O texto abaixo é um debate
promovido pelo site "Agnus Dei", defendendo o
cânon bíblico definido pela Igreja Católica. As partes
escritas em azul mostram as argumentações de um irmão
sobre a visão protestantes do cânon bíblico. As
respostas à todas estas argumentações são mostradas logo
abaixo, nos textos escritos em preto.
Caro, irmão:
achei este texto de ataque ao cânon católico. Quando
possível, gostaria de receber observações suas sobre o
texto.
Prezado Fabiano,
Vamos lá...
"No que diferem as Bíblias Católicas das
Protestantes"
De fato, existem diferenças entre as Bíblias Católicas e
as Bíblias Protestantes...
Nas Católicas há os livros chamados Apócrifos. Apócrifo
antigamente no tempo dos Persas tinha um sentido
esotérico, depois passou a significar Coisas Escondidas,
Ocultas ou Secretas. Mais tarde esse termo foi sendo
aplicado a livros de autenticidade incerta e hoje se
aplica a livros religiosos não inspirados tais como
esses que encontramos nas Bíblias Católicas;
há uma meia verdade neste parágrafo. Realmente o termo
"apócrifo" tem significado pejorativo, desde
meados do séc. IV dC., indicando autenticidade incerta.
Porém, o termo não se aplica aos livros e acréscimos
indicados pelo autor deste artigo no parágrafo seguinte,
mas sim aos livros que não foram considerados inspirados
pela Igreja primitiva (ex.: Evangelho de Tomé;
Apocalipse de Paulo; 3Macabeus; etc.) - veja uma lista
bem mais completa dos livros apócrifos no artigo "Quais
são os livros apócrifos?" São chamados mais
apropriadamente de "deuterocanônicos" por se tratar de
livros que não se encontram na Bíblia Palestinense
(definida pelos judeus da Palestina em 90 dC.), mas na
Bíblia Alexandrina (dos judeus que habitavam nesta
cidade do Egito). Os livros que coincidiam nas duas
Bíblias são chamados de "protocanônicos".
Foi Lutero quem começou a chamar estes livros de
apócrifos no séc. XVI dC. e, para complicar mais ainda,
passaram a chamar de "pseudoepígrafos" aqueles
livros de autenticidade evidentemente falsa, que nós,
católicos (e também ortodoxos), chamamos de
"apócrifos". O motivo disso é que os protestantes
têm certas dificuldades teológicas se admitirem a
autenticidade destes livros, pois apresentam de forma
bem clara certas doutrinas refutadas por eles, como, por
exemplo, o purgatório, a oração em favor dos mortos e a
intercessão dos santos.
Os livros apócrifos são: Tobias, Judite, Sabedoria de
Jesus Ben Sirach ou Eclesiástico, Sabedoria de Salomão,
Baruque, 1º Macabeus, 2º Macabeus, Acréscimos a Daniel,
Acréscimos a Ester.
A informação aqui está correta com a única ressalva de
que não são livros e acréscimos apócrifos, mas sim
deuterocanônicos...
Qual a sua origem?
a) Ptolomeu Filadelfo rei do Egito ordenou que
traduzissem os escritos dos hebreus para o Grego, língua
oficial do mundo de então, para assim enriquecer a sua
biblioteca;
A tradução dos livros dos hebreus para o grego se deu
entre os anos 300 e 150 aC. na Alexandria (Egito) e
passou a ser chamada de Septuaginta (ou "LXX"),
pois a tradição afirma de que foi realizada por 72
tradutores. A razão da tradução, entretanto, não foi
simplesmente "enriquecer" a biblioteca do rei,
mas tinha como principal propósito tornar acessível a
Palavra de Deus aos judeus que viviam ali, numa enorme e
próspera colônia, e que, com o passar dos anos, já não
mais reconheciam a língua hebraica, embora guardassem
plenamente a sua fé e identidade, como judeus que
realmente eram. O autor deste artigo reconhece isto -
ainda que timidamente, pra variar - no item
imediatamente a seguir...
b) O afrouxamento dos Judeus da grande colônia hebraica
de Alexandria quanto ao estudo da sua própria língua;
não se trata precisamente de um “afrouxamento”,
mas sim de um fator natural, que ocorre com qualquer
língua minoritária em certa região onde a esmagadora
maioria fala uma outra língua. Por exemplo, o português
tem origem no latim, mas hoje, no Brasil (e até mesmo em
Portugal), é muito difícil encontrar alguém que conheça
plenamente a língua latina. Foi afrouxamento nosso?
Certamente que não... trata-se de um processo de
desenvolvimento lento e contínuo, estritamente natural e
sem qualquer ligação com relaxamento...
c) A grande influência helenista nos judeus
alexandrinos;
isto de modo algum "manchou" a fé dos judeus,
bastando lembrar que Jesus também era judeu e nunca fez
ressalva alguma sobre tal questão; muito pelo
contrário...
d) O grande desejo do mundo grego de conhecer os
escritos dos judeus.
Esta afirmação parece-me um tanto quanto esvaziada,
porque o mundo grego, na verdade, desprezava o
conhecimento dos hebreus, pois não contavam com
filósofos. É justamente por essa razão que São Paulo
fala das vãs filosofias (Col. 2, 8) e diz que pregar a
cruz de Cristo é escândalo para os judeus (já que o
Messias seria o libertador de Israel) e loucura para os
gregos (porque é contrário à filosofia); entretanto, o
próprio São Paulo não abre mão da razão (=filosofia)
para pregar o Evangelho pelo mundo grego (v. Atos dos
Apóstolos)...
Em outras palavras: não eram os gregos que tinham
interesse de conhecer os escritos judaicos, mas eram os
judeus - e mais tarde também os cristãos - que tinham o
interesse de propagar a Palavra de Deus; os judeus por
puro proselitismo; os cristãos, pela Salvação de toda
criatura humana.
Data 200 aC. até 100 aC. foram eles escritos.
A crítica moderna (inclusive protestante) sugere as
seguintes datas de composição para os livros em debate:
Tobias: 200 aC. (em hebraico ou aramaico)
Judite: 150 aC. (em hebraico ou aramaico)
1º Macabeus: 100 aC. (em hebraico ou aramaico)
2º Macabeus: 100 aC. (em grego)
Eclesiástico: 200 (em hebraico) e 130 (tradução grega)
Sabedoria: 100 aC. (em grego)
Baruc: 200 aC. (em grego, talvez tradução do hebraico)
acréscimos a Ester: 160 aC. (em grego)
acréscimos a Daniel: 100 aC. (em grego)
Entretanto, o fato de terem sido os últimos livros a
serem escritos no Antigo Testamento, de forma alguma
reduz-lhes o valor. Também o fato de alguns terem sido
escritos fora do território da Palestina não significa
que não sejam inspirados porque, ainda assim, foram
escritos por representantes legítimos do Povo de Deus!
IV - Erros ensinados pelos apócrifos, que estão em
contradição com o restante da Bíblia
Alguns desses "erros" foram com certeza retirados
de um livretinho de autoria de Jaime Reda, chamado
"Assim Diz a Bíblia". Embora não o afirme, o autor
certamente é adventista e, como qualquer protestante,
tem dificuldade em explicar doutrinas tão claras que se
opõem ao que prega a sua seita...
Vamos analisar os "erros" e "refutar a
refutação" do autor: primeiro, demonstrando que a
Bíblia possui (nos livros que o autor aceita como
inspirados, isto é, os "protocanônicos" do Antigo
Testamento e todo o Novo Testamento) outros exemplos
daquilo que o autor considera errado; segundo,
apresentando a contradição do autor com o ensinamento
bíblico...
A-1. Dar esmolas purifica o pecado
a) Tobias 12:9 - "Porque a esmola livra da morte e é
a que apaga os pecados e faz encontrar a misericórdia e
a vida eterna";
b) Tobias 4:10 - "Porque a esmola livra de todo o
pecado e da morte e não deixará, cair a alma nas
trevas",
c) Eclesiástico 3:33 - "As esmolas resgatam o
pecado.";
d) II Macabeus 12:43-46 - "E tendo feito uma coleta,
mandou 12 mil dracmas de prata, a Jerusalém, para serem
oferecidas em sacrifício pelos pecados dos mortos,
sentindo bem e religiosamente da ressurreição... Se
Judas não tivesse esperança de que se erguessem de novo
os que caíram teria sido supérfluo orar pelos mortos...
É pois um santo e salutar pensamento orar pelos mortos
para que sejam livres de seus pecados".
- "Porquanto qualquer um que vos der a beber um copo
de água em meu nome, porque sois de Cristo, em verdade
vos digo que de modo algum perderá a sua recompensa"
(Mc. 9, 41).
- "Daí, porém, de esmola o que está dentro do copo e
do prato, e eis que todas as coisas vos serão limpas"
(Lc. 11, 41)
- "Porque, assim como o corpo sem o espírito está
morto, assim também a fé sem obras é morta" (Tg. 2,
26)
2. Refutação:
a) oferta em dinheiro para perdão do pecado não
encontramos em nenhum lugar da Bíblia, isto é coisa
diabólica, pois assim somente os ricos teriam o perdão
dos pecados;
b) I Pedro 1: 18-19 - não foi com ouro ou prata que
fomos comprados;
c) Atos 10: 4-6 - não somente dar esmolas mas conhecer e
praticar a verdade;
d) Efésios 2: 8-9 - somos salvos pela graça de Deus e
não por dinheiro;
e) Isaías 55: 1 - compra sem dinheiro.
O que importa não é se a esmola é oferecida em dinheiro
ou em espécie, mas com a intenção de querer fazer o bem,
por amor a Jesus. É dar a quem precisa, sem guardar o
sentimento de retribuição. Isto agrada ao Senhor (até um
pequeno e simples copo de água!!) e O levará a
considerar tal feito no Dia do Juízo; portanto, não há
dúvidas de que a esmola apaga pecados, não no sentido de
torná-los inexistentes, mas compensados... Foi
justamente por isso que a pobre viúva que deu tudo o que
tinha foi elogiada por Cristo, em detrimento aos ricos
(cf. Lc. 21, 3); mesmo assim, estes ricos, que deram do
que tinha de sobra, também não foram condenados - a
diferença é que estes terão uma recompensa menor do que
aquela viúva (haverá, portanto, uma compensação). Jesus
confirma também o valor da esmola juntamente com outras
formas de piedade (M.t 6, 2-18), que cobrem "uma
multidão de pecados" (1ª Pd. 4, 8).
B-1. Ensino de Crueldade e do Egoísmo
a) Eclesiástico 12: 6 - "Não favoreças aos ímpios;
retém o teu pão e não o dê a ele".
"Deste modo extirparás o mal do teu meio, para que os
outros ouçam, fiquem com medo e nunca mais tornem a
praticar o mal no meio de ti. Que teu olho não tenha
piedade. Vida por vida, olho por olho, dente por dente,
mão por mão, pé por pé" (Dt. 19, 19-20).
2. Refutação:
a) Eclesiastes 11:1-2 - lança o teu pão;
b) Provérbios 25: 21-22 - dá-lhe pão para comer e água
para beber;
c) Romanos 12: 20;
d) Mateus 5: 44-48 - amar os nossos inimigos.
É mais do que claro que o autor do Eclesiástico segue
rigorosamente o ensino do Antigo Testamento (v.
especialmente Êxodo e Deuteronômio). Se lermos Eclo. 12,
4-7, perceberemos que não se trata de esmola dada aos
necessitados, mas sim de benefícios o que, certamente, é
melhor concedê-los a gente honesta do que a pessoas
malvadas. Santo Agostinho escreveu sobre esta passagem
de Eclo: "não dês ao pecador enquanto pecador, dá-lhe
enquanto homem". Logo, a referida passagem não se
refere à crueldade, muito menos se refere ao egoísmo.
C-1. Pecados perdoados pela oração
a) Eclesiástico 3: 4 - "Quem amar a Deus receberá
perdão de seus pecados pela oração".
2. Refutação:
a) Os pecados não se perdoam pela oração, se fosse
assim, não teríamos necessidade de Jesus. Todos os povos
pagãos fazem orações, mas os pecados não se perdoam
somente pela oração;
b) Provérbios 28: 13 - o que confessa e deixa alcançará
misericórdia;
c) I João 1: 9 - renúncia do pecado;
d) 1ª João 2:1-2 - Cristo é quem perdoa.
Tal refutação é, no mínimo, ridícula. O livro do
Eclesiástico - de onde foi tirado o exemplo dos pecados
perdoados pela oração - pertence ao AT e, como todos os
demais, são apenas um preparativo para a nova Aliança em
Cristo. Além do mais, a confissão não deixa de ser uma
oração - seja no ponto de vista católico, através do Ato
de Contrição, seja no ponto de vista protestante, onde o
pecador tentar obter seu perdão diretamente de Deus.
Portanto, o autor cai em contradição consigo mesmo.
D-1. O Ensino do Purgatório
a) Sabedoria 3: 1-4 - "Mas as almas dos justos estão
nas mãos de Deus; e o tormento da morte não as tocará.
Aos olhos dos ignorantes pareciam eles morrer e sua
partida foi considerada desgraça. E, sua separação de
nós, por uma extrema perda. Mas eles estão em paz. E
embora aos olhos dos homens sofram tormentos, sua
esperança está plenamente na imortalidade.";
b) Isto é a doutrina do Purgatório.
- "Em verdade te digo que de maneira nenhuma [sairás]
dali enquanto não pagares o último ceitil" (Mt. 5,
26)
- "Se alguém disser alguma palavra contra o Filho do
homem, isso lhe será perdoado; mas se alguém falar
contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem
neste mundo, nem no vindouro" (Mt. 12, 32)
- "Se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele
prejuízo; mas o tal será salvo, todavia como que pelo
fogo" (1ª Cor. 3, 15).
2. Refutação:
a) I João 1:7 - esse ensino aniquila completamente a
expiação de Cristo. Se o pecado, pudesse ser extinguido
pelo fogo, não teríamos necessidade de um Salvador;
b) Eclesiastes 9: 6 - os mortos não sabem coisa nenhuma
- Isaías 38:18-19; c)
c) 1ª Tessalonicenses 4: 13-16 - na ressurreição os
justos serão galardoados.
A doutrina do Purgatório de forma alguma aniquila a obra
de Cristo; muito pelo contrário... Sabemos muito bem que
nada de impuro pode entrar no céu (Mt. 5, 8); por outro
lado sabemos que aquele que disser que não tem pecados é
um mentiroso (1ª Jo. 1, 10). No entanto, o Senhor é
justo juiz (2ª Tim. 4, 8) e recompensa até um copo
d'água que é dado em seu nome (Mt. 9, 41). Logo, embora
o purgatório não seja mencionado com este nome na
Escritura (a Santíssima Trindade também não é e todos os
cristãos a professam como verdade revelada!), a sua
realidade é incontestável. Observe-se, ainda, que o
purgatório é somente para os que estão salvos, mas ainda
possuem pecados não expiados, tornando necessária a
purificação para ver a Deus. Quem for julgado para a
perdição, não tem como passar pelo purgatório para
expiar seus pecados... No site do Agnus Dei existem
diversos artigos sobre o Purgatório, explicando-o com
mais detalhes. Utilize a ferramenta de busca interna,
existente no Índice de Assuntos, para localizá-los mais
facilmente...
E-1. O Ensino da Vingança
a) Judite 9:2 - "O Senhor Deus, do meu pai Simeão, a
quem deste a espada para executar vingança contra os
gentios".
- "Olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé
por pé..." (Ex 21,24)
- "Quebradura por quebradura, olho por olho, dente por
dente; como ele tiver desfigurado algum homem, assim lhe
será feito." (Lv. 24, 20)
- "O teu olho não terá piedade dele; vida por vida, olho
por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé." (Dt.
19, 21)
2. Refutação:
a) Gênesis 34: 30 - o aborrecimento de Jacó pela
vingança de Simeão contra os cananitas;
b) Gênesis 49: 5-7 - a maldição de Jacó porque eles
usaram de vingança;
c) Romanos 12: 17-19 - minha é a vingança do Senhor.
Será que os exemplos que citei acima, tirados do Êxodo,
Levítico e Deuteronómio são exemplos de amor ao próximo?
Também não é necessário falar das mortes efetivadas
pelos hebreus durante a Conquista da Terra Prometida...
O autor do presente artigo não poderia ser mais infeliz
para refutar alguma coisa dos deuterocanônicos...
F-1. Suicídio
a) 2º Macabeus 12: 41 - "... quando ele se viu a
ponto de ser preso, feriu-se com a sua espada,
preferindo morrer nobremente a ver-se sujeito a
pecadores, e padecer ultrajes indignos de seu
nascimento".
A citação acima é tirada de 2º Mc. 14, 41-42 e não de 2º
Mc. 12, 41!
"Sansão invocou a Javé e exclamou: 'Senhor Javé, eu
te suplico, vem em meu auxílio; dá-me forças ainda está
vez, ó Deus, para que, de um só golpe, eu me vingue dos
filisteus por causa dos meus dois olhos'. E disse:
'morra eu com os filisteus!'". (Jz. 16, 28.30).
2. Refutação:
a) morrer nobremente é a frase perigosa. A Bíblia nos
conta de alguns suicídios, mas nunca os qualifica de
cousa ou ato nobre;
b) a vida e morte dependem de Deus e nós, não podemos
desertar da vida para nos livrar de dificuldades.
Cristianismo quer dizer paciência, abnegação. Tudo
sofre, tudo suporta;
c) Transgressão do mandamento "Não matarás".
A Bíblia possui diversos casos de suicídio -
principalmente entre guerreiros - além do registrado
pelo autor deste artigo: Jz. 9, 54; 16, 28-29; 1º Sm.
31, 4-5; 2º Sm. 17, 23; 1º Rs. 16, 18. O suicídio de
Sansão (Jz. 16, 28-29) embora não seja classificado
explicitamente como "morte nobre", é tido como
grandioso pelo autor do livro dos Juízes, pois ele deu a
sua vida pelo seu povo, utilizando contra os seus
inimigos a força final recebida de Deus. Poderíamos, por
isto, dizer que o suicídio é algo grandioso?? Que Deus
aprova? Ou estaria Sansão ardendo no Inferno?
Se fosse algo sempre nobre ou grandioso, a Igreja
Católica, por conseguinte, não condenaria o suicídio
como sempre o fez. Ensina o Catecismo da Igreja:
"cada um é responsável por sua vida diante de Deus que
lhe deu e que dela é sempre o único soberano Senhor.
Devemos receber a vida com reconhecimento e preservá-la
para sua honra e salvação das nossas almas. Somos os
administradores e não os proprietários da vida que Deus
nos confiou. Não podemos dispor dela". Entretanto, a
Igreja reconhece: "não se pode desesperar da salvação
das pessoas que se mataram. Deus pode, por caminhos que
só ele conhece, dar-lhes ocasião de um arrependimento
salutar. A Igreja ora pelas pessoas que atentaram contra
a própria vida".
G-1. O Ensino de Artes Mágicas
a) Tobias 6:8 - "Se tu puseres um pedacinho do seu
coração (do peixe que ele havia apanhado) sobre brasas
acesas, o seu fumo afugenta toda a casta de demônios,
tanto do homem como da mulher, de sorte que não tornam
mais chegar a eles". Verso 9 - "E o fel é bom
para untar os olhos que tem algumas névoas, e sararão".
"Dito isto, cuspiu no chão e com a saliva fez lodo, e
untou com lodo os olhos do cego e lhe disse: 'Vai
lavar-te na piscina de Siloé' [...] O cego foi.
lavou-se e voltou vendo" (Jo. 9, 6)
"Está doente algum de vós? Chame os anciãos da
igreja, e estes orem sobre ele, ungindo-o com óleo em
nome do Senhor" (Tg. 5, 14)
2. Refutação:
a) não encontramos tal coisa em nenhum lugar da Bíblia;
b) não precisamos de truques para enfrentar o diabo;
c) maneiras de enfrentar o diabo e os demônios: Mateus
4: 4-10;
d) Tiago 4: 7 - resisti ao diabo e ele fugirá;
e) maneiras de expulsar demônios: Marcos 16: 17 e Atos
16: 18.
Também não encontramos em qualquer outro lugar da Bíblia
que a lama oriunda do cuspe misturada com a terra cura
os cegos. Seria então Jesus um feiticeiro?)
Torna-se claro, portanto, que existe um interesse oculto
na referida passagem de Tobias, que só será desvendado
em 8,3, quando o próprio Anjo Rafael expulsa o demônio
(e não Tobias através do coração, fel e fígado do
peixe). O interesse, portanto, é ocultar a identidade do
Anjo para Tobias até a efetiva expulsão do demônio...
H-1. Mentiras
a) Judite 11: 13-17 - Judite mentindo para Holofernes;
b) Tobias 5: 15-19 - o anjo Rafael mentindo. "Abraão
disse de sua mulher Sara: 'É minha irmã' e Abimelec, rei
de Gerara, mandou buscar Sara (Gen. 20 ,2) "Jacó disse:
'eu sou o teu filho primogênito, Esaú, fiz como me
ordenaste...' Disse [Isaac]: 'Tu és o meu filho Esaú?'
Respondeu: 'Eu o sou'. E logo que sentiu a fragrância de
seus vestidos, abençoou-o." (Gen. 27, 19)
2. Refutação:
a) Deus nunca sancionou a mentira nem mesmo nos seus
servos;
b) O mal começou com a mentira no céu;
c) Gênesis 3: 4 - certamente morrerás;
d) João 8: 44 - quem é o originador e pai de todas as
mentiras, portanto não pode um anjo de Deus mentir;
e) João 14: 6 - Jesus diz ser o caminho, a Verdade e a
vida. Todos os seguidores, de Cristo devem ser
verdadeiros.
Também os grandes patriarcas hebreus mentiram e não
foram abandonados por Deus; muito pelo contrário...
Abraão foi pai de muitas nações (Gen. 17, 5); Jacó
manteve a bênção de Deus e teve seu nome mudado para
Israel (Gen. 35, 10).
É certo que a mentira atenta contra a verdade e é sempre
proposital; entretanto, não se pode igualar os graus de
mentira (generalizando-a) ou desconhecer-lhe a intenção
(para prejudicar ou beneficiar alguém com ou sem
prejuízo de outrem).
I-1. Tolices
a) Tobias 2: 10 - as fezes de uma andorinha, caindo nos
olhos de Tobias que estava dormindo junto a um muro
deixa-o cego; os médicos também afirmam que o esterco de
andorinha pode queimar os olhos... A observação também é
feita na Bíblia Sagrada versão de Matos Soares (ed.
Paulinas), na pág. 484.
b) Judite 8: 5-6 - uma mulher jejuando a vida inteira,
menos aos sábados; A mulher em questão é a própria
Judite. O fato de jejuar todos os dias não significa que
não bebesse água, que é o elemento fundamental para o
corpo humano. Também Jesus jejuou por 40 dias e 40
noites seguidos e não morreu (Mt. 4, 2). Certamente aos
sábados Judite se alimentava bem, pelo menos com o
suficiente para se manter firme... Vários santos também
impuseram sobre si rigorosa rotina de jejum,
principalmente os ermitões que viviam no deserto. Não
há, neste caso, nenhuma "tolice" em Judite...
c) II Macabeus 15:40 - "beber sempre água é coisa
prejudicial". A frase completa é: "assim como é
nocivo beber somente vinho ou somente água, enquanto que
é agradável beber água misturada com vinho...". A
frase encerra, portanto, uma verdade, que é o abuso;
tudo que é feito em excesso é prejudicial, rompendo um
equilíbrio que deve ser mantido. Mesmo assim, o que o
autor se refere neste versículo é quanto à
agradabilidade da narração de sua obra, que deve
encantar os ouvidos. Você já bebeu água sem vontade? É
horrível, não? Já bebeu vinho sem gostar? É ruim também
porque queima a garganta... Misturando os dois fica
agradável, saboroso, porque alcança um equilíbrio ao
gosto do degustador. Assim deve ser qualquer obra
literária: deve agradar o leitor! V -
Razões interessantes
Roma não pode chamar as outras Bíblias de falsas por não
conterem os Apócrifos, assim como não pode se chamar uma
nota de falsa por não ter ela uns acréscimos que alguém
julgue que ela deva ter;
- pode sim! Pode porque foi a Igreja que definiu o cânon
bíblico no séc. IV, selecionando os livros do Novo
Testamento e confirmando todos os livros do Antigo
Testamento segundo a versão da Septuaginta, incluindo os
7 livros aqui debatidos, bem como os acréscimos a Ester
e Daniel. E a autoridade da Igreja para estabelecer o
cânon é indiscutível, pois ela é a "coluna e o
fundamento da Verdade" (1ª Tim. 3, 15).
E pode também porque a Igreja Católica foi fundada sobre
os Apóstolos, que usaram a Septuaginta para escrever o
Novo Testamento: das 350 citações do AT, 300 obedecem a
versão dos LXX! Se o autor segue a autoridade dos judeus
de Jâmnia para definir o seu cânon, deve deixar de lado
todos os livros do Novo Testamento; porém, se aceita a
autoridade da Igreja, fundada por Cristo, não tem como
deixar de lado os livros deuterocanônicos, pois estaria
(como de fato está) em contradição.
Em 2º Macabeus encontramos o autor do livro pedindo
perdão pelas suas falhas como escritor. Se crêssemos que
estes livros estão no mesmo pé de igualdade com os
inspirados, ficaríamos então admirados de ver agora o
Espírito Santo pedindo desculpas por algumas falhas, o
que é inconcebível;
- não tem nada a ver! Também São Paulo afirma em 1ª Cor.
7, 12: "aos outros sou eu quem digo e não o Senhor:
se algum irmão tem uma mulher sem fé e está consente em
habitar com ele, não a repudie". Será que esta
passagem também não é inspirada? Se não é, por que ainda
se encontra na Bíblia? Por que não foi simplesmente
riscada?? E se fosse riscada, o que impediria de riscar
toda a 1ª Coríntios?
O Senhor Jesus e os Apóstolos fazem 205 citações do V.T.
e mais 304 alusões ao mesmo e não dizem nenhuma palavra
sequer a respeito de um dos livros Apócrifos;
- não é verdade. Veja-se, por exemplo, o seguinte caso:
em Hebreus 11, 35 lemos que "Algumas mulheres
reencontraram os seus mortos pela ressurreição. Outros
foram esquartejados, recusaram o resgate para chegar a
uma ressurreição melhor". A quem o Apóstolo se
refere ao falar de algumas mulheres? Certamente ao filho
da viúva ressuscitado por Elias (1º Rs. 17, 22-23) e ao
filho da sunanita ressuscitado por Eliseu (2º Rs. 4,
35-36). Até aí tudo bem... Porém pergunte a um
protestante:
- onde você encontra na Bíblia alguém que aceitou ser
esquartejado crendo na esperança da ressurreição?
Ele poderá revirar todo o Antigo Testamento da sua
Bíblia protestante, do Gênese ao profeta Malaquias, mas
nada encontrará... O Apóstolo estaria mentindo? Não! Ele
se refere ao martírio dos sete irmãos que lemos em 2º
Mac. 7! Isto é indiscutível!
Fora esta passagem, existem pelo menos mais 344
referências no NT aos livros deuterocanônicos... Veja a
lista em "O Novo Testamento e os Deuterocanônicos",
na área da Bíblia do site do Agnus Dei.
Jerônimo, o tradutor da Vulgata declarou que os
Apócrifos não eram canônicos;
- por volta do ano 90 dC., vários anos após a destruição
de Jerusalém pelos romanos, os judeus (fariseus) se
reuniram em um sínodo na cidade de Jâmnia e definiram um
cânon usando de critérios meramente nacionalistas (v. o
artigo "Como está definido o cânon bíblico" na
área de Apologética), deixando de fora os 7 livros em
questão, pois não atendiam a tais requisitos.
São Jerônimo, até o ano 390 aceitava os livros
deuterocanônicos como inspirados, mas, indo para a Terra
Santa e passando a traduzir a Bíblia para o latim
diretamente do hebraico, foi influenciado pelos rabinos
a considerar somente os livros aceitos pelos judeus da
Jâmnia. Ainda assim, é possível encontrar mais de 200
referências aos deuterocanônicos nas obras do Santo.
Fora isso, a questão do cânon bíblico para a Igreja
cristã ainda não estava definida, o que torna
compreensível e justificada a posição de Jerônimo.
Porém, a Igreja Católica resolveu a situação a partir
dos Concílios regionais de Hipona (393), Cartago III
(397) e Cartago IV (418). Em 450, o papa Inocêncio I
reafirmou o cânon bíblico com todos os deuterocanônicos
numa carta ao bispo Exupério de Tolosa. Para maiores
detalhes, ler o artigo "Testemunhos Cristãos
Primitivos - O Cânon Bíblico", na área de Patrística.
Somente em 8 de Abril de 1546 é que a Igreja Católica se
lembrou que esses livros deveriam estar canonizados;
nesse concílio que declarou os Apócrifos como
autorizados, não havia nenhuma autoridade entre eles.
Havia somente 53 prelados italianos e espanhóis na sua
maioria. Nenhum alemão. Era mais um concílio religioso
do que ecumênico, portanto, não tinha autoridade;
- papo furado! A Igreja Católica usa os deuterocanônicos
desde a era apostólica. A definição de sua inspiração já
se dera oficialmente em Hipona (393) e Cartago (397 e
418), como vimos acima. Também o concílio ecumênico de
Florença (1441) professou solenemente o catalogo
completo dos livros sagrados, pelo menos 1 século antes
de Trento. A Bíblia de Guttemberg, o primeiro livro a
ser impresso no mundo por volta de 1450, também continha
os deuterocanônicos.
Foi o herege Martinho Lutero, apenas em 1534, que
colocou os referidos livros em apêndice, com o título de
apócrifos, em sua tradução alemã da Bíblia. Pelo menos
teve a decência de deixá-los por considerá-los bons e de
utilidade (segundo palavras usadas pelo próprio
"reformador" no prólogo).
A Igreja Católica Ortodoxa sempre fez restrições aos
Apócrifos;
- outra inverdade, que demonstra desconhecimento
histórico e eclesiológico. O Concílio de Trulos,
reunindo padres da Igreja Oriental em 692, também
considerou os livros deuterocanônicos como inspirados. O
mesmo ocorreu nos sínodos de Constantinopla (1638), de
Yassi (1642) e de Jerusalém (1672) - após a Reforma
Protestante.
Também a Sociedade Bíblica Unida (representada no Brasil
pela Sociedade Bíblica do Brasil), instituição
protestante que produz Bíblias, afirma em sua Agenda de
Oração-1996, pág. 5: "Deuterocanônicos: as Bíblias
para as Igrejas Católica Romana e Ortodoxa contêm livros
extras, que não fazem parte da Bíblia usada pelas
Igrejas Protestantes". A única exceção entre os
ortodoxos trata-se da Igreja Ortodoxa Russa; ainda
assim, é livre entre estes aceitar ou não os
deuterocanônicos.
Católicos Scholars rejeitam os Apócrifos:
a) Bede e John of Salisbury - 1180 A.D.;
b) William Ockham - 1347;
c) Cardeal Ximenes mandou editar na Espanha a Bíblia
Poliglota e não continha os Apócrifos - 1514-17;
d) Após o Concílio de Trento em 1546 ter pronunciado os
livros Apócrifos canônicos Sixtus de Siena em 1566
insistiu em separar os livros Apócrifos da Bíblia.
"Scholars"? Acho que este artigo tem origem americana...
Seria bom que o tradutor pelo menos disfarçasse,
traduzindo o termo ou pelo menos indicando a fonte...
Não conheço a opinião destes senhores e sinceramente
pouco me importa... São meras opiniões humanas, sem a
autoridade oficial da Igreja, "fundamento e coluna da
verdade" (1ª Tim. 3, 15). Nem todo aquele que se diz
"católico" é católico de verdade, infelizmente.
Jesus deu autoridade aos seus Apóstolos, à sua Igreja...
Os apóstolos usaram a Septuaginta com os
deuterocanônicos; a Igreja sempre os reconheceu como
inspirados, havendo aqui ou ali poucas vozes destoantes,
quase sempre influenciadas por judeus... Eu aceito a
autoridade da Igreja, dos Apóstolos e, por consequência,
de Jesus - que prometeu estar com sua Igreja até a
consumação dos séculos (Mt. 28, 20). Dizer que a Igreja
errou ao definir o cânon é chamar Jesus de mentiroso,
por não cumprir sua promessa de permanecer conosco. Tal
proposição, entretanto, é absurda!
E, pelo que vimos até aqui, existem muito mais
argumentos em favor da inspiração dos deuterocanônicos
do que contra... Em outras palavras: quem é contra os
deuterocanônicos ainda não conseguiu provar que estes
não fazem parte da Bíblia... Estão em maus lençóis!
Fonte: Site "Veritatis Splendor" |