-
Localização: Turquia
Gregório nasceu por volta de 335 – 340 em Cesareia da
Capadócia, região da Anatólia na Turquia. Era um de 12
irmãos, dos quais Basílio, Macrina e Pedro de Sebaste,
além de seus avós, também foram canonizados. Além disso,
São Gregório Nazianzeno era amigo próximo da família.
Tinha
pendor para o estudo, e interessou-se inicialmente pela
filosofia de Platão, mas também por outras escolas
pagãs. Talvez por essas influências, e pelo gosto do
magistério, abandonou a iniciada carreira eclesiástica,
passando a ensinar retórica e casando-se com uma mulher,
Teosebéia, muito piedosa e de muito mérito. Os irmãos
ficaram desconcertados com esta decisão, e São Basílio
procurou alertá-lo do que era na verdade um erro; mas só
com a ajuda de São Nazianzeno Gregório ele reconheceu o
fato, e, de comum acordo, separou-se da esposa
(Nazianzeno, em seu elogio fúnebre, a chamou de
“ornamento da Igreja” e “glória do século”). Retornou à
Igreja, abraçando o sacerdócio.
Em 371
ou 372, vagando a Sé de Nissa, pequena localidade da
Capadócia, foi indicado como bispo, mas só a muito custo
aceitou, por se achar indigno. Assumido o encargo,
desempenhou-o com todo o zelo, vivendo na pobreza,
socorrendo os necessitados e combatendo heroicamente as
heresias da época, especialmente o arianismo. Isto,
naturalmente, incomodou estes hereges, que eram muito
influentes então, e logo o acusaram de heresia a
Demóstenes, governador do Ponto, também ariano. Gregório
foi preso, deixando-se levar pacificamente, mas, ao
constatar que não haveria qualquer diálogo por parte dos
hereges, fugiu. O imperador, Valente, outro ariano,
exilou-o.
Em
Nissa foi convocado um “concílio” ariano que
condenou formalmente Gregório, acusando-o de dilapidar
os bens da diocese, além de ter sido eleito de forma
irregular. Foi deposto e substituído, e passou quatro
anos sem poder voltar à sua sé. Mas tudo é Providência
divina: durante este período, em todos os lugares por
onde passava era chamado para pacificar, ordenar a
ortodoxia e a disciplina nas várias Igrejas, com tal
proveito que São Nazianzeno o comparou ao sol, que, sem
se deter em nenhum lugar, leva o calor, a luz e a
fecundidade a todos.
Vencido pelos godos, morreu o imperador Valente,
queimado numa barca, e o trono foi assumido por
Graciano, seu sobrinho católico. Imediatamente foram
repatriados os bispos exilados, e em 378 Gregório foi
recebido triunfalmente em Nissa. Mas logo no ano
seguinte foi chamado a um concílio em Antioquia, que
decidiu enviar os melhores representantes da Igreja para
diferentes regiões a fim de reestabelecer a ordem
eclesiástica nas províncias antes afetadas pelo
arianismo. Coube a Gregório visitar a Arábia e a
Palestina, que pacificou.
Em
381, destacou-se no Concílio Ecumênico de
Constantinopla, onde definiu-se a doutrina trinitária,
esclarecendo-se definitivamente os erros do arianismo
(cujo negava a divindade de Cristo). Nesta ocasião,
conheceu São Jerônimo, Doutor da Igreja; e fez a oração
fúnebre de São Melécio de Antioquia, presidente do
Concílio, então falecido.
Já
idoso, São Gregório de Nissa faleceu entre 394 e 400,
havendo discordância entre as fontes.
Seu
legado lhe valeu o título de Doutor da Igreja. De fato,
foi um dos pais da teologia mística e um dos pioneiros
em resgatar elementos da filosofia platônica
conciliáveis com o Catolicismo, precedendo a síntese de
Santo Agostinho. Em vida, era conhecido como “o
Filósofo”, e era prestigiado na corte imperial pela sua
eloquência. É de sua autoria a primeira exposição
sistemática da Doutrina Católica (particularmente na
obra Oratio Catechetica Magna), depois do trabalho de
Orígenes, porém com maior peso.
Abordou com profundidade temas como a Trindade, as duas
naturezas de Cristo, divina e humana (“...enquanto o
Senhor recebe a marca de escravo, o escravo é honrado
com a glória do Senhor”), a virgindade de Maria
(reconhecendo o valor da castidade, arrependia-se
amargamente do próprio casamento), a criação do ser
humano, etc. São mais de 20 obras, e um vasto número de
sermões, panegíricos e discursos sobre vários temas,
além da biografia da irmã, Santa Macrina. Suas
considerações muito contribuíram para a Teologia, e
superaram as preocupações doutrinárias do seu tempo.
Pela
santidade, doutrina e ortodoxia, São Gregório de Nissa,
seu irmão mais velho São Basílio Magno e São Gregório
Nazianzeno são conhecidos como a tríade dos “Luminares
da Capadócia” ou “Capadocianos”, na seguinte
fórmula: “Basílio é o braço que atua; Gregório
Nazianzeno, a boca que fala; e Gregório de Nissa, a
cabeça que pensa”.
Outro
aspecto, importantíssimo, e destacado por Bento XVI, é o
enorme valor que São Gregório de Nissa dá à oração.
Colaboração: José Duarte de
Barros Filho
-
Reflexão:
Mesmo entre santos, sutis podem ser as tentações, a
sedução do conhecimento, que pode levar inclusive ao
estudo e influência de ideias erradas, inicialmente
desviou a vocação profunda de São Gregório de Nissa; e
embora a sua legítima esposa fosse pessoa honrada, tanto
que acedeu em separar-se do marido por causa justíssima,
e elogiada por outro santo, este casamento, contrário à
sua aspiração maior, levou-o a lamentar a perda da
castidade. Ou seja: o diabo, através de uma situação
perfeitamente legal e em si correta, preparava o desvio
de Gregório da santidade, e não fosse o auxílio dos
irmãos e amigos tanto da família de sangue quanto da
Igreja, está teria perdido uma referência inigualável,
com inimaginável prejuízo espiritual, em todos os
tempos. Não à toa São Gregório de Nissa entendeu o valor
infinito da oração: através das suas e dos demais, pôde
ser reconduzido ao plano que Deus lhe havia preparado,
para a sua santificação nesta vida no auxílio aos irmãos
e a sua felicidade infinita no Céu. Uma situação que nos
convida a pensar no empenho em rezar e nas escolhas que
vamos fazendo, com a certeza de que, mesmo errando – e
nunca o evitaremos completamente – é possível sempre
obedecer a Deus e alcançar a felicidade.
-
Oração:
Senhor Deus, que continuamente nos livrais dos perigos
desta vida e orientais nossos caminhos, concedei-nos
pela intercessão de São Gregório de Nissa o seu mesmo
zelo pela ortodoxia da Fé, combatendo sem medo os erros
do nosso século, e nunca desperdiçar as ocasiões para
fazer o bem aos irmãos, ainda que sejam originadas de
injustiças. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho,
e Nossa Senhora.
- Amém. |