxílios do Espírito Santo, o 
						qual move e converte o coração para Deus, abre os olhos 
						do entendimento, e dá "a todos a suavidade em aceitar e 
						crer a verdade"» 
						
						[II Concílio Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 
						5: AAS 58 (1966) 819 (17)]. 
						
						A FÉ É UM ATO HUMANO 
						
						154. O ato de fé só é possível pela graça e pelos 
						auxílios interiores do Espírito Santo. Mas não é menos 
						verdade que crer é um ato autenticamente humano. Não é 
						contrário nem à liberdade nem à inteligência do homem 
						confiar em Deus e aderir às verdades por Ele reveladas. 
						Mesmo nas relações humanas, não é contrário à nossa 
						própria dignidade acreditar no que outras pessoas nos 
						dizem acerca de si próprias e das suas intenções, e 
						confiar nas suas promessas (como, por exemplo, quando um 
						homem e uma mulher se casam), para assim entrarem em 
						mútua comunhão. Por isso, é ainda menos contrário à 
						nossa dignidade «prestar, pela fé, submissão plena da 
						nossa inteligência e da nossa vontade a Deus revelador»
						
						
						[I Concílio Vaticano, Const. dogm. Dei Filius, 
						c.3: DS 3008] 
						e entrar assim em comunhão intima com Ele. 
						
						155. Na fé, a inteligência e a vontade humanas cooperam 
						com a graça divina: «credere est actas intellectus 
						assentientis veritati divinae ex imperio voluntatis, a 
						Deo motae per gratiam» - «crer é o ato da inteligência 
						que presta o seu assentimento à verdade divina, por 
						determinação da vontade, movida pela graça de Deus»
						
						
						[São Tomás de Aquino. Summa theologiae II-II. q. 
						2. a. 9. c: Ed. Leon. 8. 37: cf. I Concílio 
						Vaticano, Const. dogm. Dei Filius, c. 3: DS 3010]. 
						
						A FÉ E A INTELIGÊNCIA 
						
						156. O motivo de crer não é o fato de as verdades 
						reveladas aparecerem como verdadeiras e inteligíveis à 
						luz da nossa razão natural. Nós cremos «por causa da 
						autoridade do próprio Deus revelador, que não pode 
						enganar-se nem nos enganar» 
						
						[I Concílio Vaticano, Const. dogm. Dei Filius. c. 
						3: DS 3008].
						«Contudo, para que a homenagem da nossa fé fosse 
						conforme à razão, Deus quis que os auxílios interiores 
						do Espírito Santo fossem acompanhados de provas 
						exteriores da sua Revelação» 
						
						[I Concílio Vaticano, Const. dogm. Dei Filius, c. 
						3: DS 3009]. 
						Assim, os milagres de Cristo e dos Santos 
						
						[Cf. Mc. 16, 20; Heb. 2, 4], 
						as profecias, a propagação e a santidade da Igreja, a 
						sua fecundidade e estabilidade «são sinais certos da 
						Revelação, adaptados à inteligência de todos» 
						
						[I Concílio Vaticano, Const. dogm. Dei Filius, c. 
						3: DS 3009],
						«motivos de credibilidade», mostrando que o 
						assentimento da fé não é, «de modo algum, um movimento 
						cego do espírito» 
						
						[I Concílio Vaticano, Const. dogm. Dei Filius, c. 
						3: DS 3010]. 
						
						157. A fé é certa, mais certa que qualquer 
						conhecimento humano, porque se funda na própria Palavra 
						de Deus, que não pode mentir. Sem dúvida, as verdades 
						reveladas podem parecer obscuras à razão e à experiência 
						humanas; mas «a certeza dada pela luz divina é maior 
						do que a dada pela luz da razão natural» 
						
						[São Tomás de Aquino, Summa theologiae II-II. q. 
						171, 5, 3um: Ed. Leon. 10, 373].
						«Dez mil dificuldades não fazem uma só dúvida»
						
						
						[J. H. Newman, Apologia pro vita sua, c. 5. ed. 
						M. J. Svaglic, Oxford 1967, p. 210]. 
						
						158. «A fé procura compreender» 
						
						[Santo Anselmo da Cantuária, Proslogion. 
						Prooemium: Opera omnia, ed. F. S. Schmitt. v. 1, 
						Edimburgo 1946, p. 94]: 
						é inerente à fé o desejo do crente de conhecer melhor 
						Aquele em quem acreditou, e de compreender melhor o que 
						Ele revelou; um conhecimento mais profundo exigirá, por 
						sua vez, uma fé maior e cada vez mais abrasada em amor. 
						A graça da fé abre «os olhos do coração» (Ef.
						1, 18) para uma inteligência viva dos conteúdos da 
						Revelação, isto é, do conjunto do desígnio de Deus e dos 
						mistérios da fé, da íntima conexão que os Liga entre si 
						e com Cristo, centro do mistério revelado. Ora, para 
						«que a compreensão da Revelação seja cada vez mais 
						profunda, o mesmo Espírito Santo aperfeiçoa sem cessar a 
						fé, mediante os seus dons» 
						
						[II Concílio Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 
						5: AAS 58 (1966) 819]. 
						Assim, conforme o dito de Santo Agostinho, «eu creio 
						para compreender e compreendo para crer melhor»
						
						
						[Santo Agostinho, Sermão 43, 7, 9: CCL 41. 512 
						(PL 38. 258)]. 
						
						159. Fé e ciência. «Muito embora a fé esteja acima da 
						razão, nunca pode haver verdadeiro desacordo entre 
						ambas: o mesmo Deus, que revela os mistérios e comunica 
						a fé, também acendeu no espírito humano a luz da razão. 
						E Deus não pode negar-se a Si próprio, nem a verdade 
						pode jamais contradizer a verdade» 
						
						[I Concílio Vaticano, Const. dogm. Dei Filius, c. 
						4: DS 3017].
						«É por isso que a busca metódica, em todos os 
						domínios do saber, se for conduzida de modo 
						verdadeiramente científico e segundo as normas da moral, 
						jamais estará em oposição à fé: as realidades profanas e 
						as da fé encontram a sua origem num só e mesmo Deus. 
						Mais ainda: aquele que se esforça, com perseverança e 
						humildade, por penetrar no segredo das coisas, é como 
						que conduzido pela mão de Deus, que sustenta todos os 
						seres e faz que eles sejam o que são, mesmo que não 
						tenha consciência disso» 
						
						[II Concílio Vaticano, Const. past. Gaudium et spes,
						36: AAS 58 ((966) 1054]. 
						
						A LIBERDADE DA FÉ 
						
						160. Para ser humana, «a resposta da fé, dada pelo 
						homem a Deus, deve ser voluntária. Por conseguinte, 
						ninguém deve ser constrangido a abraçar a fé contra 
						vontade. Efetivamente, o ato de fé é voluntário por sua 
						própria natureza» 
						
						[II Concílio Vaticano, Decl. Dignitatis humanae, 10: AAS 
						58 (1966) 936; cf. CIC cân. 748 § 2].
						«É certo que Deus chama o homem a servi-Lo em 
						espírito e verdade; mas, se é verdade que este apelo 
						obriga o homem em consciência, isso não quer dizer que o 
						constranja [...]. Isto foi evidente, no mais alto grau, 
						em Jesus Cristo» 
						
						[II Concílio Vaticano, Decl. Dignitatis humanae, 
						11: AAS 58 (1966) 936]. 
						De fato, Cristo convidou à fé e à conversão, mas de modo 
						nenhum constrangeu alguém. «Deu testemunho da 
						verdade, mas não a impôs pela força aos seus 
						contraditores. O seu Reino [...] dilata-se graças ao 
						amor, pelo qual, levantado na cruz, Cristo atrai a Si 
						todos os homens» 
						
						[II Concílio Vaticano, Decl. Dignitatis humanae, 
						11: AAS 58 (1966) 937]. 
						
						A NECESSIDADE DA FÉ 
						
						161. Para obter a salvação é necessário acreditar em 
						Jesus Cristo e n'Aquele que O enviou para nos salvar
						
						
						[Cf. Mc. 16, 16; Jo 3, 36: 6, 40: etc.].
						«Porque "sem a fé não é possível agradar a Deus" 
						(Heb. 11, 6) e chegar a partilhar a condição de 
						filhos seus; ninguém jamais pode justificar-se sem ela e 
						ninguém que não "persevere nela até ao fim" (Mt. 10, 
						22; 24, 13) poderá alcançar a vida eterna» 
						
						[I Concílio Vaticano, Const. dogm. Dei Filius, c 
						3: DS 3012; cf. Concílio de Trento, Sess. 6ª, 
						Decretum de iustiftcatione, c. 8: DS 1532]. 
						
						A PERSEVERANÇA NA FÉ 
						
						162. A fé é um dom gratuito de Deus ao homem. Mas nós 
						podemos perder este dom inestimável. Paulo adverte 
						Timóteo a respeito dessa possibilidade: «combate o 
						bom combate, guardando a fé e a boa consciência; por se 
						afastarem desse princípio é que muitos naufragaram na 
						fé» (1ª Tm. 1, 18-19). Para viver, crescer e 
						perseverar até ao fim na fé, temos de a alimentar com a 
						Palavra de Deus; temos de pedir ao Senhor que no-la 
						aumente 
						
						[Cf. Mc. 9, 24; Lc 17, 5: 22, 32]; 
						ela deve «agir pela caridade» (Gl. 5, 6) 
						
						[Cf. Tg. 2, 14-26], 
						ser sustentada pela confiança 
						
						[Cf. Rm. 15, 13] 
						e permanecer enraizada na fé da Igreja. 
						
						A FÉ – VIDA ETERNA INICIADA 
						
						163. A fé faz que saboreemos, como que de antemão, a 
						alegria e a luz da visão beatificam, termo da nossa 
						caminhada nesta Terra. Então veremos Deus «face a 
						face» (1ª Cor. 13, 12), «tal como Ele é» 
						(1ª Jo. 3, 2). A fé, portanto, é já o 
						princípio da vida eterna: 
						
						
						- «enquanto, desde já, contemplamos os benefícios da fé, 
						como reflexo num espelho, é como se possuíssemos já as 
						maravilhas que a nossa fé nos garante havermos de gozar 
						um dia»
						
						
						[São Basílio Magno, Liber de Spiritu Sancto, 15, 
						36: SC 17bis. 370 (PG 32, 132); cf. São Tomás de Aquino, 
						Summa Theologiae II-II, q. 4, a. I. c: Ed. Leon. 8. 
						44]. 
						
						
						164. Por enquanto, porém, «caminhamos pela fé e não 
						vemos claramente» (2ª Cor. 5, 7), e 
						conhecemos Deus «como num espelho, de maneira 
						confusa, [...] imperfeita» (1ª Cor. 13, 12). 
						Luminosa por parte d'Aquele em quem ela crê, a fé é 
						muitas vezes vivida na obscuridade, e pode ser posta à 
						prova. O mundo em que vivemos parece muitas vezes bem 
						afastado daquilo que a fé nos diz: as experiências do 
						mal e do sofrimento, das injustiças e da morte parecem 
						contradizer a Boa-Nova, podem abalar a fé e tornarem-se, 
						em relação a ela, uma tentação. 
						
						165. É então que nós devemos voltar para as 
						testemunhas da fé: Abraão, que acreditou, 
						«esperando contra toda a esperança» (Rm. 4, 18); a 
						Virgem Maria que, na «peregrinação da fé» 
						
						[Cf. II Concílio Vaticano, Const. dogm. Lumen 
						Gentium, 58: AAS 57 (1965) 61], 
						foi até à «noite da fé» 
						
						[João Paulo II, Enc. Redemptoris Mater, 17: AAS 
						79 (1987) 381], 
						comungando no sofrimento do seu Filho e na noite do seu 
						sepulcro 
						
						[João Paulo II, Enc. Redemptoris Mater, 18: AAS 
						79 (1987) 382-383]; 
						e tantas outras testemunhas da fé: «envoltos em 
						tamanha nuvem de testemunhas, devemos desembaraçar-nos 
						de todo o fardo e do pecado que nos cerca, e correr com 
						constância o risco que nos é proposto, fixando os olhos 
						no guia da nossa fé, o qual a leva à perfeição» 
						(Heb. 12, 1-2). |  
                      |  |  
                      | 
						
						
						
						ARTIGO 2 
						
						
						NÓS CREMOS 
						
						166. A fé é um ato pessoal, uma resposta livre do homem 
						à proposta de Deus que se revela. Mas não é um ato 
						isolado. Ninguém pode acreditar sozinho, tal como 
						ninguém pode viver só. Ninguém se deu a fé a si mesmo, 
						como ninguém a si mesmo se deu a vida. Foi de outrem que 
						o crente recebeu a fé; a outrem a deve transmitir. O 
						nosso amor a Jesus e aos homens impele-nos a falar aos 
						outros da nossa fé. Cada crente é, assim, um elo na 
						grande cadeia dos crentes. Não posso crer sem ser 
						amparado pela fé dos outros, e pela minha fé contribuo 
						também para amparar os outros na fé. 
						
						167. «Eu creio» 
						
						[Símbolo dos Apóstolos: DS 30]: 
						é a fé da Igreja, professada pessoalmente por cada 
						crente, principalmente por ocasião do Batismo. «Nós 
						cremos» 
						
						[Símbolo Niceno-Constantinopolitano: DS 150 (no 
						original grego). (31)]: 
						é a fé da Igreja, confessada pelos Bispos reunidos em 
						Concílio ou, de modo mais geral, pela assembleia 
						litúrgica dos crentes. «Eu creio»: é também a 
						Igreja, nossa Mãe, que responde a Deus pela sua fé e nos 
						ensina a dizer: «eu creio», «nós cremos». 
						
						I. «Olhai, Senhor, para a fé da vossa Igreja» 
						
						168. É, antes de mais, a Igreja que crê, e que assim 
						suporta, nutre e sustenta a minha fé. É primeiro a 
						Igreja que, por toda a parte, confessa o Senhor («Te 
						per orbem terrarum sancta confitetur Ecclesia» - «A 
						Santa Igreja anuncia por toda a terra a glória do vosso 
						nome» - como cantamos no «Te Deum»). Com ela 
						e nela, também nós somos atraídos e levados a confessar:
						«eu creio», «nós cremos». É da Igreja que 
						recebemos a fé e a vida nova em Cristo, pelo Batismo. No
						Ritual Romano, o ministro do Batismo pergunta ao 
						catecúmeno: «que vens pedir à Igreja de Deus»? E 
						ele responde: - «a fé». - «Para que te serve a fé»? - 
						«Para alcançar a vida eterna» 
						
						[Iniciação cristã dos adultos, 75. 2ª edição, 
						Gráfica de Coimbra 1996. p. 48: Ibid., 247, p. 
						153]. 
						
						169. A salvação vem só de Deus. Mas porque é através da 
						Igreja que recebemos a vida da fé, a Igreja é nossa Mãe.
						«Cremos que a Igreja é como que a mãe do nosso novo 
						nascimento, mas não cremos na Igreja como se ela fosse a 
						autora da nossa salvação» 
						
						[Fausto de Riez, De Spiritu sancto 1, 2: CSEL 21, 
						104 (l, 1: PL 62.11)]. 
						É porque é nossa Mãe, é também a educadora da nossa fé. 
						
						II. A linguagem da fé 
						
						170. Não acreditamos em fórmulas, mas sim nas realidades 
						que as fórmulas exprimem e que a fé nos permite 
						«tocar». «O ato [de fé] do crente não se detém no 
						enunciado, mas na realidade [enunciada» 
						
						[São Tomás de Aquino, Summa theologiae 11-II, q. 
						I. a. 2. ad 2: Ed Leon. 8. 11]. 
						No entanto, é através das fórmulas da fé que nos 
						aproximamos dessas realidades. As fórmulas permitem-nos 
						exprimir e transmitir a fé, celebrá-la em comunidade, 
						assimilá-la e dela viver cada vez mais. 
						
						171. A Igreja, que é «coluna e apoio da verdade» 
						(1ª Tm. 3, 15), guarda fielmente a fé transmitida 
						aos santos de uma vez por todas 
						
						[Cf. Jd. 3]. 
						É ela que guarda a memória das palavras de Cristo. É ela 
						que transmite, de geração em geração, a confissão de fé 
						dos Apóstolos. Tal como uma mãe ensina os seus filhos a 
						falar e, dessa forma, a compreender e a comunicar, a 
						Igreja, nossa Mãe, ensina-nos a linguagem da fé, para 
						nos introduzir na inteligência e na vida da fé. 
						
						
						III. Uma só fé 
						
						172. Desde há séculos, através de tantas línguas, 
						culturas, povos e nações, a Igreja não cessa de 
						confessar a sua fé única, recebida de um só Senhor, 
						transmitida por um só Batismo, enraizada na convicção de 
						que todos os homens têm apenas um só Deus e Pai 
						
						[50. Cf. Ef. 4, 4-6]. 
						Santo Ireneu de Lião, testemunha desta fé, declara: 
						
						173. «A Igreja, embora dispersa por todo o mundo até 
						aos confins da Terra, tendo recebido dos Apóstolos e dos 
						seus discípulos a fé, [...] guarda [esta pregação e está 
						fé] com tanto cuidado como se habitasse numa só casa; 
						nela crê de modo idêntico, como tendo um só coração e 
						uma só alma; prega-a e ensina-a e transmite-a com voz 
						unânime, como se tivesse uma só boca» 
						
						[Santo Ireneu de Lião, Adversus haereses I. 10, 
						1-2: SC 264, 154-158 (PG 7, 550-551)]. 
						
						174. «Através do mundo, as línguas diferem: mas o 
						conteúdo da Tradição é um só e o mesmo. Nem as Igrejas 
						estabelecidas na Germania têm outra fé ou outra 
						tradição, nem as que se estabeleceram entre os Iberos ou 
						entre os Celtas, as do Oriente, do Egito ou da Líbia, 
						nem as que se fundaram no centro do mundo» 
						
						[Santo Ireneu de Lião, Adversus haereses I. 10. 
						2: SC 264, 158-160 (PG 7, 531-534)].
						«A mensagem da Igreja é verídica e sólida, porque 
						nela aparece um só e o mesmo caminho de salvação, em 
						todo o mundo» 
						
						[Santo Ireneu de Lião, Adversus haereses V, 20. 
						1: SC 153, 254-256 (PG 7, 1177)]. 
						
						175. Esta fé, «que recebemos da Igreja, guardamo-la 
						nós cuidadosamente, porque sem cessar, sob a ação do 
						Espírito de Deus, tal como um depósito de grande valor 
						encerrado num vaso excelente, ela rejuvenesce e faz 
						rejuvenescer o próprio vaso que a contém» 
						
						[Santo Ireneu de Lião, Adversus haereses III. 24, 
						1: SC 211, 472 (PG 7, 966)]. 
						
						Resumindo: 
						
						176. A fé é uma adesão pessoal, do homem todo, a Deus 
						que se revela. Comporta uma adesão da inteligência e da 
						vontade à Revelação que Deus fez de Si mesmo, pelas suas 
						ações e palavras. 
						
						177. «Crer» tem, pois, uma dupla referência: à pessoa 
						e à verdade; à verdade, pela confiança na pessoa que a 
						atesta. 
						
						178. Não devermos crer em mais ninguém senão em Deus, 
						Pai, Filho e Espírito Santo. 
						
						
						179.  A fé é um dom sobrenatural de Deus. Para crer, 
						o homem tem necessidade dos auxílios interiores do 
						Espírito Santo. 
						
						180. «Crer» é um ato humano, consciente e livre, que 
						está de acordo com a dignidade da pessoa humana. 
						
						181. «Crer» é um ato eclesial. A fé da Igreja 
						precede, gera, suporta e nutre a nossa fé. A Igreja é a 
						Mãe de todos os crentes. «Ninguém pode ter a Deus por 
						Pai, se não tiver a Igreja por Mãe» 
						
						[São Cipriano de Cartago, Ecclesiae catholicae 
						unitate, 6: CCL 3. 253 (PL 4. 519)]. 
						
						182. «Nós cremos em tudo quanto está contido na 
						Palavra de Deus, escrita ou transmitida, e que a Igreja 
						propõe à nossa fé como divinamente revelado» 
						
						[Paulo VI, Sollemnis Professio fidei [Credo do 
						Povo de Deus], 20: AAS 60 (1968) 441]. 
						
						183. A fé é necessária para a salvação. O próprio 
						Senhor o afirma: «quem acreditar e for batizado 
						salvar-se-á, mas quem não acreditar será condenado» (Mc 
						16, 16). 
						
						184. «A fé é um antegozo do conhecimento que nos 
						tornará felizes na vida futura» 
						
						[São Tomás de Aquino, Compendium theologiae, 1, 
						2: Ed. Leon. 42. 83., 1, 2]. |  
                      |  |  
                      | 
						
						
						
						CREDO 
							
								
									| 
									
									
									 SÍMBOLO DOS APÓSTOLOS 
									
									[DS 30] | 
									
									
									CREDO DE NICEIA–CONSTANTINOPLA 
									
									[DS 150. (46)] |  
									| 
									
									
									Creio em Deus, Pai todo-poderoso,Criador do Céu e da Terra;
 | 
									
									
									Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador do Céu e da Terra,
 de todas as coisas visíveis e invisíveis.
 |  
									| 
									
									
									e em Jesus Cristo, seu único Filho,nosso Senhor,
 | 
									
									
									Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho 
									Unigênito de Deus,nascido do Pai antes de todos os séculos: 
									Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de 
									Deus verdadeiro; gerado, não criado, 
									consubstancial ao Pai. Por Ele todas as 
									coisas foram feitas.
 E por nós, homens, e para nossa salvação 
									desceu dos Céus.
 |  
									| 
									
									
									que foi concebido pelo poder do Espírito Santo;
 nasceu da Virgem Maria;
 | 
									
									
									E encarnou pelo Espírito Santo,no seio da Virgem Maria,
 e se fez homem.
 |  
									| 
									
									
									padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, 
									morto e sepultado; desceu à mansão dos 
									mortos; ressuscitou ao terceiro dia; subiu 
									aos Céus; está sentado à direita de Deus Pai
									todo-poderoso, de onde há de vir a julgar
 os vivos e os mortos.
 | 
									
									
									Também por nós foi crucificado sob Pôncio 
									Pilatos; padeceu e foi sepultado.Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as 
									Escrituras; e subiu aos Céus, onde está 
									sentado à direita do Pai.
 De novo há de vir em sua glória, para julgar 
									os vivos e os mortos; e o seu Reino não terá 
									fim.
 |  
									| 
									
									
									Creio no Espírito Santo; | 
									
									
									Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a 
									vida, e procede do Pai e do Filho; e com o 
									Pai e o Filho é adorado e glorificado: Ele que falou pelos profetas.
 |  
									| 
									
									
									na santa Igreja Católica; na comunhão dos Santos;
 | 
									
									
									Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica.
 |  
									| 
									
									
									na remissão dos pecados; na ressurreição da carne;
 na vida eterna.
 Amém
 | 
									
									
									Professo um só Batismo para remissão dos 
									pecados. E espero a ressurreição dos mortos, e a vida 
									do mundo que há de vir.
 Amém.
 |  |  
                      |  |  
                      | 
						
						 OS 
						SÍMBOLOS DA FÉ
						
						
						 (§ 
						185-§ 197) 
						
						185. Quem diz «creio» afirma: «dou a minha 
						adesão àquilo em que nós cremos». A comunhão na fé 
						tem necessidade duma linguagem comum da fé, normativa 
						para todos e a todos unindo na mesma confissão de fé. 
						
						186. Desde a origem, a Igreja apostólica exprimiu e 
						transmitiu a sua própria fé em fórmulas breves e 
						normativas para todos 
						
						[Cf. Rm. 10, 9; 1ª Cor. 15, 3-5; etc.].
						
						
						Mas bem cedo a Igreja quis também recolher o essencial 
						da sua fé em resumos orgânicos e articulados, destinados 
						sobretudo aos candidatos ao Batismo. 
						
						
						«Esta síntese da fé não foi feita segundo as opiniões 
						humanas: mas recolheu-se de toda a Escritura o que nela 
						há de mais importante, para apresentar na integra aquilo 
						e só aquilo que a fé ensina. E, tal como a semente de 
						mostarda contém, num pequeno grão, numerosos ramos, do 
						mesmo modo este resumo da fé encerra em algumas palavras 
						todo o conhecimento da verdadeira piedade contido no 
						Antigo e no Novo Testamento»
						
						
						[São Cirilo de Jerusalém, Catechese illuminandorum 5, 
						12: Opera, v. 1. ed. G. C. Reischl (Monaci 1848), p. 
						150 (PG 33. 521-524)]. 
						
						187. A estas sínteses da fé chamamos-lhes «profissões 
						de fé», porque resumem a fé professada pelos 
						cristãos. Chamamos-lhes «Credo», pelo fato de 
						elas normalmente começarem pela palavra: «creio». 
						Igualmente lhes chamamos «símbolos da fé». 
						
						188. A palavra grega «symbolon» significava a 
						metade dum objeto partido (por exemplo, um selo), que se 
						apresentava como um sinal de identificação. As duas 
						partes eram justapostas para verificar a identidade do 
						portador. O «símbolo da fé» é, pois, um sinal de 
						identificação e de comunhão entre os crentes. 
						«Symbolon» também significa resumo, coletânea ou 
						sumário. O «símbolo da fé» é o sumário das 
						principais verdades da fé. Por isso, serve de ponto de 
						referência primário e fundamental da catequese. 
						
						189. A primeira «profissão de fé» faz-se por 
						ocasião do Batismo. O «símbolo da fé» é, antes de 
						mais nada, o símbolo batismal. E uma vez que o 
						Batismo é conferido «em nome do Pai e do Filho e do 
						Espírito Santo» (Mt. 28, 19), as 
						verdades da fé professadas por ocasião do Batismo 
						articulam-se segundo a sua referência às três pessoas da 
						Santíssima Trindade. 
						
						190. O Símbolo divide-se, portanto, em três partes: 
						«na primeira, trata da Primeira Pessoa divina e da obra 
						admirável da criação: na segunda, da Segunda Pessoa 
						divina e do mistério da Redenção dos homens; na 
						terceira, da Terceira Pessoa divina, fonte e princípio 
						da nossa santificação» 
						
						[Cat. Rm. I, I, 4. p. 20]. 
						São estes «os três capítulos do nosso selo 
						[batismal]» 
						
						[Santo Ireneo, Demonstratio apostolicae 
						praedicationis, 100: SC 62. 170]. 
						
						191. O Símbolo «está estruturado em três partes [...] 
						subdivididas em fórmulas variadas e muito adequadas. 
						Segundo uma comparação frequentemente empregada pelos 
						Padres, chamamos-lhes artigos. De fato, assim como nos 
						nossos membros há certas articulações que os distinguem 
						e separam, do mesmo modo, nesta profissão de fé, foi com 
						razão e propriedade que se deu o nome de artigos às 
						verdades que devemos crer em particular e de modo 
						distinto» 
						
						[Cat. Rom I. 1, 4. p. 20]. 
						Segundo uma antiga tradição, já atestada por Santo 
						Ambrósio, é costume enumerar doze artigos do 
						Credo, simbolizando, com o número dos doze Apóstolos, o 
						conjunto da fé apostólica 
						
						[Cf. Santo Ambrósio10, Explanatio Symboli, 8: 
						CSEL 73, 10-11 (PL 17. 1196)]. 
						
						192. Foram numerosas, ao longo dos séculos, e 
						correspondendo sempre às necessidades das diferentes 
						épocas, as profissões ou símbolos da fé: os símbolos das 
						diferentes Igrejas apostólicas e antigas 
						
						[Cf. Symbola fidei ab Ecclesia antiqua recepta: 
						DS 1-64], 
						o símbolo «Quicumque», chamado de Santo Atanásio
						
						
						[Cf. DS 75-76], 
						as profissões de fé de certos concílios Toledo 
						
						[XI Concílio de Toledo: DS 525-541]; 
						Latrão 
						
						[IV Concílio de Latrão: DS 800-802]: 
						Lião 
						
						[II Concílio de Lião: DS 851-861]; 
						Trento 
						
						[Professio ftdei Tridentina: DS 1862-1870] 
						ou de certos papas, como a «Fides Damasi» 
						
						[Cf. DS 71-72] 
						ou o «Credo do Povo de Deus», de Paulo VI (1968)
						
						
						[Sollemnis Professio fidei: AAS 60 (1968) 
						433-445]. 
						
						193. Nenhum dos símbolos dos diferentes períodos da vida 
						da Igreja pode ser considerado ultrapassado ou inútil. 
						Todos nos ajudam a abraçar e a aprofundar hoje a fé de 
						sempre, através dos diversos resumos que dela se 
						fizeram. 
						
						Entre todos os símbolos da fé, há dois que têm um lugar 
						muito especial na vida da Igreja: 
						
						194. O Símbolo dos Apóstolos, assim chamado 
						porque se considera, com justa razão, o resumo fiel da 
						fé dos Apóstolos. É o antigo símbolo batismal da Igreja 
						de Roma. A sua grande autoridade vem-lhe deste fato: 
						«é o símbolo adotado pela Igreja romana, aquela em que 
						Pedro, o primeiro dos Apóstolos, teve a sua cátedra, e 
						para a qual ele trouxe a expressão da fé comum»
						
						
						[Santo Ambrósio, Explanatio Symboli, 7: CSEL 73. 
						10 (PL 17, 1196)]. 
						
						195. O Símbolo dito de Niceia-Constantinopla deve 
						a sua grande autoridade ao fato de ser proveniente 
						desses dois primeiros concílios ecumênicos (dos anos de 
						325 e 381). Ainda hoje continua a ser comum a todas as 
						grandes Igrejas do Oriente e do Ocidente. 
						
						196. A exposição da fé, que vamos fazer, seguirá o 
						Símbolo dos Apóstolos, que constitui, por assim dizer,
						«o mais antigo catecismo romano». Entretanto, a 
						nossa exposição será completada por constantes 
						referências ao Símbolo Niceno-Constantinopolitano, 
						muitas vezes mais explícito e pormenorizado. 
						
						197. Como no dia do nosso Batismo, quando toda a nossa 
						vida foi confiada «a esta regra de doutrina» (Rm. 
						6, 17), acolhemos o Símbolo da nossa fé que dá a 
						vida. Recitar com fé o Credo é entrar em comunhão com 
						Deus Pai, Filho e Espírito Santo. E é também entrar em 
						comunhão com toda a Igreja, que nos transmite a fé e em 
						cujo seio nós acreditamos:- «este Símbolo é o selo espiritual [...], é a meditação 
						do nosso coração e a sentinela sempre presente; é, sem 
						dúvida, o tesouro da nossa alma»
						
						
						[Santo Ambrósio, Explanatio Symboli, 7: CSEL 73. 
						3 (PL 17, 1193)]. |  
                      |  |  
                      | 
						
						
						CAPÍTULO PRIMEIRO 
						
						
						CREIO EM DEUS PAI 
						
						198. A nossa profissão de fé começa por Deus, porque 
						Deus é «o Primeiro e o Último» (Is. 44, 6), o 
						Princípio e o Fim de tudo. O Credo começa por Deus Pai, 
						porque o Pai é a Primeira Pessoa divina da Santíssima 
						Trindade; o nosso Símbolo começa pela criação do céu e 
						da terra, porque a criação é o princípio e o fundamento 
						de todas as obras de Deus. |  
                      |  |  
                      | 
						
						
						
						ARTIGO 1 
						
						
						«CREIO EM DEUS PAI TODO-PODEROSO CRIADOR DO CÉU E DA 
						TERRA» 
						
						
						
						PARÁGRAFO 1 
						
						
						CREIO EM DEUS 
						
						199. «Creio em Deus»: é esta a primeira afirmação 
						da profissão de fé e também a mais fundamental. Todo o 
						Símbolo fala de Deus; ao falar também do homem e do 
						mundo, fá-lo em relação a Deus. Os artigos do Credo 
						dependem todos do primeiro, do mesmo modo que todos os 
						mandamentos são uma explicitação do primeiro. Os outros 
						artigos fazem-nos conhecer melhor a Deus, tal como Ele 
						progressivamente Se revelou aos homens. «Os fiéis 
						professam, antes de mais nada, crer em Deus» 
						
						(Cat Rom I. 2, 6, p. 23]. 
						
						I. «Creio em um só Deus» 
						
						200. É com estas palavras que começa o Símbolo 
						Niceno-Constantinopolitano. A confissão da unicidade de 
						Deus, que radica na Revelação divina da Antiga Aliança, 
						é inseparável da confissão da existência de Deus e tão 
						fundamental como ela. Deus é único; não há senão um só 
						Deus: «a fé cristã crê e professa que há um só Deus, 
						por natureza, por substância e por essência» (Cat 
						Rom I. 2, 8. P. 26) 
						
						201. A Israel, seu povo eleito, Deus revelou-se como 
						sendo único: «escuta, Israel! O Senhor, nosso Deus, é 
						o único Senhor. Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o 
						teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas 
						forças» (Dt. 6, 4-5). Por meio dos profetas, 
						Deus faz apelo a Israel e a todas as nações para que se 
						voltem para Ele, o Único: «voltai-vos para Mim, e 
						sereis salvos, todos os confins da terra, porque Eu sou 
						Deus e não há outro [...] Diante de Mim se hão de dobrar 
						todos os joelhos, em Meu nome hão de jurar todas as 
						línguas. E dirão: "só no Senhor existem a justiça e o 
						poder"» (Is. 45, 22-24) 
						
						(Cf.
						Fl 2, 10-11]. 
						
						202. O próprio Jesus confirma que Deus é «o único 
						Senhor», e que é necessário amá-Lo «com todo o 
						coração, com toda a alma, com todo o entendimento e com 
						todas as forças» 
						
						(Cf. Mc 12, 29-30). 
						Ao mesmo tempo, dá a entender que Ele próprio é «o 
						Senhor» 
						
						(Cf. Mc 12, 35-37). 
						Confessar que «Jesus é o Senhor» é próprio da fé 
						cristã. Isso não vai contra a fé num Deus Único. Do 
						mesmo modo, crer no Espírito Santo, «que é Senhor e 
						dá a Vida», não introduz qualquer espécie de divisão 
						no Deus único: 
						
						
						- «nós acreditamos com firmeza e afirmamos simplesmente 
						que há um só Deus verdadeiro, imenso e imutável, 
						incompreensível, todo-poderoso e inefável. Pai e Filho e 
						Espírito Santo: três Pessoas, mas uma só essência, uma 
						só substância ou natureza absolutamente simples»
						
						
						(IV Concílio de Latrão, Cap. 1. De fide catholica:
						DS 800). 
						
						II. Deus revela o seu nome 
						
						203. Deus revelou-se ao seu povo Israel, dando-lhe a 
						conhecer o seu nome. O nome exprime a essência, a 
						identidade da pessoa e o sentido da sua vida. Deus tem 
						um nome. Não é uma força anónima. Dizer o seu nome é 
						dar-se a conhecer aos outros; é, de certo modo, 
						entregar-se a Si próprio, tornando-se acessível, capaz 
						de ser conhecido mais intimamente e de ser invocado 
						pessoalmente. 
						
						204. Deus revelou-Se progressivamente e sob diversos 
						nomes ao seu povo; mas foi a revelação do nome divino 
						feita a Moisés na teofania da sarça ardente, no limiar 
						do êxodo e da Aliança do Sinai, que se impôs como sendo 
						a revelação fundamental, tanto para a Antiga como para a 
						Nova Aliança. 
						
						O DEUS VIVO 
						
						205. Do meio duma sarça que arde sem se consumir, Deus 
						chama por Moisés. E diz-lhe: «Eu sou o Deus de teu 
						pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de 
						Jacob» (Ex. 3, 6). Deus é o Deus dos antepassados, 
						Aquele que tinha chamado e guiado os patriarcas nas suas 
						peregrinações. É o Deus fiel e compassivo, que se lembra 
						deles e das promessas que lhes fez. Ele vem para 
						libertar da escravidão os seus descendentes. É o Deus 
						que, para além do espaço e do tempo, pode e quer 
						fazê-lo, e empenhará a sua onipotência na concretização 
						deste desígnio.  
						
						«EU SOU AQUELE QUE SOU» 
						
						
						Moisés disse a Deus: «vou então procurar os filhos de 
						Israel e dizer-lhes: "o Deus de vossos pais enviou-me a 
						vós". Mas se me perguntarem qual é o seu nome, que hei 
						de responder-lhes? Deus disse a Moisés: «Eu sou Aquele 
						que sou». E prosseguiu: «assim falarás aos filhos 
						de Israel: Aquele que tem por nome "Eu sou" é que me 
						enviou a vós [...] ... Será este o meu nome para sempre, 
						nome que ficará de memória para todas as gerações» 
						(Ex. 3, 13-15). 
						
						206. Ao revelar o seu nome misterioso de YHWH, «Eu 
						sou Aquele que É», ou «Eu sou Aquele que Sou», 
						ou ainda «Eu sou quem Eu sou», Deus diz quem é e 
						com que nome deve ser chamado. Este nome divino é 
						misterioso, tal como Deus é mistério. E, ao mesmo tempo, 
						um nome revelado e como que a recusa dum nome. É assim 
						que Deus exprime melhor o que Ele é, infinitamente acima 
						de tudo o que podemos compreender ou dizer: Ele é o 
						«Deus escondido» (Is. 45, 15), o seu nome é inefável
						
						
						(Cf. Jz 13, 1), 
						e é o Deus que se faz próximo dos homens. 
						
						207. Ao revelar o seu nome, Deus revela ao mesmo tempo a 
						sua fidelidade, que é de sempre e para sempre, válida 
						tanto para o passado («Eu sou o Deus de teu pai» 
						- Ex. 3, 6), como para o futuro («Eu estarei contigo» 
						- Ex. 3, 12). Deus, que revela o seu nome como 
						sendo «Eu sou», revela-se como o Deus que está 
						sempre presente junto do seu povo para o salvar. 
						
						208. Perante a presença atraente e misteriosa de Deus, o 
						homem descobre a sua pequenez. Diante da sarça ardente, 
						Moisés descalça as sandálias e cobre o rosto face à 
						santidade divina 
						
						(Cf. Ex 3, 5-6). 
						Ante a glória do Deus três vezes santo, Isaías exclama:
						«ai de mim, que estou perdido, pois sou um homem de 
						lábios impuros» (Is. 6, 5). Perante os sinais 
						divinos realizados por Jesus. Pedro exclama: 
						«afasta-Te de mim, Senhor, porque eu sou um pecador» 
						(Lc. 5, 8). Mas porque Deus é santo, pode perdoar ao 
						homem que se descobre pecador diante d'Ele: «não 
						deixarei arder a minha indignação [...]. É que Eu sou 
						Deus, e não homem, o Santo que está no meio de vós» 
						(Os. 11, 9). E o apóstolo João dirá também: 
						«tranquilizaremos diante d'Ele, o nosso coração, se o 
						nosso coração vier a acusar-nos. Pois Deus é maior do 
						que o nosso coração e conhece todas as coisas» (1ª 
						Jo. 3, 19-20). 
						
						209. Por respeito pela santidade de Deus, o povo de 
						Israel não pronuncia o seu nome. Na leitura da Sagrada 
						Escritura, o nome revelado é substituído pelo título 
						divino de «Senhor» («Adonai», em grego 
						«Kyrios»). É sob este título que será aclamada a 
						divindade de Jesus: «Jesus é o Senhor». 
						
						«DEUS DE TERNURA E DE PIEDADE» 
						
						210. Depois do pecado de Israel, que se afastou de Deus 
						para adorar o bezerro de ouro 
						
						(Cf. Ex 32), 
						Deus atende a intercessão de Moisés e aceita caminhar no 
						meio dum povo infiel, manifestando deste modo o seu amor
						
						
						(Cf. Ex 33, 12-17). 
						A Moisés, que lhe pede a graça de ver a sua glória. Deus 
						responde: «farei passar diante de ti toda a minha 
						bondade (beleza) e proclamarei diante de ti o nome de 
						YHWH» (Ex. 33, 18-19). E o Senhor passa diante de 
						Moisés e proclama: «o Senhor, o Senhor [YHWH, YHWH] é 
						um Deus clemente e compassivo, sem pressa para se 
						indignar e cheio de misericórdia e fidelidade» (Ex. 
						34, 6). Moisés confessa, então, que o Senhor é «um 
						Deus de perdão» 
						
						(Cf. Ex 34, 9). 
						
						211. O nome divino «Eu sou» ou «Ele é» 
						exprime a fidelidade de Deus, que, apesar da 
						infidelidade do pecado dos homens e do castigo que 
						merece, «conserva a sua benevolência em favor de 
						milhares de pessoas» (Ex. 34, 7). Deus revela que é
						«rico de misericórdia» (Ef. 2, 4), ao 
						ponto de entregar o seu próprio Filho. Dando a vida para 
						nos libertar do pecado, Jesus revelará que Ele mesmo é 
						portador do nome divino: «quando elevardes o Filho do 
						Homem, então sabereis que Eu sou» (Jo. 8, 
						28). 
						
						SÓ DEUS É 
						
						212. No decorrer dos séculos, a fé de Israel pôde 
						desenvolver e aprofundar as riquezas contidas na 
						revelação do nome divino. Deus é único, fora d'Ele não 
						há deuses 
						
						(Cf. Is 44, 6). 
						Ele transcende o mundo e a história. Foi Ele que fez o 
						céu e a terra; «eles hão de passar, mas Vós 
						permaneceis; tal como um vestido, eles se vão gastando 
						[...] Vós, porém, sois sempre o mesmo e os vossos anos 
						não têm fim» (Sl. 102, 27-28). N'Ele «não 
						há variação nem sombra de mudança» (Tg. 1, 17). Ele 
						é «Aquele que é», desde sempre e para sempre; e 
						assim, permanece sempre fiel a Si mesmo e às suas 
						promessas. 
						
						213. A revelação do nome inefável «Eu sou Aquele que 
						sou» encerra, portanto, a verdade que só Deus «É». 
						Foi nesse sentido que já a tradução dos Setenta e, na 
						sua sequência, a Tradição da Igreja. compreenderam o 
						nome divino: Deus é a plenitude do Ser e de toda a 
						perfeição, sem princípio nem fim. Enquanto todas as 
						criaturas d'Ele receberam todo o ser e o ter, só Ele é o 
						seu próprio Ser, e Ele é por Si mesmo tudo o que Ele é. 
						
						III. Deus, «Aquele que é», é verdade e amor 
						
						214. Deus, «Aquele que É», revelou-Se a Israel 
						como Aquele que é «cheio de misericórdia e 
						fidelidade» (Ex. 34, 6). Estas duas palavras 
						exprimem, de modo sintético, as riquezas do nome divino. 
						Em todas as suas obras, Deus mostra a sua benevolência, 
						a sua bondade, a sua graça, o seu amor; mas também a sua 
						credibilidade, a sua constância, a sua fidelidade, a sua 
						verdade. «Hei de louvar o vosso nome pela vossa 
						bondade e fidelidade» (Sl. 138, 2) 
						
						(Cf. Sl 85, 11). 
						Ele é a verdade, porque «Deus é luz, e n'Ele não há 
						trevas nenhumas» (1ª Jo. 1, 5); Ele é 
						«Amor», como ensina o apóstolo João (1ª Jo. 
						4, 8). 
						
						DEUS É A VERDADE
 215. «A verdade é princípio da vossa palavra, é 
						eterna toda a sentença da vossa justiça» (Sl. 119, 
						160). «Decerto, Senhor Deus, Vós é que sois Deus e 
						dizeis palavras de verdade» (2º Sm. 7, 28); é 
						por isso que as promessas de Deus se cumprem sempre
						
						
						(Cf. Dt 7, 9). 
						Deus é a própria verdade; as suas palavras não podem 
						enganar. É por isso que nos podemos entregar com toda a 
						confiança e em todas as coisas à verdade e à fidelidade 
						da sua palavra. O princípio do pecado e da queda do 
						homem foi uma mentira do tentador, que o levou a duvidar 
						da palavra de Deus, da sua benevolência e da sua 
						fidelidade.
 
 216. A verdade de Deus é a sua sabedoria, que comanda 
						toda a ordem da criação e governo do mundo 
						
						(Cf. Sb 13, 1-9). 
						Só Deus que, sozinho, criou o céu e a terra 
						
						(Cf. Sl 115, 15) 
						pode dar o conhecimento verdadeiro de todas as coisas 
						criadas na sua relação com Ele 
						
						(Cf. Sb 7, 17-21).
 
						
						217. Deus é igualmente verdadeiro quando Se revela: todo 
						o ensinamento que vem de Deus é «doutrina de verdade» 
						(Ml. 2, 6). Quando Ele enviar o seu Filho 
						ao mundo, será «para dar testemunho da verdade» 
						(Jo. 18, 37): «sabemos [...] que veio o Filho 
						de Deus e nos deu entendimento para conhecermos o 
						Verdadeiro» (1ª Jo. 5, 20) 
						
						(Cf. Jo 17, 3). 
						
						DEUS É AMOR 
						
						218. No decorrer da sua história, Israel pôde descobrir 
						que Deus só tinha uma razão para Se lhe ter revelado e o 
						ter escolhido, de entre todos os povos, para ser o seu 
						povo: o seu amor gratuito 
						
						(Cf. Dt 4, 37; 7, 8: 10, 15). 
						E Israel compreendeu, graças aos seus profetas, que foi 
						também por amor que Deus não deixou de o salvar 
						
						(Cf. Is 43, 1-7) 
						e de lhe perdoar a sua infidelidade e os seus pecados
						
						
						(Cf. Os 2). 
						
						219. O amor de Deus para com Israel é comparado ao amor 
						dum pai para com o seu filho 
						
						(Cf. Os 11, 1). 
						Este amor é mais forte que o de uma mãe para com os seus 
						filhos 
						
						(Cf. Is 49, 14-15). 
						Deus ama o seu povo, mais que um esposo a sua bem-amada
						
						
						(Cf. Is 62, 4-5); 
						este amor vencerá mesmo as piores infidelidades 
						
						(Cf. Ez 16; Os 11); 
						e chegará ao mais precioso de todos os dons: «Deus 
						amou de tal maneira o mundo, que lhe entregou o seu 
						Filho Único» (Jo. 3, 16). 
						
						220. O amor de Deus é «eterno» (Is. 54, 8): 
						«ainda que as montanhas se desloquem e vacilem as 
						colinas, o meu amor não te abandonará» (Is. 
						54, 10). «Amei-te com amor eterno: por isso, guardei 
						o meu favor para contigo» (Jr, 31, 3). 
						
						221. São João irá ainda mais longe, ao afirmar: «Deus 
						é Amor» (1ª Jo 4, 8, 16): a própria essência 
						de Deus é Amor. Ao enviar, na plenitude dos tempos, o 
						seu Filho único e o Espírito de Amor, Deus revela o seu 
						segredo mais íntimo: Ele próprio é eternamente permuta 
						de amor: Pai, Filho e Espírito Santo; e destinou-nos a 
						tomar parte nessa comunhão. 
						
						IV. Consequências da fé no Deus Único 
						
						222. Crer em Deus, o Único, e amá-Lo com todo o nosso 
						ser, tem consequências imensas para toda a nossa vida: 
						
						223. É conhecer a grandeza e a majestade de Deus: 
						«Deus é grande demais para que O possamos conhecer» 
						(Job. 36, 26) 
						
						(Cf. 1ª Cor. 2, 7-16: Ef. 3, 9-12). 
						É por isso que Deus deve ser «o primeiro a ser 
						servido» 
						
						(Santa Joana D'Arc, Dito: Procès de 
						condamnation, ed. P. Tisset–Y. Lanhers. v. I (Paris 
						1960) p. 280 e 288). 
						
						224. É viver em ação de graças: Se Deus é o 
						Único, tudo o que nós somos e tudo quanto possuímos vem 
						d'Ele: «que possuis que não tenhas recebido»? (1ª 
						Cor. 4, 7). «Como agradecerei ao Senhor tudo 
						quanto Ele me deu»? (Sl. 116, 12). 
						
						225. É conhecer a unidade e a verdadeira dignidade de 
						todos os homens: todos eles foram feitos «à 
						imagem e semelhança de Deus» (Gn. 1, 26). 
						
						226. É fazer bom uso das coisas criadas: a fé no 
						Deus único leva-nos a usar de tudo quanto não for Ele, 
						na medida em que nos aproximar d'Ele, e a desprender-nos 
						de tudo, na medida em que d'Ele nos afastar 
						
						(Cf. Mt 5, 29-30: 16. 24: 19. 23-24):
 - «meu Senhor e meu Deus, tira-me tudo 
						o que me afasta de Ti.
 Meu Senhor e meu Deus, dá-me tudo o que me 
						aproxima de Ti.
 Meu Senhor e meu Deus, desapega-me de mim 
						mesmo, para que eu me dê todo a Ti» (S. 
						Nicolau de Flüe,
 Bruder-Klausen-Gebet, apud R. 
						Amschwand, Bruder Klaus. Ergänzungsband zum 
						Quellenwerk von R. Durrer (Sarnen 1987). p. 215).
 
						
						227. É ter confiança em Deus, em todas as 
						circunstâncias, mesmo na adversidade. Uma oração de 
						Santa Teresa de Jesus exprime admiravelmente tal 
						atitude: 
						
						
						«Nada te perturbe / Nada te espanteTudo passa / Deus não muda
 A paciência tudo alcança / Quem a Deus tem
 nada lhe falta / Só Deus basta»
						
						
						(Santa Teresa de Jesus. Poesía. 9: Biblioteca Mística 
						Carmelitana. v. 6 (Burgos 1919). p.
						
						90. 
						
						[Santa Teresa de Jesus, Obras Completas (Paço de
						Arcos. Edições Carmelo 1994) p. 1390).
 
						
						Resumindo: 
						
						228. «Escuta, Israel! O Senhor; nosso Deus, é o único 
						Senhor...» (Dt. 6, 4; Mc. 12, 29). «O ser 
						supremo tem necessariamente de ser único, isto é, sem 
						igual. [...] Se Deus não for único, não é Deus»
						
						
						(Tertuliano, Adversus Marcionem, I, 3, 5: CCL 1, 
						444 (PL 2. 274). 
						
						229. A fé em Deus leva-nos a voltarmo-nos só para 
						Ele, como a nossa primeira origem e o nosso último fim, 
						e a nada Lhe preferir ou por nada O substituir: 
						
						230. Deus, ao revelar-Se, continua mistério inefável: 
						«se O compreendesses, não seria Deus» 
						
						(Santo Agostinho, Sermo 52. 6. 16: ed. P. 
						Verbraken: Revue Bénédictine 74 (1964) 27 (PL 38. 
						360). 
						
						231. O Deus da nossa fé revelou-Se como Aquele 
						que é: deu-Se a conhecer como «cheio de misericórdia 
						e fidelidade» (Ex. 34, 6). O seu próprio Ser é 
						verdade e amor. |  
                      |  |  
                      | 
						
						
						
						PARÁGRAFO 2
						 
						
						
						O PAI 
						
						I. «Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo» 
						
						232. Os cristãos são batizados «em nome do Pai e do 
						Filho e do Espírito Santo» (Mt. 28, 19). 
						Antes disso, eles respondem «Creio» à tríplice 
						pergunta com que são interpelados a confessar a sua fé 
						no Pai, no Filho e no Espírito Santo: «Fides omnium 
						christianorum in Trinitate consistit - A fé de todos os 
						cristãos assenta na Trindade» 
						
						(São 
						Cesário de Arles. Expositio vel traditio Symboli 
						(sermo 9): CCL 103. 47). 
						
						233. Os cristãos são batizados «em nome» do Pai e 
						do Filho e do Espírito Santo, e não «nos nomes» 
						deles porque não há senão um só Deus - o Pai 
						Omnipotente, o Seu Filho Unigênito e o Espírito Santo: a 
						Santíssima Trindade 
						
						(Cf. Vigílio, Professio fidei (522): DS 415). 
						
						234. O mistério da Santíssima Trindade é o 
						mistério central da fé e da vida cristã. É o mistério de 
						Deus em si mesmo. E, portanto, a fonte de todos os 
						outros mistérios da fé e a luz que os ilumina. É o 
						ensinamento mais fundamental e essencial na 
						«hierarquia das verdades da fé» 
						
						(Cf. Sagrada Congregação do Clero, Directorium 
						catechisticum generale, 43: AAS (1972)123).
						«Toda a história da salvação não é senão a história 
						do caminho e dos meios pelos quais o Deus verdadeiro e 
						único, Pai, Filho e Espírito Santo, Se revela, 
						reconcilia consigo e Se une aos homens que se afastam do 
						pecado» 
						
						(Ibid., 47). 
						
						235. Neste parágrafo se exporá brevemente de que 
						maneira foi revelado o mistério da Santíssima Trindade 
						(I), como é que a Igreja formulou a doutrina da fé sobre 
						este mistério (II) e, por fim, como é que, pelas missões 
						divinas do Filho e do Espírito Santo, Deus Pai realiza o 
						seu «desígnio de benevolência» de criação, 
						redenção e santificação (III). 
						
						236. Os Padres da Igreja distinguem entre «Theologia» 
						e «Oikonomia», designando pelo primeiro termo o 
						mistério da vida íntima de Deus-Trindade e, pelo 
						segundo, todas as obras de Deus pelas quais Ele Se 
						revela e comunica a sua vida. É pela «Oikonomia» 
						que nos é revelada a «Theologia»; mas, 
						inversamente, é a «Theologia» que esclarece toda 
						a «Oikonomia». As obras de Deus revelam quem Ele 
						é em Si mesmo: e, inversamente, o mistério do seu Ser 
						íntimo ilumina o entendimento de todas as suas obras. 
						Analogicamente, é o que se passa com as pessoas humanas. 
						A pessoa revela-se no que faz, e, quanto mais conhecemos 
						uma pessoa, tanto melhor compreendemos o seu agir. 
						
						237. A Trindade é um mistério de fé em sentido estrito, 
						um dos «mistérios ocultos em Deus, que não podem ser 
						conhecidos se não forem revelados lá do alto» 
						
						(I Concílio do Vaticano. Const. dogm. Dei Filius, c.
						4: DS 3015). 
						É verdade que Deus deixou traços do seu Ser trinitário 
						na obra da criação e na sua revelação ao longo do Antigo 
						Testamento. Mas a intimidade do seu Ser como Trindade 
						Santíssima constitui um mistério inacessível à razão 
						sozinha e, mesmo, à fé de Israel antes da Encarnação do 
						Filho de Deus e da missão do Espírito Santo. 
						
						II. A revelação de Deus como Trindade 
						
						O PAI REVELADO PELO FILHO 
						
						238. A invocação de Deus como «Pai» é conhecida 
						em muitas religiões. A divindade é muitas vezes 
						considerada como «pai dos deuses e dos homens». 
						Em Israel, Deus é chamado Pai enquanto criador do mundo
						
						
						(Cf. Dt. 32. 6: Ml. 2. 10). 
						Mais ainda, Deus é Pai em razão da Aliança e do dom da 
						Lei a Israel, seu «Filho primogênito» (Ex. 4, 
						22). Também é chamado Pai do rei de Israel (Cf. 
						2º Sm. 7, 14). 
						E é muito especialmente «o Pai dos pobres», do 
						órfão e da viúva, entregues à sua proteção amorosa
						
						
						(Cf. Sl 68, 6). 
						
						239. Ao designar Deus com o nome de «Pai», a 
						linguagem da fé indica principalmente dois aspectos: que 
						Deus é a origem primeira de tudo e a autoridade 
						transcendente, e, ao mesmo tempo, que é bondade e 
						solicitude amorosa para com todos os seus filhos. Esta 
						ternura paternal de Deus também pode ser expressa pela 
						imagem da maternidade 
						
						(Cf. Is 66, 13: Sl 131, 2), 
						que indica melhor a imanência de Deus, a intimidade 
						entre Deus e a sua criatura. A linguagem da fé vai, 
						assim, alimentar-se na experiência humana dos 
						progenitores, que são, de certo modo, os primeiros 
						representantes de Deus para o homem. Mas esta 
						experiência diz também que os progenitores humanos são 
						falíveis e podem desfigurar a face da paternidade e da 
						maternidade. Convém, então, lembrar que Deus transcende 
						a distinção humana dos sexos. Não é homem nem mulher: é 
						Deus. Transcende também a paternidade e a maternidade 
						humanas 
						
						(Cf. Sl. 27, 10), 
						sem deixar de ser de ambas a origem e a medida 
						
						(Cf. Ef. 3, 14-15: Is. 49, 15): 
						ninguém é pai como Deus. 
						
						240. Jesus revelou que Deus é «Pai» num sentido 
						inédito: não o é somente enquanto Criador: é Pai 
						eternamente em relação ao seu Filho único, o qual, 
						eternamente, só é Filho em relação ao Pai: «ninguém 
						conhece o Filho senão o Pai, nem ninguém conhece o Pai 
						senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar» 
						(Mt. 11, 27). 
						
						241. É por isso que os Apóstolos confessam que Jesus é
						«o Verbo [que] estava [no princípio] junto de Deus» 
						e que é Deus (Jo. 1, 1), «a imagem do Deus 
						invisível» (Cl. 1, 15), «o resplendor da 
						sua glória e a imagem da sua substância» (Heb.
						1, 3). 
						
						242. Na esteira deles, seguindo a tradição apostólica, 
						no primeiro concílio ecumênico de Niceia, em 325, a 
						Igreja confessou que o Filho é «consubstancial» 
						ao Pai 
						
						(Símbolo 
						de Nicéia: 
						
						DS 125), 
						quer dizer, um só Deus com Ele. O segundo concilio 
						ecumênico, reunido em Constantinopla em 381, guardou 
						esta expressão na sua formulação do Credo de Niceia e 
						confessou «o Filho unigênito de Deus, nascido do Pai 
						antes de todos os séculos, luz da luz. Deus verdadeiro 
						de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial 
						ao Pai» 
						
						(Símbolo 
						Niceno-Constantinopolitano: 
						
						DS 150). 
						
						O PAI E O FILHO REVELADOS PELO ESPÍRITO 
						
						243. Antes da sua Páscoa, Jesus anuncia o envio de um 
						«outro Paráclito» (Defensor), o Espírito Santo. 
						Agindo desde a criação 
						
						(Cf. Gn. 1. 2) 
						e tendo outrora «falado pelos profetas» 
						
						(Símbolo 
						Niceno-Constantinopolitano: 
						
						DS 150), 
						o Espírito Santo estará agora junto dos discípulos, e 
						neles 
						
						(Cf. Jo. 14, 17), 
						para os ensinar 
						
						(Cf. Jo 14, 26) 
						e os guiar «para a verdade total» (Jo. 16, 
						13). E, assim, o Espírito Santo é revelado como uma 
						outra pessoa divina, em relação a Jesus e ao Pai. 
						
						244. A origem eterna do Espírito revela-se na sua missão 
						temporal. O Espírito Santo é enviado aos Apóstolos e à 
						Igreja, tanto pelo Pai, em nome do Filho, como 
						pessoalmente pelo Filho, depois do seu regresso ao Pai
						
						
						(Cf. Jo. 14, 26: 15. 26; 16, 14). 
						O envio da pessoa do Espírito, após a glorificação de 
						Jesus 
						
						(Cf. Jo. 7, 39) 
						revela em plenitude o mistério da Santíssima Trindade. 
						
						245. A fé apostólica relativamente ao Espírito foi 
						confessada pelo segundo concilio ecumênico, reunido em 
						Constantinopla em 381:«nós acreditamos no Espírito 
						Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai»
						
						
						(Símbolo 
						Niceno-Constantinopolitano: 
						
						DS 150). 
						A Igreja reconhece assim o Pai como «a fonte e a 
						origem de toda a Divindade» 
						
						(VI Concílio de Toledo (em 638), De Trinitate et de 
						Filio Dei Redemptore incarnato: DS 490). 
						Mas a origem eterna do Espírito Santo não está desligada 
						da do Filho: «o Espírito Santo, que é a terceira 
						pessoa da Trindade, é Deus, uno e igual ao Pai e ao 
						Filho, da mesma substância e também da mesma natureza... 
						Contudo, não dizemos que Ele é somente o Espírito do 
						Pai, mas, ao mesmo tempo, o Espírito do Pai e do Filho»
						
						
						(XI Concílio de Toledo (ano 675), Symbolum: DS 
						527). 
						O Credo do Concílio de Constantinopla da Igreja confessa 
						que Ele, «com o Pai e o Filho, é adorado e 
						glorificado» 
						
						(Símbolo 
						Niceno Constantinopolitano: 
						
						DS 150). 
						
						246. A tradição latina do Credo confessa que o 
						Espírito «procede do Pai e do Filho (Filioque)». 
						O Concílio de Florença, em 1438, explicita: «o 
						Espírito Santo [...] recebe a sua essência e o seu ser 
						ao mesmo tempo do Pai e do Filho, e procede eternamente 
						de um e do outro como dum só Princípio e por uma só 
						espiração [...] E porque tudo o que é do Pai, o próprio 
						Pai o deu ao seu Filho Unigênito, gerando-O, com exceção 
						do seu ser Pai, esta mesma procedência do Espírito 
						Santo, a partir do Filho, Ele a tem eternamente do seu 
						Pai, que eternamente O gerou» 
						
						(Concílium de Florença. Decretum pro Graecis: DS 
						1300-1301). 
						
						247. A afirmação do Filioque não figurava no 
						Símbolo de Constantinopla de 381. Mas, com base numa 
						antiga tradição latina e alexandrina, o Papa São Leão já 
						a tinha confessado dogmaticamente em 447 
						
						(Cf. São Leão Magno, Ep. Quam laudabiliter: DS 
						284), 
						mesmo antes de Roma ter conhecido e recebido o Símbolo 
						de 381 no Concílio de Calcedónia, em 451. O uso desta 
						fórmula no Credo foi sendo, pouco a pouco, admitido na 
						liturgia latina (entre os séculos VIII e XI). A 
						introdução do Filioque no Símbolo 
						Niceno-Constantinopolitano pela liturgia latina 
						constitui, ainda hoje, no entanto, um diferendo com as 
						igrejas ortodoxas. 
						
						248. A tradição oriental exprime, antes de mais, o 
						caráter de origem primeira do Pai em relação ao 
						Espírito. Ao confessar o Espírito como «saído do Pai» 
						(Jo. 15, 26), afirma que Ele procede do 
						Pai pelo Filho 
						
						(II Concílio Vaticano, Decr. Ad gentes: AAS 58 
						(1966) 948). 
						A tradição ocidental exprime, sobretudo, a comunhão 
						consubstancial entre o Pai e o Filho, ao dizer que o 
						Espírito Santo procede do Pai e do Filho (Filioque).
						E o diz «de maneira legítima e razoável»
						
						
						(Concílio de Florença, Decretum pro Graecis (ano 
						1439): DS 1302),
						«porque a ordem eterna das pessoas divinas na sua 
						comunhão consubstancial implica que o Pai seja a origem 
						primeira do Espírito, enquanto princípio sem princípio»
						
						
						(Concílio de Florença, Decretum pro Iacobitis (ano
						1442): DS 1331), 
						mas também que, enquanto Pai do Filho Único, seja 
						com Ele «o princípio único de que procede o Espírito 
						Santo» 
						
						(II Concílio de Lião, Constitutio de Summa Trinitate 
						et fide catholica (ano 1274): DS 850). 
						Esta legítima complementaridade, se não for exagerada, 
						não afeta a identidade da fé na realidade do mesmo 
						mistério confessado. 
						
						III. A Santíssima Trindade na doutrina da fé 
						
						A FORMAÇÃO DO DOGMA TRINITÁRIO 
						
						249. A verdade revelada da Santíssima Trindade esteve, 
						desde a origem, na raiz da fé viva da Igreja. 
						principalmente por meio do Batismo. Encontra a sua 
						expressão na regra da fé batismal, formulada na 
						pregação, na catequese e na oração da Igreja. Tais 
						formulações encontram-se já nos escritos apostólicos, 
						como o comprova esta saudação retomada na liturgia 
						eucarística: «a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor 
						de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todas 
						vós» (2ª Cor. 13, 13) 
						
						(Cf. 1ª Cor. 12, 4-6; Ef. 4, 4-6). 
						
						250. No decurso dos primeiros séculos, a Igreja 
						preocupou-se com formular mais explicitamente a sua fé 
						trinitária, tanto para aprofundar a sua própria 
						inteligência da fé, como para a defender contra os erros 
						que a deformavam. Foi esse o trabalho dos primeiros 
						concílios, ajudados pelo trabalho teológico dos Padres 
						da Igreja e sustentados pelo sentido da fé do povo 
						cristão. 
						
						251. Para a formulação do dogma da Trindade, a Igreja 
						teve de elaborar uma terminologia própria, com a ajuda 
						de noções de origem filosófica: «substância», 
						«pessoa» ou «hipóstase», «relação», 
						etc. Ao fazer isto, a Igreja não sujeitou a fé a uma 
						sabedoria humana, mas deu um sentido novo, inédito, a 
						estes termos, chamados a exprimir também, desde então, 
						um mistério inefável, «transcendendo infinitamente 
						tudo quanto podemos conceber a nível humano» 
						
						(Paulo VI, Sollemnis Professio fidei, 9: AAS 60 
						(1968) 437). 
						
						252. A Igreja utiliza o termo «substância» (às 
						vezes também traduzido por «essência» ou 
						«natureza») para designar o ser divino na sua 
						unidade; o termo «pessoa» ou «hipóstase» 
						para designar o Pai, o Filho e o Espírito Santo na 
						distinção real entre Si; e o termo «relação» para 
						designar o fato de que a sua distinção reside na 
						referência recíproca de uns aos outros.O DOGMA DA SANTÍSSIMA TRINDADE
 
						
						253. A Trindade é una. Nós não confessamos três 
						deuses, mas um só Deus em três pessoas: «a Trindade 
						consubstancial» 
						
						(II Concílio de Constantinopla (ano 553), 
						Anathematismi de tribus Capitulis. 1: DS 421). 
						As pessoas divinas não dividem entre Si a divindade 
						única: cada uma delas é Deus por inteiro: «o Pai é 
						aquilo mesmo que o Filho, o Filho aquilo mesmo que o 
						Pai, o Pai e o Filho aquilo mesmo que o Espírito Santo, 
						ou seja, um único Deus por natureza» 
						
						(XI Concílio de Toledo (ano 675). Symbolum: DS 
						530).
						«Cada uma das três pessoas é esta realidade, quer 
						dizer, a substância, a essência ou a natureza divina»
						
						
						(IV Concílio de Latrão (ano 1215), Cap. 2. De errore 
						abbatis Ioachim: DS 804). 
						
						254. As pessoas divinas são realmente distintas entre 
						Si. «Deus é um só, mas não solitário» 
						
						(Fides 
						Damasi: 
						
						DS 71).
						«Pai», «Filho», «Espírito Santo» 
						não são meros nomes que designam modalidades do ser 
						divino, porque são realmente distintos entre Si. 
						«Aquele que é o Filho não é o Pai e Aquele que é o Pai 
						não é o Filho, nem o Espírito Santo é Aquele que é o Pai 
						ou o Filho» 
						
						(XI Concílio de Toledo (ano 675). Symbolum: DS 
						530). 
						São distintos entre Si pelas suas relações de origem: 
						«o Pai gera, o Filho é gerado, o Espírito Santo procede»
						
						
						(IV Concílio de Latrão (ano 1215). Cap. 2, De errore 
						abbatis Ioachim: DS 804). 
						A unidade divina é trina. 
						
						255. As pessoas divinas são relativas umas às outras.
						Uma vez que não divide a unidade divina, a distinção 
						real das pessoas entre Si reside unicamente nas relações 
						que as referenciam umas às outras: «nos nomes 
						relativos das pessoas, o Pai é referido ao Filho, o 
						Filho ao Pai, o Espírito Santo a ambos. Quando falamos 
						destas três pessoas, considerando as relações 
						respectivas, cremos, todavia, numa só natureza ou 
						substância» 
						
						(XI Concílio de Toledo (ano 675). Symbolum: DS 
						528). 
						Com efeito, «n'Eles tudo é um, onde não há a oposição 
						da relação» 
						
						(Concílio de Florença, Decretum pro Iacobitis 
						(ano 1442): DS 1330).
						«Por causa desta unidade, o Pai está todo no Filho e 
						todo no Espírito Santo: o Filho está todo no Pai e todo 
						no Espírito Santo: o Espírito Santo está todo no Pai e 
						todo no Filho» 
						
						(Concílio de Florença, Decretum pro Iacobitis 
						(ano 1442): DS 1331). 
						
						256. São Gregório de Nazianzo, também chamado «o 
						Teólogo», confia aos catecúmenos de Constantinopla o 
						seguinte resumo da fé trinitária: 
						
						
						- «antes de mais nada, guardai-me este bom depósito, 
						pelo qual vivo e combato, com o qual quero morrer, que 
						me dá coragem para suportar todos os males e desprezar 
						todos os prazeres: refiro-me à profissão de fé no Pai e 
						no Filho e no Espírito Santo. Eu vo-la confio hoje. É 
						por ela que, daqui a instantes, eu vou mergulhar-vos na 
						água e dela fazer-vos sair. Eu vo-la dou por companheira 
						e protetora de toda a vossa vida. Dou-vos uma só 
						Divindade e Potência, uma nos Três e abrangendo os Três 
						de maneira distinta. Divindade sem diferença de 
						substância ou natureza, sem grau superior que eleve nem 
						grau inferior que abaixe [...] É de três infinitos a 
						infinita conaturalidade. Deus integralmente, cada um 
						considerado em Si mesmo [...] Deus, os Três considerados 
						juntamente [...] Assim que comecei a pensar na Unidade 
						logo me encontrei envolvido no esplendor da Trindade. 
						Mal começo a pensar na Trindade, logo à Unidade sou 
						reconduzido»
						
						
						(São Gregório de Nazianzo, Oratio 40. 41: SC 358, 
						292-294 (PG 36, 417)). 
						
						IV. As obras divinas e as missões trinitárias 
						
						257. «O lux beata Trinitas et principalis Unitas! - Ó 
						Trindade. Luz ditosa, ó primordial Unidade»! 
						
						(Hino 
						das II Vésperas 
						
						de Domingo, nas semanas 2 e 4: Liturgia 
						Horarum, editio typica, 3 (Typis Poliglottis 
						Vaticanis Poliglottis Vaticanis 1974) p. 632 e 879 [Este 
						hino está traduzido na ed. portuguesa: 
						Liturgia das Horas (Gráfica de Coimbra 1983), v. 3, 
						p. 86 e N. 4, p. 86]). 
						Deus é eterna bem-aventurança, vida imortal, luz sem 
						ocaso. Deus é amor: Pai, Filho e Espírito Santo. 
						Livremente. Deus quer comunicar a glória da sua vida 
						bem-aventurada. Tal é o «mistério da sua vontade» 
						(Ef. 1, 9) que Ele concebeu antes da 
						criação do mundo em seu Filho muito-amado, uma vez que 
						nos «destinou de antemão a que nos tornássemos seus 
						filhos adotivos por Jesus Cristo» (Ef. 1, 5), 
						quer dizer, a sermos «conformes à imagem do seu 
						Filho» (Rm. 8, 29), graças ao «Espírito 
						que faz de vós filhos adotivos» (Rm. 8,
						15). Este desígnio é uma «graça que nos foi dada 
						[...] desde toda a eternidade» (2ª Tm. 1, 9), 
						a qual procede imediatamente do amor trinitário. E este 
						amor manifesta-se na obra da criação, em toda a história 
						da salvação depois da queda, e nas missões do Filho e do 
						Espírito, continuadas pela missão da Igreja 
						
						(I Concílio de Vaticano, Decr. Ad gentes, 2-9: 
						AAS 58 (1966) 948-958). 
						
						258. Toda a economia divina é obra comum das três 
						pessoas divinas. Assim como não tem senão uma e a mesma 
						natureza, a Trindade não tem senão uma e a mesma 
						operação 
						
						(II Concílio de Constantinopla (ano 553), 
						Anathematismi de tribus Capitulis, 1: DS 421).
						«O Pai, o Filho e o Espírito Santo não são três 
						princípios das criaturas, mas um só princípio»
						
						
						(Concílio de Florença, Decretum pro Incobitis 
						(ano 1442): DS 1331). 
						No entanto, cada pessoa divina realiza a obra comum 
						segundo a sua propriedade pessoal. É assim que a Igreja 
						confessa, na sequência do Novo Testamento 
						
						(Cf. 1ª Cor. 8, 6),
						«um só Deus e Pai, de Quem são todas as coisas; um só 
						Senhor Jesus Cristo, para Quem são todas as coisas; e um 
						só Espírito Santo, em Quem são todas as coisas»
						
						
						(II Concílio de Constantinopla (ano 553). 
						Anathematismi de tribus Capitulis, 1: DS 421). 
						São sobretudo as missões divinas da Encarnação do Filho 
						e do dom do Espírito Santo que manifestam as 
						propriedades das pessoas divinas. 
						
						259. Obra ao mesmo tempo comum e pessoal, toda a 
						economia divina faz conhecer não só a propriedade das 
						pessoas divinas, mas também a sua única natureza. Por 
						isso, toda a vida cristã é comunhão com cada uma das 
						pessoas divinas, sem de modo algum as separar. Todo 
						aquele que dá glória ao Pai, o faz pelo Filho no 
						Espírito Santo: todo aquele que segue Cristo, o faz 
						porque o Pai o atrai 
						
						(Cf. Jo. 6. 44) 
						e o Espírito o move 
						
						(Cf. Rm 8, 14). 
						
						260. O fim último de toda a economia divina é o acesso 
						das criaturas à unidade perfeita da bem-aventurada 
						Trindade 
						
						(Cf. Jo 17, 21-23). 
						Mas já desde agora nós somos chamados a ser habitados 
						pela Santíssima Trindade: «quem me tem amor, diz o 
						Senhor, porá em prática as minhas palavras. Meu Pai, 
						amá-lo-á; nós viremos a ele e faremos nele a nossa 
						morada» (Jo. 14, 23): 
						
						
						- «ó meu Deus, Trindade que eu adoro, ajudai-me a 
						esquecer-me inteiramente de mim, para me estabelecer em 
						Vós, imóvel e pacifica como se já a minha alma estivesse 
						na eternidade. Que nada possa perturbar a minha paz, nem 
						me fazer sair de Vós, ó meu Imutável, mas que cada 
						minuto me leve mais longe na profundeza do vosso 
						mistério! Pacificai a minha alma, fazei dela o vosso 
						céu, vossa morada querida e o lugar do vosso repouso. 
						Que nunca aí eu Vos deixe só, mas que esteja lá 
						inteiramente, toda desperta na minha fé, toda em 
						adoração, toda entregue à vossa ação criadora»
						
						
						(Beata Isabel da Trindade, Élévation à la Trinité: 
						Écrits spirituels. 50. ed. M. M. Philipon (Paris 
						1949), p. 80. [Escritos espirituais (Oeiras, 
						Edições Carmelo 1989) p. 327]). 
						
						Resumindo: 
						
						261. O mistério da Santíssima Trindade é o mistério 
						central da fé e da vida cristã. Só Deus pode dar-nos o 
						seu conhecimento, revelando-Se como Pai, Filho e 
						Espírito Santo. 
						
						262. A Encarnação do Filho de Deus revela que Deus é 
						o Pai eterno, e que o Filho é consubstancial ao Pai, 
						quer dizer que n'Ele e com Ele é o mesmo e único Deus. 
						
						263. A missão do Espírito Santo, enviado pelo Pai em 
						nome do Filho 
						
						(Cf. 
						Jo. 14, 26) 
						e pelo Filho «de junto do Pai» 
						
						(Jo. 15, 26), revela que Ele é, com Eles, o 
						mesmo e único Deus. «Com o Pai e o Filho é adorado e 
						glorificado» 
						
						(Símbolo Niceno-Constantinopolitano: 
						
						DS 150). 
						
						264. «O Espírito Santo procede do Pai enquanto fonte 
						primeira; e, pelo dom eterno do Pai ao Filho, procede do 
						Pai e do Filho em comunhão» 
						
						(Santo Agostinho, De Trinitate 15, 26, 47: CCL 
						50A, 529 (PL 42. 1095). 
						
						265. Pela graça do Batismo «em nome do Pai e do Filho 
						e do Espírito Santo», (Mt 28, 19), somos chamados a 
						participar na vida da Trindade bem-aventurada; para já, 
						na obscuridade da fé, e depois da morte na luz eterna
						
						
						(Paulo VI, Sollemnis Processio fidei, 9: AAS 60 
						(1968) 436). 
						
						266. «Fides autem catholica haec est, ut unum Deum in 
						Trinitate, et Trinitatem in unitate veneremur, neque 
						confundentes personas, neque substantiam sepa-raptes; 
						alia enim est persona Patris, alia Filii, alia Spiritus 
						Sancti: sed Patris et Filii et Spiritus Sancti una est 
						divinitas, aequalis gloria, coaeterna majestas 
						
						
						(Símbolo 
						Quicumque: 
						
						DS 75) 
						- A fé católica é esta: venerarmos um só Deus na 
						Trindade e a Trindade na unidade, sem confundir as 
						Pessoas nem dividir a substância: porque uma é a Pessoa 
						do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo; mas 
						do Pai e do Filho e do Espírito Santo é só uma a 
						divindade, igual a glória e coaeterna a majestade». 
						
						267. Inseparáveis no que são, as pessoas divinas são 
						também inseparáveis no que fazem. Mas, na operação 
						divina única, cada uma manifestação que lhe é próprio na 
						Trindade, sobretudo nas missões divinas da Encarnação do 
						Filho e do dom do Espírito Santo. |  
                      |  |  
                      | 
						
						
						
						PARÁGRAFO 3 
						
						
						O TODO-PODEROSO 
						
						268. De todos os atributos divinos, só a omnipotência é 
						nomeada no Símbolo: confessá-la é de grande alcance para 
						a nossa vida. Nós acreditamos que ela é universal,
						porque Deus, que tudo criou 
						
						(Cf. Gn. 1, 1; Jo. 1, 3), 
						tudo governa e tudo pode; amorosa, porque Deus é 
						nosso Pai 
						
						(Cf. Mt. 6, 9);
						misteriosa, porque só a fé a pode descobrir, 
						quando «ela atua plenamente na fraqueza» (2ª Cor.
						12, 9) 
						
						(Cf. 1ª Cor. 1, 18) 
						
						«FAZ TUDO QUANTO LHE APRAZ» 
						(Sl. 115, 3) 
						
						269. As Sagradas Escrituras confessam, a cada passo, o 
						poder universal de Deus. Ele é chamado «o 
						Poderoso de Jacob» (Gn. 49, 24; Is 1, 
						24: etc.) «o Senhor dos Exércitos», «o Forte, 
						o Poderoso» (SI. 24, 8-10). Se Deus é 
						onipotente «no céu e na terra» (Sl. 135, 
						6), é porque foi Ele quem os fez. Portanto, nada lhe é 
						impossível 
						
						(Cf. Jr. 32, 17; Lc. 1, 37) 
						e Ele dispõe à vontade da sua obra 
						
						(Cf. Jr. 27, 5); 
						Ele é o Senhor do Universo, cuja ordem foi por Ele 
						estabelecida e Lhe permanece inteiramente submissa e 
						disponível; Ele é o Senhor da história; governa os 
						corações e os acontecimentos segundo a sua vontade
						
						
						(Cf. Est 4c. 17: Pr 21, 1;Tb 13, 2):
						«o vosso poder imenso sempre vos assiste - e quem 
						poderá resistir à força do Vosso braço»? (Sb. 
						11, 21). 
						
						«PORQUE PODEIS TUDO, DE TODOS VOS COMPADECEIS» 
						(Sb. 11, 23) 
						
						270. Deus é o Pai todo-poderoso. A sua 
						paternidade e o seu poder esclarecem-se mutuamente. Com 
						efeito, Ele mostra a sua onipotência paterna pelo modo 
						como cuida das nossas necessidades 
						
						(Cf. Mt. 6, 32) 
						pela adoção filial que nos concede («serei para vós 
						um Pai e vós sereis para Mim filhos e filhas, diz o 
						Senhor todo poderoso»: 2ª Cor. 6, 18); enfim, 
						pela sua infinita misericórdia, pois mostra o seu poder 
						no mais alto grau, perdoando livremente os pecados. 
						
						271. A onipotência divina não é, de modo algum, 
						arbitrária: «em Deus, o poder e a essência, a vontade 
						e a inteligência, a sabedoria e a justiça, são uma só e 
						a mesma coisa, de modo que nada pode estar no poder 
						divino que não possa estar na justa vontade de Deus ou 
						na sua sábia inteligência» 
						
						(São Tomás De Aquino, Summa theologiae 1, q. 25, 
						a. 5, ad 1: Ed Leon. 4). 
						
						O MISTÉRIO DA APARENTE IMPOTÊNCIA DE DEUS 
						
						272. A fé em Deus Pai todo-poderoso pode ser posta à 
						prova pela experiência do mal e do sofrimento. Por 
						vezes, Deus pode parecer ausente e incapaz de impedir o 
						mal. Ora, Deus Pai revelou a sua onipotência do modo 
						mais misterioso, na humilhação voluntária e na 
						ressurreição de seu Filho, pelas quais venceu o mal. Por 
						isso, Cristo crucificado é «força de Deus e sabedoria 
						de Deus. Pois o que é loucura de Deus é mais sábio do 
						que os homens, e o que é fraqueza de Deus é mais forte 
						do que os homens» (1ª Cor. 1, 25). Foi na 
						ressurreição e na exaltação de Cristo que o Pai 
						«exerceu a eficácia da [sua] poderosa força» e mostrou a 
						«incomensurável grandeza que representa o seu poder para 
						nós, os crentes» (Ef. 1, 19-22). 
						
						273. Só a fé pode aderir aos caminhos misteriosos da 
						onipotência de Deus. Esta fé gloria-se nas suas 
						fraquezas, para atrair a si o poder de Cristo 
						
						(Cf. 2ª Cor. 12, 9: Fl. 4. 13). 
						Desta fé é modelo supremo a Virgem Maria, pois acreditou 
						que «a Deus nada é impossível» (Lc. 1, 37) 
						e pôde proclamar a grandeza do Senhor: «o 
						Todo-Poderoso fez em mim maravilhas; 'Santo' – é o seu 
						nome» (Lc. 1, 49). 
						
						274. «Portanto, nada é mais próprio para firmar a 
						nossa fé e a nossa confiança do que a convicção, 
						profundamente arraigada nas nossas almas, de que nada é 
						impossível a Deus. Tudo o que [o Credo] seguidamente nos 
						propõe para crer, as coisas maiores, as mais 
						incompreensíveis, bem como as mais sublimes e mais acima 
						das leis ordinárias da Natureza, basta que a nossa razão 
						tenha a ideia da onipotência divina para as admitir 
						facilmente e sem hesitação alguma» 
						
						(Cat. Rom. I, 2, 13, p. 31). 
						
						Resumindo:
 275. Confessamos com o justo Job: «eu sei que podeis 
						tudo e que, para Vós, nenhum projeto é impossível» 
						(Job. 42, 2).
 
						
						276. Fiel ao testemunho da Escritura, a Igreja dirige 
						muitas vezes a sua oração ao «Deus todo-poderoso e 
						eterno» (omnipotens sempiterne Deus), crendo 
						firmemente que «a Deus nada é impossível» 
						
						(Lc. 1, 37) (Cf. Gn 18. 14: Mt 19, 
						26). 
						
						277. Deus manifesta a sua onipotência convertendo-nos 
						dos nossos pecados e restabelecendo-nos na sua amizade 
						pela graça («Deus qui omnipotentiam tuam parcendo maxime 
						et miserando manifestas» – «Senhor; que dais a maior 
						prova do vosso poder quando perdoais e Vos compadeceis»)
						
						
						(Domingo 
						XXVI do Tempo Comum, Colecta: Missale Romanum. 
						
						
						editio typica (Typis Polyglottis Vaticanis 1970), p. 
						365 [Trad. oficial portuguesa: Missal Romano, 
						Gráfica de Coimbra 1992. p. 420]).278. Se não crermos que o amor de Deus é onipotente, 
						como poderemos crer que o Pai pôde criar-nos, o Filho 
						remir-nos e o Espírito Santo santificar-nos? |  
                      |  |  
                      | 
						
						
						
						PARÁGRAFO 4 
						
						
						O CRIADOR 
						
						279. «No princípio, Deus criou o céu e a terra» 
						(Gn. 1, 1). É com estas palavras solenes que 
						começa a Sagrada Escritura. E o Símbolo da fé retoma-as, 
						confessando a Deus, Pai todo-poderoso, como «Criador 
						do céu e da terra» 
						
						(Símbolo 
						dos Apóstolos: 
						
						DS 30),
						«de todas as coisas, visíveis e invisíveis»
						
						
						(Símbolo 
						Niceno-Constantinopolitano: 
						
						DS 150). 
						Vamos, portanto, falar primeiro do Criador, depois da 
						sua criação, e, finalmente, da queda do pecado, de que 
						Jesus, Filho de Deus, nos veio Libertar. 
						
						280. A criação é o fundamento de «todos os 
						desígnios salvíficos de Deus», «o princípio da 
						história da salvação» 
						
						(Cf.
						
						
						Sagrada Congregação do Clero, Directorium 
						catechisticum generale, 51: AAS 64 (1972) 128), 
						que culmina em Cristo. Por seu lado, o mistério de 
						Cristo derrama sobre o mistério da criação a luz 
						decisiva; revela o fim, em vista do qual «no 
						princípio Deus criou o céu e a terra» (Gn. 1, 
						1): desde o princípio, Deus tinha em vista a glória da 
						nova criação em Cristo 
						
						(Cf.
						
						
						Rm. 8, 18-23). 
						
						281. É por isso que as leituras da Vigília Pascal, 
						celebração da nova criação em Cristo, começam pela 
						narrativa da criação. Do mesmo modo, na liturgia 
						bizantina, a narrativa da criação constitui sempre a 
						primeira leitura das vigílias das grandes festas do 
						Senhor. Segundo o testemunho dos antigos, a instrução 
						dos catecúmenos para o Batismo segue o mesmo caminho
						
						
						(Cf. Egria, Itinerarium seu Peregrinatio ad loca 
						sancta 46, 2: SC 296, 308: PLS 1, 1089-1090: 
						Santo Agostinho. De catechizandis rudibus 3, 5: 
						CCL 46. 124 (PL 40, 313). 
						
						I. A catequese sobre a criação 
						
						282. A catequese sobre a criação reveste-se duma 
						importância capital. Diz respeito aos próprios 
						fundamentos da vida humana e cristã, porque torna 
						explícita a resposta da fé cristã à questão elementar 
						que os homens de todos os tempos têm vindo a pôr-se: 
						«de onde vimos»? «Para onde vamos»? «Qual a nossa 
						origem»? «Qual o nosso fim»? «Donde vem e 
						para onde vai tudo quanto existe»? As duas questões, 
						da origem e, do fim, são inseparáveis. E são decisivas 
						para o sentido e para a orientação da nossa vida e do 
						nosso proceder. 
						
						283. A questão das origens do mundo e do homem tem sido 
						objeto de numerosas investigações científicas, que 
						enriqueceram magnificamente os nossos conhecimentos 
						sobre a idade e a dimensão do cosmos, a evolução dos 
						seres vivos, o aparecimento do homem. Tais descobertas 
						convidam-nos, cada vez mais, a admirar a grandeza do 
						Criador e a dar-Lhe graças por todas as suas obras, e 
						pela inteligência e saber que dá aos sábios e 
						investigadores. Estes podem dizer com Salomão: «foi 
						Ele quem me deu a verdadeira ciência de todas as coisas, 
						a fim de conhecer a constituição do Universo e a força 
						dos elementos [...], porque a Sabedoria, que tudo criou, 
						me ensinou» (Sb. 7, 17-21). 
						
						284. O grande interesse atribuído a estas pesquisas é 
						fortemente estimulado por uma questão de outra ordem, 
						que ultrapassa o domínio próprio das ciências naturais. 
						Porque não se trata apenas de saber quando e como surgiu 
						materialmente o cosmos, nem quando é que apareceu o 
						homem; mas, sobretudo, de descobrir qual o sentido de 
						tal origem: se foi determinada pelo acaso, por um 
						destino cego ou uma fatalidade anônima, ou, antes, por 
						um Ser transcendente, inteligente e bom, chamado Deus. E 
						se o mundo provém da sabedoria e da bondade de Deus, 
						qual a razão do mal? De onde vem ele? Quem é por ele 
						responsável? E será que existe uma libertação do mesmo? 
						
						285. Desde os princípios que a fé cristã teve de 
						defrontar-se com respostas, diferentes da sua, sobre a 
						questão das origens. De fato, nas religiões e nas 
						culturas antigas encontram-se muitos mitos relativos às 
						origens. Certos filósofos disseram que tudo é Deus, que 
						o mundo é Deus, ou que a evolução do mundo é a evolução 
						de Deus (panteísmo): outros disseram que o mundo é uma 
						emanação necessária de Deus, brotando de Deus como duma 
						fonte e a Ele voltando; outros, ainda, afirmaram a 
						existência de dois princípios eternos, o bem e o mal, a 
						luz e as trevas, em luta permanente (dualismo, 
						maniqueísmo). Segundo algumas destas concepções, o mundo 
						(pelo menos o mundo material) seria mau, produto duma 
						decadência e, portanto, objeto de repúdio ou de 
						superação (gnose); outras admitem que o mundo tenha sido 
						feito por Deus, mas à maneira dum relojoeiro que, depois 
						de o ter feito, o abandonou a si mesmo (deísmo); outras, 
						finalmente, rejeitam qualquer origem transcendente do 
						mundo e veem nele o puro jogo duma matéria que teria 
						existido sempre (materialismo). Todas estas tentativas 
						dão testemunho da permanência e universalidade do 
						problema das origens. É uma busca própria do homem. 
						
						286. Não há dúvida de que a inteligência humana é capaz 
						de encontrar uma resposta para a questão das origens. 
						Com efeito, a existência de Deus Criador pode ser 
						conhecida com certeza pelas suas obras, graças à luz da 
						razão humana 
						
						(Cf. I Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei 
						Fillius, De Revelatione. canon I: DS 3026), 
						mesmo que tal conhecimento muitas vezes seja obscurecido 
						e desfigurado pelo erro. E é por isso que a fé vem 
						confirmar e esclarecer a razão na compreensão exata 
						desta verdade: «pela fé, sabemos que o mundo foi 
						organizado pela palavra de Deus, de modo que o que se vê 
						provém de coisas invisíveis» (Heb. 11, 3). 
						
						287. A verdade da criação é tão importante para toda a 
						vida humana que Deus, na sua bondade, quis revelar ao 
						seu povo tudo quanto é salutar conhecer-se a esse 
						propósito. Para além do conhecimento natural, que todo o 
						homem pode ter do Criador 
						
						(Cf. I Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei 
						Fillius, De Revelatione. canon I: DS 3026), 
						Deus revelou progressivamente a Israel o mistério da 
						criação. Deus, que escolheu os patriarcas, que fez sair 
						Israel do Egito e que, escolhendo Israel, o criou e 
						formou 
						
						(Cf. Is 43, 1) 
						revela-Se como Aquele a quem pertencem todos os povos da 
						terra e toda a terra, como sendo o único que «fez o 
						céu e a terra» (Sl. 115, 15; 124, 8; 134, 3). 
						
						288. Assim, a revelação da criação é inseparável da 
						revelação e da realização da Aliança de Deus, o Deus 
						Único, com o seu povo. A criação é revelada como o 
						primeiro passo para esta Aliança, como o primeiro e 
						universal testemunho do amor onipotente de Deus 
						
						(Cf. Gn. 15, 5; Jr. 33, 19-26). 
						Por isso, a verdade da criação é expressa com vigor 
						crescente na mensagem dos profetas 
						
						(Cf. Is. 44, 24), 
						na oração dos salmos 
						
						(Cf. Sl. 104) 
						e da liturgia, na reflexão da sabedoria 
						
						(Cf. Pr 8. 22-31) 
						do Povo eleito. 
						
						289. Entre tudo quanto a Sagrada Escritura nos diz sobre 
						a criação, os três primeiros capítulos do Gênesis ocupam 
						um lugar único. Do ponto de vista literário, estes 
						textos podem ter diversas fontes. Os autores inspirados 
						puseram-nos no princípio da Escritura, de maneira a 
						exprimirem, na sua linguagem solene, as verdades da 
						criação, da sua origem e do seu fim em Deus, da sua 
						ordem e da sua bondade, da vocação do homem, e enfim, do 
						drama do pecado e da esperança da salvação. Lidas à luz 
						de Cristo, na unidade da Sagrada Escritura e na Tradição 
						viva da Igreja, estas palavras continuam a ser a fonte 
						principal para a catequese dos mistérios do 
						«princípio»: criação, queda, promessa da salvação. 
						
						II. A criação – obra da Santíssima Trindade 
						
						290. «No princípio, Deus criou o céu e a terra». 
						Três coisas são afirmadas nestas primeiras palavras da 
						Escritura: Deus eterno deu um princípio a tudo quanto 
						existe fora d'Ele. Só Ele é criador (o verbo «criar» 
						- em hebraico «bara» - tem sempre Deus por 
						sujeito). E tudo quanto existe (expresso pela fórmula 
						«o céu e a terra») depende d' Aquele que lhe deu o 
						ser. 
						
						291. «No princípio era o Verbo [...] e o Verbo era 
						Deus [...] Tudo se fez por meio d'Ele e, sem Ele, nada 
						se fez» (Jo. 1, 1-3). O Novo Testamento 
						revela que Deus tudo criou por meio do Verbo eterno, seu 
						Filho muito-amado. Foi n'Ele «que foram criados todos 
						os seres que há nos céus e na terra [...]. Tudo foi 
						criado por seu intermédio e para Ele. Ele é anterior a 
						todas as coisas, e todas se mantêm por Ele» (Cl. 1, 
						16-17). A fé da Igreja afirma igualmente a ação criadora 
						do Espírito Santo: Ele é Aquele «que dá a vida»
						
						
						(Símbolo 
						Niceno-Constantinopolitano: 
						
						DS 150),
						«o Espírito Criador» (Veni, Creator Spiritus),
						a «fonte de todo o bem» 
						
						(Liturgia 
						Bizantina. 
						
						Tropário das Vésperas de Pentecostes: Pentêkostáriom
						(Rome 1883). 408). 
						
						292. Insinuada no Antigo Testamento 
						
						(Cf. Sl 33, 6; 104. 30; Gn 1, 2-3) 
						revelada na Nova Aliança, a ação criadora do Filho e do 
						Espírito Santo, inseparavelmente unida à do Pai, é 
						claramente afirmada pela regra de fé da Igreja: 
						«existe um só Deus. Ele é o Pai, é Deus, é o Criador, o 
						Autor, o Ordenador. Fez todas as coisas por Si mesmo, 
						quer dizer, pelo Seu Verbo e pela sua Sabedoria»
						
						
						(Santo Irineu de Lião, Adversus haereses, 2, 30, 
						9: SC 294, 318-320 (PG 7, 822)
						«pelo Filho e pelo Espírito» que são como «as 
						suas mãos» 
						
						(Ibidem,
						
						
						4, 20, 1: SC 100, 626 (PG 7, 1032). 
						A criação é obra comum da Santíssima Trindade. 
						
						III. «O mundo foi criado para glória de Deus» 
						
						293. É uma verdade fundamental, que a Escritura e a 
						Tradição não cessam de ensinar e de celebrar: «o mundo 
						foi criado para glória de Deus» 
						
						(I Concílio Vaticano, Const. dogm. Dei Filius. De 
						Deo rerum omnium Creatore, canon 5: DS 3025). 
						Deus criou todas as coisas, explica São Boaventura, «non 
						propter gloriam augendam, sed propter gloriam 
						manifestandam et propter gloriam suam communicandam - 
						Não para aumentar a Sua glória, mas para a manifestar e 
						para a comunicar» 
						
						(São Boaventura, In secundum librum Sententiarum, 
						dist. 1. p. 2. a. 2, q. 1. concl..: Opera 
						omnia, v. 2 (Ad Claras Aquas 1885), p. 44). 
						Para criar, Deus não tem outra razão senão o seu amor e 
						a sua bondade: «aperta manu clave amoris creaturae 
						prodierunt - As criaturas saíram da mão (de Deus) aberta 
						pela chave do amor» 
						
						(São Tomás de Aquino, Commentum in secundum librum 
						Sententiarum, Prologus: Opera omnia, v. 8 
						(Parisiis 1873), p. 2). 
						E o I Concílio do Vaticano explica: 
						
						
						- «na sua bondade e pela sua força onipotente, não para 
						aumentar a sua felicidade nem para adquirir a sua 
						perfeição, mas para a manifestar pelos bens que concede 
						às suas criaturas, Deus, no seu libérrimo desígnio, 
						criou do nada simultaneamente e desde o princípio do 
						tempo uma e outra criatura - a espiritual e a corporal»
						
						
						(I Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Filius, 
						c. 1: DS 3002). 
						
						294. A glória de Deus está em que se realize esta 
						manifestação e está comunicação da sua bondade, em ordem 
						às quais o mundo foi criado. Fazer de nós «filhos 
						adotivos por Jesus Cristo. Assim aprouve à sua vontade, 
						para que fosse enaltecida a glória da sua graça» 
						(Ef. 1, 5-6): «porque a glória de Deus é o homem 
						vivo, e a vida do homem é a visão de Deus: se a 
						revelação de Deus pela criação já proporcionou a vida a 
						todos os seres que vivem na terra, quanto mais a 
						manifestação do Pai pelo Verbo proporciona a vida aos 
						que veem a Deus»! 
						
						(Santo Ireneu de Lião, Adversus haereses 4, 20, 
						7: SC 100, 648 (PG 7, 1037). 
						O fim último da criação é que Deus Pai, «criador de 
						todos os seres, venha finalmente a ser 'tudo em todos'
						(1ª Cor. 15, 28), provendo, ao mesmo tempo, à sua 
						glória e à nossa felicidade» 
						
						(II Concílio do Vaticano, Decr. Ad gentes. 2: AAS 
						58 (1966) 948). 
						
						IV. O mistério da criação 
						
						DEUS CRIA COM SABEDORIA E POR AMOR 
						
						295 Acreditamos que Deus criou o mundo segundo a sua 
						sabedoria 
						
						(Cf. 
						Sb 9, 9). 
						O mundo não é fruto duma qualquer necessidade, dum 
						destino cego ou do acaso. Acreditamos que ele procede da 
						vontade livre de Deus, que quis fazer as criaturas 
						participantes do seu Ser, da sua sabedoria e da sua 
						bondade: «porque Vós criastes todas as coisas e, pela 
						vossa vontade, elas receberam a existência e foram 
						criadas» (Ap. 4, 11). «Como são grandes, Senhor, 
						as vossas obras! Tudo fizestes com sabedoria» (Sl. 
						104, 24). «O Senhor é bom para com todos e a sua 
						misericórdia estende-se a todas as criaturas» (Sl. 
						145, 9).
 DEUS CRIA «DO NADA»
 
						
						296. Acreditamos que Deus não precisa de nada 
						preexistente, nem de qualquer ajuda, para criar 
						
						(I Concílio do Vaticano. Const. dogm. Dei Filius, c. 
						1: DS 3002). 
						A criação tão pouco é uma emanação necessária da 
						substância divina 
						
						(I Concílio do Vaticano. Const. dogm. Dei Filius, 
						De Deo rerum omnium Creatore, canones 1-4: DS 3023-3024). 
						Deus cria livremente «do nada» 
						
						(IV Concílio de Latrão, Cap. 2. De fide catholica:
						DS 800; I Concílio do Vaticano. Const. dogm. Dei 
						Filius,. Const. dogm. Dei Filiu.s, De Deo 
						rerum omnium Creatore, canon 5: DS 3025): 
						
						
						- «que haveria de extraordinário, se Deus tivesse tirado 
						o mundo duma matéria preexistente? Um artista humano, 
						quando se lhe dá um material, faz dele o que quer. O 
						poder de Deus, porém, mostra-se precisamente quando 
						parte do nada para fazer tudo o que quer»
						
						
						(São Teófilo de Antioquia, Ad Autolycum, 2. 4; SC 
						20. 102 (PG 6. 1052). 
						
						297. A fé na criação a partir «do nada» é 
						testemunhada na Escritura como uma verdade cheia de 
						promessa e de esperança. É assim que a mãe dos sete 
						filhos os anima ao martírio: 
						
						
						- «não sei como aparecestes no meu seio; não fui eu que 
						vos dei a respiração e a vida, nem fui eu que dispus os 
						membros que compõem cada um de vós. Por isso, o Criador 
						do mundo, que formou o homem à nascença e concebeu todas 
						as coisas na sua origem, vos dará novamente, na sua 
						misericórdia, a respiração e a vida, uma vez que vos 
						desprezais agora a vós próprios, por amor às suas leis 
						[...] Peço-te, meu filho, que olhes para o céu e para a 
						terra. Vê todas as coisas que neles se encontram, para 
						saberes que Deus não as fez do que já existia, e que o 
						mesmo sucede com o género humano» 
						(2ª Mac. 7, 22-23. 28). 
						
						298. Uma vez que Deus pode criar «do nada», 
						também pode, pelo Espírito Santo, dar a vida da alma aos 
						pecadores, criando neles um coração puro e a vida do 
						corpo aos defuntos, pela ressurreição. Ele que «dá a 
						vida aos mortos e chama o que não existe como se já 
						existisse» (Rm. 4, 17) 
						
						(Cf. Sl 51, 12). 
						E como, pela sua palavra, pôde fazer que das trevas 
						brilhasse a luz 
						
						(Cf. Gn. 1, 3), 
						pode também dar à luz da fé aos que a ignoram 
						
						(Cf. 2ª Cor. 4, 6). 
						
						DEUS CRIA UM MUNDO ORDENADO E BOM 
						
						299. Uma vez que Deus cria com sabedoria, a criação 
						possui ordem. «Dispusestes tudo com medida, número e 
						peso» (Sb. 11, 20). Criada no Verbo e pelo Verbo 
						eterno, «que é a imagem do Deus invisível» (Cl.
						1, 15), a criação destina-se e orienta-se para o 
						homem, imagem de Deus 
						
						(Cf. Cf. Gn 1, 26), 
						chamado ele próprio a uma relação pessoal com Deus. A 
						nossa inteligência, participante da luz do intelecto 
						divino, pode entender o que Deus nos diz pela sua 
						criação 
						
						(Cf. Sl 19, 2-5), 
						sem dúvida com grande esforço e num espírito de 
						humildade e de respeito perante o Criador e a sua obra
						
						
						(Cf. Job 42, 3). 
						Saída da bondade divina, a criação partilha dessa 
						bondade («E Deus viu que isto era bom [...] muito 
						bom»: Gn 1, 4. 10. 12. 18. 21. 31). Porque a 
						criação é querida por Deus como um dom orientado para o 
						homem, como herança que lhe é destinada e confiada. A 
						Igreja, em diversas ocasiões, viu-se na necessidade de 
						defender a bondade da criação, mesmo a do mundo material
						
						
						(Cf. São Leão Magno, Ep Quam laudabiliter: DS 
						286: I Concílio de Braga, Anathematismi praesertim 
						contra Priscillianistas, 5-13: DS 455-463: IV 
						Concílio de Latrão, Cap. 2, De fide catholica: DS 
						800; Concílio de Florença, Decretam pro Iacobitis:
						DS 1333. I Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei 
						Filius, c. 1: DS 3002.). 
						
						DEUS TRANSCENDE A CRIAÇÃO E ESTÁ PRESENTE NELA 
						
						300. Deus é infinitamente maior do que todas as suas 
						obras 
						
						(Cf. Sir 43, 30):
						«a vossa majestade está acima dos céus» (Sl. 8, 
						2), «insondável é a sua grandeza» (Sl. 145, 3). 
						Mas, porque Ele é o Criador soberano e livre, causa 
						primeira de tudo quanto existe, está presente no mais 
						íntimo das suas criaturas: «é n'Ele que vivemos, nos 
						movemos e existimos» (At. 17, 28). Segundo as 
						palavras de Santo Agostinho, Ele é «superior summo 
						meo et interior íntimo meo - Deus está acima do que em 
						mim há de mais elevado e é mais interior do que aquilo 
						que eu tenho de mais íntimo» 
						
						(Santo Agostinho, Confissões, 3, 6, 11: CCL 27, 
						33 (PL 32, 688). 
						
						DEUS SUSTENTA E CONDUZ A CRIAÇÃO 
						
						301. Depois da criação, Deus não abandona a criatura a 
						si mesma. Não só lhe dá o ser e o existir, mas a cada 
						instante a mantém no ser, lhe dá o agir e a conduz ao 
						seu termo. Reconhecer esta dependência total do Criador 
						é fonte de sabedoria e de liberdade, de alegria e de 
						confiança: 
						
						
						- «Vós amais tudo quanto existe e não tendes aversão a 
						coisa alguma que fizestes: se tivésseis detestado alguma 
						criatura, não a teríeis formado. Como poderia manter-se 
						qualquer coisa, se Vós não quisésseis? Como é que ela 
						poderia durar, se não a tivésseis chamado à existência? 
						Poupais tudo, porque tudo é vosso, ó Senhor, que amais a 
						vida» 
						(Sb. 11, 24-26). 
						
						V. Deus realiza o seu desígnio: a divina Providência 
						
						302. A criação tem a sua bondade e a sua perfeição 
						própria, mas não saiu totalmente acabada das mãos do 
						Criador. Foi criada «em estado de caminho» 
						(«in statu viae») para uma perfeição última ainda a 
						atingir e a que Deus a destinou. Chamamos divina 
						Providência às disposições pelas quais Deus conduz a sua 
						criação em ordem a essa perfeição: 
						
						
						- «Deus guarda e governa, pela sua Providência, tudo 
						quanto criou, "atingindo com força dum extremo ao outro 
						e dispondo tudo suavemente" (Sb. 8, 1). Porque "tudo 
						está nu e patente a seus olhos" (Heb. 4, 13), mesmo 
						aquilo que depende da futura ação livre das criaturas»
						
						
						(I Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Filius, c.
						1: DS 3003). 
						
						303. É unânime, a este respeito, o testemunho da 
						Escritura: a solicitude da divina Providência é 
						concreta e imediata, cuida de tudo, desde os mais 
						insignificantes pormenores até aos grandes 
						acontecimentos do mundo e da história. Os livros santos 
						afirmam, com veemência, a soberania absoluta de Deus no 
						decurso dos acontecimentos: «tudo quanto Lhe aprouve, 
						o nosso Deus o fez, no céu e na terra» (Sl. 115, 3); 
						e de Cristo se diz: «que abre e ninguém fecha, e 
						fecha e ninguém abre» (Ap. 3, 7); «há muitos 
						projetos no coração do homem, mas é a vontade do Senhor 
						que prevalece» (Pr. 19, 21). 
						
						304. É assim que, muitas vezes, vemos o Espírito Santo, 
						autor principal da Sagrada Escritura, atribuir a Deus 
						certas ações, sem mencionar causas-segundas. Isso não é
						«uma maneira de dizer» primitiva, mas sim um modo 
						profundo de afirmar o primado de Deus e o seu senhorio 
						absoluto sobre a história e sobre o mundo 
						
						(Cf. Is 10, 5-15: 45, 5-7: Dt 32, 39: 
						Sir 11, 14) 
						e de ensinar a ter confiança n'Ele. A oração dos Salmos 
						é, aliás, a grande escola desta confiança 
						
						(Cf. Sl 22; 32; 35; 103; 138; etc.). 
						
						305. Jesus reclama um abandono filial à Providência do 
						Pai Celeste, que cuida das mais pequenas necessidades 
						dos seus filhos: «não vos inquieteis, dizendo: que 
						havemos de comer? Que havemos de beber? [...] Bem sabe o 
						vosso Pai celeste que precisais de tudo isso. Procurai 
						primeiro o Reino de Deus e a sua justiça e tudo o mais 
						vos será dado por acréscimo» (Mt. 6, 31-33)
						
						
						(Cf. Mt. 10, 29-31). 
						
						A PROVIDÊNCIA E AS CAUSAS SEGUNDAS 
						
						306. Deus é o Senhor soberano dos seus planos. Mas, para 
						a realização dos mesmos, serve-Se também do concurso das 
						criaturas. Isto não é um sinal de fraqueza, mas da 
						grandeza e bondade de Deus omnipotente. É que Ele não só 
						permite às suas criaturas que existam, mas confere-lhes 
						a dignidade de agirem por si mesmas, de serem causa e 
						princípio umas das outras e de cooperarem, assim, na 
						realização do seu desígnio. 
						
						307. Aos homens, Deus concede mesmo poderem participar 
						livremente na sua Providência, confiando-lhes a 
						responsabilidade de «submeter» a terra e 
						dominá-la 
						
						(Cf. Gn. 1, 26-28). 
						Assim lhes concede que sejam causas inteligentes e 
						livres, para completar a obra da criação, aperfeiçoar a 
						sua harmonia, para o seu bem e o dos seus semelhantes. 
						Cooperadores muitas vezes inconscientes da vontade 
						divina, os homens podem entrar deliberadamente no plano 
						divino, pelos seus atos e as suas orações, como também 
						pelos seus sofrimentos 
						
						(Cf. Cl. 1, 24). 
						Tornam-se, então, plenamente «colaboradores de Deus» 
						(1ª Cor. 3, 9) 
						
						(Cf. 1 Ts 3, 2) 
						e do seu Reino 
						
						(Cf. Cl. 4, 11). 
						
						308. Esta é uma verdade inseparável da fé em Deus 
						Criador: Deus age em toda a ação das suas criaturas. É 
						Ele a causa-primeira, que opera nas e pelas 
						causas-segundas: «é Deus que produz em nós o querer e 
						o operar, segundo o seu beneplácito» (Fl. 2, 13)
						
						
						(Cf. 1ª Cor. 12, 6). 
						Longe de diminuir a dignidade da criatura, esta verdade 
						realça-a. Tirada «do nada» pelo poder, sabedoria 
						e bondade de Deus, a criatura separada da sua origem, 
						nada pode, porque «a criatura sem o Criador esvai-se»
						
						
						(II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et 
						spes. 36: AAS 58 (1966) 1054). 
						Muito menos pode atingir o seu fim último, sem a ajuda 
						da graça 
						
						(Cf. Mt 19, 26: Jo 15, 5; Fl 4, 13). 
						
						A PROVIDÊNCIA E O ESCÂNDALO DO MAL 
						
						309. Se Deus Pai todo-poderoso, Criador do mundo 
						ordenado e bom, tem cuidado com todas as suas criaturas, 
						porque é que o mal existe? A esta questão, tão premente 
						como inevitável, tão dolorosa como misteriosa, não é 
						possível dar uma resposta rápida e satisfatória. É o 
						conjunto da fé cristã que constitui a resposta a esta 
						questão: a bondade da criação, o drama do pecado, o amor 
						paciente de Deus que vem ao encontro do homem pelas suas 
						alianças, pela Encarnação redentora de seu Filho, pelo 
						dom do Espírito, pela agregação à Igreja, pela força dos 
						sacramentos, pelo chamamento à vida bem-aventurada, à 
						qual as criaturas livres são de antemão convidadas a 
						consentir, mas à qual podem, também de antemão, 
						negar-se, por um mistério terrível. Não há nenhum 
						pormenor da mensagem cristã que não seja, em parte, 
						resposta ao problema do mal. 
						
						310. Mas, porque é que Deus não criou um mundo tão 
						perfeito que nenhum mal pudesse existir nele? No seu 
						poder infinito, Deus podia sempre ter criado um mundo 
						melhor 
						
						(Cf. São Tomás de Aquino, Summa theologiae, 1, q. 
						25, a. 6: Ed. Leon. 4, 298-299). 
						No entanto, na sua sabedoria e bondade infinitas, Deus 
						quis livremente criar um mundo «em estado de caminho» 
						para a perfeição última. Este devir implica, no desígnio 
						de Deus, juntamente com o aparecimento de certos seres, 
						o desaparecimento de outros; o mais perfeito, com o 
						menos perfeito; as construções da natureza, com as suas 
						destruições. Com o bem físico também existe, pois, o 
						mal físico, enquanto a criação não tiver atingido a 
						perfeição 
						
						(São Tomás de Aquino, Summa contra gentiles, 3, 
						71: Ed. Leon. 14. 209-211). 
						
						311. Os anjos e os homens, criaturas inteligentes e 
						livres, devem caminhar para o seu último destino por 
						livre escolha e amor preferencial. Podem, por 
						conseguinte, desviar-se. De fato, pecaram. Foi assim que 
						entrou no mundo o mal moral, incomensuravelmente 
						mais grave que o mal físico. Deus não é, de modo algum, 
						nem direta nem indiretamente, causa do mal moral 
						
						(Cf. Santo Agostinho, De libero arbitrio, 1, 1, 
						1: CCL 29, 211 (PL 32. 1221-1223): Santo Tomás de 
						Aquino, Summa theologiae, 1-2, q. 79, a. l: Ed. 
						Leon. 7, 76-77). 
						No entanto, permite-o por respeito pela liberdade da sua 
						criatura e misteriosamente sabe tirar dele o bem: 
						
						
						- «Deus todo-poderoso [...] sendo soberanamente bom, 
						nunca permitiria que qualquer mal existisse nas suas 
						obras se não fosse suficientemente poderoso e bom para 
						do próprio mal, fazer surgir o bem»
						
						
						(Santo Agostinho, Enchiridion de fide, spe et 
						caritate. 3. 11: CCL 46, 53 (PL 40, 236)). 
						
						312. Assim, com o tempo, é possível descobrir que Deus, 
						na sua onipotente Providência, pode tirar um bem das 
						consequências dum mal (mesmo moral), causado pelas 
						criaturas: «não, não fostes vós - diz José a seus 
						irmãos - que me fizestes vir para aqui. Foi Deus. [...] 
						Premeditastes contra mim o mal: o desígnio de Deus 
						aproveitou-o para o bem [...] e um povo numeroso foi 
						salvo» (Gn. 45, 8; 50, 20) 
						
						(Cf. Tb 2. 12-18 vulg). 
						Do maior mal moral jamais praticado, como foi o repúdio 
						e a morte do Filho de Deus, causado pelos pecados de 
						todos os homens, Deus, pela superabundância da sua graça
						
						
						(Cf. Rm 5, 20), 
						tirou o maior dos bens: a glorificação de Cristo e a 
						nossa redenção. Mas nem por isso o mal se transforma em 
						bem. 
						
						313. «Tudo concorre para o bem daqueles que amam a 
						Deus» (Rm. 8, 28). O testemunho dos santos não cessa 
						de confirmar esta verdade: 
						
						
						- assim, Santa Catarina de Sena diz aos «que se 
						escandalizam e se revoltam contra o que lhes acontece»:
						«Tudo procede do amor, tudo está ordenado para a 
						salvação do homem, e não com nenhum outro fim»
						
						
						(Santa Catarina de Sena,  ll dialogo della Divina provvidenza,
						138: ed. G. Cavallini (Roma 1995) p. 441). 
						
						
						- e São Tomás Moro, pouco antes do seu martírio, consola 
						a filha com estas palavras: «nada pode acontecer-me 
						que Deus não queira. E tudo o que Ele quer, por muito 
						mal que nos pareça, é, na verdade, muito bom» 
						
						(Margarita Roper. Epistola ad Aliciam Alington 
						(agosto 1534): The Correspondence of Sir Thomas 
						More, ed. E. F. Rogers (Princeton 1947), p. 531-532. 
						[Texto no Ofício de Leituras da memória de São Tomás 
						Moro a 22 de junho]). 
						
						
						- e Juliana de Norwich: «compreendi, pois, pela graça 
						de Deus, que era necessário ater-me firmemente à fé 
						[...] e crer, com não menos firmeza, que todas as coisas 
						serão para bem [...]». «Thou shalt see thyself 
						that all manner of thing shall be well» 
						
						(Juliana de Norwich, Revelatio 13, 32: A Book 
						of Showings to the Anchoress Julian of Norwich. ed. 
						E. Colledge — J. Walsh, vol. 2 (Toronto 1978), p. 426 e 
						422). 
						
						314. Nós cremos firmemente que Deus é o Senhor do mundo 
						e da história. Muitas vezes, porém, os caminhos da sua 
						Providência são-nos desconhecidos. Só no fim, quando 
						acabar o nosso conhecimento parcial e virmos Deus 
						«face a face» (1ª Cor. 13, 12), é que 
						nos serão plenamente conhecidos os caminhos pelos quais, 
						mesmo através do mal e do pecado, Deus terá conduzido a 
						criação ao repouso desse Sábado 
						
						(Cf. Gn. 2. 2)
						
						
						definitivo, em vista do qual criou o céu e a terra.
 Resumindo:
 
						
						315. Na criação do mundo e do homem, Deus deu o 
						primeiro e universal testemunho do seu amor onipotente e 
						da sua sabedoria e fez o primeiro anúncio do seu 
						«desígnio amoroso», o qual tem como finalidade a nova 
						criação em Cristo. 
						
						316. Embora a obra da criação seja particularmente 
						atribuída ao Pai, é igualmente verdade de fé que o Pai, 
						o Filho e o Espírito Santo são o único e indivisível 
						princípio da criação. 
						
						317. Só Deus criou o Universo, livremente, 
						diretamente, sem qualquer ajuda. 
						
						318. Nenhuma criatura possui o poder infinito 
						necessário para «criar», no sentido próprio da palavra: 
						quer dizer; para produzir e dar o ser ao que de modo 
						algum o possuía (chamar à existência «ex nihilo» a 
						partir do nada) 
						
						(Cf. Sagrada Congregação de Estudos, Decreto (27 
						Julho 1914): DS 3624). 
						
						319. Deus criou o mundo para manifestar e comunicar a 
						sua glória. Que as criaturas partilhem da sua verdade, 
						da sua bondade e da sua beleza - eis a glória, para a 
						qual Deus as criou. 
						
						320. Deus, que criou o universo, mantém-no na 
						existência pelo seu Verbo; «o Filho tudo sustenta com a 
						sua palavra poderosa» (He. 1, 3) e pelo seu 
						Espírito criador que dá a vida. 
						
						321. A divina Providência consiste nas disposições 
						pelas quais Deus conduz, com sabedoria e amor; todas as 
						criaturas, para o seu último fim. 
						
						322. Cristo convida-nos a abandonarmo-nos filialmente 
						à Providência do Pai dos céus 
						
						(Cf. Mt. 6, 26-34); 
						o apóstolo São Pedro retoma o seu pensamento ao dizer: 
						«lançai sobre Deus toda a vossa inquietação porque Ele 
						vela por vós» 
						
						(1ª Pe. 5, 7) 
						
						(Cf. Sl. 55, 23). 
						
						323. A Providência divina também age pela ação das 
						criaturas. Aos seres humanos, Deus permite-lhes cooperar 
						livremente com os seus desígnios. 
						
						324. A permissão divina do mal físico e do mal moral 
						é um mistério, que Deus esclarece por seu Filho Jesus 
						Cristo, morto e ressuscitado para vencer o mal. A fé 
						dá-nos a certeza de que Deus não permitiria o mal, se do 
						próprio mal não fizesse sair o bem, por caminhos que só 
						na vida eterna conheceremos plenamente. |  
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						continua na 
						parte 2 |  
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                       O Terço 
                      (Rosário) dos Homens não exige 
                      nada e não cobra nada da vida pessoal dos seus 
                      participantes, o que faz  
                      com que seus membros se sintam livres, e a liberdade dá ao 
                      homem o poder de ser aquilo que ele deseja ser, daí as 
                      transformações se sucederem de modo espontâneo 
            causado pelo contato que os mesmos passam a ter 
                      com 
            Deus por intercessão 
                      de Maria. |  |